quarta-feira, 25 de julho de 2018

Em Memória dos Santos Mártires Imperiais da Rússia



Há exactamente 100 anos, consequência totalmente incompreensível da Revolução de Outubro de 1917, no dia 17 de Julho de 1918, a Família Imperial da Rússia foi barbaramente assassinada.
O Tzar Nicolau II, a Tzarina Alexandra, o Tzarevich Alexis, as Tzaritsas Olga, Tatiana, Maria e Anastásia, mais quatro empregados, foram executados por uma fuzilaria e depois trespassados pelas baionetas de um pelotão bolchevique vermelho, a mando de Lenine, na cave da Casa Ipatiev, em Ekaterimburgo.

Os Romanov imolados pelos Bolcheviques Vermelhos são hoje Santos Mártires Imperiais da Rússia.

Sob a liderança de Yakov Yurovsky, além do Czar Nicolau II, a imperatriz consorte Alexandra Feodorovna (Alice de Hesse e Reno), as quatro filhas, Olga Nikolaevna da Rússia, Tatiana Nikolaevna da Rússia, Maria Nikolaevna da Rússia, Anastásia Nikolaevna da Rússia e Alexei Nikolaevich, Czarevich da Rússia, não foram poupados, também, o médico pessoal Eugene Botkin, a empregada da imperatriz Anna Demidova, o cozinheiro da família Ivan Kharitonov e o criado Alexei Trupp.
Baleado múltiplas vezes na cabeça e no peito por Yurovsky, o Czar Nicolau foi o primeiro a morrer. As últimas a morrer foram as Grã-Duquesas Anastásia, Tatiana, Olga e Maria, que foram também golpeadas por baionetas, e de acordo com o diário de Leon Trotsky, a ordem para a execução veio de Lenine e Sverdlov.

Um guarda, descreverá a barbárie, assim:

‘Na noite de 16 para 17 de Julho, entre as sete e as oito da noite, quando o meu turno tinha acabado de começar, o comandante Yurovsky (chefe do esquadrão de execução) ordenou-me que fosse buscar os revolveres Nagan aos guardas e que os levasse até ele. Recolhi doze revolveres dos sentinelas e de outros guardas e levei-os ao escritório do comandante.
O Yurovsky disse-me, “Temos de os matar hoje à noite, por isso avisa os guardas para não se assustarem se ouvirem tiros”. Percebi então que o Yurovsky tinha todas as intenções de matar a família inteira do czar, bem como o médico e os criados que estavam com eles, mas não lhe perguntei onde nem quem tinha tomado essa decisão. Cerca das dez da noite, seguindo a ordem de Yurovsky, informei os guardas para não se assustarem caso ouvissem disparos.
Cerca da meia-noite, o Yurovsky acordou a família do czar. Não sei se lhes disse a razão pela qual tinham sido acordados ou para onde seriam levados, mas tenho a certeza que foi o Yurovsky que entrou no quarto ocupado pela família do czar. Cerca de uma hora depois, a família inteira, o médico, a criada da czarina e os criados do czar levantaram-se, lavaram-se e vestiram-se.

Pouco antes de o Yurovsky ir acordar a família, dois membros da Comissão Extraordinária (do Soviete de Ekaterinburg) chegaram à Casa Ipatiev. Pouco depois da uma da manhã, o czar, a czarina, as suas quatro filhas, a criada, o médico, o cozinheiro e os criados saíram dos seus quartos. O czar levava o filho nos braços. O imperador e o herdeiro estavam vestidos de uniforme e levavam capas. A imperatriz, as suas filhas e os outros seguiam-nos. O Yurovsky, o seu assistente e os outros dois que mencionei em cima, membros da Comissão Extraordinária acompanharam-nos. Eu também estava presente.

Enquanto estive presente, nenhum membro da família do czar fez perguntas. Não choraram nem se lamentaram. Depois de descer as escadas da Casa Ipatiev para o primeiro andar, fomos para o quintal e, daí, entramos na segunda porta (do lado do portão), chegando à cave da casa. Quando chegamos à sala, adjunta à dispensa e com uma porta fechada atrás, o Yurovsky ordenou que se trouxessem cadeiras e o seu assistente trouxe três cadeiras. Uma delas foi dada ao imperador, uma à imperatriz e a terceira ao herdeiro.

A imperatriz sentou-se perto da parede, junto à janela, perto do pilar negro do arco. Atrás delas estavam três das suas filhas. Conhecia bem as caras delas porque as via todos os dias quando elas iam passear pelo jardim, mas não sabia como se chamavam. O herdeiro e o imperador sentaram-se lado a lado, quase a meio da sala. O doutor Botkin estava atrás do herdeiro. A criada, uma mulher muito alta, estava à esquerda da porta que dava para a dispensa, ao seu lado estava a filha mais nova do czar (Anastásia). Os outros dois estavam encostados à parede, à esquerda da porta de entrada para a sala.

A criada levava uma almofada. As filhas do czar também tinham almofadas pequenas com elas. Uma delas foi colocada na cadeira da imperatriz e outra na do herdeiro. Parecia que adivinhavam o seu destino, mas nenhum deles falou. Neste momento entraram onze homens na sala: O Yurovsky, o assistente, dois membros da Comissão Extraordinária e quatro operativos da Cheka (polícia secreta).

O Yurovsky ordenou-me que saísse, dizendo: “Vai até à rua, vê se está lá alguém e espera para ver se se conseguem ouvir os tiros.” Saí para o quintal, que era protegido por uma vedação, mas antes de chegar à rua ouvi disparos. Regressei imediatamente à casa, só tinham passado dois ou três minutos, e quando entrei na sala onde a execução tinha acontecido vi que todos os membros da família do czar estavam deitados no chão, gravemente feridos ou mortos. O sangue corria como um riacho. O médico, a criada e os dois serventes também tinham sido atingidos. Quando entrei o herdeiro ainda estava vivo e gemia um pouco. O Yurovsky foi até ele e disparou mais dois ou três tiros contra ele. Depois o herdeiro ficou quieto.”

Em 1 de Outubro de 2008, o Supremo Tribunal da Rússia reabilitou formalmente o último Czar, Nicolau II, declarando que o assassínio do monarca e da sua família, em Ecaterimburgo, representou uma acção ilegal das autoridades soviéticas.
A 30 de Setembro de 2008, o Supremo Tribunal da Rússia reabilitou a família real russa e o czar Nicolau II, 90 anos após sua morte. O Supremo Tribunal Russo declarou que a sua execução foi ilegal e que a família real russa foi vítima de um crime, da repressão bolchevique.

Em 1981, Os Romanov foram canonizados pela Igreja Ortodoxa Russa no Exterior como Neomártires. Em 2000, a Igreja Ortodoxa Russa, dentro da Rússia canonizou a família como Portadores da Paixão.

Miguel Villas-Boas

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