domingo, 30 de novembro de 2025

O Rei

 « Nos liberi sumus, rex noster liber est et manus nostrae nos libraverunt »



Êles o afirmam com aspeito grave,
- êles o afirmam com profunda voz.
Um côro imenso revoou p'la nave:
- « O Rei é livre e livres somos nós! »

- « O Rei é livre! » E o grito de Almacave
não foi sòmente o grito dos Avós.
Por mais que o tempo em nossas veias cave,
nunca desata êsses antigos nós!

« O Rei é livre! » E com o seu elmo erguido,
é Portugal tornado corpo e alma
na sucessão do tempo indefinido!

O sangue o diz! E o sangue não se engana!
Que ver o Rei na sua fôrça calma,
é ver a Pátria com figura humana!


António Sardinha, in Pequena Casa Lusitana


sábado, 29 de novembro de 2025

Novena da Imaculada Conceição

Rezar estas orações em cada um dos 9 dias da Novena (de 29 de Novembro a 7 de Dezembro), pedindo em cada um deles pelas intenções pelas quais a quer oferecer.

Avé Maria Puríssima, concebida sem pecado!

Em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Ámen.

Louvemos e demos graças à Trindade Augusta de Deus que nos mostrou a Virgem vestida de sol, calçada de lua e coroada de doze estrelas (Pai-Nosso)

Louvemos e demos graças ao Pai Eterno que escolheu Maria para Filha (Glória ao Pai)

1. Louvado seja o Pai Eterno que predestinou Maria para Mãe do Seu Filho (Avé-Maria)
2. Louvado seja o Pai Eterno que preservou Maria de toda a culpa (Avé-Maria)
3. Louvado seja o Pai Eterno que adornou Maria com todas as virtudes (Avé-Maria)
4. Louvado seja o Pai Eterno que deu a Maria por esposo o puríssimo São José (Avé-Maria)

Louvemos e demos graças ao Filho de Deus, que escolheu Maria para Sua Mãe (Glória ao Pai)

5. Louvado seja o Filho de Deus que se encarnou e habitou em Maria Santíssima (Avé-Maria)
6. Louvado seja o Filho de Deus que nasceu de Maria sempre Virgem (Avé-Maria)
7. Louvado seja o Filho de Deus que deu a Maria todo o poder (Avé-Maria)
8. Louvado seja o Filho de Deus que nos deu Maria por Mãe (Avé-Maria)

Louvemos e demos graças ao Espírito Santo que escolheu Maria por sua esposa (Glória ao Pai)

9. Louvado seja o Espírito Santo por Quem Maria foi Virgem e Mãe (Avé-Maria)
10. Louvado seja o Espírito Santo por Quem Maria foi templo da Santíssima Trindade (Avé-Maria)
11. Louvado seja o Espírito Santo por Quem Maria foi assumpta ao Céu (Avé-Maria)
12. Louvado seja o Espírito Santo por Quem Maria foi medianeira de todas as graças (Avé-Maria)

V/ Bendita seja a Santa e Imaculada Conceição.
R/ Da Bem-aventurada Virgem Maria.

V/ Ó Maria concebida sem pecado.
R/ Rogai por nós que recorremos a Vós.

Oração (da Missa de 8 de Dezembro):
Ó Deus, que pela Imaculada Conceição da Virgem preparastes para Vosso Filho digna morada, nós Vos suplicamos humildemente que, assim como, em atenção aos merecimentos desse mesmo Filho, Vos dignastes preservá-la de toda mácula, nos concedais igualmente, por sua intercessão, a graça de chegarmos a Vós limpos do pecado. Pelo mesmo Jesus Cristo Nosso Senhor. Ámen

Oração (escrita pelo Papa São Pio X):
Virgem santa que agradastes ao Senhor a ponto de vos tornardes Sua Mãe, Virgem Imaculada no corpo, na alma, na fé, no amor, olhai com bondade os infelizes que imploram a vossa poderosa protecção. A serpente infernal contra a qual foi lançada a primeira maldição continua a combater e a tentar os pobres filhos de Eva.

Vós, nossa Mãe abençoada, nossa Rainha, nossa advogada, vós que esmagastes a cabeça do inimigo desde o primeiro instante de vossa Conceição, recebei as nossas orações e, nós vos suplicamos, unidos num único coração, apresentai-as diante do trono de Deus, para que nunca nos deixemos cair nas armadilhas que nos são preparadas, mas que cheguemos todos ao porto da Salvação e que, no meio de tantos perigos, a Igreja e a sociedade cristã cantem mais uma vez o hino da liberdade, da vitória e da paz. Ámen

 Fonte: Senza Pagare

sexta-feira, 28 de novembro de 2025

♔ | ‘Nossa Senhora da Conceição’, Uma Senha Para A Restauração & O Jantar dos Conjurados


Estava uma noite escura e fria, típica do Outono que já ia adiantado, e a neblina envolvia em segredo aquelas figuras que afundadas em capas e capotes negros se abafavam não só do frio, mas se escondiam de olhares indagantes. Os seus largos chapéus de abas e plumas escuras pareciam bailar enquanto as figuras que mal se recortavam no breu se esgueiravam pela noite adentro, sem outra coisa que os denunciasse que não fosse o brilho nos olhos de quem tinha a razão do seu lado, e os tacões que quando em vez apanhando um solo mais seco troavam, fazendo ladrar um cão na vizinhança. Convergiam todos para uma pequena porta incrustada na velha muralha fernandina.
Um a um, ou às vezes até mais quando o objectivo os fazia convergir ao mesmo tempo, batiam à portinhola e perguntavam-lhes um a um:

– Ao que vem, Vossa Mercê?
Uma voz abafada respondia com a senha que lhe dava direito a entrar:

– ‘Nossa Senhora da Conceição!’

