“Angola …. É nossa
Angola é Portugal.”
(Letra e música de uma canção patriótica nascida em 1961).
Hoje, dia 11 de Novembro de 2025, data em que a “independência” de Angola perfaz 50 anos, devia ser um dia de luto para a Pátria Portuguesa.
De luto carregado.
E para a agora, Angola também.
A razão desse luto daria um livro com muitas, muitas páginas, mas também, se pode contar em poucas palavras. É o que vamos tentar fazer.
Os portugueses chegaram à Foz do Zaire - início das terras que constituiriam mais tarde o território de Angola - em 1482. Foram em caravelas enviadas pelo poderoso e esclarecido Rei, Senhor D. João, o Segundo.
A Armada era comandada pelo grande capitão e navegador, Diogo Cão, o qual estabeleceu relações amistosas com o então “Reino do Congo”.
E durante séculos por lá ficámos, colonizando as terras e as gentes, em locais onde raramente havia qualquer autoridade política, autónoma ou reconhecida como independente, por acordos comerciais ou de soberania, ou conquista.
A colonização fazia-se sobretudo por assimilação, evangelização e outorga de nacionalidade logo que o estágio civilizacional o permitia, ou sugeria. Com a colonização exportou-se a organização do Estado à semelhança europeia. E todos ficavam debaixo do amparo da Coroa Portuguesa e à sombra da Bandeira das Quinas. As Quinas de Ourique.
Nenhuma norma do incipiente Direito Internacional da altura ou da normal convivência entre povos foi infringido, de modo a pôr em causa o estabelecimento político dos portugueses nessas paragens.
E nunca foi norma maltratar populações indígenas, a não ser aquelas que se rebelassem contra a presença portuguesa – a escravatura não entra neste conceito, pois era a política generalizada da época e que vinha de tempos ancestrais.
E assim fomos ficando, com perdas e ganhos, derivados de ataques que sofremos de outros poderes europeus e tendo de fazer face e acomodar, posteriormente, as sucessivas mudanças no Direito Internacional (que funciona sempre como o interesse do mais forte, transformado em lei), de que se destacam o não reconhecimento do Tratado de Tordesilhas, pela generalidade dos estados europeus; a refutação da tese do “Mare Clausum” pela do “Mare Liberum”, em 1608; o Acto de Navegação, publicado em Inglaterra, em 1651; o combate ao tráfico esclavagista; a Conferência de Berlim de 1884/5; os mandatos e os duplos mandatos, inventados pela Sociedade das Nações, etc. Finalmente a vaga de “Terceiro Mundismo” que se seguiu à conferência de Bandung, em 1955.
Pelo caminho, o maior e mais desenvolvido território português, o Brasil, elevado entretanto a Reino, em 1815, nessa notável organização político/administrativa chamada “Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves”, cortou as amarras políticas com o magnífico conjunto Lusíada, por interesses pouco confessáveis estrangeiros, nomeadamente britânicos e estado - unidenses; acção da Maçonaria internacionalista; inabilidades políticas saídas da Revolução Liberal de 1820 e defecção e traição de muitos portugueses “brasileiros”, a que se juntou o príncipe primogénito da Família Real Portuguesa, D. Pedro.
Tal revolta – que devia ter sido jugulada, como foram as Inconfidências Mineiras – representou uma tragédia imensa, com repercussões negativas até hoje.
*****
Na sequência da Conferência de Bandung e de Acra, dois anos depois, formaram-se diversas forças políticas, algumas delas lideradas por exestudantes oriundos dos territórios africanos, que estudavam na Metrópole, (mordendo a mão a quem os alimentava), que passaram a advogar a independência a que chamaram descolonização.
Assim se passou também com Angola, nem lhes passando pela cabeça distinguir a “colonização” do “colonialismo”, muito menos lhes ocorrendo, que estavam a ser peões da guerra indirecta que ocorria entre o mundo ocidental, capitaneado pelos EUA e o bloco soviético, cujo “sol na terra”, dava pelo nome de URSS. E que já estavam auto-determinados com a autodeterminação de Portugal, país de que faziam parte.
O Estado Português preparou-se para o que aí vinha e, até ao arrepio do costume, lançaram-se os fundamentos de uma reforma da organização militar e das Forças Armadas, o que ocorreu a partir de 1958, que tentava andar à frente dos acontecimentos. Mas muitos continuaram a pensar que nada iria acontecer, ao passo que os meios financeiros para tornar a reforma efectiva ficaram aquém dos necessários.
A revolta aconteceu, estávamos em 4 de Fevereiro de 1961, e já tinha havido um ensaio na Baixa do Cassanje, em 1960, sendo que o ataque principal veio a ser desferido pela UPA (chamada de União dos Povos de Angola, mas baseada apenas numa etnia – há 84 etnias em Angola…), a 15 de Março de 1961. Os guerrilheiros, sobretudo da tribo Bacongo, foram preparados nos países limítrofes e subsidiados por fundações americanas (País, supostamente, nosso aliado), ao passo que outras organizações eram ajudadas pela URSS (inimiga de Portugal desde a sua fundação) e seus satélites, sobretudo o MPLA tendo, mais tarde, a China também entrado na contenda ao financiar a UNITA. A chacina foi terrível e assemelhou-se a um genocídio indiscriminado. Não tem perdão.
