El-Rei D. Duarte I de Portugal (31 de Outubro de 1391 – 9 de Setembro de 1438), apelidado de 'o Eloquente' e 'o Rei-Filósofo pelos dotes preclaros de uma inteligência cultíssima traduzido nas obras que escreveu e pelo mecenato que desenvolveu, foi o 13º Rei de Portugal e Algarve de 1433 até à sua morte.
O Leal Conselheiro é um livro escrito por D. Duarte, e trata-se de um tratado sobre ética e moral, que tem como destinatários os membros da corte, que deviam ler a obra. D. Duarte compilou o livro por volta de 1438, ano da sua morte.
O livro é composto por 103 capítulos que abordam diversos temas, como a vida matrimonial e familiar, os pecados, os vícios e como aprimorar os sentimentos e as virtudes. A obra é conhecida pela sua linguagem simples e coloquial, e pelo tom intimista e profundo dos pensamentos do rei.
No prólogo, D. Duarte assinala que escreveu o Leal Conselheiro por um pedido de sua esposa e rainha, D. Leonor de Aragão, e indica que a produção literária é uma compilação de apontamentos escritos empreendidos ao longo da sua vida. Talqualmente, no prólogo o rei afirma que se trata de um "ABC da lealdade", para servir como um manual prático de rigorosa orientação ética para a monarquia portuguesa e para os membros da nobreza.
A obra não tem uma estrutura rígida, mas a jeito de compilação ao longo de seus 103 capítulos contém uma série de reflexões de índole moral e ética realizadas pelo rei em várias ocasiões da vida e do reinado sobre diversos assuntos, incluindo cartas e "conselhos" escritos dirigidos a membros de sua família, como por exemplo uma carta escrita ao seu irmão, o Infante D. Pedro, O Príncipe das Sete Partidas, em 1425. Não obstante a relativa falta de unidade de estrutura, que afasta o livro dos tratados morais tradicionais, a obra impõe-se pela linguagem simples e coloquial, o tom intimista e o carácter profundo dos pensamentos de D. Duarte, por muitos comparado às 'Meditações' do Imperador romano Marco Aurélio.
No Leal Conselheiro, D. Duarte disserta sobre as várias virtudes que considera imprescindíveis para levar uma vida moral e ética. Algumas das principais virtudes abordadas incluem:
- Prudência: A capacidade de tomar decisões sábias e ponderadas, considerando as consequências de cada acção.
- Justiça: A importância de tratar todos com equidade e dar a cada um o que lhe é devido.
- Fortaleza: A força de carácter para enfrentar adversidades e desafios com coragem e determinação.
- Temperança: O controle dos desejos e paixões, mantendo um equilíbrio entre os prazeres e as necessidades.
- Humildade: Reconhecer as próprias limitações e falhas, e agir com modéstia e respeito pelos outros.
Estas virtudes são apresentadas como guias para uma vida virtuosa e são discutidas em profundidade, com exemplos e reflexões pessoais de D. Duarte.
D. Duarte, no Leal Conselheiro, vê a justiça como uma virtude fundamental para a harmonia e o bem-estar da sociedade. Ele acredita que a justiça deve ser aplicada de forma imparcial e equitativa, garantindo que cada pessoa receba o que lhe é devido. Para D. Duarte, a justiça não é apenas uma questão de leis e regras, mas também de moralidade e ética pessoal, em que deve ser observado um mínimo ético.
Ele enfatiza a importância de julgar com sabedoria e compaixão, considerando as circunstâncias individuais de cada caso. A justiça, segundo D. Duarte, deve ser temperada com misericórdia, evitando a crueldade e a vingança. Ele também destaca que aqueles em posições de poder têm uma responsabilidade maior de agir com justiça, pois suas decisões afectam muitas vidas.
D. Duarte vê a justiça como um pilar essencial para a construção de uma sociedade justa e equilibrada, onde todos possam viver em paz e prosperidade.
De acordo com D. Duarte no Leal Conselheiro, os líderes têm um papel crucial na aplicação da justiça. Ele acredita que os líderes devem ser exemplos de virtude e integridade, pois suas acções e decisões têm um impacto significativo na sociedade, pelo que os líderes devem julgar de forma justa e imparcial, sem favoritismos ou preconceitos. Devem considerar todas as partes envolvidas e tomar decisões baseadas em factos e na equidade. Aqueles em posições de poder têm a responsabilidade de garantir que a justiça seja aplicada de maneira consistente e equitativa. Devem estar cientes das consequências de suas decisões e agir com prudência. Os líderes devem, ainda, ser modelos de comportamento ético e moral. Suas acções devem reflectir os princípios de justiça que defendem, inspirando confiança e respeito na comunidade. D. Duarte enfatiza que os líderes têm o dever de proteger os mais fracos e vulneráveis, garantindo que seus direitos sejam respeitados e que recebam justiça. Dura lex sed lex, mas embora a justiça deva ser firme, D. Duarte acredita que deve ser temperada com misericórdia e compaixão. Os líderes devem considerar as circunstâncias individuais e mostrar clemência quando apropriado.
Esses princípios reflectem a visão de D. Duarte de que a justiça é fundamental para a paz e a prosperidade da sociedade, e que os líderes têm um papel vital em sua promoção e manutenção. ‘Teve coração piedoso sem defraudar a justiça, tão amante da Verdade, que dele se não sabe faltasse nunca à palavra.’, escreveu António Caetano de Sousa sobre D. Duarte I in História Genealógica da Casa Real Portuguesa, Tomo III, p. 227, Lisboa Occidental, 1934, Regia Officina.
