Dir-se-ia vivermos numa permanente quermesse com direito a corrida em sacos de batatas. Chegou a vez do panteão ser o alvo predilecto das imobiliárias partidárias cá da praça, levantando-se listas de potenciais inquilinos para ali jazerem sob a cúpula que Salazar mandou construir, acabando com as obras de Santa Engrácia. Laicidades atiradas à sarjeta, o monumento teve direito a uma catolicíssima cruz no topo "e tudo"!
Após Eusébio, agora chega a vez do aventar de Sophia de Mello Breyner Andresen. Vai ser engraçado, especialmente se colocarem a poetisa ao lado de Aquilino. Vindo das brumas dos anos sessenta, há quem garanta a ocorrência de um episódio edificante, testemunhado durante uma eleição para a direcção da SPA. Tanto a poetisa como o marido, Francisco Sousa Tavares, declararam a alto e bom som que se retiravam da sala, não querendo permanecer no mesmo lugar onde estava um dos regicidas.
Pois agora, a monárquica de sempre terá de conviver com os marmóreos T0 de um dos homens do 1º de Fevereiro, do Arriaga que arrendou Belém, do Sidónio das botas altas e do ex-estadonovista intestino Delgado. Só lá falta o Buíça e um pacotinho de sopa KnorrMade in DDR com o pó do ABC. É de loucos.
Nuno Castelo-Branco
Fonte: Estado Sentido
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