El-Rei Dom Dinis I, o Rei Poeta, nasceu a 9 de Outubro de 1261 e faleceu a 7 de Janeiro de 1325, e, era filho do Rei Dom Afonso III de Portugal e da Rainha D. Beatriz, nascida Infanta de Castela. Dom Dinis foi o 6.° Rei de Portugal, reinando por 46 anos entre 1279 e 1325.
Na verdade o seu nome era Dionisius, um nome incomum e mesmo único na genealogia real portuguesa, pelo que deveria ser traduzido como Dionísio e não Dinis, mas resolveram parafrasear o nome do Rei e ficou na História como Dinis.
Após a morte de seu pai, D. Afonso III, em 1279, houve disputas sobre a sucessão, pois o seu irmão, o infante D. Afonso, alegava ser o legítimo herdeiro; mas, com pouco mais de dezassete anos, Dom Dinis foi Aclamado Rei em Lisboa, em 1279, tendo reinado e governado durante 46 anos. Casou em 1282 com Dona Isabel de Aragão - a Rainha Santa Isabel.
O rei enfrentou diversos desafios, mas conseguiu consolidar seu reinado e pacificar relações com o papa.
Foi essencialmente um Rei preocupado com os assuntos de Estado e organização administrativa e não um guerreiro, pois embora envolvesse numa guerra com Castela, em 1295, desistiu dela em troca das vilas de Serpa e Moura.
Assim, estabeleceu a Paz com Castela, definindo-se as fronteiras actuais entre os dois Reinos da Península Ibérica. A assinatura do Tratado de Alcanizes ocorreu a 12 de Setembro de 1297 e fixou os limites geográficos de Portugal, após uma guerra que opôs os dois Reinos Ibéricos.
O tratado de Alcanizes ou Alcanises (em castelhano, Alcañices), que fixou os limites geográficos de Portugal, foi celebrado entre o Reino de Portugal e o Reino de Leão e Castela assinado entre o soberano português D. Dinis, Rei de Portugal, e a regente Rainha-mãe Maria de Molina (viúva do Rei Sancho IV), em nome de Fernando IV, Rei de Leão e Castela, ainda menor, na povoação leonesa-castelhana que lhe deu o nome (Alcanises), na província de Zamora, a dois quilómetros de Miranda do Douro.
Pelo tratado se restabeleceu a paz entre os dois reinos ibéricos, fixando-se os seus limites fronteiriços. Em troca de direitos portugueses nos termos raianos de Aroche e de Aracena, passaram para a posse definitiva de Portugal: Campo Maior, Olivença (hoje administrada por Espanha, o que originou a Questão de Olivença), Ouguela, São Félix dos Galegos (hoje na posse de Espanha).
E em troca de direitos portugueses nos domínios de Aiamonte, Esparregal, Ferreira de Alcântara e Valença de Alcântara, e outros lugares nos Reinos de Leão e de Galiza, era reconhecida a posse portuguesa de povoações beirãs, chamadas terras de Ribacôa, que compreendiam as seguintes povoações e respetivos castelos: Almeida, Alfaiates, Castelo Bom, Castelo Melhor, Castelo Rodrigo, Monforte, Sabugal e Vilar Maior. Foi ainda acordado pelo tratado uma aliança de casamento em que Fernando IV casaria com D. Constança, filha de D. Dinis; e D. Beatriz, irmã de Fernando IV, com D. Afonso, príncipe herdeiro de Portugal. Estabeleceu-se, ainda, um acordo eclesiástico, pois alguns lugares das regiões supracitadas estavam situados em território português e ao mesmo tempo pertencer a uma circunscrição eclesiástica castelhana e vice-versa. O tratado definiu os limites do território continental português, que não teve alteração posterior, exceptuando a perda de Olivença, em 1801, através do Tratado de Badajoz, denunciado em 1808 pelo Reino de Portugal, mas que não evitou a anexação do território por Espanha. Em 1817, quando subscreveu o diploma resultante do Congresso de Viena (1815), Espanha reconheceu a soberania portuguesa, comprometendo-se à devolução do território o mais rapidamente possível. No entanto, tal nunca chegou a acontecer.
Não obstante, pelo articulado, o Tratado de Alcanizes foi um dos tratados mais importantes celebrados por Portugal até aos dias de hoje.
