terça-feira, 30 de junho de 2015

XXVI Aniversário da Real Associação de Lisboa - Passeio pela Costa do Estoril

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No âmbito da celebração do seu XXVI aniversário, e como é tradição nesta altura do ano, a Real Associação de Lisboa realizou no passado Sábado dia 20 de Junho um convívio entre os seus associados, constituído este ano por um passeio pela Costa do Estoril. A jornada incluiu uma visita à Real Quinta de Caxias e ao Forte de S. Bruno, a que se seguiu um almoço no Restaurante Terra Batida no Clube de Ténis do Estoril honrado com a presença de S. A. R. o Senhor Dom Duarte, ocasião para empossar a nova direcção do Núcleo da Costa do Estoril representada pela associada Aline Gallasch-Hall de Beuvink. Seguiu-se uma vista ao Palácio da Cidadela em Cascais e a deposição de uma coroa de flores na estátua do Rei Dom Carlos pelo presidente da Real Associação de Lisboa João Távora e Carminho Pinheiro Torres em representação da Juventude Monárquica Portuguesa, naquela que constituiu uma emotiva homenagem de todos os associados presentes.





































































domingo, 28 de junho de 2015

Festas da Rainha Santa 2015

Rainha Santa

Embora, como é hábito nos anos ímpares, não se realizem as procissões em 2015, nem por isso deixaremos de solenizar com todo o esplendor a festividade da nossa Excelsa Padroeira. O programa será o seguinte:

  • Dia 20 de Junho, na Igreja da Rainha Santa Isabel: 
    • às 14h30: assinatura de um acordo de parceria entre a Confraria da Rainha Santa e a União das Freguesias de Santa Clara e Castelo Viegas.
    • às 15h00: distribuição de bens alimentares a 300 famílias carenciadas de Coimbra

  • Dia 26 de Junho, às 18h30, na Sala do Capítulo do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova: inauguração da exposição "Presença Franciscana no Caminho Português de Santiago”.

  • Dias 1, 2 e 3 de Julho, às 21h30, na Igreja da Rainha Santa Isabel: tríduo solene na Sua igreja do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova, com pregação a cargo do Revº Pe. Carlos Noronha, pároco de Buarcos.

  • Dia 4 de Julho, na Sua igreja do Mosteiro de Santa Clara-a-Nova:
    • às 8h00, missa presidida pelo Revº Capelão da Confraria da Rainha Santa Isabel;
    • às 11h00, missa solene presidida por S. E. Revª D. Virgílio Antunes, Bispo de Coimbra;
    • às 16h30, missa da Real Ordem da Rainha Santa Isabel, com a participação de Suas Altezas Reais, os Senhores Duques de Bragança.
    • 18h00 – II Vésperas

No dia 3, depois da celebração das vésperas e pregação, a porta da igreja manter-se-á aberta até às 24.00 horas. Durante a missa solene do dia 4 de Julho, tomarão posse os novos órgãos sociais da Confraria, recentemente eleitos.

sábado, 27 de junho de 2015

Feira Afonsina 2015

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Corre o mês de Abril do ano da graça de 1128 e as tropas de Castela, comandadas por Afonso VII, haviam levantado o cerco às terras de Guimarães. O burgo volta paulatinamente ao seu quotidiano onde o clima de paz estimula a população a retomar as suas actividades habituais. 
De forma a agradecer às suas gentes, que com ele haviam passado male et pena, e garantir a continuação desse mesmo auxílio, D. Afonso Henriques confirma o foral outorgado por seu pai (1096) e concede novas regalias aos moradores de Guimarães. Tais regalias, embora questionadas, são bem recebidas pelo povo que rejubila e festeja e pelos senhores que viriam a apoiar o Infante naquela decisiva tarde de 24 de Junho, nos campos de S. Mamede...

Espectáculo / Momentos de Recriação
Sexta-feira - 26 | 17H30, 19H30, 21H30 e 22H30
Sábado - 27 | 11H30, 15H00, 18H00, 21H30 e 22H30
Domingo - 28 | 11H30, 15H00, 18H00, 21H30

Confirmação do Foram de Guimarães - Tribunal da Relação de Guimarães
Após o cerco a Guimarães, o príncipe Afonso Henriques acompanha seu primo, Afonso VII, a Santiago de Compostela, deixando para trás um burgo e uma população que tão bravamente tinham resistido aos intentos do imperador.
Regressando ao Condado, o jovem príncipe sente que tem uma dívida de gratidão para com Guimarães e o seu povo. Decide, então, confirmar-lhes o foral outorgado pelo conde D. Henrique, seu pai, concedendo-lhes novos privilégios e antecipando, até, a lealdade que lhes seria pedida em futuras quezílias com Dª Teresa.
*. Entrada limitada à lotação do espaço. Admissão por ordem de chegada.

Anúncio público do foral 
Confirmado que fora o foral, urge que a sua nova redacção seja tornada pública. Pelo burgo, o arauto empenha-se em dar a conhecer a todos as novas disposições acrescentadas pelo príncipe Afonso Henriques a um foral que já não era novo.
Mas se há quem receba com agrado os novos preceitos agora anunciados, outros há que os questionam e que se perguntam sobre os motivos de tais disposições.

Horários:
Sexta-feira 
18h30 – Praça da Oliveira
20h00 – Largo da Misericórdia
21h30 – Estátua Afonso Henriques
23h00 – Largo Cónego José Maria Gomes

Sábado 
13h30 – Largo da Misericórdia
16h00 – Praça da Oliveira
19h00 – Largo Condessa do Juncal
22h00 – Estátua D. Afonso Henriques
23h00 – Largo Cónego José Maria Gomes
Domingo
13h30 – Largo da Misericórdia
16h00 – Largo da Oliveira
19h00 – Largo Condessa do Juncal
21h30 – Estátua D. Afonso Henriques

Áreas temáticas
Acampamento rurall (Ruris vivendi) (Junto ao Castelo de Guimarães)
Naquela encosta, ali bem perto das muralhas, pode-se avistar um acampamento onde as pessoas sobrevivem do que a terra e os  animais lhes dão. É um ambiente rural onde a vivência e os costumes relacionados com a agricultura, criação de gado e a caça estão bem presentes.

Arraial (Junto ao Castelo de Guimarães)
Como forma de protecção e de preparação para as batalhas, os militares juntam-se nas imediações do castelo montando Arraial. O quotidiano das tropas de D. Afonso Henriques é de intenso treino. Uma série de talentosos artífices acompanham a coluna fornecendo as mais diversas necessidades: armas, roupa, comida…

O Jardim dos Infantes (Colina Sagrada)
No jardim do Largo Martins Sarmento, um espaço lúdico para os infantes e seus acompanhantes se divertirem. Os mais pequenos irão treinar a sua bravura e destreza em jogos e brincadeiras fundamentais para o desenvolvimento das futuras damas e cavaleiros.

Largo do oculto (Largo dos Laranjais)
Ensombrados pelas flores e folhas de laranjeira, escondem-se aqueles que da sociedade procuram retiro. Os seus produtos e crenças pertencem ao oculto. Para além dos conselhos e consultas existem pedras com poderes especiais, ervas medicinais, amuletos, mezinhas e outros produtos místicos.

