Não se pense que o fascínio que os nossos Reis provocavam era apenas interno, pois as Suas viagens oficiais ao estrangeiro eram sempre acompanhadas pelos locais e pelas mais prestigiadas publicações da Nação visitada.
A Monarquia é uma instituição que comporta uma carga simbólica sem paralelo; com admiração, o Povo reconhece o valor que ele julga o melhor e o mais poderoso da Nação: o Rei. O Rei personifica a Nação e como tal tem o precioso dom único de encarnar a sua História. Essa é a qualidade original e exclusiva da Realeza: garantir a continuidade da realização do projecto nacional.
A mística real é fruto da relação instantânea e afinidade natural que se estabelece entre o Rei e o seu Povo, Elo inquebrantável desde a fundação das nacionalidades.
Um Rei encanta com a Sua sociabilidade que facilmente atende e se interessa pelas reivindicações do seu Povo, mas também pela Sua dignidade familiar, pois um Rei já nasceu para ser Rei, não é Rei porque ficou rico e/ou poderoso ao cavalgar o galarim da política. O Rei é a verdadeira e única Promessa de Bondade e, também, de Justiça imparcial! Realmente, nenhuma outra instituição granjeia mais reputação de isenção, de supra-partidarismo e contribui para a estabilidade, do que a Instituição Real, porque um Rei independente de calendários eleitorais, sem filiação partidária, sem políticos ou ideologias favoritos e estranho a qualquer mudança na política partidária, funciona como um símbolo de união e isenção.
Como escreveu Fernando Pessoa, em 1935, já saudoso da figura real que havia sido afastada – não pela vontade popular, mas pelo escol republicano e carbonário – há 25 anos:
O rei reside em segredo
No governar da Nação,
Que é um realismo com medo
Chama-se nação ao Rei
E tudo isto é Rei-Nação.
A Coroa visará a consecução do interesse público, pois o Rei gozará sempre da plena liberdade de meios para garantir o bem público, o bem da coisa comum, o bem da res publica! Um Rei era privado de egoísmos, atento somente ao bem geral; o seu bem será sempre o bem alheio, o bem comum e, esquecido de si, põe-se sobretudo ao serviço dos outros, da Nação.
Os episódios da História do Reino são capítulos genuínos de tempos fabulosamente animados pelo amor à Pátria e ao Povo, de símbolos vivos de glória, não de simples consumo interno, mas que provocavam a admiração além-fronteiras, pois a Coroa Portuguesa foi a Instituição nacional mais admirada e ousada nas mais remotas partes do Globo. A Nação Portuguesa foi, na maior parte da sua História quase milenar, essencialmente Monárquica e o Reino de Portugal foi todo ele uma história de vitórias, pois as Quinas portuguesas faziam tremular qualquer estrangeiro mal-intencionado. Quando o ‘Pelo Rei!’, era o grito nacional do Povo fiel às instituições e à independência da Monarquia Portuguesa, que jamais se submetia ao jugo estrangeiro, os nossos maiores recebiam penhor da gentileza e respeito dos estrangeiros!
O princípio do fim verificou-se quando “a antiga fascinação exercida nos espíritos pelo poder dos reis e poder dos exércitos tem sido igualmente atenuada pelo poder superior que modernamente se reconhece ter essa coisa impessoal chamada dinheiro”, escreveu Ramalho Ortigão, e os Reis foram substituídos pelas oligarquias republicanas, que não têm nem provocam fascínio, que tem popularidade negativa, que não são nem provocam apontamento de nota e que fazem as parangonas nacionais e internacionais pelos mais vis motivos, que são chacota e motivo de reprovação.
Mas, ao contrário, a Memória dos Reis vive e só ela vive… nas páginas da história e na nossa recordação e prontas a renascer… no Rei a Ser!
Miguel Villas-Boas
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