S.M. El-Rei Dom Manuel II em Lisboa
O Reino de Portugal é o Capítulo Principal da História da Nação. Manteve durante 771 anos, sem transigências, o culto da glória nacional. O Rei simbolizava a miragem inefável da grandeza e da esperança na continuidade e quando passava transbordava no seu fácies o testemunho e plena satisfação do dever cumprido.
Rei pelos Altos Decretos do Destino, Sol sem ocaso, sempre que passava exigia sem autoridade, mas pela gema sem preço, a atenção do auditório.
Suspensos pelo privilégio da Sua passagem, sugestionados pela expressão superlativa da imagem real, todos eram atraídos instintivamente por aquele íman subjectivo que é um Rei. Não pela figura, mas pela Ideia cheia de honra e glória, pelo Rei engalanado de brasões da Sua Dinastia e da nossa História. Passava Ele e com Ele passavam a Reconquista, Aljubarrota, as Descobertas, as Caravelas, a Restauração… eis Sua Majestade que Nele contém a História de Portugal!
O espírito do Povo sempre acorreu entusiasmado à entrada do Rei, com ruidosas manifestações de sentimento, porque o trono do Rei de Portugal sempre foi alçado não num estrado mas erguido nas bases sólidas do direito público nacional e argamassado na fidelidade e amor recíproco entre Monarca e Povo.
Ó feliz harmonia que desapareceu faz quase 105 anos, que substituiu o pacto do Rei com as Cortes, reunindo os Três Estados, e que fez com que desde o próprio Rei Fundador Dom Afonso Henriques, o Rei fosse sempre Aclamado e nunca imposto! A harmonia, o acordo justo e desvelado foi substituído pela obediência acrisolada das repúblicas substituindo-se um Rei por vários senhores paternalistas, que se imiscuem na nossa vida e nos regulam ordenando-nos como e em que medida devemos agir e ser felizes. Ó desafecta relação muitas vezes forçada pelo horror e pelo temor em que uns acham o que os outros devem!
Custe o que custar, tarde o que tardar – não se baixam os braços e continua-se a remar, mesmo contra a maré, sem que nos tirem as forças – havemos de voltar a ter Rei de e em Portugal! Avancemos, sequiosos das glórias passadas, mesmo contra as vagas que teimem marulhar, pois temos o legítimo representante de um passado enorme; aceleremos filhos dilectos desta Terra que é Portugal! Remem que as ondas começam a alegrar-se e a ideia do Rei faz nossas forças aumentar. Paulatinamente, vão-se quebrando as ondas e, adentro a resistência dos humores que não nos mastigarão, voltaremos a ver a Passagem do Rei e com ele os nobres brios desta Nação tão aclamada nos fastos da História.
E à Sua passagem a Nação Portuguesa e a sua História será evocada num grito pátrio: VIV’Ó REI!
Miguel Villas-Boas
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