Quelho das desgraças (Rua João Lopes de Faria)
Este é o habitat dos larápios, dos pedintes, das meretrizes, dos loucos e dos empestados. Vivendo em comunidade, são obrigados a interagir pois este é o local onde todos podem sobreviver. A esterqueira, os objectos de tortura, o pequeno altar dos renegados, as padiolas, o carro dos cadáveres, os baldes da água de lavar feridas, entre outros, são elementos fortes deste quadro vivo.
Praça de mercar (Rua de Santa Maria)
Chega a caravana de mercadores mas a sua passagem é marcada pela sonoridade dos chocalhos e aromas dos produtos frescos. Ouvem-se pregões das bocas dos mercadores a chamar a clientela madrugadora. A vida no burgo aquece à medida que o sol ilumina as praças, ainda cobertas por um manto de nevoeiro das fogueiras da noite passada.
Chegada dos mercadores: todos os dias às 10h30
Partida dos mercadores: todos os dias às 21h30

Largo do Duques (Largo da Misericórdia)
Aqui brinca-se à época..., acompanhados de seus pais ou ao cuidado atento das Amas do reino; pequenos Cavaleiros aprendem a
defender as suas Damas, juntos intentam as danças da corte, declamam com os jograis, sonham ser trovadores, enfeitam os seus cabelos com flores, e pintam seus amores.

Estalagem Ti-Berna (Largo Condessa do Juncal)
Diz-se que é na Estalagem Ti-berna que se bebe o melhor vinho e se comem as mais apreciadas iguarias da região. Esta fama traz clientela das mais distantes terras, forasteiros à procura de descanso e diversão, mas nem todos com as melhores intenções... Entre uma e outra confusão, bêbados, Taberneiros, homens e mulheres do povo, protagonizam as histórias mais incrédulas, num espírito de festa e confraternização.

Zona das iguarias (junto à estátua de D. Afonso Henriques, Largo José Maria Gomes, Rua D. Nuno Álvares Pereira e Largo Condessa do Juncal).
Área dedicada ao repasto de toda a população. À volta de uma mesa as conversas jorram como o vinho das pipas
e por entre os pregões e o fumo das brasas, vão se partilhando os mais diversos petiscos e iguarias, confeccionados segundo as técnicas mais antigas.

B - Zona de mercadores (Largo Maetins Sarmento, Praça de S. Tiago, Largo João Franco, Largo da Misericórdia, Largo Condessa do Juncal e Largo da Oliveira).
Era o comércio uma das principais actividades económicas nos tempos Afonsinos. E como tal, todos aqueles que eram dotados da arte de criar objectos e utensílios de trabalho ou ócio, reuniam-se para mostrar e vender seus produtos.

Oficinas para todos 
Actividades para o público (Actividades de inscrição obrigatória, e limitadas a lotação máxima. Inscrições no posto de informação)

Almoço  / Jantar no arraial
Uma refeição diferente, confeccionada com as técnicas e ingredientes da época.
Duração: 90 minutos
M/6
Preço
: 6,00:€
Horário: todos os dias às 13h00 e 20h30
Inscrições: Até 60 minutos antes da hora pretendida
Limite de 8 pessoas

Visita ao acampamento dos arqueiros
Uma visita guiada ao mundo dos arqueiros. O processo de fabrico do arco e flecha, algumas das técnicas de combate e alguns
ofícios do quotidiano são componentes desta visita.
Duração: 30 min
M/6
Horários
: todos os dias às 15h00 e 18h00
Inscrições: Até 30 minutos antes do inicio da actividade
Limite de 10 pessoas

Na pele de um guerreiro
Os visitantes poderão tomar parte de um treino militar. Desde o experimentar de algumas vestes e armas às técnicas mais básicas do treino com espada e/ou lança.
Duração: 30 minutos
Horário: todos os dias às 16h e 19h
M/12
Inscrições
: Até 30 minutos antes do inicio da actividade
Limite de 10 pessoas


O Bem-Fazer da Rainha D. Amélia



Em época de Estio lembremos que foi a nossa Rainha Senhora Dona Amélia a fundar oInstituto dos Socorros a Náufragos, em 1892, o que fez depois de ter socorrido um pescador cujo barco tinha naufragado e que se encontrava em sérias dificuldades no mar. Dona Amélia, senhora de uma forte compleição física – sem que isso resultasse em qualquer perda de graciosidade -, ao ver o pescador em apuros não hesitou em lançar-se à água e salvar o náufrago.
Como escreveria Eça de Queiroz, a Rainha era de uma ‘grácil e natural beleza que se debruça, espalha perfume, dispersa frescura, e logo, formosamente, retoma a sua elevação natural.
A imprensa da época deu grande repercussão à notícia do salvamento e o Augusto marido da Rainha, El-Rei Dom Carlos I de Portugal quis condecora-La pelo feito, mas a Rainha recusou qualquer homenagem. Não obstante essa negativa a uma distinção, Dona Maria Amélia Luísa Helena de Bourbon-Orleães e Bragança, princesa de França, Rainha de Portugal, viria a ser agraciada com comendas por parte do Imperador Guilherme II da Alemanha e Rei Carlos V da Suécia, pois o Corpo Diplomático estrangeiro presente em Portugal fez da notícia da coragem e abnegação de Sua Majestade a Rainha um caso de repercussão positiva internacional.
Recorde-se ainda que a Rainha Dona Amélia durante todo o reinado de Dom Carlos I se interessou sempre pela erradicação dos males da época, como a pobreza e a tuberculose, fundando ainda, em 11 de Junho de 1899 o Instituto Nacional de Assistência aos Tuberculosos, a Assistência Nacional aos Tuberculosos, assim como dispensários, sanatórios como o Sanatório para a Assistência Nacional aos Tuberculosos, em 18 de Maio de 1907; além de lactários populares, cozinhas económicas e muitas creches, assim como fundou oInstituto Pasteur em Portugal.
Dona Amélia viu mesmo o seu trabalho com os necessitados ser reconhecido recebendo aRosa de Ouro, atribuída pelo Papa Leão XIII a 4 de Julho ano de 1892, Dia de Pentecostes.
Como ainda escreveria Eça de Queiroz:
Neste século, porém, mesmo sem aludir à triunfal soberana que o enche e que, como Augusto, criou uma era, a era vitoriana, abundam rainhas estimáveis pelo carácter, pela inteligência, pela compreensão da dignidade real, pelo fecundo emprego da existência. A Rainha de Portugal pertence a essas soberanas bem louvadas, que, por lhes faltarem já tantos direitos e, não desejando definhar na inutilidade através das frias salas dos paços, se impõem muitos e graves e laboriosos deveres. E a dois desses deveres se aplica a rainha com tocante atenção, ao dever íntimo e teologal, como lhe chamaria um padre da Igreja, do aperfeiçoamento próprio, e ao dever público, nacional, da educação dos príncipes.’
Miguel Villas-Boas 

