sábado, 1 de fevereiro de 2025

O Regicídio descrito pela Rainha D. Amélia

Há 117 anos, no dia 1 de Fevereiro de 1908, foi assassinado, em Lisboa, o Rei de Portugal e Algarves - D. Carlos I - e o príncipe herdeiro - D. Luís Filipe de Bragança. Este regicídio, planeado pela carbonária, veio a originar, dois anos mais tarde, a queda da Monarquia - contra a vontade popular - e a implantação da República maçónica.

Nesse triste dia em que foram mortos o seu marido e o seu filho, a Rainha Dona Amélia de Portugal escreveu o seguinte no seu diário:

«Lisboa, Palácio das Necessidades, Sábado, 1 de Fevereiro de 1908

Escrever. Escrever para não gritar. Para não perder a razão - sim, para não perder a razão. Para expulsar, por um instante que seja, as terríveis imagens deste dia, e suportar o longo horror desta noite, a primeira de todas as que estão para vir.  Escrevo para mim. 

Escrevo para não enlouquecer, (...) mas a rainha de Portugal não se entrega à loucura. Ela cumpre o seu dever, ou morre como morreu hoje o rei de Portugal, D. Carlos I, como morreu hoje o príncipe herdeiro, D. Luís Filipe, como ela própria deveria ter morrido sob as balas dos assassinos. 

Meu Deus, porque permitiste que matassem o meu filho? Protegi-o com todo o meu corpo, expus-me aos tiros, quis desesperadamente que eles me trespassassem a mim. E bastou uma única bala para destruir o rosto do meu filho. (...) 

A dor cobriu tudo. Esvaziou-me o Espírito. As recordações desapareceram, estou incapaz de chorar. Inerte. (...) Preciso de continuar a escrever até que o dia rompa, em vez de deixar que os pesadelos me invadam num sono inquieto. É preciso descrever a realidade, mais cruel do que o pior dos pesadelos.

Amélia, rainha.»


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