Dita a senha e depois de reconhecidas as caras do outro lado pelo proprietário as figuras que se moviam esguias na noite entravam e desciam, um a um, os estreitos degraus – porque não dava para o fazer de par em par – até desembocar no jardim do que parecia ser um Palácio. Iam entrando numa pequena sala na qual desembocava a escadaria, e que umas velas de luz mortiça teimavam em não se deixar apagar para alumiar os presentes. O encontro tinha que ser assim, no secretismo que aquele lugar possibilitava por estar longe dos olhares curiosos dos demais habitantes do Palácio, especialmente da criadagem – sempre de língua solta! -, até porque aquilo não era uma tertúlia, mas uma Conjura!
Livres dos embuços que serviram para os camuflar na noite, cumprimentaram-se todos efusivamente.
Esta reunião no Palácio dos Almadas, em Lisboa, na noite de 12 de Outubro de 1640, foi a mais importante de todas da Conjuração, pois além de D. Antão de Almada – da tão fidalga e nobre família que tanto já tinha dado à sua Nação e se preparava para ainda mais dar -, incluiu ainda D. Miguel de Almeida – o decano destes Conjurados -, o Monteiro-mor Francisco de Mello e seu irmão Jorge de Mello, António Saldanha, Pedro de Mendoça Furtado e o agente do Duque de Bragança em Lisboa, João Pinto Ribeiro.
Que fazia convergir todos aqueles homens da Nobreza Portuguesa para aquelas reuniões conspirativas? A resposta era a Restauração da Liberdade nacional!
A Conjuração que levaria à Restauração da Independência de Portugal, em 1 de Dezembro de 1640, não foi obrada por aventureiros com agendas pessoais, ou projectos de poder, ou simples romantismo serôdio. Importa enquadrar no tempo e espaço, e fazer um retrato do plano geral. O que levaria aquele escol de homens, que ganharam a posteridade conhecidos como os 40 Conjurados, e, membros da mais distinta Nobreza Portuguesa, à possibilidade de sofrer os perigos que representava a Revolução para resgatar a Pátria Portuguesa às mãos do castelhano?!
Durante o Domínio Filipino da nossa Pátria, sobretudo no de Filipe III (IV de Espanha), Portugal, na prática, tratava-se de província espanhola, governada à distância, por quem não demonstrava qualquer cuidado com os interesses e anseios dos portugueses.

O desaparecimento d’El-Rei D. Sebastião em Alcácer Quibir, em 1578, sem descendência, abriu caminho, em Portugal, a uma crise de sucessão dinástica que interrompeu a linha natural da Dinastia de Avis e, consequentemente, ao risco de União Ibérica. O Cardeal D. Henrique, tio-avô do rei Sebastião, sucedeu ao trono português em 1578, após a morte do Rei, contudo devido à sua idade avançada e à sua condição de religioso, não ofereceu a segurança da descendência, o que levou a uma crise dinástica após a sua morte, em 1580, e à aclamação de Filipe II de Espanha nas Cortes de Tomar, em 1581, como rei Filipe I de Portugal e que culminaria com a constituição da Monarquia Dual.
Todavia, a perda da independência portuguesa não consequência directa da morte do Cardeal-rei D. Henrique, uma vez que após o seu falecimento, apresentaram-se três pretendentes ao trono português, todos eles netos d’El-Rei D. Manuel I. D. António, Prior do Crato, D. Catarina, Duquesa de Bragança, e D. Filipe II de Espanha, este último foi apoiado pela nobreza e pela burguesia – segundo se diz comprou esse apoio.
D. António de Portugal nasceu em Lisboa, em 1531, e morreu, em Paris, a 26 de Agosto de 1595, e ficou conhecido pelo cognome de “o Prior do Crato”.
Era filho legitimado do Infante D. Luís e, desta forma, neto d’El-Rei D. Manuel I, e por isso foi um dos candidatos ao trono português durante a crise sucessória de 1580, resultado das mortes d’El-Rei Dom Sebastião em Alcácer Quibir e do Cardeal-Rei Dom Henrique, sem descendência.
Destinado pelo pai à vida eclesiástica, D. António cedo preferiu a vida mundana, o que terá contribuído, desde cedo, para a animosidade que sempre lhe reservou o seu tio o Cardeal D. Henrique, que sempre lhe negou a dignidade própria a um filho de Infante e neto de Rei.
Encontrando-se o Cardeal-Rei Dom Henrique, 17.º Rei de Portugal, muito doente, e uma vez que não tinha descendentes, pois não lhe fora concedida dispensa Papal para de casar, convocou a 11 de Janeiro, em 1580, as Cortes de Almeirim, para assim se proceder à nomeação de sucessor ao trono de Portugal. D. Henrique havia convidado todos quantos se julgassem nesse direito a exporem por escrito as suas razões, e por sua vez hesitava entre Filipe II de Espanha e D. Catarina de Bragança, filha de D. Duarte de Portugal, 4.º Duque de Guimarães, e neta de D. Manuel I. Por sua vez, o Povo, nos seus vários estratos, queria aclamar D. António, Prior do Crato, neto de D. Manuel I, por recear a perda da independência de Portugal. No final de Janeiro de 1580, D. Henrique faleceu sem ser designado o herdeiro.
A 24 de Julho de 1580, D. António I foi Aclamado Rei pelo Povo no Castelo de Santarém e, depois em Lisboa e Setúbal.
Consequentemente, em Novembro de 1580, Filipe II de Espanha, incumbiu o Duque de Alba de invadir Portugal para reivindicar o Reino à força. Às mãos do mais poderoso exército europeu, à época, após a Batalha de Alcântara, em que num derradeiro acto de heróica resistência D. António comandou o que sobejava da cavalaria e o povo mal-armado de Lisboa, a Capital caiu rapidamente e o rei espanhol foi proclamado Rei de Portugal, sobretudo pela alta nobreza, mas com a condição de que o reino de Portugal e seus territórios ultramarinos não se tornassem províncias espanholas.
D. António decidiu então levar a resistência para Norte – sempre mais desafecto a ceder na sua liberdade e independência – e, juntamente, com um povo armado apenas de paus, pás e foices, libertou Coimbra, a seguir Aveiro, depois o Porto e foi até Viana da Foz do Lima, onde a clara hegemonia das tropas castelhanas se fez sentir, obrigando o 18.° Rei de Portugal a fugir. Filipe de Espanha ofereceu uma recompensa de milhares de ducados a quem capturasse Dom António “vivo ou morto”, mas o “Prior do Crato” refugiou-se no arquipélago dos Açores, e dessa forma Angra (desde o séc. XIX ‘do Heroísmo’) foi capital do reino de Portugal entre 5 de Agosto de 1580 e 6 de Agosto de 1582, enquanto D. António, Prior do Crato, ali estabeleceu o seu governo, onde inclusive cunhou moeda. A estocada final na independência do Reino e no reinado de Dom António, foi a Batalha Naval de Vila Franca, travada no dia 26 de Julho de 1582, em Ponta Delgada, a sul da ilha de São Miguel, Açores, entre uma esquadra aliada luso-francesa, comandada por Filippo Strozzi, e uma armada espanhola, que incluía parte da armada portuguesa afeta a Filipe I (II de Espanha), comandada por Don Álvaro de Bazán, Marquês de Santa Cruz, que utilizou pela primeira vez numa batalha naval, os grandes galeões, Assim, em inferioridade as forças luso-francesas foram derrotadas, seguindo-se um violento massacre dos castelhanos sobre os portugueses, em Vila Franca do Campo – sendo o maior de que há memória nos Açores. A hecatombe causou, entre a batalha naval e a subsequente chacina, um total de 2.500 mortos.
O Determinado, o Lutador ou o Independentista, como, também, foi cognominado, teve de partir para o exílio. Não obstante, e por tudo o explanado, a Plataforma de Cidadania Monárquica, a exemplo, da maioria dos Monárquicos reconhece que Dom António de Portugal, Prior do Crato, foi o 18.° Rei de Portugal, e o último Monarca da Dinastia de Avis, como Sua Alteza Real El-Rei Dom António I de Portugal.
Mas. continuando a crónica dos factos, Filipe II invadiu Portugal e foi aclamado rei, iniciando a União Ibérica que durou até 1640.
A União entre as coroas não teve aprovação homogénea de ambos os lados desde seu início . A Restauração teve apoio de nobres e aristocratas, que se vinham organizando desde 1638 contra as políticas de descentralização e neutralização, administradas pelo duque de Olivares. O novo rei não foi aclamado como o esperado e ainda teve que encarar a desconfiança do povo, que aguardava o retorno do rei encoberto que os libertaria do jugo espanhol.
Durante o Domínio Filipino da nossa Pátria, sobretudo no de Filipe III (IV de Espanha), Portugal, na prática, tratava-se de província espanhola, governada à distância, por quem não demonstrava qualquer cuidado com os interesses e anseios dos portugueses.
No início do reinado de Filipe III, então com 16 anos, em 1621, instalou-se em Madrid a política centralista de Gaspar Filipe de Gusmán, Conde-Duque de Olivares, plasmada no seu “Projecto Instrucción sobre el gobierno de Espanha”, de 1625, apontada à obliteração da autonomia portuguesa, abduzindo por completo o Reino de Portugal.