quinta-feira, 25 de junho de 2015

Portugal – Primeiro Dia



A primeira tarde portuguesa’, nesse 24 de Junho de 1128, que foi dia um de Portugal, que se conquistou e fundou Nação nessa Batalha de São Mamede, em Guimarães, onde o Infante Dom Afonso Henriques à frente dos Portucalenses se torna Princeps ao derrotar a facção estrangeira capitaneada pela própria Mãe.
Alguns historiadores têm defendido que os gregos foram os primeiros a assentar em Cale e que o nome deriva da palavra gregaKallis, “belo”, referindo-se à beleza do vale do Douro. Outros, por causa do morro granítico da Pena Ventosa, defendem que deriva da palavra indo-europeia Kal (pedra); outros ainda, presumem que a palavra Cale veio da palavra latina para “quente”. A principal explicação para o nome, porém, é que ele é um gentílico derivado do povo Castro que se estabeleceu na área da Cale. De facto, Cale não era mais do que o povoado da Sé do Porto, e era assim chamado porque o povo que habitava essa região era o Calaico.
O primeiro contacto dos Calaicos com outro povo, foi com os romanos na data acima referida, embora só em 74 a.C., com Perpena, tribuno lacticlávio (lugar-tenente) de Sertório, foi conquistada Cale; porém, só depois das Guerras Cantábricas de Octávio César Augusto foi conseguido o domínio efectivo da região, também, a partir das quais, os romanos passaram a subjugar completamente a Ibéria a que chamaram de Hispânia.
Com o domínio romano veio a sua organização territorial emconventus civitates.
Callaeci (Calécia) ou Gallaeci depois Gallaecia (Galiza), tornou-se independente da Terraconense e abrangia todo o Norte de Portugal.
Cale tinha dentro da Calécia uma localização estratégica, pois, na região, todos os caminhos lá iam dar. Além de estar relativamente perto das maiores regiões de extracção aurífica, era aí que se situava um dos portos de maior navegabilidade do Douro, inclusivamente, com um cais.
Este Porto tornou-se de tal forma importante, diga-se fundamental, que ficou associado ao nome do povoado onde se localizava. Assim os romanos juntaram o designativo Portus ao nome Cale e rebaptizaram a civitates de Portus Cale.
Roma começa o seu declínio e por volta de 409 d.C. os Suevos transpõem os Pirenéus e instalam-se em toda a Península, mas principalmente nas áreas de Bracara AugustaPortus Cale, Lugo e Astorga. Bracara Augusta, antiga capital romana da Gallaeciatornou-se tal-qualmente a capital dos suevos. Depois foi a vez dos Visigodos que acabariam por conquistar o reino suevo em 584 d.C.
Originariamente Portus Cale, toda a região em volta da civitatespassou depois a ser designada pelos visigodos como Portucale, pois o latim vulgar variava de acordo com a origem geográfica. A denominação Portucale aparece pela primeira vez, no fim do século V, na Crónica de Idácio de Chaves.
E eis que vieram os Mouros e Portucale foi conquistada em 711.
Em 868, o galaico Vimara Peres, vassalo do Rei de Leão, Galiza e Astúrias reconquista a região entre Douro e Minho, incluindo Portucale, e funda o primeiro Condado: Portucale, assim designado para diferenciar do restante território.
A presúria de Vimara Peres prosperou e foi governada pelos seus descendentes, até à derrota de Nuno II Mendes pelo rei Garcia II da Galiza na Batalha de Pedroso, em 1071.
Falecido Garcia II, em 1091, o Rei Afonso VI de Leão e Castela retoma a unidade dos Estados Paternos.
Com a Reconquista, formaram-se diversos reinos na retaguarda da vanguarda cristã: Astúrias, Oviedo, Leão, Castela e Aragão. Uns implodiram, uns anexaram outros, outros agregaram-se, todavia, asseguraram o domínio cristão na Península Ibérica. Foi neste cenário da época da Reconquista que acorreram à Ibéria uma plêiade de cavaleiros estrangeiros, normalmente, filhos-segundos e terceiros da nobreza que sem título e fortuna para herdar, vieram em busca de riqueza e/ou auréola militar e com ambições políticas, incorporando-se nos regimentos dos reis cristãos da península.
Foi nesta leva (re)conquistadora que vieram para a Ibéria, Henrique de Borgonha e o primo Raimundo, ambos da Casa Ducal de Borgonha, bisnetos de Roberto II Capeto Rei de França, e sobrinho-netos de Hugo o abade de Cluny, para servir nos exércitos de D. Afonso VI de Leão, Castela e Galiza, autoproclamado Imperador das Espanhas. A importância do sangue destes Borgonheses é notória pois a Henrique foi concedida em casamento Dona Teresa, filha natural de Afonso VI, enquanto Raimundo casou com D. Urraca, primogénita do Rei-Imperador.
Porém, intensificaram-se as acometidas dos Almorávidas o que precipitou a distribuição dos poderes militares e por esta altura os territórios de todo o Norte e Centro da Ibéria Ocidental passaram para a administração de Raimundo de Borgonha casado com D. Urraca. Mas com o governo entregue a Raimundo, este, não conseguiu defender eficazmente a linha do Tejo – tendo perdido Lisboa que fora cedida aos Reis de Leão pelo califa de Badajoz. Assim Afonso VI decide fortalecer ainda mais a defesa militar ocidental, dividindo em duas a zona atribuída inicialmente a Raimundo, entregando, em 1095, a mais exposta a D. Henrique da Borgonha.
Assim, de Afonso VI recebeu D. Henrique o governo do território designado então por Terra Portucalense ou de Portucale -, mais as terras, Coimbra e Santarém, que fechava o flanco sul, fronteira sempre subordinada aos avanços ou retrocessos da Reconquista. Foi chamado de Condado Portucalense e já não Terrae pois passa a abranger todo o território entre o Minho e o Tejo.
O nosso conde D. Henrique, apoiado pelos interesses políticos da Ordem de Cluny, imiscui-se estrategicamente e com ambição na política do Reino, conquistando a sua pretensão poder junto da Corte.
A fim de aumentar a população e valorizar o seu território, D. Henrique deu foral e fundou novas povoações, entre elas a vila de Guimarães, atraindo para ali, com várias regalias, muitos dos seus compatriotas francos. D. Henrique consolidou o seu governo do Condado, também, no cunho religioso, reforçando Braga como sede metropolitana, competindo com Toledo e tornando a arquidiocese minhota, a Igreja primaz das dioceses do Ocidente da Península.
Em Guimarães fixou D. Henrique a sua habitação, num Paço, dentro do Castelo que ali fora edificado no século anterior.
Em 1109 morre o Rei-Imperador Afonso VI sucedendo-lhe D. Urraca que depois de enviuvar casa em 2.ªs núpcias com Afonso I de Aragão, ameaçando pondo a independência de Leão o que leva a nobreza leonesa e castelhana a repudiar esse casamento e a aclamar como rei da Galiza D. Afonso Raimundes, filho do anterior casamento de D. Urraca com D. Raimundo, o que provoca uma guerra civil.
Foi neste cenário de disputa e maquinação que D. Henrique, mesmo que neutral, tentou conservar o Condado Portugalense ou Portucalense independente. D. Henrique falece, em 1112, e o governo do condado é assumido por Dona Teresa, uma vez que, Afonso Henriques, o filho de ambos tinha apenas três anos de idade.
A seu favor colocam-se o Bispo de Santiago de Compostela e os nobres galegos, mas D. Urraca, Rainha de Leão e Castela, vence a irmã, em 1119, e assume o domínio do Condado cujo governo volta, pouco depois, a entregar a Dona Teresa mediante vassalagem.
Dona Teresa pouco fica, entretanto, a dever, a esses compromissos tão feudais e, em 1121, auto-intitula-se Rainha, mas os conflitos com o Clero e a sua relação com o fidalgo galego Fernão Peres, a quem entregara o governo dos distritos do Porto e Coimbra, originou a insurreição dos Portucalenses e do próprio filho o Infante D. Afonso Henriques, invariavelmente afastados, por forasteiros, da gestão dos negócios públicos.
Em 1125, com apenas 14 anos de idade, num acto de importante relevância política, o efebo D. Afonso Henriques – conforme o uso e costume dos reis – arma-se a si próprio Cavaleiro, na Catedral de Zamora, cidade onde se auto-refugiara, tornando-se assim guerreiro independente.
D. Urraca morre em 1126 e com a sucessão de seu filho, D. Afonso Raimundes feito D. Afonso VII, os acontecimentos precipitam-se, pois o novo monarca hispânico trata de relembrar à tia as incumbências feudais e exige que Dona Teresa lhe preste vassalagem.
Dona Teresa vê a sua posição enfraquecida pois associara ao governo o Conde Galego Bermudo Peres de Trava e o seu irmão Fernão Peres de Trava, que Dona Teresa faz de seu valido. Em 1127, D. Afonso VII invade parte do Condado Portucalense e impõe submissão a D. Teresa.
A relação da ‘rainha’ com o nobre galego acicata contra si a reprovação do filho, os ódios da nobreza portucalense afastada do círculo de poder e a antipatia do povo que recordava com carinho D. Henrique e do clero que exigia outro tipo de comportamento à princesa da Hispânia.
Com a oposição dos Três Estados portucalenses àquele governo estavam reunidas as condições para ser afastado pois ao velho costume medieval o Rei é um mero funcionário do povo e, por isso, o povo pode livremente destroná-lo, se ele não cumprir qualquer das obrigações inerentes ao seu cargo. O Rei tem de governar rectamente: Rex eris, si recte facias, si non facias, non eris e por isso mesmo deve ser deposto. E o Rei injusto seria um castigo que Deus envia ao Povo, mas o povo não é obrigado a sofrê-lo.
Então o Infante D. Afonso Henriques insurge-se contra a mãe e prepara uma revolta militar e prepara-se para travar uma batalha decisiva.
No dia 24 de Junho de 1128, à dianteira dos barões e fidalgos portucalenses, Dom Afonso Henriques defronta no campo de São Mamede, perto de Guimarães as forças galegas comandadas por Dona Teresa e pelo seu valete Fernão Peres de Trava, derrotando-os naquela que ficou conhecida pela Batalha de São Mamede e que marcou a Fundação da Nacionalidade Portuguesa, uma vez que o Infante Dom Afonso Henriques avoca a si, o governo do Condado Portucalense com pretensões independência.
Não é ainda após esta Batalha que se auto-intitula Rei, Rex Portucalensis, pois com duas frentes de Batalha – uma contra Leão e Castela, outra contra os árabes –, tal só se viria a acontecer após a Batalha de Ourique, em 1139, quando arrasa os mouros e Dom Afonso Henriques consegue uma importante vitória que o engrandece sobremaneira e assim declara a Independência face a Castela-Leão. Nascia, assim, em 1139, o Reino de Portugal e a sua 1.ª Dinastia, com El-Rei Dom Afonso I Henriques de Borgonha.
Em 1143, quando assina a paz em Zamora, onde é reconhecido como Rei. Afonso Henriques usava já o título havia três anos, desde o torneio de Arcos de Valdevez, em 1140, após o episódio de Ourique. Desaparece, assim, e só aí, a designação histórica de Condado Portucalense e nasce o Reino de Portugal, que já tinha visto o seu alvor nessa ‘primeira tarde portuguesa’, nesse dia um de Portugal que foi o 24 de Junho de 1128.
Miguel Villas-Boas 

