Um Rei cuida do Seu Povo como um Pai. Uma das diferenças entre um Rei e um Presidente é que o Povo há-de ser sempre o Povo do Rei, e não uma massa de população que serviu o propósito de eleger um político.
‘Rei sem Povo não é Rei, Povo sem Rei não é Povo’, proferiu Dom Luís Álvares de Castro, 2.º Marquês de Cascais, tendo como interlocutor El-Rei Dom João V que na sua magnitude compreendeu o axioma e o pôs em prática.
O Reinado de um Monarca é uma missão ao serviço da Nação e, os príncipes eram educados pelos seus doutos preceptores precisamente para isso. Isto posto, um Rei nunca protesta estorvo e/ou embaraço no contacto com o Seu Povo, pois tem arreigado esse trato como sendo algo de natural.
Ora a Nação é uma comunidade estável constituída, historicamente, com base num território, numa língua, e com aspirações materiais e espirituais comuns e o Povo é usualmente concebido como um conjunto de indivíduos, que num dado momento histórico constitui a Nação. Ora a função do Rei é encarnar esse espírito comum da Nação o que o torna num Monarca ao serviço do Povo e que, por isso, o pode livremente destronar, se ele não cumprir qualquer das obrigações inerentes ao seu cargo.
O Rei tem de reinar rectamente: ‘Rex eris, si recte facias, si non facias, non eris.’
No nosso País, em Monarquia, sempre foi assim! E no Estado das Coisas republicano, há mecanismo igual ou idêntico?! Pergunta retórica, pois a resposta é um rotundo e sabido ‘Não!’. Suportem-no até haver novas eleições!
Só o Rei lê o Povo, indaga cada camada da população, apreende a sua realidade, e através de uma atitude racional chega ao que acredita será o reflexo da vontade do Povo. Essa é uma tarefa infinita e a preparação começa com a educação do herdeiro presuntivo da Coroa, não é uma realidade que se pode apreender de um momento para o outro.
Para conhecer o Povo é necessária presença, dirigir-se à própria matéria, face a face, auscultar, permitir a espontaneidade, sair da confortável área da preguiça espiritual para conhecer a «substância», e ouvindo as pretensões mais exageradas e os anelos mais essenciais, filtrar, chocar esses anseios e formar em consciência o que será o corpo do bem da coisa comum.
Na nossa sociedade contemporânea tão igualada, já não existe possibilidade para monarcas de trato enfatuado, e em Portugal também não os houve; os nossos reis mantinham uma relação directa com o povo, e sentiam prazer em estar entre gente comum e quando abordados por qualquer pessoa do povo, entabulavam familiarmente uma conversa. D. Aleixo de Menezes acautelava El-Rei Dom Sebastião: ‘o excesso de afabilidade, senhor, não compromete a autoridade do príncipe…’. Como escreveu Eça de Queiroz no encómio “A Rainha”: ‘No tempo dos nossos velhos reis, ao contrário, todos os educadores de príncipes lhes ensinavam o alto dever real de comunicar docemente com o povo.’
Veja-se o caso d’El-Rei Dom Manuel II que percorria as ruas sondando e interagindo com o Seu Povo, que visitava os doentes nos hospitais, não por piedade, mas levando-lhes o tão importante agasalho espiritual. E mesmo depois de deposto pelos bacharéis pífios do Partido Republicano Português e pela organização terrorista Carbonária na golpada anti-democrática do 5 de Outubro de 1910, se colocou sempre ao serviço dos Portugueses.
Com o início da 1.ª Grande Guerra, o Monarca exilado, em Inglaterra, colocou-se à disposição dos aliados para servir como melhor pudesse. Primeiramente, apanhou-o a desilusão quando o colocaram como oficial da Cruz Vermelha Britânica, mas o empenho que mostrou no decorrer da guerra, cooperando em conferências e na recolha de fundos, visitando hospitais e mesmo os feridos na frente, foi-Lhe muito gratificante. Todavia, a sua solicitude nem sempre foi reconhecida, e chegou mesmo a referi-lo numa entrevista ao ‘Times’: “A sala de operações do Hospital Português, em Paris, durante a guerra, foi montada por mim. Sabe o que puseram na placa da fundação? ‘De um português de Londres’.”
El-Rei Dom Manuel II estabeleceu, tal-qualmente, o departamento ortopédico do hospital de Sheperds Bush, que por perseverança do Monarca e da Sua bolsa continuou a funcionar até 1925, dando assistência aos estropiados de guerra. Uma prova de reconhecimento dos britânicos para com D. Manuel II de Portugal foi quando o Rei britânico Jorge V – primo do Monarca português pelos laços da Casa de Saxe-Coburgo e Gotha – o colocou, e à Rainha Augusta Vitória, a seu lado na tribuna real durante o Desfile da Vitória, em 1919, em Londres.
Miguel Villas-Boas
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