O conde-duque de Olivares foi um nobre e político espanhol do século XVII, III conde de Olivares, I duque de Sanlúcar la Mayor, I duque de Medina de las Torres, I conde de Arzarcóllar, I príncipe de Aracena e valido do rei Felipe IV da Espanha. Seu nome completo era Gaspar de Guzmán y Pimentel Ribera y Velasco de Tovar. Ele nasceu em 6 de janeiro de 1587 em Roma, Itália, e faleceu em 22 de julho de 1645 em Toro, Espanha . Ele é conhecido por ser o principal conselheiro do rei Felipe IV e por ter desempenhado um papel importante na política espanhola durante o século XVII.
Este documento de intenções apontava três sentidos

1º – Realizar uma cuidadosa política de casamentos, para confundir e unificar os vassalos de Portugal e de Espanha;
2º – Ir o rei Filipe IV fazer corte temporária em Lisboa;
3º – Abandonar definitivamente a letra e o espírito dos capítulos das Cortes de Tomar (1581), que colocava na dependência do Governo autónomo de Portugal os portugueses admitidos nos cargos militares e administrativos do Reino e do Ultramar (Oriente, África e Brasil), passando estes a ser Vice-reis, Embaixadores e oficiais palatinos de Espanha.

A Governação dos Filipes transformara-se em tirania. Como de simples nativos se tratassem, os habitantes serviam unicamente para serem visitados pelo cobrador de impostos. Este confisco em nada beneficiava o País, pois o tributo não era repartido para fruir as necessidades e premências de Portugal e o bem comum dos naturais, mas ajudavam tão só a custear as despesas do Império espanhol.
Foi sobretudo esta política fiscal que abriu o caminho para a Restauração. Ainda, em 1628, aconteceu o Motim das Maçarocas, no Porto, revolta contra o imposto do linho fiado; depois, em Agosto de 1637, foram os protestos e a violência, que ficaram conhecidas por Alterações de Évora, e que tiveram origem no aumento do imposto do real de água e a sua generalização a todo o Reino de Portugal, assim como o aumento do imposto da Sisa elevado para 25%. Apesar da revolta ter sido instigada pelo Procurador e pelo Escrivão do povo – acicatados ainda pelo imposto da meia-anata -, numa manobra para manter o anonimato dos impulsionadores, as ordens para a marcha da insurreição surgiram assinadas pelo ‘Manuelinho’, um pobre demente da cidade alentejana. As Alterações de Évora, contagiariam todo o País e alastraram a Sousel, Crato, Santarém, Tancos, Abrantes, Vila Viçosa, Porto, Viana do Castelo, Bragança, Beira e Algarve.
Vulgarizam-se os panfletos populares contra Filipe III (IV):

‘Que teve em ti Portugal?
Grande mal.
E de seres seu Senhor?
Gram rigor.
Que teve dos castelhanos?
Grandes danos.’

A Restauração da Independência de Portugal foi um processo histórico que procurou a autonomia portuguesa após sessenta anos de União Ibérica (1580-1640). Foi o messianismo Bragantino que acabou por ser utilizado para legitimar a ascensão de D. João IV, baseado na lealdade dos nobres e na dinastia que descendia de D. Manuel. Acompanhado do surgimento do nacionalismo na figura do Quinto Império, procurava relacionar as glórias do passado e vitórias do futuro.
Desta forma, o descontentamento era transversal a toda a Sociedade portuguesa: a Nobreza via os poucos cargos de administração que, ainda, sobejavam no Reino de Portugal – uma vez que a Corte estava em Madrid -, e, que outrora haviam sido dos seus antepassados, ocupados pelos ocupantes estrangeiros. Além disso, eram obrigados a alistar-se no exército espanhol suportando todas as despesas, e os que a sua idade já desobrigava da prestação obrigatória do serviço militar retiraram-se para a província, onde viviam nos seus palacetes e solares subsistindo com o mínimo de dignidade que impunham os pergaminhos de família.
Também, a Burguesia estava desiludida e em rota de colisão com a pobreza, pois em consequência da belicosidade castelhana com as demais nações europeias, os territórios e navios portugueses eram atacados e saqueados, ficando os corsários Ingleses, Franceses e Holandeses, com os produtos originários dessas terras e que outrora, os portugueses, comerciavam proveitosamente. Assim, comércio e respectivo lucro haviam caído a pique.
Apesar da insurreição de Évora, em 1637, não ter derrubado o Governo pró-Castela de Lisboa, consequência da repressão das tropas castelhanas que vieram em seu auxílio e que evitaram logo ali a revolução, já ninguém podia mudar o curso das vontades independentistas.
A Restauração da Independência de Portugal foi um processo histórico que procurou a autonomia portuguesa após sessenta anos de União Ibérica (1580-1640). A União entre as coroas não teve aprovação homogénea de ambos os lados desde seu início . A Restauração teve apoio de nobres e aristocratas, que se vinham organizando desde 1638 contra as políticas de descentralização e neutralização, administradas pelo duque de Olivares. O novo rei não foi aclamado como o esperado e ainda teve que encarar a desconfiança do povo, que aguardava o retorno do rei encoberto que os libertaria do jugo espanhol. Foi o messianismo Bragantino que acabou por ser utilizado para legitimar a ascensão de D. João IV, baseado na lealdade dos nobres e na dinastia que descendia de D. Manuel. Acompanhado do surgimento do nacionalismo na figura do Quinto Império, procurava relacionar as glórias do passado e vitórias do futuro.
Para isso muito contribuiu Gonçalo Annes Bandarra, ou ainda Gonçalo Annes, o Bandarra, um autor, profeta e sapateiro Português, nascido em Trancoso, autor de Trovas Messiânicas que ficaram posteriormente ligadas ao sebastianismo e ao milenarismo português.