quarta-feira, 24 de junho de 2015

Batalha de São Mamede


O reinado de D. Afonso Henriques é, por assim dizer, uma peça inteiriça: todo ele, de ponta a ponta, é um sistema de esforços conjugados, e superiormente dirigidos, para a independência do Condado de Portugal.

A batalha de S. Mamede é o primeiro acto decisivo, claro, que não admite dúvidas, da série gloriosa de feitos do fundador do Reino de Portugal. É o nosso grito de independência, é a nossa primeira afirmação de personalidade e de vontade. Vitorioso da hoste estrangeira, Afonso Henriques ergue voo, nas suas legítimas aspirações, e sonha o talhar de fronteiras que é o seu longo reinado.

Génio político e militar formidável, Afonso Henriques é o obreiro máximo da nossa existência como Nação. E foi na batalha de S. Mamede que o plano grandioso se fixou, se concretizou e definiu. Sem a batalha de S. Mamede, a história de Portugal não podia existir: ela foi o seu berço.

Tudo quanto veio depois, a obra inolvidável das dinastias que se seguiram, saiu do combate dos campos de S. Mamede, em que D. Afonso Henriques passando sobre os seus sentimentos de filho, defrontou a vontade da Mãe, subjugada à influência do estrangeiro. Perdoa-se a D. Teresa essa fraqueza sentimental de uma paixão serôdia – recordando-se que também ela cooperara, ainda em vida do marido, para que as condições do condado portucalense tornassem possível o gesto audacioso de Afonso Henriques, em 1128.

Volvidos 800 anos sobre essa data fascinante, a Nação persiste. Foi a continuidade da Realeza que garantiu essa persistência. Neste ano em que escrevo, em que me irritam os nervos, cantos de sereia castelhana que mascaram mal disfarçados apetites do Imperialismo Ibérico, é um dever, e um dever sagrado, recordar a batalha de S. Mamede, e a figura prestigiosa do Rei que a venceu. Coincidência curiosa: há oito séculos, nasceu Portugal. Em 1128, ergue-se o Sol magnífico; em 1828, abre-se a noite nefanda. Como vimaranense e como português, não posso, nesta hora, calar o grito sagrado: – Viva Portugal!

Alfredo Pimenta in «A Ilustração Moderna», n.º 25/26, Julho-Agosto de 1928.


VIVA O SÃO JOÃO!


terça-feira, 23 de junho de 2015

Alegria - O motivo da mudança | O que somos e o que queremos ser

Quando existe tempo para reflectir ou mesmo sentir, normalmente é quando se estabelecem as melhores conclusões. Quando existe esse tempo, por exemplo em período de repouso ou de férias, e nos deparamos com o Portugal profundo, do Alto Minho ao Alentejo e depois ainda o Algarve, composto pelo nosso povo, as nossas gentes, as ermidas seculares, os castelos da reconquista aos mouros, os monumentos, os padrões portugueses, as estátuas evocativas do nosso passado inspirador, os trajes, as tradições, as estórias e as histórias da História portuguesa, os legados, o folclore, a nossa música, a atitude portuguesa, a gastronomia, a vinicultura, as belas praias e paisagens, etc, etc, qualquer um que seja minimamente sensível sente, neste contexto de especificidade lusa, a indesmentível ligação ao nosso passado, aos nossos Reis. É impossível não constatar essa afinidade! Existe, até mesmo de facto, um nexo causal, um elo, ainda hoje fortíssimo, que une esse Portugal quase milenar aos seus Reis. Pensar sobre este País é inevitável ter sempre de contar com os Reis dos portugueses.

Todavia, o Rei não se encontra hoje entre nós. O Portugal dos Mares e das Descobertas, do azul e branco deixado por Afonso Henriques e Sancho I, foi (a)tingido por um manto vermelho que traduz pouco orgulho, pouca alegria e, acima de tudo, pouquíssima ligação àquele nosso passado, não nos indicando o melhor caminho para sermos, ao menos, quem sempre fomos. Separaram os portugueses daquele que lhes deu identidade.

Desde 1910 que o eixo directo a Aljubarrota, bem como à aventura dos Descobrimentos, foi interrompido, e presentemente, em república, na sua terceira versão de regime, é como se fingíssemos continuar jogar o mesmo Jogo da Glória, jogo que uma vez a teve mas que agora já não a tem, como uma criança a jogar ao Super Mario Bros. numa consola, mas sem ter o Super Mario.

