A beatificação da irmã Maria Clara do Menino Jesus (1843-1899) vai ter lugar a 21 de Maio, no Estádio do Restelo, Lisboa, anunciou a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição (CONFHIC), fundada pela futura beata.
Maria Clara do Menino Jesus fundou em 3 de Maio de 1871 a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição cuja Província de Santa Maria se encontra sedeada em Fátima. Aquela Congregação teve o Convento de S. Patrício como primeira casa-mãe tendo-se alguns anos mais tarde transferido para o Convento das Trinas do Mocambo que se encontrava em vias de ficar desabitado, aí permanecendo até 1910, altura em que o governo da República decretou a extinção das ordens religiosas.
A Irmã Maria Clara do Menino Jesus que, conjuntamente com o Padre Raymundo dos Anjos Beirão, fundou a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, nasceu no Palácio da Quinta do Bosque, na Amadora, em 15 de Junho de 1843. Descendia de uma nobre família aparentada com os marqueses de Távora e os marqueses de Fronteira, aliás entrelaçada com quase toda a nobreza portuguesa. Recebeu, no século, o nome Libânia do Carmo Galvão Mexia de Moura Telles e Albuquerque e foi baptizada na Igreja de Benfica, onde aliás se encontra uma lápide a assinalar o facto. Porém, as vicissitudes da vida levaram-na a ficar órfã ainda muito nova, tendo perdido os seus pais vitimados pelas epidemias de cólera e de febre-amarela que grassaram em Portugal em meados do século XIX. Embora tendo família, em Outubro de 1857, ingressou no Asilo Real da Ajuda, junto das Filhas da Caridade de S. Vicente de Paulo, religiosas francesas que vieram para Portugal, a pedido de D. Pedro V, a fim de cuidarem da educação dos órfãos de famílias nobres, vítimas daquelas epidemias.
A Irmã Maria Clara, aliás Libânia do Carmo, viveu no referido asilo até 1862, altura em que as Irmãs da Caridade francesas foram expulsas do país, passando a viver no Palácio dos Marqueses de Valada, a quem ainda lhe ligavam laços de parentesco, para além da amizade com a sua família. Porém, apesar dos cuidados em que vivia e do ambiente luxuoso que a rodeava, foi a miséria e a penúria que via à sua volta, num país flagelado por constantes conflitos, a que se juntavam as péssimas condições de higiene, causa natural de propagação de doenças e epidemias, que a fez entregar-se ao serviço de Deus e do próximo, erguendo uma obra social grandiosa e digna dos maiores louvores. O fascículo “Faces de Eva” nº. 7, inscreve-a no quadro das pioneiras da acção social do século XIX.
Em 1867 ingressou no Pensionato de S. Patrício onde, tempo mais tarde professou particularmente, como Terceira de Nossa Senhora da Conceição, recebendo o nome de Irmã Maria Clara do Menino Jesus. Uma vez proibida a profissão, em Portugal, foi a Calais, França, fazer o Noviciado e votos públicos. Regressada a Portugal, fundou a Congregação das Irmãs Hospitaleiras dos Pobres pelo Amor de Deus, dedicando-se as irmãs a todo o bem-fazer e tornando-se em primeiras missionárias a trabalhar em Angola, Goa, Guiné e Cabo Verde. O lema que escolheu foi o de “Onde houver o bem a fazer que se faça”.
A Irmã Maria Clara do Menino Jesus viveu uma vida intensa de entrega a Deus e ao próximo. Mas, para além da sua árdua missão, foi submetida a um intenso desgaste causado pelas perseguições de que foram alvo, fruto de um ambiente hostil fomentado na época por sectores republicanos que, entre outros aspectos, viam na Igreja Católica um aliado do regime monárquico. Veio a falecer em 1 de Dezembro de 1899 e encontra-se sepultada em Linda-a-Pastora, nos arredores de Lisboa. Em 2008, foi pelo Papa Bento XVI, proclamada “Venerável”. Estando em curso o estudo de um milagre, ocorrido em Baiona, Espanha, e já reconhecido pela consulta médica, em Roma, aguarda-se que as duas últimas etapas desse estudo, a ser feito por Teólogos, primeiro, e depois por Cardeais e Bispos, tenha o mesmo resultado e se possa, em breve, assistir à sua beatificação.
João Paulo II, na carta que em 2001 enviou à Superiora Geral das Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição, Maria Isilda de Freitas, por ocasião da passagem dos cento e vinte e cinco anos da concessão pelo Papa Pio IX da aprovação pontifícia da Congregação, feita através do rescrito “Sanctissimus Dominus”, “Na segunda metade do século XIX, os ventos da história sopravam contrários e borrascosos, com naufrágio de esperanças sem conta e o bom Deus a fazer dos próprios náufragos salva-vidas, como no caso da Irmã Maria Clara” E, aludindo a uma passagem bíblica, do tempo dos Patriarcas, acrescenta: “O texto traz à mente a força de Deus que moveu a Irmã Maria Clara a tirar do estado de abandono em que se encontrava a comunidade das Capuchinhas de Nossa Senhora da Conceição elevando-as a Instituto, “a fim de se unirem mais intimamente a Deus, que as chamava a coisas mais altas”ou (…) quando, após a morte da última Religiosa Trinitária no Convento das Trinas, Irmã Maria Clara tem de lutar pela posse do mesmo, como aliás lhe estava prometido pelo Governo, vindo a tornar-se a segunda Casa-Mãe da Congregação”.
Ao longo da sua existência, a Congregação das Irmãs Franciscanas Hospitaleiras da Imaculada Conceição ergueu uma importante obra social, não apenas em Portugal como noutros países, em diversos continentes, possuindo inclusive missões em Angola, Goa, Guiné-Bissau, Cabo Verde, S. Tomé e Príncipe, Moçambique, Timor, Brasil, Malawi, Suazilândia, Filipinas, México e Califórnia.
Ilustração Portuguesa, de 7 de Novembro de 1910, reproduziu uma gravura do Illustred London News, retratando a prisão das irmãs franciscanas, com a seguinte legenda: “Religiosas conduzidas para o Arsenal da Marinha, escoltadas por forças do exército e da marinha”.
Fonte: AUREN
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