‘Se Portugal foi grande,
muito maior há-de ser,
quando um Divino poder,
vier de longe e o mande’.

‘Está a aproximar-se a hora, e o dia da formação,
de uma tão grande nação, que todo o mundo ignora.
Nesta nação nascerá, o Quinto Império do mundo,
quando vier o Segundo, do lugar onde ele está.’

Muitos viram nesta profecia do ‘segundo’ que se referia a D. João II de Bragança, II porque a exemplo dos Reis os Duques de Bragança têm numeração.

As Trovas nas quais Bandarra falava do futuro de um povo que se havia de cumprir, denotava. Em 1603, D. João de Castro editou-as e comentou-as numa obra impressa em Paris e intitulada Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias de Bandarra. As Trovas foram interpretadas como uma profecia ao regresso do Rei D. Sebastião após o seu desaparecimento na Batalha de Alcácer–Quibir em Agosto de 1578.
Em 1639, D. João, o 8.° Duque de Bragança, recém-nomeado Governador de Armas do Reino, instalou-se em Almada onde começou a receber a visita da nobreza e fidalguia, entre os quais D. Francisco de Mello que lhe começa a incutir as ideias da Restauração da independência.
Escrevera, o Bandarra:

‘Saia, saia esse Infante bem andante,
O seu nome é D. João
Tire, e leve o pendão, E o guião
Poderoso e triunfante.
Vir-lhe-ão novas num instante
Daquelas terras prezadas,
As quais estão declaradas
E afirmadas pelo Rei dali em diante.’

Após sessenta anos de jugo castelhano, Portugal estava exaurido pelo imposto, com a economia de rastos, sem a outrora Marinha de causar admiração, despovoado pela mobilização de recrutas para combater as guerras de Filipe III e do Conde-Duque de Olivares e, também, uma outra vez os Três Estados estavam unidos no mesmo desiderato. Crescia a crença do Sebastianismo a que ajudavam as visões feitas profecias do sapateiro Bandarra; elevado a áugure. Tudo confluía para a necessidade e possibilidade de um novo Rei Português. Para Coroar o Reino com sangue portucalense como futuro Rei Dom João IV de Portugal. quem melhor do que o trineto de Dom Manuel I, o Venturoso: Dom João II de Bragança, Duque de Bragança, Conde-Duque de Barcelos, Duque de Guimarães e Marquês de Vila Viçosa.
Então, os acontecimentos precipitam-se, pois eclode uma revolta na Catalunha, também, contra o centralismo do Conde-Duque de Olivares. A 7 de Junho de 1640, O rei Filipe III (IV de Espanha) convoca Dom João (II) de Bragança para o assistir na viagem à Catalunha e colaborar na campanha de repressão que ia empreender. O Duque de Bragança enjeitou a convocação de Filipe IV, no que foi seguido por muitos nobres portugueses que receberam idêntica intimação, recusando-se também a obedecer a Castela.
Foi, então, que, secretamente, se congregou um grupo de Nobres – que viriam a ser denominados de Conjurados. Nas suas reuniões, no Palácio dos Almadas, propriedade de Dom Antão de Almada, 7.º Conde de Avranches, o grupo patriótico português nascido clandestinamente, começou a analisar e engendrar a melhor forma de revolta contra o domínio castelhano. Principiaram então a tecer uma revolta que desse garantia de êxito.
Na segunda quinzena de Outubro acontece um encontro entre Pedro de Mendoça Furtado e Dom João II de Bragança onde o Duque é instigado a assumir o seu dever de defesa da autonomia portuguesa, assumindo o Ceptro e a Coroa de Portugal: segundo o direito consuetudinário do País, pelo direito da representação Dom João II de Bragança era o candidato natural e legítimo, pois era filho varão primogénito do 7.º Duque de Bragança, D. Teodósio II, e como tal neto de D. João I de Bragança e da Infanta Dona Catarina, Duquesa de Bragança, e tal como Filipe I, neta d’ El-Rei Dom Manuel I de Portugal. Filipe I, sendo um Príncipe estrangeiro, não tinha direito ao trono português, tanto mais que havia, segundo estas leis do País um candidato natural e legítimo: Dona Catarina, Duquesa de Bragança, pois a Lei portuguesa não afastava as mulheres da sucessão ao trono.
Por tudo isto, já em 1635, por altura do casamento de Dom Francisco de Mello, 3.º Marquês de Ferreira, D. João II de Bragança foi recebido como um Rei a ser, em Évora.
Eclode, então, uma revolta na Catalunha, também, contra o centralismo do Conde-Duque de Olivares. A 7 de Junho de 1640, o Rei Filipe IV convoca Dom João II de Bragança para o assistir na viagem à Catalunha e colaborar na campanha de repressão que ia empreender. O Duque de Bragança enjeitou a convocação de Filipe IV, no que foi seguido por muitos nobres portugueses que receberam idêntica intimação, recusando-se também a obedecer a Castela.
No Palácio dos Almadas, na noite de 12 de Outubro de 1640, os Conjurados decidiram indigitar um deles para se encontrar com o Duque de Bragança, no Paço Ducal de Vila Viçosa.
Como ficara decidido, na famosa reunião que agregara os célebres Conjurados, o encontro entre Pedro de Mendoça Furtado e o ainda hesitante Dom João II de Bragança acontece na segunda quinzena de Outubro, e o Duque é instigado a assumir o seu dever de defesa da independência portuguesa, assumindo a Coroa de Portugal sob pena da Restauração seguir em frente e Portugal se tornar uma República Aristocrática, a exemplo da, então, República de Veneza. Dom João II de Bragança mostra-se favorável a assumir a Coroa e o Ceptro do Reino e o Trono dos seus Maiores, mas reserva uma resposta definitiva para depois de umas consultas com o Marquês de Ferreira, o Conde de Vimioso, o secretário António Paes Viegas e a própria Duquesa de Bragança, D. Luísa de Gusmão. Todos se mostrando favoráveis, Dom João II de Bragança decide apoiar incondicionalmente o coup.