Carecemos, pois, de nos repensar enquanto colectivo para que possamos ter a certeza se queremos continuar como estamos ou, ao menos, tentar, termos a ousadia de procurar uma alternativa que nos estimule novamente, que nos devolva a esperança, o orgulho e, sobretudo, a alegria de sermos portugueses como já prosperamente fomos. Neste contexto, nada como recordar as sintomáticas palavras de Miguel Villas-Boas que falava acerca da alegria de estar perante o nosso Rei, uma alegria que um monárquico sente (e que já tive a fortuna de sentir) mas que um português clarificado e esclarecido com o seu passado e com o seu presente também não pode deixar de sentir: «Passava Ele e com Ele passavam a Reconquista, Aljubarrota, as Descobertas, as Caravelas, a Restauração… eis Sua Majestade que Nele contém a História de Portugal!».

Como um dia escrevi: Alegria só em Monarquia!

PPA

segunda-feira, 22 de junho de 2015

Sucessão É Continuidade



‘(…) A Realeza é outra coisa, visa de longe a meta, e, com prudente vagar, chega ao fim planeado; se não for o Pai a ultimar a realização, seu Filho, automaticamente alçado Rei, educado das mesmas ideias de seu Pai, tudo seguirá como se a mesma vida fosse, o labor do mesmo pensamento.
Assim se fez o Império, com o prolongamento do comando: – A Dinastia.
A todas as Repúblicas, por melhores que sejam, falta e faltará sempre, este apanágio das Realezas:– a CONTINUIDADE.’
– 2.º Conde de Alvellos in “IV – O Berço Exilado do Príncipe da Beira; Carta a um Príncipe – O Berço Exilado”, Terceira Tiragem, Porto, 1946
Essa ‘Continuidade’ evita as crises que podem surgir com uma mudança na chefatura de Estado se o titular for um actor político, que de área ideológica diversa do anterior, põe tudo em causa e gera desestabilização política e social. A Monarquia evita a ruptura, pois só um Rei permite uma evolução – sem quebrar a linha – na chefia do Estado, fruto da substituição geracional. Existe, de facto, uma verdadeira renovação. O novo Rei é fruto de um longo trabalho de preparação técnica e cultural para apreender a Nação que encarnará e representará como ninguém. O novo Rei não inuma o passado, mas antes represtina os bons exemplos e aplica-os à nova realidade, pelo que a Monarquia é o melhor modelo adaptado a cada época.
Na Monarquia, com a sucessão, não há uma organização diferente que institui uma oposição à ordem anterior, mas uma diversidade que qualifica, sem ser profunda, mas, também, sem ser idêntica: existe uma reorganização!
Miguel Villas-Boas

domingo, 21 de junho de 2015

Mau Pelo, o cuidador da bandeira de D. Maria I em Timor-Leste

O culto à bandeira de Portugal, tanto a monárquica com a republicana, é um vínculo várias vezes celebrado por reinos timorenses. Foto António Sampaio

Memórias da monarquia portuguesa permanecem escondidas na selva timorense. Guardadas como tesouros durante a ocupação indonésia ou a invasão japonesa por um liurai, guardião das relíquias por herança familiar.
 Mau Pelo, liurai timorense, 70 e tal anos – não sabe ao certo -, fato monárquico português que será do século XVIII, azul-escuro cruzado por duas faixas rosa, sujas, tem as mãos secas, finas e cheias de sulcos, apoiadas em duas bengalas. Está sentado numa cadeira de plástico, hirto, quase parece de cera, no interior de uma pequena casa de cimento, branca e azul, no topo de uma escada, também de cimento, com degraus íngremes e de uma altura que obrigam a uma subida pouco natural até lá cima.
Se calhar é propositado, para que nesta casa mais moderna imitem a altura dos degraus de madeira que se tem que subir para chegar à casa tradicional em si, a ‘Uma Lulik’, a casa sagrada, do outro lado do largo, em cuja sombra brincam quatro ou cinco miúdos. Mau Pelo vestiu-se propositadamente para receber a reportagem da Lusa, guiada nesta viagem ao passado por uma equipa do Arquivo e Museu da Resistência Timorense, em Díli, liderada por um seu familiar, Álvaro Rosário Vasconcelos.
O fato está desgastado, com as insígnias nos punhos a desfazerem-se, botões dourados, cada um com as armas de Portugal, as duas bengalas de madeira, decoradas com um punho também dourado, marcado por desenhos de flores e conchas.
Mas é quase um milagre que algo do século XVIII, que já esteve escondido em buracos em vários pontos de Timor-Leste, ainda esteja neste estado. Ou que sequer exista. Como é ainda mais milagroso que tenha sobrevivido, apesar do mau estado em que já se encontra, o que chama aqui os mais curiosos: uma bandeira de D. Maria I, enviada para Timor-Leste e que tem sido guardada, ao lado de vários documentos, esses ainda em pior estado, incluindo um alvará real.
O primeiro guardião destas relíquias foi Mau Dua, depois Manuel – “não tem nome gentio” – depois Mau Pelo. O seguinte chama-se Domingos Lemos e já ajuda o liurai a mostrar os documentos e a bandeira, a fazer a bênção com malus, areca e betel ao parente que serve de guia nesta viagem, Álvaro Rosário Vasconcelos. É também descendente directo da linhagem que deveria cuidar da bandeira, mas a honra ficou com Mau Pelo e quando este morrer passará para o jovem Domingos Lemos, que já é chefe de suco.
Ainda que hoje, como admite, os mais jovens liguem muito menos a estas coisas e os liurais estejam menos presentes na vida diária de Timor-Leste e dos timorenses. O culto à bandeira de Portugal, é um vínculo várias vezes celebrado por reinos timorenses que ainda hoje é, para muitos, algo incompreensível, mal percebido, mal interpretado.
Foi lido, erradamente, como um ato de resistência à ocupação indonésia quando, na prática, como esta bandeira desbotada e degradada o demonstra, já era um símbolo sagrado para os reinos timorenses muito antes, há vários séculos. Contam os Lia Na’in, os ‘pais’ da oralidade histórica e da ligação timorense ao seu passado, que as bandeiras representam alianças históricas, muitas vezes confirmadas com os inquebráveis pactos de sangue.
Fonte: Lusa

