Assinalaram-se no passado dia 25 os 100 anos do nascimento do arquitecto Gonçalo Ribeiro Telles (1922-2020). No Salão Nobre da Câmara de Lisboa foi a entrega do prémio que lhe é dedicado, pensado pela Causa Real, com o apoio de outras instituições de prestígio, sendo agraciados os arquitectos Fernando Santos Pessoa e Alexandre Cancela de Abreu. Foi comovente ouvir a visão particular, amorosa, humorada e humana do testemunho do neto do grande arquitecto, seu homónimo; o discurso dos premiados, bem como o do presidente da câmara, Carlos Moedas. Importante não esquecer a magnífica coragem deste visionário que, em 1967 e em pleno Estado Novo, disse para Portugal inteiro ouvir que o problema das cheias era a falta de ordenamento do território. É verdade que havia e muito ainda há a fazer nesse campo em Portugal. Veja-se a eucaliptização, que continua desenfreada, embora Portugal arda vários hectares todos os anos; veja-se a falta que faz a mata mediterrânica, que some a olhos vistos, ou a importância das hortas urbanas, uma ideia iniciada por Ribeiro Telles e que tem tido dificuldades, ainda hoje, de expressão, quando, como só ele sabia dizer, “se acabarem com o saloio e com estes dois mundos, não haverá futuro”. A sua luta, sempre pautada pela sólida base do ideal monárquico, é muitas vezes esquecida. Ele permitiu que Portugal fosse pioneiro a pensar no ambiente e só recentemente esse papel lhe é consagrado. Como diria Santos Pessoa no seu discurso de aceitação do prémio, “a maior homenagem a Gonçalo Ribeiro Telles é colocar as suas ideias em prática”. Isso ainda está longe de ser conseguido. Esperamos que o seja em breve. Antes que seja tarde.
Aline Hall de Beuvink, Professora Universitária
Fonte: Novo Semanário
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