Nas suas reuniões, no Palácio dos Almadas, propriedade do então titular, Dom Antão de Almada, 7.º Conde de Avranches, o grupo patriótico português nascido clandestinamente, que secretamente, começou a congregar-se, quando a noite já ia alta, que viria a ser denominado de ’40 Conjurados’, começou a analisar e engendrar a melhor forma de revolta contra o domínio castelhano.
A 10 de Novembro, o Duque entrega a João Pinto Ribeiro duas cartas com instruções: uma para D. Miguel de Almeida e outra para Pedro de Mendoça Furtado, que as recebem em 21 desse mês.
Era necessário apoio do Povo e também do Clero! Ora, os novos impostos lançados sem a autorização das Cortes empobrecia a população, e isso, também, se repercutia nos donativos à Igreja. Assim, a restauração seria do interesse dos Três-Estados. Faltava escolher o dia certo.
Somavam-se hesitações quanto ao dia perfeito para o golpe da Restauração, mas a 30 de Novembro, Dom João II de Bragança confirma a data do dia seguinte para a revolta: ‘A sua vida, sendo necessária, havia de ser a primeira que se desse pela liberdade da Pátria’, disse o futuro Rei Dom João IV, O Restaurador.
Foi, então, agendada a revolução para o 1.º de Dezembro.

Miguel Villas-Boas

Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica

quinta-feira, 27 de novembro de 2025

Dia da Medalha Milagrosa

Hoje é dia de Nossa Senhora das Graças, também conhecido por dia da Medalha Milagrosa. Quando Nossa Senhora das Graças apareceu a Santa Catarina Labouré (1830) pediu-lhe que fizesse uma medalha, através da qual teria muitas graças para dar a quem a usasse com devoção.

Na visão, a Virgem Maria aparecia com os braços estendidos, e as mãos voltadas para a terra. Tinha vários anéis de pedras preciosas dos quais saiam raios de luz, e disse: "Eis o símbolo das graças que derramo sobre todas as pessoas que mas pedem."

À sua volta apareceu a frase: "Ó Maria concebida sem pecado rogai por nós que recorremos a vós".

Foram tantos os milagres que hoje em dia essa medalha é conhecida como 'Medalha Milagrosa'.


quarta-feira, 26 de novembro de 2025

25 de Novembro 1975: O Dia em que Portugal Disse ‘Não’ ao Abismo

Na companhia de Brandão Ferreira, vamos revisitar o 25 de Novembro de 1975, o dia que salvou Portugal de uma guerra civil, travou a tentativa de imposição de um regime totalitário e restituiu ao povo a liberdade que lhe estavam a tentar tirar.

terça-feira, 25 de novembro de 2025

26º ANIVERSÁRIO DE S. A. O INFANTE D. DINIS DE SANTA MARIA, DUQUE DO PORTO


SUA ALTEZA SERENÍSSIMA O INFANTE Dom Dinis de Santa Maria Miguel Gabriel Rafael Francisco João nasceu no dia 25 de Novembro de 1999, em Lisboa, sendo o terceiro filho de SS. AA. RR. Dom Duarte Pio e Dona Isabel, os Duques de Bragança.


Para o nosso Infante Bem-Amado, que hoje celebra o seu aniversário, pedimos a Deus que lhe dê longa Vida, Saúde, Sucesso, Felicidade e muito Amor e desejamos que todos os dias o Seu Anjo da Guarda O proteja e guie.


VIVA O DUQUE DO PORTO!

VIVA A FAMÍLIA REAL!

VIVA PORTUGAL!

segunda-feira, 24 de novembro de 2025

Correio Real nº 32


Para distribuição no final do mês está prestes a seguir para a gráfica mais um número da revista Correio Real. A edição inclui uma entrevista ao Duque do Porto, o Infante Dom Dinis, a cumprir um programa Erasmus em Milão; um ensaio sobre o Rei Dom Dinis nos relatos de viajantes estrangeiros no âmbito dos 700 anos da sua morte da autoria de Xavier Reis; e um artigo de António Pinheiro Marques sobre a educação das princesas de Espanha, além de diversos textos de opinião, notícias das actividades do Movimento Monárquico e da Família Real Portuguesa.

sábado, 22 de novembro de 2025

59º ANIVERSÁRIO DE S.A.R., A SENHORA DONA ISABEL DE BRAGANÇA

Neste dia abençoado por Deus, desejamos a Vossa Majestade longa Vida, Saúde, Paz, Amor e Alegria junto da Vossa Real Família, Bem-Amada por todos nós.

Que Deus A Guarde e lhe dê toda a força para vencer.

Feliz Aniversário.


VIVA A NOSSA RAINHA!

VIVA A FAMÍLIA REAL!

VIVA PORTUGAL!

sexta-feira, 21 de novembro de 2025

Novena de Nossa Senhora das Graças (Medalha Milagrosa)

Quando Nossa Senhora das Graças apareceu a Santa Catarina Labouré pediu-lhe que fizesse uma medalha, através da qual teria muitas graças para dar a quem a usasse com devoção. Foram tantos os milagres que hoje em dia é conhecida como "Medalha Milagrosa".

Quem quiser fazer a Novena de Nossa Senhora da Graças e da Medalha Milagrosa deverá rezar em cada um dos 9 dias da Novena: 

1 Pai Nosso, 10 Avé Marias e 1 Glória ao Pai. De seguida fazer a seguinte oração:

Ó Maria concebida sem pecado
Sobre Ti desceu o Espírito Santo 
E Tu nos deste o Teu filho.

Ó Maria, confidente de Santa Catarina
Ensina-nos a sentar ao pé do Senhor
Para escutar a Sua palavra e guardá-la no nosso coração.

Ó Maria, de pé junto da cruz
Conduz-nos ao pé do altar 
Para que nos tornemos uma oferenda agradável ao Pai.

Ó Maria, Mãe da Igreja
Tu que transportas o mundo e o ofereces a Deus
Roga por nós que recorremos a Ti.