sábado, 20 de junho de 2015

Reinar A Favor Da Nação



Um Rei cuida do Seu Povo como um Pai. Uma das diferenças entre um Rei e um Presidente é que o Povo há-de ser sempre o Povo do Rei, e não uma massa de população que serviu o propósito de eleger um político.
Rei sem Povo não é Rei, Povo sem Rei não é Povo’, proferiu Dom Luís Álvares de Castro, 2.º Marquês de Cascais, tendo como interlocutor El-Rei Dom João V que na sua magnitude compreendeu o axioma e o pôs em prática.
O Reinado de um Monarca é uma missão ao serviço da Nação e, os príncipes eram educados pelos seus doutos preceptores precisamente para isso. Isto posto, um Rei nunca protesta estorvo e/ou embaraço no contacto com o Seu Povo, pois tem arreigado esse trato como sendo algo de natural.
Ora a Nação é uma comunidade estável constituída, historicamente, com base num território, numa língua, e com aspirações materiais e espirituais comuns e o Povo é usualmente concebido como um conjunto de indivíduos, que num dado momento histórico constitui a Nação. Ora a função do Rei é encarnar esse espírito comum da Nação o que o torna num Monarca ao serviço do Povo e que, por isso, o pode livremente destronar, se ele não cumprir qualquer das obrigações inerentes ao seu cargo.
O Rei tem de reinar rectamente: ‘Rex eris, si recte facias, si non facias, non eris.’
No nosso País, em Monarquia, sempre foi assim! E no Estado das Coisas republicano, há mecanismo igual ou idêntico?! Pergunta retórica, pois a resposta é um rotundo e sabido ‘Não!’. Suportem-no até haver novas eleições!
Só o Rei lê o Povo, indaga cada camada da população, apreende a sua realidade, e através de uma atitude racional chega ao que acredita será o reflexo da vontade do Povo. Essa é uma tarefa infinita e a preparação começa com a educação do herdeiro presuntivo da Coroa, não é uma realidade que se pode apreender de um momento para o outro.
Para conhecer o Povo é necessária presença, dirigir-se à própria matéria, face a face, auscultar, permitir a espontaneidade, sair da confortável área da preguiça espiritual para conhecer a «substância», e ouvindo as pretensões mais exageradas e os anelos mais essenciais, filtrar, chocar esses anseios e formar em consciência o que será o corpo do bem da coisa comum.
Na nossa sociedade contemporânea tão igualada, já não existe possibilidade para monarcas de trato enfatuado, e em Portugal também não os houve; os nossos reis mantinham uma relação directa com o povo, e sentiam prazer em estar entre gente comum e quando abordados por qualquer pessoa do povo, entabulavam familiarmente uma conversa. D. Aleixo de Menezes acautelava El-Rei Dom Sebastião: ‘o excesso de afabilidade, senhor, não compromete a autoridade do príncipe…’. Como escreveu Eça de Queiroz no encómio “A Rainha”: ‘No tempo dos nossos velhos reis, ao contrário, todos os educadores de príncipes lhes ensinavam o alto dever real de comunicar docemente com o povo.’
Veja-se o caso d’El-Rei Dom Manuel II que percorria as ruas sondando e interagindo com o Seu Povo, que visitava os doentes nos hospitais, não por piedade, mas levando-lhes o tão importante agasalho espiritual. E mesmo depois de deposto pelos bacharéis pífios do Partido Republicano Português e pela organização terrorista Carbonária na golpada anti-democrática do 5 de Outubro de 1910, se colocou sempre ao serviço dos Portugueses.
Com o início da 1.ª Grande Guerra, o Monarca exilado, em Inglaterra, colocou-se à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Primeiramente, apanhou-o a desilusão quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha Britânica, mas o empenho que mostrou no decorrer da guerra, cooperando em conferências e na recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, foi-Lhe muito gratificante. Todavia, a sua solicitude nem sempre foi reconhecida, e chegou mesmo a referi-lo numa entrevista ao ‘Times’: “A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres’.”
El-Rei Dom Manuel II estabeleceu, tal-qualmente, o departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por perseverança do Monarca e da Sua bolsa continuou a funcionar até 1925, dando assistência aos estropiados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos britânicos para com D. Manuel II de Portugal foi quando o Rei britânico Jorge V – primo do Monarca português pelos laços da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha – o colocou, e à Rainha Augusta Vitória, a seu lado na tribuna real durante o Desfile da Vitória, em 1919, em Londres.
Miguel Villas-Boas

quinta-feira, 18 de junho de 2015

Alegria, Que O Rei Passa!

S.M. El-Rei Dom Manuel II em Lisboa


O Reino de Portugal é o Capítulo Principal da História da Nação. Manteve durante 771 anos, sem transigências, o culto da glória nacional. O Rei simbolizava a miragem inefável da grandeza e da esperança na continuidade e quando passava transbordava no seu fácies o testemunho e plena satisfação do dever cumprido.
Rei pelos Altos Decretos do Destino, Sol sem ocaso, sempre que passava exigia sem autoridade, mas pela gema sem preço, a atenção do auditório.
Suspensos pelo privilégio da Sua passagem, sugestionados pela expressão superlativa da imagem real, todos eram atraídos instintivamente por aquele íman subjectivo que é um Rei. Não pela figura, mas pela Ideia cheia de honra e glória, pelo Rei engalanado de brasões da Sua Dinastia e da nossa História. Passava Ele e com Ele passavam a Reconquista, Aljubarrota, as Descobertas, as Caravelas, a Restauração… eis Sua Majestade que Nele contém a História de Portugal!
O espírito do Povo sempre acorreu entusiasmado à entrada do Rei, com ruidosas manifestações de sentimento, porque o trono do Rei de Portugal sempre foi alçado não num estrado mas erguido nas bases sólidas do direito público nacional e argamassado na fidelidade e amor recíproco entre Monarca e Povo.
Ó feliz harmonia que desapareceu faz quase 105 anos, que substituiu o pacto do Rei com as Cortes, reunindo os Três Estados, e que fez com que desde o próprio Rei Fundador Dom Afonso Henriques, o Rei fosse sempre Aclamado e nunca imposto! A harmonia, o acordo justo e desvelado foi substituído pela obediência acrisolada das repúblicas substituindo-se um Rei por vários senhores paternalistas, que se imiscuem na nossa vida e nos regulam ordenando-nos como e em que medida devemos agir e ser felizes. Ó desafecta relação muitas vezes forçada pelo horror e pelo temor em que uns acham o que os outros devem!
Custe o que custar, tarde o que tardar – não se baixam os braços e continua-se a remar, mesmo contra a maré, sem que nos tirem as forças – havemos de voltar a ter Rei de e em Portugal! Avancemos, sequiosos das glórias passadas, mesmo contra as vagas que teimem marulhar, pois temos o legítimo representante de um passado enorme; aceleremos filhos dilectos desta Terra que é Portugal! Remem que as ondas começam a alegrar-se e a ideia do Rei faz nossas forças aumentar. Paulatinamente, vão-se quebrando as ondas e, adentro a resistência dos humores que não nos mastigarão, voltaremos a ver a Passagem do Rei e com ele os nobres brios desta Nação tão aclamada nos fastos da História.
E à Sua passagem a Nação Portuguesa e a sua História será evocada num grito pátrio: VIV’Ó REI!
Miguel Villas-Boas

quarta-feira, 17 de junho de 2015

NO RESCALDO DO 10 DE JUNHO DE 2015. HOMENAGEM AOS COMBATENTES DA PÁTRIA: UM DEVER DE SEMPRE

As Forças Armadas são o poder executivo da consciência nacional, o braço da Pátria, a Nação em atalaia, a vigilância dos berços, o resguardo dos túmulos, a segurança do presente e do porvir. Nobreza não há maior que a da sua missão”.
Rui Barbosa, 1938.

As últimas campanhas militares ultramarinas portuguesas – ultramarinas porque se desenrolaram em terras onde os portugueses se estabeleceram além-mar – tiveram início no Estado Português da Índia, em 1954, quando se reforçou aquele território militarmente, por a ameaça assim o justificar; continuaram em Angola com o deflagrar do terrorismo, em 1961, e na Guiné e Moçambique, respectivamente em 1963 e 1964, com o início da guerrilha.

Pelo caminho ficou a mesquinha ocupação da fortaleza de S. João Baptista de Ajudá, pelo Daomé, em 1 de Agosto de 1961 – facto de que já ninguém se deve lembrar – e o reforço de todos os restantes territórios, como precaução, havendo a registar uma séria alteração da ordem pública, em Macau, em 1966, no auge da revolução cultural maoísta.

Directa ou indirectamente ligados a todos estes eventos, foi ainda necessário intervir ou fazer face, aos acontecimentos resultantes da secessão do Catanga, entre 1960 e 1963; na guerra do Biafra, entre 1967 e 1970 e ao bloqueio do Canal da Beira, por parte da Inglaterra a partir de Janeiro de 1966, na sequência da independência unilateral da Rodésia.

