Decididamente, esta berraria em que se envolveram nas últimas semanas umas quantas obscuras figuras do regime e um bem-sucedido comentador televisivo, foi incapaz de unir ou de mobilizar os portugueses.
O cargo, uma bizarria assente num enorme equívoco, no final de contas pode constituir uma bomba-relógio para a total ingovernabilidade do país. Ao contrário das modernas monarquias europeias, o modelo de chefia de Estado em Portugal não é um poder moderador, arbitral e suprapartidário. Sempre oriundo duma facção ideológica que disputa o poder, a legitimidade de uma maioria absoluta de votos expressos, alguns deles contrariados, concede ao Presidente a competição com a Assembleia da República pela autoridade de interferir ou até de formar um Governo, e, em última análise, a sua demissão através da dissolução do Parlamento. Perante este panorama, resta-nos rezar para que o vencedor, não sendo “apartidário”, por mais pressionado que vier a ser pelas piores circunstâncias possíveis e imagináveis, se consiga afirmar como um elemento estabilizador e construtivo. Algo que seria muito mais fácil em monarquia.
João Távora
Fonte: Económico
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