Ó Maria, cumulada de Graças
Derrama os teus raios de luz
Sobre cada um de nós que tos pedimos

Ó Maria, ícone da humildade
Faz que usemos a medalha Santa
Como sinal do nosso amor aos corações de Jesus e Maria

Ó Maria, Serva do Senhor
Ajuda-nos a viver na Caridade como Santa Catarina
Que não cessa de interceder em nosso favor. Ámen.

Depois desta oração, pedir a intenção pela qual se reza a Novena. Por fim, repetir 3 vezes a invocação ensinada por Nossa Senhora a Santa Catarina Labouré:

"Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a Vós."


quinta-feira, 20 de novembro de 2025

SS. AA. RR. Duques de Bragança e Príncipe da Beira visitaram o Bangladesh


SS.AA.RR. os Duques de Bragança e o Príncipe da Beira estão de visita ao Bangladesh a convite da Fundação London Tea Exchange. SS.AA.RR. presenciaram o programa de "Fair pay Chater", realizado em conjunto com as Nações Unidas. O programa consiste em sensibilizar os empresários a pagar um preço justo para os trabalhadores que trabalham nos campos de chá. A Universidade Daffodi, cujo reitor é embaixador de Sylhet, local em que os duques e o príncipe também visitaram as obras sociais realizadas em escolas como a Guardians (ligada à Fundação CAP- Community Against Povery) e a própria Universidade de Daffodil (onde criaram uma bolsa de estudos com o nome do Duque de Bragança).
SS.AA.RR. Estiveram ainda no Dubai e na Índia com vários grupos de investimento em conversações com o mesmo propósito de sensibilização.

terça-feira, 18 de novembro de 2025

ANGOLA: 50 ANOS DE INDEPENDÊNCIA, 50 ANOS DE DESGRAÇA

    “Angola …. É nossa
Angola é Portugal.”
(Letra e música de uma canção patriótica nascida em 1961).

Hoje, dia 11 de Novembro de 2025, data em que a “independência” de Angola perfaz 50 anos, devia ser um dia de luto para a Pátria Portuguesa.  

De luto carregado.  

E para a agora, Angola também.  

A razão desse luto daria um livro com muitas, muitas páginas, mas também, se pode contar em poucas palavras. É o que vamos tentar fazer.  

Os portugueses chegaram à Foz do Zaire - início das terras que constituiriam mais tarde o território de Angola - em 1482. Foram em caravelas enviadas pelo poderoso e esclarecido Rei, Senhor D. João, o Segundo.  

A Armada era comandada pelo grande capitão e navegador, Diogo Cão, o qual estabeleceu relações amistosas com o então “Reino do Congo”.  

E durante séculos por lá ficámos, colonizando as terras e as gentes, em locais onde raramente havia qualquer autoridade política, autónoma ou reconhecida como independente, por acordos comerciais ou de soberania, ou conquista.  

A colonização fazia-se sobretudo por assimilação, evangelização e outorga de nacionalidade logo que o estágio civilizacional o permitia, ou sugeria. Com a colonização exportou-se a organização do Estado à semelhança europeia. E todos ficavam debaixo do amparo da Coroa Portuguesa e à sombra da Bandeira das Quinas. As Quinas de Ourique.  

Nenhuma norma do incipiente Direito Internacional da altura ou da normal convivência entre povos foi infringido, de modo a pôr em causa o estabelecimento político dos portugueses nessas paragens.   

E nunca foi norma maltratar populações indígenas, a não ser aquelas que se rebelassem contra a presença portuguesa – a escravatura não entra neste conceito, pois era a política generalizada da época e que vinha de tempos ancestrais. 

E assim fomos ficando, com perdas e ganhos, derivados de ataques que sofremos de outros poderes europeus e tendo de fazer face e acomodar, posteriormente, as sucessivas mudanças no Direito Internacional (que funciona sempre como o interesse do mais forte, transformado em lei), de que se destacam o não reconhecimento do Tratado de Tordesilhas, pela generalidade dos estados europeus; a refutação da tese do “Mare Clausum” pela do “Mare Liberum”, em 1608; o Acto de Navegação, publicado em Inglaterra, em 1651; o combate ao tráfico esclavagista; a Conferência de Berlim de 1884/5; os mandatos e os duplos mandatos, inventados pela Sociedade das Nações, etc. Finalmente a vaga de “Terceiro Mundismo” que se seguiu à conferência de Bandung, em 1955. 

Pelo caminho, o maior e mais desenvolvido território português, o Brasil, elevado entretanto a Reino, em 1815, nessa notável organização político/administrativa chamada “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”, cortou as amarras políticas com o magnífico conjunto Lusíada, por interesses pouco confessáveis estrangeiros, nomeadamente britânicos e estado - unidenses; acção da Maçonaria internacionalista; inabilidades políticas saídas da Revolução Liberal de 1820 e defecção e traição de muitos portugueses “brasileiros”, a que se juntou o príncipe primogénito da Família Real Portuguesa, D. Pedro. 

Tal revolta – que devia ter sido jugulada, como foram as Inconfidências Mineiras – representou uma tragédia imensa, com repercussões negativas até hoje. 

***** 

Na sequência da Conferência de Bandung e de Acra, dois anos depois, formaram-se diversas forças políticas, algumas delas lideradas por exestudantes oriundos dos territórios africanos, que estudavam na Metrópole, (mordendo a mão a quem os alimentava), que passaram a advogar a independência a que chamaram descolonização. 

Assim se passou também com Angola, nem lhes passando pela cabeça distinguir a “colonização” do “colonialismo”, muito menos lhes ocorrendo, que estavam a ser peões da guerra indirecta que ocorria entre o mundo ocidental, capitaneado pelos EUA e o bloco soviético, cujo “sol na terra”, dava pelo nome de URSS. E que já estavam auto-determinados com a autodeterminação de Portugal, país de que faziam parte. 

O Estado Português preparou-se para o que aí vinha e, até ao arrepio do costume, lançaram-se os fundamentos de uma reforma da organização militar e das Forças Armadas, o que ocorreu a partir de 1958, que tentava andar à frente dos acontecimentos. Mas muitos continuaram a pensar que nada iria acontecer, ao passo que os meios financeiros para tornar a reforma efectiva ficaram aquém dos necessários. 

A revolta aconteceu, estávamos em 4 de Fevereiro de 1961, e já tinha havido um ensaio na Baixa do Cassanje, em 1960, sendo que o ataque principal veio a ser desferido pela UPA (chamada de União dos Povos de Angola, mas baseada apenas numa etnia – há 84 etnias em Angola…), a 15 de Março de 1961. Os guerrilheiros, sobretudo da tribo Bacongo, foram preparados nos países limítrofes e subsidiados por fundações americanas (País, supostamente, nosso aliado), ao passo que outras organizações eram ajudadas pela URSS (inimiga de Portugal desde a sua fundação) e seus satélites, sobretudo o MPLA tendo, mais tarde, a China também entrado na contenda ao financiar a UNITA. A chacina foi terrível e assemelhou-se a um genocídio indiscriminado. Não tem perdão. 

