Em época de Verão e de viagens, importa recordar a importantíssima viagem do Príncipe Real às, então, colónias africanas.
O Príncipe Dom Luís Filipe de Bragança, 5.º Príncipe Real de Portugal e 20.º Duque de Bragança era o herdeiro do trono de Portugal e a promessa de continuidade da Casa Real Portuguesa.
El-Rei Dom Carlos I foi atribuindo, ao Duque de Bragança, postos honorários do exército no Esquadrão de Lanceiros do Rei, Regimento de Cavalaria nº 2 e nomeou-o ainda Comandante honorário do Colégio Militar e, ainda, durante a Sua adolescência começou o Príncipe Real a ser integrado gradualmente nas funções oficiais, tendo amiúde participado nas cerimónias das visitas oficiais de monarcas estrangeiros, como a de Eduardo VII, em Abril de 1902 ou a do Presidente Francês Loubet.
Tal-qualmente, o Príncipe Real viajou várias vezes para o estrangeiro, nomeadamente representar o Rei português, em Westminster, na Coroação do primo Eduardo VII, em Junho de 1902. Aí em Londres foi investido como Cavaleiro da Ordem da Jarreteira, o penúltimo português a ter essa honra – o último seria o irmão El-Rei Dom Manuel II.
Em 1902 acompanhado pela mãe e irmão cruza o Mediterrâneo num prolongado cruzeiro.
Quando SS.MM. os Reis se deslocaram a Paris, entre 20 de Novembro e 20 de Dezembro de 1905, e também a Madrid, entre 11 e 16 de Março, coube a Dom Luís Filipe assumir a regência do Reino, funções que cumpriu com grande presteza e competência facto pelo qual lhe foram tecidos enormes elogios.
Dom Luís Filipe viajou, também, para Madrid, ainda nesse ano, para assistir ao casamento do primo o Rei Afonso XIII, com a princesa Vitória de Battenberg, onde escapou a um atentado à bomba perpetrado por um anarquista, contra o monarca espanhol.
Nos termos do art.º 112.º da Carta Constitucional em 13 de Abril de 1906 – Constituição que havia jurado em 1901 -, o Príncipe Real tomou assento no Conselho de Estado, a posse de um lugar que era seu por inerência aos 18 anos.
Ora estavam reunidas as condições para a mais importante viagem que o Príncipe Real ia fazer até àquela data: o périplo pelas colónias africanas.
A viagem do Príncipe Real aos domínios portugueses em África foi o acontecimento político mais importante da jovem vida de Dom Luís Filipe, até porque era o primeiro membro da família real a fazer tal viagem.
Foi uma despedida emocionada a que a Família Real proporcionou ao garboso e jovem Príncipe Real e o Povo não quis perder nenhum momento.
Embarcou a 1 de Julho de 1907 a bordo do paquete África da Companhia Nacional de Navegação e visitou S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, e ainda as colónias inglesas da Rodésia e da África do Sul, quando regressava passou por Cabo Verde.
Com uma parca comitiva, mas sem precedentes, o jovem Príncipe Real foi aclamado por todo o lado que passou. Em Viagem do Príncipe Real, escreveu o Conselheiro Ayres de Ornellas – que acompanhou Dom Luís Filipe na viagem:
‘Exercia a sua insinuante figura, a um tempo tão moça quão varonil uma atracção indefinível, por todos experimentada. Acrescia a um amor pela sua terra, um fervor pelo sentimento patriótico que a todos também se comunicava, enquanto que uma educação primorosamente cuidada servida por uma inteligência claríssima e auxiliada pela prodigiosa memória da sua Casa. Contribuía prodigiosamente para o êxito triunfal da viagem, destinada a marcar apenas os derradeiros lampejos de glória de um Reinado a que ia em breve pôr termo a mais atroz tragédia da nossa História.’
Em S. Tomé deliciou-se com a vegetação tropical e foi recebido numa colónia engalanada e em festa. Em Angola os Sobas, na sua Presença, e perante expressivos arranjos musicais dos instrumentos locais, prestaram-lhe as sentidas homenagens e juraram-lhe fidelidade. Depois, em Lourenço Marques, foi recebido, a 29 de Julho, com vivas ao Príncipe e à Pátria Portuguesa e desfilou nas ruas por entre arcos enfeitados a rigor e perante uma entusiástica população que aplaudia o seu Príncipe Real. Depois foi à Rodésia e por fim à África do Sul, onde teve um acolhimento singular da comunidade local que lhe rendeu diversas homenagens. Depois do Cabo regressou a Angola e no regresso a Portugal passou por Cabo Verde. Chegou a Portugal em 27 de Setembro de 1907, onde encontrou uma Nação em efervescência política.
Em todos os locais que visitou causou Dom Luís Filipe de Bragança a mais distinta impressão, facto pelo qual já na metrópole foi elogiado pelo seu desempenho pelo Rei, seu pai, e pelo Conselho.
‘Saudades!’ do Seu Príncipe, diria depois o Povo, daquele Rei a Ser cuja jovem vida, ainda nos primeiros capítulos, o terror republicano ceifou a 1 de Fevereiro de 1908.
Miguel Villas-Boas
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