El-Rei Dom Dinis para estimular a agricultura, distribuiu terras a colonos, mandou construir canais e secar e drenar pântanos para transformar terras inúteis em áreas agrícolas. Limitou os privilégios territoriais da igreja e, idealizou e mandou plantar o Pinhal de Leiria, que ajudou a evitar o acumular de areia nas planícies férteis. Essas medidas resultaram em excedentes agrícolas e fortaleceram as trocas comerciais com outros países, como a Inglaterra, Bretanha e Flandres. Por isso, Dom Dinis, também, foi cognominado de "O Lavrador".
Durante o seu reinado, o comércio também prosperou, com o aumento da extracção de metais, a protecção às feiras e a reorganização da Marinha. Beneficiou a literatura e mandou traduzir livros latinos e árabes, inclusive a Geografia de Razis.
Fundou a primeira universidade do País, que funcionou entre Lisboa e Coimbra, até se fixar nesta última cidade.
O Rei Dom Dinis de Portugal foi renomado poeta e patrono de trovadores e jograis, e por isso, também, foi apelidado de 'O Rei Poeta' ou 'O Rei Trovador' pelas cantigas que compôs e que o distinguiram como um dos mais famosos trovadores da lírica medieval galego-portuguesa.
Depois dos primeiros Reis da Dinastia Afonsina, com preocupações marcadamente geopolíticas de formação e manutenção do território, chega-se ao Reinado de Dom Dinis, que transforma Portugal num dos mais famosos focos da poesia europeia da Idade Média, e que ficou conhecido como o Período Trovadoresco ou Galego-Português. Neste período eram sobretudo o “Amor” e a “Amizade” os temas sobre o que os poetas escreviam e que os trovadores cantavam, mas não exclusivamente, debruçando-se ainda em temas políticos sobretudo feitos guerreiros e até mesmo assuntos satíricos.
Mas dominam sobretudo dois estilos de lirismo: as Cantigas d’Amor – de influência Provençal – e as Cantigas d’Amigo, completamente nativo português.
As primeiras, recatada e requintadamente platónicas, focam-se no enaltecimento das qualidades da mulher amada ou na expressão da saudade do ente amado.
D. Dinis, Trovador e Poeta, era um amante das artes e letras e compôs 137 poemas/cantigas distribuídas por diferentes gêneros: 73 Cantigas de Amor, 51 Cantigas de Amigo e 10 Cantigas de Escárnio e Maldizer. Assim a sua paixão pela poesia e seu apoio aos trovadores e jograis renderam-lhe o epíteto de 'O Trovador'. Foi, também, o primeiro monarca português verdadeiramente alfabetizado, pelo que foi o primeiro rei português a assinar os seus documentos com o nome completo.
Na sublimação da figura feminina participou el-Rei Dom Dinis com a sua mestria e indiscutível talento poéticos:
«Quer’ eu en maneira de poençal
Fazer agora un cantar d’amor
E querrei muit’ i loar mnha senhor’a,
A que prez nem fremusura non fal,
Nem bondade, e mais vos direi en:
Tanto a fez Deus comprida de bem
Que mais que todas las do mundo val.»
'O que vos Nunca Cuidei a Dizer' é uma cantiga de amor do rei D. Dinis, onde o eu lírico expressa seus sentimentos de amor e sofrimento, revelando que nunca havia falado sobre o quanto o amor do destinatário o afligia numa linguagem directa e emocional, revelando a intensidade dos sentimentos do trovador, onde todos os ímpares da cantiga são setessílabos graves, enquanto os pares são octossílabos agudos.
«O que vos nunca cuidei a dizer,
com gram coita, senhor, vo-lo direi,
porque me vejo já por vós morrer;
ca sabedes que nunca vos falei
de como me matava voss'amor;
ca sabe Deus bem que doutra senhor,
que eu nom havia, mi vos chamei.
E tod [o] aquesto mi fez fazer
o mui gram medo que eu de vós hei,
e des i por vos dar a entender
que por outra morria — de que hei,
bem sabedes, mui pequeno pavor;
e des oi mais, fremosa mha senhor,
se me matardes, bem vo-lo busquei.
E creede que averei prazer
de me matardes, pois eu certo sei
que esso pouco que ei de viver,
que nenhum prazer nunca veerei;
e porque sõo d' esto sabedor,
se mi quiserdes dar morte, senhor,
por gram mercee vo-lo [eu] terrei.»