Na Metrópole teve ainda que se fazer frente, a partir dos anos 70, a um conjunto de atentados violentos e propaganda subversiva, por parte de algumas organizações clandestinas de orientação comunista e que visavam protestar e, objectivamente prejudicar o esforço de guerra em que a nação estava empenhada.

A soberania portuguesa terminou de forma dramática em Goa, Damão e Diu, em 19 de Dezembro de 1961, após ocupação “manu militari” do nosso território, por parte da União Indiana, resultante de uma vergonhosa invasão militar, sem declaração de guerra, à revelia do Direito Internacional e do normal convívio entre povos do século XX, e sem que a mais pequena réstia de razão o justificasse.

A luta nas restantes frentes desenrolou-se, vitoriosamente, em termos de guerra de guerrilha de baixa intensidade, até que os acontecimentos ocorridos em Lisboa, em 25 de Abril de 1974, quebraram psicologicamente a vontade de continuar a luta.

A extrema incompetência, ignorância e ingenuidade com que os autores do golpe de Estado então ocorrido, actuaram, fez com que rapidamente o poder caísse na rua; lançou o país no caos político, económico, social e financeiro, quebrou a disciplina e a confiança nas Forças Armadas e fez desmoronar todo o aparelho político/ militar nas quatro partes do mundo onde flutuava a bandeira das quinas.

O resultado foi a outorga do poder às forças marxistas – e só a essas – do poder político em todo o ultramar de uma forma atrabiliária, o que impediu qualquer tipo de autodeterminação minimamente organizada e que respeitasse fosse o que fosse. As independências surgiram assim, de qualquer maneira e em catadupa, por todo o ano de 1975 o que resultou, durante décadas, nas abominações mais indiscritíveis.

Macau foi excepção a esta debacle, não porque o desvario que corria em Lisboa o quisesse, mas porque a China milenar impôs a sabedoria dos antigos.

Na parte europeia de Portugal, chegou-se nesse ano às portas da guerra civil, evitada “in extremis” por alturas de 25 de Novembro de 1975.

Timor ficou ainda a pairar como uma chaga viva na consciência nacional, durante os anos que durou a ocupação indonésia, ocupação essa de que nós fomos, senão os únicos, pelo menos os principais responsáveis. O que se passou por causa disso, na sociedade portuguesa assemelhou-se a uma catarse de expiação de culpas, colectiva.

O período histórico em que tudo isto se passou, entre Abril de 74 e Novembro de 75, foi um tempo muito curto, mas olhando para toda a História de Portugal, não vislumbro nenhum outro, de tanta ignomínia e que tantos danos causasse.

Assim regressámos às fronteiras medievais europeias sem lustre e sem glória, depois de uma debandada de pé descalço – como lhe chamou o insuspeito Professor António José Saraiva.

A Nação dos portugueses não merecia que as coisas se tivessem passado desta maneira.

Muito menos, o cerca de milhão de homens que combateram abnegadamente nos quatro continentes e mares em que o território nacional de então se espalhava e que carinhosamente foram apelidados de “os melhores de todos nós”.

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“Pelo que toca a nossa pessoa não fico em cuidado, porque por cada pedra daquela fortaleza arriscarei um filho… Eu vos ponho no caminho da honra, em vós está agora ganhá-la”.
D. João de Castro
(A seu filho enviado de socorro a Diu durante o Segundo Cerco, 24Abr1546)

Não mereciam estes, nem os anteriores que lutaram por ideias e interesses que fazem parte da matriz nacional portuguesa desde a I Dinastia, alguns dos quais levaram a um combate de 600 anos – tantos quanto durou a diáspora portuguesa.

Esta é a primeira reflexão que vos proponho: nós não andávamos nisto há meia dúzia de dias, não o fizemos de ânimo leve e tal nunca teve a ver com regimes, pessoas, interesses de grupo ou sistemas políticos.

Não foi uma ideia de um qualquer rei louco; de corsários, ou aventureiros; de “lobies” económicos ou interesses mesquinhos. Foi obra de toda a Nação – da Coroa, dos Nobres, do Clero e do Povo e teve uma ideia transcendente como referência; a globalização espiritual do império de nosso Senhor Jesus Cristo, através da Terceira Pessoa da Trindade, o Espírito Santo.

É tudo isto e a maneira superior dos portugueses em se relacionarem com os outros povos que explica a especificidade da colonização portuguesa e o modo como organizávamos e sentíamos os nossos territórios e as gentes que sempre procurámos integrar na coroa portuguesa e não descriminar.

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“As praças D’el - Rei D. João IV, nosso senhor, não se rendem senão depois de todos mortos!”
Palavras que D. Pedro de Menezes, Capitão-Mor da Fortaleza de Massangano, dirigiu aos seus soldados no mais aceso da luta contra um ataque holandês.


A segunda reflexão que vos queria propor tem a ver com a escala dos ataques exteriores de que Portugal foi sujeito, que desembocaram nestas campanhas, e que modernamente foram explicados pela falácia dos “Ventos da História”.

Basicamente desde o início da Nacionalidade até à perda da independência, em 1580, Portugal contou apenas com dois inimigos que se podem classificar de clássicos: a Moirama e Castela; tendo de se fazer ainda frente, a partir do século XV à guerra de corso movida principalmente por franceses e ingleses.

Porém, a partir do domínio filipino, Portugal veio a herdar todos os inimigos da coroa espanhola, pelo simples facto de Filipe I como Rei de Espanha não poder estar em guerra com vários países e como Rei de Portugal, poder gozar a paz. E foi assim que passámos a ser atacados por povos do centro e norte da Europa.

Os judeus, que tinham sido bem tratados em Portugal até D. Manuel I, passaram a guardar inimizade ao nosso País após a sua expulsão, em 1496 e posterior perseguição pela Inquisição.

No século XX, a URSS tornou-se nossa inimiga política, por razões ideológicas e nunca perdoou ao estado português o facto de ter ajudado a derrotar as forças republicanas durante a guerra civil espanhola. Isto significa o empenho que colocou no apoio à autodeterminação dos povos e o anti colonialismo (leia-se dos povos que estavam debaixo do domínio político das nações da Europa Ocidental e apenas dessas) – e entre estas estavam englobados os territórios portugueses. Conceito que tinha sido posto em marcha após o fim da II GM e do início da Guerra Fria, de que passou a ser uma forma indirecta de a travar.

A este desiderato juntaram-se os EUA, a fim de tentarem subtrair os novos estados ao controlo da União Soviética, ganharem acesso a fontes de matérias-primas e a posições estratégicas relevantes, e por preconceito político/social, já que eles próprios tinham sido uma colónia.

Chamaram a isto os “Ventos da História”, que tinham muito mais a ver com a substituição de soberanias do que com a autodeterminação dos povos.

E farão os leitores o favor de reparar, que os ventos da história são sempre soprados por quem tem o poder na altura, no sentido dos seus interesses e não por causa dos eventuais princípios filantrópicos que proclamam.

Portugal tem sido amiúde vítima, destes “ventos”, por uma razão muito simples: as grandes potências do mundo jamais perdoaram a uma pequena potência como Portugal, se tenha alcandorado a tão grande grandeza histórica e territorial e sempre que puderam, aproveitaram-se das circunstâncias para nos depredar.

Foi isso mais uma vez que aconteceu no Ultramar a partir de 1954, e já é tempo de nós todos termos noção da realidade dos factos e não dos mitos e falácias que nos quiseram e querem vender.

