Dom Carlos nasceu na qualidade de príncipe herdeiro da Coroa de Portugal, pelo que recebeu desde cedo os títulos oficiais de Príncipe Real e Duque de Bragança. Ministradas as primeiras letras, passou a acumular a aprendizagem das mais variadas disciplinas e áreas em que se distinguia – como a pintura e a ciência -, sempresumma cum laude, com a instrução militar. Como tutor de Dom Carlos de Bragança, El-Rei D. Luís nomeou o tenente-coronel de engenharia Gromicho Couceiro e para a equitação, o escolhido foi o general Vito Moreira. Em pouco tempo seria atribuído a D. Carlos o posto de comandante honorário do Colégio Militar. Aperfeiçoou a esgrima e ainda mais o tiro, no qual foi reconhecidamente, exímio. Em 28 de Setembro de 1879, D. Carlos é nomeado guarda-marinha e ainda alferes do Regimento de Lanceiros 2 da Rainha.
O Duque de Bragança, começou então a Sua preparação para Reinar e conheceu e privou com os Ministros da época. Várias vezes recolheu ensinamentos de estratégia militar do general de engenharia e Ministro da Guerra Caetano Pereira Sanches de Castro que fora membro da Comissão da Defesa de Lisboa e dos seus fortes – algumas das famosas linhas de Torres -, membro da Comissão incumbida de apresentar o plano geral das obras de melhoramento da Capital, sendo-lhe confiada pessoalmente a apresentação do plano geral das obras de defesa do Porto de Lisboa. O Conselheiro Sanches de Castro havia sido o Director-Geral das Fortificações e Presidente da Comissão de Defesa que formulou os projectos, considerados excepcionais, das baterias do Bom Sucesso, do Forte de São Julião da Barra e dos redutos de Sacavém e Alto do Duque. Então essas conversas com o Ministro da Guerra Sanches de Castro haveriam de ser muitos importantes para Dom Carlos e para a Sua carreira militar, e que foi, aos 21 anos, promovido a capitão de Lanceiros 1.
Já casado com a Princesa Maria Amélia de Orleães e Bragança, e com o posto de tenente-coronel, em 1887, Dom Carlos é nomeado Presidente da Subcomissão de Defesa Marítima da Barra do Tejo e da Cidade de Lisboa, onde demonstrou de forma inequívoca os seus vastíssimos conhecimentos militares e inteligência estratégica e que culminaria na publicação da obra de referência: A Defesa do Porto de Lisboa e a Nossa Marinha de Guerra, e que haveria de ser aprovada unanimemente pela Comissão de Defesa.
A Comissão Superior da Guerra entendeu ser obra de antologia e considerou-a como Anteprojecto Geral da Organização da Defesa do Porto de Lisboa e que seria obra de referência para todos os vindouros estudos e projectos concernentes à defesa da barra do rio Tejo.
O brio militar mereceu-lhe a promoção a coronel e a nomeação para membro da Comissão Superior da Guerra.
Assim, quando a vida do Pai chega ao fim, seu Filho, como foi projectado e educado para isso, automaticamente alçado Rei prolongará a Dinastia e dará continuidade à chefia do Estado permitindo uma evolução – sem quebrar a linha – fruto da substituição geracional. O Príncipe hereditário foi, assim, preparado e habilitado para Reinar assimilando conhecimentos e as mudanças da sociedade: o novo Rei é fruto de um longo trabalho de preparação política, técnica e cultural para assimilar e interiorizar a Sua Nação que encarnará e representará como ninguém. O novo Rei não enterra o passado, mas antes exuma os bons exemplos e aplica-os à nova realidade. Inventa-se a si próprio, para acompanhar sempre os tempos, mas procurando manter um percurso lógico sem desprezar a experiência e o exemplo dos antepassados.
Por isso, a Monarquia é o melhor modelo adaptado a cada época, pois evolui!
‘Que é a história, senão a vida que continua?’, escreveu Júlio Dantas.
Pela profundez do raciocínio e pelo singular saber de quem acumulava iluminação nas mais diversas áreas do conhecimento, superiormente preparado para a série de tarefas que advêm com o ofício de Reinar, El-Rei era não só o principal recurso moral, mas, também, o último recurso executivo, pois activo e bom trabalhador, com qualidades de inteligência e erudição, mas, também, apetrechado cientificamente era na maioria das vezes o único capaz de solver os conflitos e entraves que empenavam a administração executiva. O Rei podia até já não governar, mas podia orientar o governo, isto é, perante a limitação dos políticos, o Monarca emerge como a peça chave da engrenagem política para resolver impasses e dirimir conflitos. O Rei era árbitro e moderador do funcionamento regular das instituições, e, por isso, cabia a Sua Majestade ser informado sobre os assuntos do Estado e, por esse motivo, presidir a encontros do Conselho de Ministros, embora a autoridade executiva máxima sobre o governo fosse realizada pela prerrogativa real do monarca, isto é, na prática, esses poderes só eram utilizados de acordo com leis aprovadas no parlamento e/ou dentro dos limites da Constituição, pelo que não havia qualquer absolutismo ou despotismo, mas um uso pleno e capaz do Poder Moderador.
Miguel Villas-Boas
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