Outra Cantiga de Amor muito conhecida é:
«A mia senhor, que eu por mal de mi
vi e por mal daquestes olhos meus,
e por que muitas vezes maldezi
mi e o mund'e muitas vezes Deus,
des que a nom vi, nom er vi pesar
d' al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
A que mi faz querer mal mi medês
e quantos amigos soía haver
e de [s]asperar de Deus, que mi pês,
pero mi tod'este mal faz sofrer,
des que a nom vi, nom ar vi pesar
d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.
A por que mi quer este coraçom
sair de seu logar, e por que já
moir'e perdi o sem e a razom,
pero m'este mal fez e mais fará,
des que a nom vi, nom ar vi pesar
d'al, ca nunca me d'al pudi nembrar.»
Mas mais conhecidos e enaltecidos são os seus poemas no estilo de Cantigas d’ Amigo, e a mais célebre Cantiga d’ Amigo D’el-Rei Dom Dinis – escrito sobre a perspectiva de uma personagem feminina, como era comum à mestria da época - foi certamente o célebre: AI FLORES, AI FLORES DO VERDE PINO.
«Ai flores, ai flores do verde pino,
se sabedes novas do meu amigo!
Ai Deus, e u é?
Ai flores, ai flores do verde ramo,
se sabedes novas do meu amado!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amigo,
aquel que mentiu do que pôs comigo!
Ai Deus, e u é?
Se sabedes novas do meu amado,
aquel que mentiu do qui mi á jurado!
Ai Deus, e u é?»
Neste poema, o eu lírico expressa a saudade e a busca por notícias do amigo e do amado. As flores do verde pino e do verde ramo simbolizam a natureza e a esperança, enquanto o apelo a Deus reflete a angústia e a incerteza do eu lírico. A repetição das perguntas cria um ritmo melancólico e nostálgico, característico da poesia trovadoresca.
Já as 'Cantigas de Escárnio e Maldizer' eram veículos para críticas sociais e políticas. Enquanto as cantigas de escárnio apresentavam críticas subtis, as cantigas de maldizer eram vulgares, com o uso de palavrões e explícitas. Elas frequentemente serviam como armas de combate entre diferentes grupos e interesses sociais e políticos.
Uma das suas cantigas de escárnio é intitulada “De Joam Bol’and’eu maravilhado”. Nela, D. Dinis expressa a sua surpresa diante das acções de João, criticando-o de maneira humorística:
«De Joam Bol'and'eu maravilhado
(u foi sem siso, d'home tam pastor)
e led' e ligeiro cavalgador,
que tragia rocim bel'e loução,
e disse-m'ora aqui um seu vilão
que o havia por mua cambiado.
E deste câmbio foi el enganado,
d'ir dar rocim [a]feit' e corredor
por ũa muacha revelador
10 que nom sei hoj'home que a tirasse
fora da vila, pero o provasse
- se x'el nom for, nom será tam ousado.
Mais nom foi esto senom seu pecado
que el mereceu a Nostro Senhor:
ir seu rocim, de que el gram sabor
havia, dar por mua mal manhada,
que nom queria, pero mi a doada
dessem, nem andar dela embargado.
Melhor fora dar o rocim dõado
ca por tal muacha remusgador,
que lh'home nom guardará se nom for
el, que x'a vai já quanto conhocendo;
mais se el fica, per quant'eu entendo,
sem cajom dela, est aventurado.
Mui mais queria, besta nom havendo,
ant' ir de pé, ca del'encavalgado.»
As Cantigas de Amor e de Amigo do rei D. Dinis são uma colecção de poesias líricas medievais que expressam os sentimentos e experiências das mulheres da época. Essas cantigas são caracterizadas por sua simplicidade, melodia e temas amorosos, tesouros da literatura medieval e que nos permitem vislumbrar as emoções e experiências das mulheres da época.
Os últimos anos do reinado d'El-Rei Dom Dinis foram marcados por conflitos internos quando o herdeiro, futuro D. Afonso IV, achando que o rei favorecia o seu filho bastardo, Afonso Sanches, entrou em conflito com o pai, mas não chegou a haver guerra civil.
'D. Dinis, o rei que fez tudo quanto quis!’ – ditado popular -, reinou e governou até sua morte, a 7 de Janeiro de 1325, em Santarém, e está sepultado no Convento de São Dinis, em Odivelas.
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