" Em Janeiro de 1911 estavam os dois no exílio: D. Manuel II, expulso do trono por uma revolução, que a maior parte dos políticos e servidores de que se rodeara não soubera prever e muito menos evitar ou dominar; João Franco, que o ex-monarca sacrificara desde o início do seu reinado e que era, afinal, o único homem público que poderia ter feito frente às arremetidas dos adversários da Coroa. ( ... )
Tanto erro, tanta fraqueza, tanta transigência, tanta cegueira, além da evolução do liberalismo saído do movimento jacobino de 1820, e que havia noventa anos vinha sendo um sistema precário e equívoco de equilíbrio entre o Ceptro e o barrete frígio ( a « monarquia sem monárquicos », segundo a expressão do próprio Rei D. Carlos ), tudo caíra sobre os ombros dum Infante inexperiente. ( ... )
Os monárquicos [ ? ] viam em João Franco o homem indesejável que demonstrara ser possível, à sombra do Trono, governar com autoridade, e, simultâneamente, com honestidade e competência, realizando uma séria obra de administração que a parte sã do País aplaudira com agrado. Em carta escrita ao nosso Ministro no Brasil dizia o Conde de Arnoso - « Aos políticos não podia convir a administração de João Franco, que é a mais completa exautoração dos partidos políticos ». ( ... )
Os republicanos, esses, odiavam-no porque ele ia a caminho de reabilitar a Monarquia. "
Rodrigues Cavalheiro, « D. Manuel II e João Franco-Correspondência »
Já por essa altura, antes aliás, os " monárquicos " portugueses se batiam por uma república coroada; só assim, com um Rei que se limitasse ao papel moderador, que o despojava dos poderes que, por definição, lhe são inerentes, teriam margem de manobra para concretizarem as suas ambições desmedidas. Para isso, era mister afastar o " empecilho ". Daí que logo nessa altura se tenha dito que a Monarquia verdadeiramente acabou na noite em que afastaram do Governo esse que recusava o apoucamento da figura régia.
Assistimos hoje, de novo, à tentativa de amesquinhar o poder do Monarca, sendo que esse amesquinhamento é uma realidade na generalidade das monarquias europeias.
Cristina Ribeiro
Fonte: Estado Sentido
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