A decisão do que fazer, em Portugal, sofreu um impasse inesperado: os principais chefes militares, sobretudo do Exército, que tinham preparado a tal reforma de 58, “acobardaram-se” com a tarefa que tinham pela frente e, capitaneados pelo próprio Ministro da Defesa - um general que tinha sido “ultra” do regime, mas ficara “deslumbrado” pelo que viu nos EUA, onde passou uma temporada como Adido de Defesa – o qual, mancomunado com o embaixador americano em Lisboa, tentou depor o governo, através de um golpe de estado palaciano, que foi feito gorar. 

Readquirida a indispensável unidade de comando, surgiu a célebre (e superior) frase, que era uma ordem de comando, “para Angola rapidamente e em força”.  

Abençoada frase! Abençoada ordem de comando! 

Nos anos seguintes a guerrilha foi vencida e era residual, em 1974; e, quanto ao território, este registou um desenvolvimento económico, financeiro e social (em todas as áreas), aritmético, depois geométrico e no final era exponencial. 

Pode dizer-se que se fez mais em 14 anos de guerra do que nos 450 anos anteriores. 

Parecia que se aplicava o velho adágio português, de “há males que vêm por bem”… 

Não conseguindo, porém, vencer os portugueses nas frentes africanas, a subversão apontou as baterias para o “Terreiro do Paço”. E aproveitando um infeliz decreto-lei, que afrontava a carreira dos capitães e subalternos do Quadro Permanente, no Exército (apesar de não ter sido feito, crê-se, com má intenção) e a publicação de um livro de suposta autoria de um general vaidoso (vaidade que lhe toldava a visão) e de grande imperícia política - embora não possa ser acusado de anti – patriota - com propostas de evolução para os territórios ultramarinos, fez com que uma pequena parte da oficialidade intentasse um golpe de Estado, que por demissão e falta de comandamento das forças que supostamente defendiam a integridade do Estado, saiu vitorioso, em menos de 24 horas.  

Como não precaveram nada do que se ia passar a seguir, perderam o pé e o controlo da situação, no dia seguinte ao golpe; e perderam para a rua, a qual passou a ser dominada pelo Partido Comunista chamado de português (mas que obedecia ao PCUS, Partido Comunista da União Soviética, potência inimiga de Portugal), que sempre viveu na clandestinidade e outros grupúsculos políticos que passaram a medrar e os ultrapassavam pela esquerda baixa. 

Rapidamente se entrou numa espiral revolucionária anárquica, onde nada foi acautelado.  

E fez-se esta coisa incrível e inimaginável: alienou-se de um modo inadjectivável 95% do território nacional e cerca de 60% da população, a forças marxistas (diria marxistas/canibais), e de qualquer maneira, fazendo tábua rasa sequer do que prometeram fazer no programa do “Movimento das Forças Armadas” e, até, nas regras em vigor na ONU – uma organização maléfica, que nunca fez nada de útil em toda a sua existência – às quais os governos portugueses tinham resistido (e bem) durante décadas. 

Tudo representou o maior desastre e a maior vergonha de toda a História de Portugal. 

Ainda hoje coro de vergonha só de recordar o que se passou e com consequências ainda mais gravosas do que na perda do Brasil (pelo menos não obrigaram portugueses a abandonar o território …). 

As feridas não estão saradas e os ajustes feitos e podem, ou devem, ser perdoados, mas não devem ser esquecidos. 

Mas nada disto consta dos livros de História (até ver) nem do discurso político maioritário. 

Foi assim que Angola obteve a independência, aliás, escorada na presença de tropas cubanas (que apoiavam o MPLA, a mando da URSS, não a independência de Angola), que as “supostas autoridades portuguesas” não tiveram a decência de se opôr à sua presença, antes da desfigurada bandeira portuguesa ser arriada. 

Foi tudo tão revoltante que nem houve oportunidade para chorar de raiva! 

E o que aconteceu ao portentoso território em que Angola se tinha transformado? Pois entrou em guerra civil que durou até 2002, onde as depredações, crimes, mortes, destruição, são incontáveis e das quais jamais se conseguirá descortinar a verdadeira extensão da catástrofe.  

Regrediram não quatro, mas cinco séculos… 

E em termos políticos, económicos, sociais, etc., mantêm-se uma espécie de estrumeira a céu aberto de miséria, corrupção e iniquidade. E que há décadas a esta parte quer imigrar para cá, para a terra do colono explorador… 

Foi a uma terra neste estado e com esta história recente – cuja responsabilidade maior pertence à decomposição do Estado Português em 1974/5 - que a comitiva desse mesmo Estado, foi alegremente e a expensas da Nação, ajudar a soprar 50 velas, e onde os actuais Estado e Nação Portuguesa foram mais uma vez distratados. 

Não têm um pingo de vergonha na cara e perdi-lhes todo o respeito. 

Creio que não preciso continuar. 

Para mais, estou de luto. Carregado. 

João José Brandão Ferreira 
Oficial Piloto Aviador (Ref.) 

