quarta-feira, 12 de junho de 2024

Luís de Camões - Poeta e Herói Imortal Português

Luís Vaz de Camões nasceu em Lisboa, Portugal, por volta de 1524. Tudo em Camões, como acontece com todos aqueles que pairam sobre os demais, é mais mistério do que certeza. A data exacta de nascimento do poeta não é conhecida, mas investigadores, nomeadamente uma renomada académica, cruzaram o texto de um soneto com a astronomia para chegarem ao dia certo: 23 de Janeiro de 1524. Há 500 anos, precisamente um ano antes de um eclipse solar visível em Portugal e a pista é dada pelo próprio Imortal:

'O dia em que eu nasci, morra e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar,
Não torne mais ao mundo e, se tornar,
Eclipse nesse passo o sol padeça.
A luz lhe falte, o sol se lhe escureça,
Mostre o mundo sinais de se acabar,
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.'

Este soneto expressa uma visão sombria e dramática sobre o próprio nascimento. Camões deseja que o dia em que ele nasceu seja esquecido e que o tempo não o traga de volta. Ele até sugere que o sol deveria sofrer um eclipse nesse momento. A imagem é intensificada com a falta de luz, monstros e até a mãe não reconhecendo o próprio filho. É uma reflexão profunda sobre a existência e a efemeridade da vida. A linguagem poética e a melancolia são características marcantes desse soneto, e, que faz referência a um eclipse solar, ocorrido um ano depois do nascimento de Camões. A data não é certa, mas ganha força com o estudo do soneto do poeta onde é feita uma alusão a um eclipse solar visível em Portugal.