Portugal tinha, ao tempo em que começaram a ocorrer os eventos que descrevemos, poder efectivo – político, diplomático, económico, financeiro, psicológico e militar; vivia uma paz social e dispunha de uma liderança forte, patriótica e competente, que se dispôs, altaneira, a defender as suas gentes e património e a vender cara a pele. Nenhum bom português pode condenar esta atitude.

E foi assim que cerca de um milhão de homens foi ocupar sucessivamente os seus postos de combate, naquilo que constituiu, sem sombra de dúvidas, a melhor campanha efectuada desde os tempos do Sr. D. Afonso de Albuquerque, chegando-se a combater simultaneamente em três teatros de operações de uma extensão enorme, separados entre eles e a Metrópole – que era a base logística principal – por milhares de quilómetros, sem generais ou almirantes importados – o que já não sucedia, note-se, desde Alcácer Quibir - e fazendo-o vitoriosamente com a excepção já referida do Estado da Índia, devido à esmagadora desproporção de forças em presença.

Mesmo assim fizemos frente com sucesso a 10 anos de malfeitorias da União Indiana, não foi coisa de somenos!

Todo este esforço foi feito sem qualquer disrupção política, social ou financeira; mantendo-se o desenvolvimento económico sempre a subir e de forma sustentável, em todos os territórios do Minho a Timor; sem qualquer tipo de ruptura logística, casos de indisciplina notórios e com uma taxa de desertores (incluindo as tropas negras), que não encontra paralelo em nenhuma campanha contemporânea.

Até ao 25 de Abril de 1974, os batalhões embarcaram todos completos e em boa ordem de marcha!... E lembro que antes de embarcarem, permitia-se que os militares fossem a casa, despedir-se dos familiares durante 10 dias …

Foi pois todo um povo irmanado de um mesmo ideal e sentir, que aguentou firme e estoicamente, anos e anos de campanhas e sacrifícios.

E se eram os combatentes que na linha da frente aguentavam os embates da guerrilha, eram as suas famílias que na retaguarda, suportaram os sacrifícios e a incerteza que as frentes de combate implicavam. Neste âmbito há que fazer uma menção especial às mulheres portuguesas.

Se é certo que aos expedicionários cabia sofrer as agruras da campanha, que não poucas vezes lhes causavam ferimentos ou a própria morte, foi a mulher portuguesa que desde a expedição a Ceuta, em 1415, aguentou a retaguarda, tratou da casa, criou os filhos e passou toda a sorte de infortúnios para que a gesta se cumprisse. É ela que verdadeiramente cria e justifica a palavra “saudade” e foram a suas lágrimas que salgaram o mar português.

Algumas se destacaram: mulheres, como Filipa de Vilhena e Mariana de Lencastre, que armaram, elas próprias, os filhos, cavaleiros e os incentivaram a defenderem a Pátria; as mulheres de Diu, que atrás das pedras da fortaleza, obraram prodígios, ajudando a aguentar dois terríveis cercos, tratando dos feridos, transportando armas e munições, municiando espingardas, etc.; como as mulheres de S. Aleixo da Restauração, que mesmo correndo o risco de ficarem sepultadas debaixo dos escombros da igreja, motivaram os homens a resistir.

Foram estes e outros exemplos que perduraram nas mulheres do terceiro quartel do seculo XX e que permitiram que as famílias se mantivessem coesas na defesa dessa família maior que é a Nação dos Portugueses!

Da mesma têmpera são as enfermeiras paraquedistas (oficiais e sargentos) que, a partir de 1961, numa iniciativa percursora e original, integraram a Força Aérea Portuguesa tendo prestado relevantes serviços à Pátria.

A homenagem que lhes foi feita neste último Dia de Portugal foi justíssima e só perdeu por tardia.


*****

“O peso das grilhetas do escravo é bem maior que o da mochila do soldado”
Eisenhower.
 
Esta questão do “tardia” leva-nos à última reflexão:
Porque é que 41 anos depois de as campanhas terem terminado e os centuriões regressado a casa, ainda existem tantas reticências nas homenagens que lhe são devidas?
A resposta sendo triste e dolorosa, é simples de dar. E eu tenho de a dar.
A Pátria não se tem mostrado agradecida porque está de mal com ela própria.
As forças políticas que saíram vitoriosas daquilo que era para ser um golpe de estado e virou revolução, sem lei nem roque, eivadas de ideias erradas e anti - nacionais, fizeram seu, o ideário político dos, até então, inimigos da nação portuguesa – fazendo crer que eram apenas inimigos do estado português – sanearam quem se lhes opunha e intimidaram a restante população.
Quem não concordava, não conseguiu, quis ou soube, fazer frente a tudo isto. Depois iniciaram um processo de lavagem ao cérebro onde participaram muitos desertores, traidores, repatriados e refugiados políticos, de modo a fazer crer que a acção dos portugueses tinha sido criminosa; que os combatentes andaram a defender o imperialismo, o fascismo, o colonialismo e outros “ismos”, que eles tinham metido na cabeça mas colados com cuspo, arrumando-os na prateleira da ignomínia histórica.
E decretaram, liminarmente e sem direito a contraditório, que a guerra que travámos era injusta!
O condicionalismo psicológico foi enorme e, de omnipresente nos “media”, no discurso político, na literatura e artes plásticas, passou para os livros da escola.
Um vento mau assolou o país e, porque não dizê-lo, uma onda de cobardia também o varreu.
Por isso, só muito lentamente a população tem estado a acordar das mentiras em que a enlearam e cujos efeitos morais e materiais estão hoje à vista de todos.
Lembrar e homenagear estes e outros combatentes no dia maior do calendário português, é um momento desta reacção. E é preciso gritar bem alto que os combatentes portugueses, de então, o merecem, que fizeram uma guerra justa, pois actuaram em legítima defesa e proporcionadamente e além de justa, limpa, com pouquíssimas quebras na ética militar; foram, generalizadamente, humanos e usufruindo de meios materiais pouco sofisticados. E podem justamente orgulhar-se de, para lá de legitimamente defenderem territórios e gentes herdadas dos seus antepassados e que eram incontestavelmente portugueses – nossos! – ajudaram ao desenvolvimento dos mesmos, o que ultrapassou tudo o que se fez nos quatro séculos anteriores.
Divisava-se, assim, a formação de uma sociedade multirracial e pluricontinental, que vivia em harmonia, única no mundo e que constituía e constitui um dos mais altos ideais da Humanidade. Era um Ideal digno dos nossos maiores de que, justamente devemos estar orgulhosos.
E o facto de não se ter conseguido fazê-lo perseverar, não invalida o que atrás se disse.
Caros leitores afirmar a verdade histórica e as boas intenções e repudiar a mentira e os mentirosos, é um imperativo de sempre; há que separar águas e voltar à matriz original portuguesa.
Os “ventos da História” não foram erradicados e podem voltar a soprar contra nós, de novo; não sei até, se o deixaram de fazer...Há que estar preparado e nunca, mas nunca, baixar as guardas! Lembro apenas que, presentemente nos querem esbulhar do nosso mar, da nossa ZEE.
O combate não acabou e creio que não irá acabar enquanto Portugal existir.
E o primeiro dever dos combatentes portugueses ainda vivos é, no ano 887 da sua existência como ser independente e soberano, não ter dúvidas sobre a continuação do seu devir colectivo!
É mister terminar.
E faço-o, curvando-me comovido e grato, perante a memória de todos os nossos combatentes já desaparecidos e cuja evocação devemos garantir enquanto perdurarmos.

Ten. Cor. Piloto Aviador (ref.)
Brandão Ferreira

Fonte: O Adamastor