A decisão do que fazer, em Portugal, sofreu um impasse inesperado: os principais chefes militares, sobretudo do Exército, que tinham preparado a tal reforma de 58, “acobardaram-se” com a tarefa que tinham pela frente e, capitaneados pelo próprio Ministro da Defesa - um general que tinha sido “ultra” do regime, mas ficara “deslumbrado” pelo que viu nos EUA, onde passou uma temporada como Adido de Defesa – o qual, mancomunado com o embaixador americano em Lisboa, tentou depor o governo, através de um golpe de estado palaciano, que foi feito gorar.
Readquirida a indispensável unidade de comando, surgiu a célebre (e superior) frase, que era uma ordem de comando, “para Angola rapidamente e em força”.
Abençoada frase! Abençoada ordem de comando!
Nos anos seguintes a guerrilha foi vencida e era residual, em 1974; e, quanto ao território, este registou um desenvolvimento económico, financeiro e social (em todas as áreas), aritmético, depois geométrico e no final era exponencial.
Pode dizer-se que se fez mais em 14 anos de guerra do que nos 450 anos anteriores.
Parecia que se aplicava o velho adágio português, de “há males que vêm por bem”…
Não conseguindo, porém, vencer os portugueses nas frentes africanas, a subversão apontou as baterias para o “Terreiro do Paço”. E aproveitando um infeliz decreto-lei, que afrontava a carreira dos capitães e subalternos do Quadro Permanente, no Exército (apesar de não ter sido feito, crê-se, com má intenção) e a publicação de um livro de suposta autoria de um general vaidoso (vaidade que lhe toldava a visão) e de grande imperícia política - embora não possa ser acusado de anti – patriota - com propostas de evolução para os territórios ultramarinos, fez com que uma pequena parte da oficialidade intentasse um golpe de Estado, que por demissão e falta de comandamento das forças que supostamente defendiam a integridade do Estado, saiu vitorioso, em menos de 24 horas.
Como não precaveram nada do que se ia passar a seguir, perderam o pé e o controlo da situação, no dia seguinte ao golpe; e perderam para a rua, a qual passou a ser dominada pelo Partido Comunista chamado de português (mas que obedecia ao PCUS, Partido Comunista da União Soviética, potência inimiga de Portugal), que sempre viveu na clandestinidade e outros grupúsculos políticos que passaram a medrar e os ultrapassavam pela esquerda baixa.
Rapidamente se entrou numa espiral revolucionária anárquica, onde nada foi acautelado.
E fez-se esta coisa incrível e inimaginável: alienou-se de um modo inadjectivável 95% do território nacional e cerca de 60% da população, a forças marxistas (diria marxistas/canibais), e de qualquer maneira, fazendo tábua rasa sequer do que prometeram fazer no programa do “Movimento das Forças Armadas” e, até, nas regras em vigor na ONU – uma organização maléfica, que nunca fez nada de útil em toda a sua existência – às quais os governos portugueses tinham resistido (e bem) durante décadas.
Tudo representou o maior desastre e a maior vergonha de toda a História de Portugal.
Ainda hoje coro de vergonha só de recordar o que se passou e com consequências ainda mais gravosas do que na perda do Brasil (pelo menos não obrigaram portugueses a abandonar o território …).
As feridas não estão saradas e os ajustes feitos e podem, ou devem, ser perdoados, mas não devem ser esquecidos.
Mas nada disto consta dos livros de História (até ver) nem do discurso político maioritário.
Foi assim que Angola obteve a independência, aliás, escorada na presença de tropas cubanas (que apoiavam o MPLA, a mando da URSS, não a independência de Angola), que as “supostas autoridades portuguesas” não tiveram a decência de se opôr à sua presença, antes da desfigurada bandeira portuguesa ser arriada.
Foi tudo tão revoltante que nem houve oportunidade para chorar de raiva!
E o que aconteceu ao portentoso território em que Angola se tinha transformado? Pois entrou em guerra civil que durou até 2002, onde as depredações, crimes, mortes, destruição, são incontáveis e das quais jamais se conseguirá descortinar a verdadeira extensão da catástrofe.
Regrediram não quatro, mas cinco séculos…
E em termos políticos, económicos, sociais, etc., mantêm-se uma espécie de estrumeira a céu aberto de miséria, corrupção e iniquidade. E que há décadas a esta parte quer imigrar para cá, para a terra do colono explorador…
Foi a uma terra neste estado e com esta história recente – cuja responsabilidade maior pertence à decomposição do Estado Português em 1974/5 - que a comitiva desse mesmo Estado, foi alegremente e a expensas da Nação, ajudar a soprar 50 velas, e onde os actuais Estado e Nação Portuguesa foram mais uma vez distratados.
Não têm um pingo de vergonha na cara e perdi-lhes todo o respeito.
Creio que não preciso continuar.
Para mais, estou de luto. Carregado.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador (Ref.)
Fonte: O Adamastor
Sem comentários:
Enviar um comentário