segunda-feira, 17 de novembro de 2025

Santa Isabel da Hungria

Isabel foi prometida em casamento a Luís, Duque hereditário da Turíngia, pouco depois de nascer em Presburgo, Bratislava, no ano de 1207. Seus pais, André II, rei da Hungria, e Gertrudes de Meran, levaram-na num berço de prata, quando tinha apenas quatro anos, para o castelo de Wartburg, em Marburgo, onde a esperava o noivo de onze.
     Antes do casamento Isabel já sofreu muito: devido ao falecimento do sogro, a viúva e o irmão do defunto, tentaram recambiá-la para a Hungria. O amor que já unia os noivos impediu isto, mas tudo fizeram para persegui-la.
     Conta-se que sempre que Luís passava por uma cidade comprava um presente para sua prometida: uma bolsa, ou luvas, ou um rosário de coral. "Quando chegava o momento da chegada de Luís, Isabel saía ao seu encontro; o jovem lhe dava o braço amorosamente e lhe entregava o presente que havia trazido".
     O casamento aconteceu em 1221, quando Luís tinha 21 anos e Isabel 14. Antes do casamento, a viúva do sogro de Isabel e o irmão do falecido aconselharam Luís a enviá-la de volta para a Hungria, mas ele declarou que estava disposto a perder uma montanha de ouro antes que a mão de Isabel.
     Segundo os cronistas, Isabel era "muito formosa, elegante, morena, séria, modesta, bondosa em suas palavras, fervorosa na oração, muito generosa com os pobres, cheia sempre de bondade e de amor divino". Diz-se também que era "modesta como uma donzela", prudente, paciente e leal; seu povo a amava.
     Foi um matrimónio feliz. Luís IV era muito piedoso. Isabel dizia à sua fiel dama de honra Isentrude: "Se eu amo tanto uma criatura mortal, quanto mais devo amar o Senhor, imortal e Criador de todos!". Isentrude insistia sobre o afecto recíproco entre os esposos, para argumentar que a piedade divina não reprime nem suprime o afecto humano. Ela escreveu: "Eles se amavam de um amor maravilhoso e se encorajavam mutuamente no louvor e no serviço de Deus". Porém a vida matrimonial da Santa só iria durar seis anos.
     A Duquesa era desprezada na corte por causa de sua simplicidade no vestir e modéstia no modo de viver. No castelo de Wartburg, quase não era distinguida das servas. Sua devoção era considerada excessiva por muitos. Era seu costume levantar-se à noite para rezar ajoelhada no seu leito conjugal. Além disso, a jovem Duquesa tinha pouco tempo para as distrações mundanas, pois aos 15 anos tivera o seu primeiro filho, Hermano, aos 17 uma filha, Sofia (depois Duquesa do Brabante), e aos 20 uma segunda filha, Gertrudes (que seria beatificada após viver como monja premonstratense). Esta última nascida já órfã de pai.
     No verão de 1227, Luís IV partiu para a 6ª Cruzada na Terra Santa, quando Isabel esperava o terceiro filho. Luís se empenhara em organizar essa Cruzada porque o Papa Honório III havia prometido liberá-lo da intromissão do Arcebispo de Mogúncia. Ele partiu sob o comando do Imperador Frederico II. Mas, não veria a Palestina: ele contraiu uma doença contagiosa em Otranto, Itália. Três meses depois de sua partida, um mensageiro trazia a notícia: o Duque morrera na Itália, onde aguardava para embarcar com Frederico II.
     Segundo Isentrude, "ainda quando o marido vivia, ela era como uma religiosa humilde e caridosa, toda dedicada à oração. Cumpria todas as obras de caridade na maior alegria e sem alterar sua fisionomia".
     Viúva aos 20 anos com três filhos pequenos, Isabel tinha direito a um dote. O confessor sugeriu a ela que contraísse novas núpcias, ou entrasse em um mosteiro, como outras rainhas fizeram. Mas, ela já ouvira os franciscanos que pregavam na Turíngia, e sabia onde encontrar "a perfeita alegria". Com seu dote tinha planos de construir um hospital (e o faria realmente).
     Seu infortúnio haveria de começar com a morte do esposo. A sogra sempre hostilizara a jovem Duquesa. Certa feita, na festa da Assunção em que acompanhara a futura sogra, Isabel tirara a coroa e prostrara-se durante muito tempo diante do Crucifixo. Aborrecida, a mulher começara a ridicularizá-la dizendo: "Quando é que encerras esta cena de te deitares por terra como mula velha cansada? Pesa-te muito a coroa? Dessa maneira pareces uma provinciana dobrada em duas!" Erguendo-se, Isabel apenas disse que não pudera usar uma coroa de pérolas diante de Cristo crucificado e coroado de espinhos.
     Ao saberem do falecimento de Luís IV, Isabel foi alvo da ambição do tio do falecido e dos cunhados que não queriam suportá-la mais. Isabel foi expulsa do castelo de Wartburg; saiu à noite, com a filha recém-nascida nos braços e os outros dois agarrados à saia. Foi preciso se abrigar com as crianças num curral de porcos até ser socorrida como uma pobre pelos franciscanos de Eisenach. Com receio de desagradar o regente, ninguém mais se atrevia a ajudá-la. Por fim, seu tio, Bispo de Bamberg, lhe deu asilo.
     Esteve por uns tempos no Castelo de Pottenstein e finalmente fixou moradia em uma casa modesta de Marburgo, onde mandou construir um hospital com seus últimos recursos, ficando reduzida à miséria. No espírito e à exemplo de São Francisco, que morrera há apenas um ano, vestiu o burel de Terceira Franciscana em 1227, e se dedicou a todas as obras de misericórdia. Ela socorria os doentes e cuidava dos leprosos, colocando-se sob a direção espiritual de um religioso muito exigente. Viveu como pobre, renunciando retornar à Hungria, como desejavam seus pais, o rei e a rainha da Hungria.
     Entrementes os companheiros de armas de seu esposo voltam da Cruzada. Luís IV incumbira-os de proteger sua esposa e eles já se preparavam para atender ao pedido do moribundo, quando o usurpador mudou de atitude para com Isabel. Os direitos de seus filhos foram reconhecidos, mas, em virtude de sua escolha pela pobreza, foram tirados de seu convívio.
     Durante quatro anos viveu praticando extrema penitência e intensa caridade, não comendo, não dormindo, dando tudo aos pobres, sempre pressurosa no atendimento aos doentes. A sua dedicação era disfarçada sob uma normalidade que incluía pequenos gestos exteriores inspirados não numa simples benevolência, mas por um verdadeiro respeito pelos inferiores. Não se excedia nas penitências pessoais que pudessem impedi-la de praticar as obras de caridade.
     No dia 19 de Novembro de 1231, com apenas 24 anos, Santa Isabel faleceu em Marburgo, Alemanha.
     Em tão breve tempo de vida foi esposa e mãe dedicada e afectuosa, Terceira Franciscana penitente e caridosa. Após sua morte, o confessor revelou que ainda quando seu esposo estava vivo, ela já se dedicava aos enfermos, até aos mais repugnantes. "Alimentava alguns, a outros procurava leito, levou outros sobre os próprios ombros, dedicando-se sempre, sem todavia entrar em discordância com o marido".
     A fama de sua santidade levou o Papa Gregório IX a ordenar um inquérito sobre os prodígios que lhe eram atribuídos. Foi um trabalho difícil e cheio de complicações, inclusive trágicas, pois o confessor de Isabel, o Arcebispo de Mogúncia, morreu assassinado. Roma retomou as investigações e chegou à canonização em 1235, ainda sob o Papa Gregório IX.
     Os seus despojos foram retirados de Marburgo durante os conflitos no tempo da Pseudo-reforma protestante, e parte deles estão em Viena. É patrona dos enfermeiros, das associações de caridade e da Ordem Terceira Franciscana.

 Fonte: Heroínas da Cristandade