O único manuscrito completo do Leal Conselheiro, datado de cerca de 1438, encontra-se hoje na Biblioteca Nacional de Paris. Acredita-se que esse manuscrito seja o mesmo que pertenceu à rainha Leonor e que tenha sido levado de Portugal pela rainha depois da morte do rei em 1438. Esse mesmo manuscrito quatrocentista contém ainda outra obra de D. Duarte, o manual de equitação Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela. Estes manuscritos foram redescobertos em 1820 e publicados em Lisboa pela primeira vez em 1843. Por isso, não se deu durante a Idade Média, o reconhecimento devido a D. Duarte que foi mesmo pioneiro ao escrever o primeiro livro de equitação, não lhe sendo durante várias centenas de anos o pioneirismo na abordagem do tema. O "Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela" foi escrito por D. Duarte I de Portugal e é o manual mais antigo sobre hipismo e justa equestre medieval. Infelizmente, o livro ficou incompleto devido à morte do rei em 1438.
Além de fornecer conselhos técnicos sobre equitação, o livro também inclui reflexões psicológicas e morais, mostrando um objetivo didáctico mais amplo. O único manuscrito completo conhecido, como já se referiu acima, está na Biblioteca Nacional da França, em Paris.
O "Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela" é um tratado que aborda diversos aspectos da equitação e da cavalaria medieval. Os principais tópicos abordados são: Técnicas de Equitação; Cuidados com os Cavalos; Estratégias de Combate; e Equipamentos e Armas.
Assim, D. Duarte plasma no livro instruções detalhadas sobre como montar e controlar um cavalo em diferentes situações, incluindo torneios e batalhas; orientações sobre a alimentação, saúde e treinamento dos cavalos; discute questões éticas e morais, reflectindo sobre a importância da virtude e do comportamento adequado para um cavaleiro, bem ao gosto do virtude da cavalaria medieval, que teve em rolando e D. Nuno Álvares Pereira expoentes máximos; conselhos sobre tácticas e técnicas de combate a cavalo; e descrições dos diferentes tipos de selas, armaduras e armas utilizadas pelos cavaleiros.
O livro é uma mistura de manual prático e reflexão filosófica, oferecendo uma visão abrangente da vida e das responsabilidades de um cavaleiro medieval.
O "Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela" tem uma grande relevância histórica por várias razões: é o mais antigo manual sobre hipismo e justa equestre medieval, oferecendo uma visão detalhada das práticas e técnicas de equitação da época. Além das instruções práticas, o livro inclui reflexões filosóficas e morais, mostrando a preocupação de D. Duarte com a formação ética e moral dos cavaleiros. Dá uma visão única sobre o contexto histórico, pois o livro reflecte o pensamento e as práticas da nobreza portuguesa do século XV. A obra foi deixada incompleta devido à morte do rei em 1438, o que também adiciona um elemento histórico significativo.
O único manuscrito completo conhecido está na Biblioteca Nacional da França, em Paris. Junto com o "Leal Conselheiro", o outro opus de D. Duarte, o livro contribui para a literatura medieval portuguesa, oferecendo uma visão e perspectiva impagável e única sobre a vida e os valores da época.
Posto isto, pode-se com toda a probidade afirmar que o "Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela" é uma peça fundamental para descortinar a cultura, a história e a literatura medieval portuguesa.
Vários capítulos do Leal Conselheiro e alguns outros escritos do rei encontram-se também no chamado Livro da Cartuxa de Évora, actualmente no Arquivo Nacional da Torre do Tombo.
Sua Alteza Real El-Rei Dom Duarte I nasceu em Viseu, a 31 de Outubro de 1391 e faleceu em Tomar, a 9 de Setembro de 1438, e foi Pela Graça de Deus, D. Duarte, Rei de Portugal e do Algarve, e Senhor de Ceuta. Foi o 11° Rei de Portugal e Algarve de 1433 até à sua morte. Era filho segundo do Rei D. João I e da Rainha D. Filipa de Lencastre, e por morte de seu irmão mais velho, D. Afonso, torna-se o herdeiro da Coroa portuguesa.
Na verdade D. Duarte recebeu o nome de "Edouard" - como aliás está escrito no túmulo - em homenagem ao avô de sua mãe [Rainha D. Filipa de Lencastre], o rei Eduardo III de Inglaterra, mas por alguma razão generalizou-se chamá-lo de "Duarte".
Desde muito jovem, D. Duarte acompanhou o seu augusto pai nos assuntos do reino, sendo, portanto, um herdeiro preparado para reinar; em 1412 foi formalmente associado à governação pelo pai, tornando-se seu braço direito. No curto reinado de 5 anos reforçou o poder da monarquia e quis expandir o reino para Marrocos. Foi no seu reinado que Gil Eanes dobrou o cabo Bojador, um importante marco na exploração marítima.
Com uma enorme ilustração e instrução - típica dos Avis - D. Duarte interessou-se pela cultura da qual foi mecenas, tendo fomentado a tradução de autores latinos. Rei dado às letras, ele próprio escreveu, como se referiu acima, várias obras, como o 'Leal Conselheiro' - obra moral, endereçada a sua mulher, D. Leonor de Aragão - e o 'Livro da Ensinança de Bem Cavalgar Toda Sela'.
O Rei melancólico faleceu vítima da peste em 9 de Setembro de 1438.
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