Grande parte das informações sobre a biografia de Camões suscitam dúvidas e, provavelmente, muito do que sobre ele circula não é mais do que o típico folclore que se forma em torno de uma figura célebre e maior que a própria vida, essa mesma de antologia. São documentadas apenas umas poucas datas que balizam a sua trajectória.
Assim, Camões era filho de Simão Vaz de Camões e Ana de Sá e Macedo, e como tal, pertencia, por via paterna à pequena nobreza portuguesa, sendo mesmo descendente da Família Vasco de da Gama: das origens do Poeta, sabemos que foi seu trisavô o poeta Vasco Pires de Camões, galego, e sua avô D. Guiomar da Gama, parente de Vasco da Gama. No reinado de D. João II, Antão Vaz, avô do poeta, casara com D. Guiomar da Gama, parente de Vasco da Gama, a quem seguiu à Índia, capitaneando uma caravela, escolhido por D. Vasco, em atenção ao parentesco. Camões sobrinho de D. Bento de Camões, cónego da Igreja de Santa Cruz de Coimbra. Já por via materna era aparentada com a casa de Vimioso, da alta nobreza.
Assim, Camões durante sua infância, viveu na época das grandes descobertas marítimas e do início do Classicismo em Portugal. Estudou no colégio do convento de Santa Maria, tornando-se um profundo conhecedor de história, geografia e literatura. Inicialmente, frequentou Teologia, mas sua vida irrequieta e fama de galanteador e diletante o afastaram-no dessa vocação - que de todo não possuía. Em 1537, D. João III transferiu definitivamente a Universidade para Coimbra, e também Camões mudou: de Cidade e de Curso. Em 1544, com 20 anos, Camões ingressou nos estudos de Literatura e Filosofia em Coimbra, tendo tido como protector o seu tio paterno, D. Bento de Camões. Nessa época, já era conhecido como poeta e compôs uma elegia à Paixão de Cristo.
Luís de Camões, temerário, apaixonado, cedo se envolveu em intrigas e duelos: já a viver em Lisboa, Luís de Camões era apreciado pelas damas da corte, tanto por seu charme como por seus versos, mas enfrentava perseguições de outros poetas menos talentosos, menos temerários e mais escolásticos. Diante disso, esses outros poetas alimentaram uma série de intrigas que visavam causar o desprestígio de Camões diante da corte.
Existem, apócrifos ou não, relatos de um vida boémia, como cliente de tavernas de má reputação e envolvendo-se em arruaças e relações amorosas tumultuosas. Adensam a lenda, ainda, inúmeras relações amorosas com damas, que aparecem citadas pelo nome em biografias ulteriores do poeta como na lista de seus amores, mas cuja aquelas identificações são actualmente consideradas acrescentos próprios de acrentar um ponto ao conto. Dessas damas, destaca-se uma paixão pela Infanta D. Maria, irmã do rei - suposta audácia que lhe teria custado pena no calabouço, e outra com D. Catarina de Athayde, cuja recusa teria causado o autoexílio do poeta, primeiro no Ribatejo, e depois alistando-se como soldado, em Ceuta. Empurrado para o 'desterro' ou para escapar das perseguições, em 1547, Luís Vaz de Camões embarcou, de facto, como soldado para África, servindo em Ceuta por dois anos. Durante uma refrega perdeu o olho direito, numa batalha naval no Estreito de Gibraltar. De regresso a Lisboa, não tardou em retomar a vida boémia.
Supostamente perseguido, viveu longe de Portugal por mais 17 anos, passando por terras estrangeiras, sustentando-se como soldado e poeta. Camões viveu na Índia por três anos, além de ter passado por outras terras estrangeiras como a Arábia, Macau e Moçambique. Durante sua estadia na Índia, enfrentou adversidades e combateu ao lado das forças portuguesas. Em Dezembro de 1567, Camões embarcou na nau de Pedro Barreto para Sofala, na ilha de Moçambique, onde este havia sido designado governador, e lá esperaria por um transporte para Lisboa em data futura. Parece que Pedro Barreto fez promessas vãs a Camões, de tal modo que, passados dois anos, Diogo do Couto e outros amigos o descobrem a viver como um indigente. Estes pagam-lhe as dívidas e a viagem de regresso a Lisboa.
A sua experiência no Oriente influenciou a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista 'Os Lusíadas', que, uma vez mais segundo a lenda, salvou de se perder nos mares durante um naufrágio: de volta a Portugal, Camões sofreu um naufrágio, na foz do rio Mekong, que atirou toda a tripulação ao mar. Camões, sabendo nadar, conseguiu salvar a sua obra, mas perdeu a sua amada para sempre, por ele depois evocada em sonetos como 'Ah! Minha Dinamene, assim deixaste'.
A sua obra mais famosa, 'Os Lusíadas', foi publicada em 1572, dois anos após seu retorno a Portugal. O poema épico celebra as conquistas marítimas dos navegadores portugueses, especialmente Vasco da Gama. Camões mistura mitologia, história e aventura em uma narrativa grandiosa, que estabelece novos padrões linguísticos para a língua portuguesa.
'Os Lusíadas', narram a viagem de Vasco da Gama e sua tripulação em busca do caminho marítimo para a Índia. Camões exalta os feitos dos navegadores portugueses, destacando sua coragem, determinação e habilidades náuticas. A viagem de Vasco da Gama é uma busca pelo desconhecido, pela expansão dos horizontes e pela descoberta de novas terras. A aventura e a curiosidade movem os personagens. Além dos feitos heróicos, há espaço para o amor e a paixão. O episódio de Inês de Castro, por exemplo, é uma história trágica de amor proibido.
Camões incorpora elementos da mitologia greco-romana ao longo do poema. Os deuses e ninfas interferem nas acções dos personagens, e há referências a figuras míticas como Neptuno e Adamastor.
"Os Lusíadas" são uma celebração do espírito nacional português. O poeta enaltece a nação, sua história e suas conquistas, reforçando o orgulho e a identidade lusitana.
Em resumo, "Os Lusíadas" é uma obra rica em simbolismo, história, mitologia e emoção, e continua a ser uma das maiores contribuições da literatura portuguesa.
"Os Lusíadas" exaltam o povo português, aqueles que superaram perigos e guerras para avançar o Império e a Fé. Essa valorização do espírito nacional e das conquistas marítimas influenciou a forma como outros escritores retrataram suas próprias nações e heróis.
Foi apresentar a obra-prima, em récita, para El-Rei D. Sebastião. O rei, ainda um adolescente de 14 anos, determinou que o trabalho fosse publicado em 1572, concedendo também uma pequena tença a "Luís de Camões, cavaleiro fidalgo de minha Casa", em paga pelos serviços prestados na Índia. O valor desta pensão não excedeu os quinze mil réis anuais, o que se não era grande coisa comparada com o génio de quem se fala, também não era assim tão pouca tendo em vista que as damas de honra do Paço recebiam cerca de dez mil réis. Para um soldado veterano, a soma deve ter sido considerada suficiente e honrosa na época.
Ao contrário da romantização de que foi revestida a sua vida e morte, não viveu os últimos anos na indigência, mas Viveu seus anos finais num quarto bastante aceitável de uma casa próxima da Igreja de Santa Ana, servido por um servo, que trouxera do Oriente. A melancolia e a amargura que lhe provocaram a falta de vontade em viver chegaram após a a derrota portuguesa na Batalha de Alcácer-Quibir, onde desapareceu D. Sebastião, enlevado pelo sentimento de alcançar a grandeza e Glória dos seus antepassados, levando Portugal a perder sua independência para Espanha. Então, adoeceu. Levado para o hospital, aí morreu, em 10 de Junho de 1579 ou 1580, sendo enterrado, numa campa rasa na Igreja de Sant'Ana. Após o terramoto de 1755, que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para se recuperar os restos mortais de Camões. As ossadas que dizem que foram encontradas foram depositadas, em 1880, numa tumba honorífica e de aparato, no Mosteiro dos Jerónimos. Aí jaz, com grande probabilidade, mas não completa certeza, Luís Vaz de Camões.
Luís Vaz de Camões deixou um legado duradouro na Literatura, sendo reconhecido como o maior poeta da língua portuguesa e apenas ombreando na literatura universal com Virgílio, Dante, Shakespeare e Cervantes.

Mas acontece que continua a senda do apoucamento dos nossos Maiores. Não, não é uma piada, mas vai ser emitida uma nova moeda comemorativa dos 500 anos do nascimento de Luís de Camões (1524-2024), em que o maior nome da literatura portuguesa é representado sem linhas de rosto, sem boca e nariz, quase sem figura, mas numa horrenda desconstrução. Onde está representada a aparência do galante poeta, personificado o carácter temerário que enche o nosso imaginário e transparece na anterior iconografia.
Será obra, mas não prima, pois os testemunhos dos seus contemporâneos descrevem-no como um homem de porte um pouco acima da média (à época), de cabelo loiro arruivado, cego do olho direito; ou seja, um esteta sempre pronto a apreciar a beleza da mulher, hábil em todos os exercícios físicos e com um temperamento viril e temerário propenso a não recusar uma briga ou servir a Pátria.
Como pode, então, a História de Portugal ser constantemente distorcida menorizando os feitos e a imagem dos nossos viris illustribus?! Mas por muito que tentem, nunca conseguirão diminuir os feitos dos nossos Imortais.

Miguel Villas-Boas*


*escreve na ortografia anterior ao AO90 e fazendo uso da Liberdade de Expressão consignada na Constituição da República Portuguesa e na Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

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