quinta-feira, 12 de outubro de 2023

O eurodeputado roto fala do partido descosido

 

Se há algo que se pode admirar na esquerda socialista, é a sua capacidade para a desfaçatez, sem qualquer pingo de vergonha.

Num recente artigo no DN, simultaneamente servil e pedante, Pedro Marques decidiu dar… conselhos ao PSD sobre como se deve comportar na sua política de coligações.

Se tais conselhos ‘de amigo’ tivessem sido dados ao CHEGA (CH), isso seria quase receita absoluta para suscitar a reacção contrária através de psicologia inversa. No entanto, foi o PSD o visado e, conhecendo como conhecemos o PSD, a falta de noção e de coragem deixam-no certamente vulnerável ao acatar de tal interessado aconselhamento.

O socialista defende que por mais legal que uma eventual coligação entre PSD e CH pudesse ser, ela não seria todavia… moral. O descaramento é simplesmente brutal. Será que Marques se estava a rir à gargalhada enquanto escrevia tais inanidades? Será que o email chegou à redacção do DN cheio de gralhas, de quem escreve com um elevado teor de álcool no sangue?

Vindo do partido que quebrou a tradição de isolamento de partidos totalitaristas, entrando em acordos parlamentares com um partido leninista e outro trotskista, tal indignação apenas pode ser uma anedota. No mesmo ano em que Pedro Marques encabeçou a lista do PS às Europeias, o PS chumbou uma resolução condenando os crimes do fascismo e do comunismo; resolução essa que foi aprovada pelo PSD e pelo CH.

Não se trata apenas de o CH não ser extremista, trata-se de comprovadamente ser mais moderado que o próprio poço de podridão que é o Partido Socialista português.

Vem a criatura inclusive falar na destruição das ‘bases do sistema democrático’. Aparentemente, tais bases não são destruídas quando o 3º e 4º maiores partidos lhes vêem negadas vice-presidências na AR, quando são destratados por um Presidente da AR que também se recusa a condenar agressões físicas a deputados, ou quando os seus colegas de partido procuram ilegalizar partidos da oposição.

Quando o histórico do PS Mário Soares entrevista ‘o seu amigo’ Hugo Chávez em directo na TV pública e em horário nobre, isso não é extremista. Nem tão pouco quando os seus deputados desejam a demolição do Padrão dos Descobrimentos, nem quando ministros socialistas perseguem de modo kafkiano famílias inocentes, culpadas de não quererem os filhos endoutrinados pela ideologia de género extremista e mutiladora de crianças, na Escola Pública.

Como qualquer bom socialista, os ataques difamatórios nunca concretizados abundam e como qualquer bom socialista, a hipocrisia e as contradições são da casa: o partido mais racista de Portugal que quer discriminação racial como política pública de contratação de quadros, acusa o partido que exige igualdade de direitos, de ser racista…

Em relação aos ‘negacionistas’, veja-se a hipocrisia de quem actualmente não usa máscara nem vive em confinamento, vir insultar os próprios cidadãos cujo voto ele deveria pedir, e cujos direitos constitucionais o seu partido violou da forma mais vil e abusiva, sem nunca se desculpar ou reconhecer que os tais dos ‘negacionistas’ tinham toda a razão quando o seu governo os oprimia sem piedade,  baseado em pânico e conformismo demagógico.

Acrescenta ainda o ‘amigo do PSD’, que durante os anos Passos Coelho, o partido deu uma guinada à Direita. A cobardia impede-o de concretizar em que consistiu tal guinada mas se a ‘guinada’ se refere ao equilíbrio das contas públicas sob a tutela do FMI, depois do extremismo ideológico e da irresponsabilidade governativa dos anos Sócrates, então tenho más notícias para Pedro Marques: parece que Mário Soares precedeu Pedro Passos Coelho nas guinadas à extrema-direita…

Na sua missiva de profundo companheirismo empático, Marques refere-se ainda à família europeia do CH como a mais anti-europeísta e ‘radical’ e acautela Luís Montenegro, uma vez mais, a evitar alianças com o CH. Aqui eu não posso estar mais de acordo pois a família europeia do CH – o grupo Identidade e Democracia – é de facto radical no contexto do Parlamento Europeu, precisamente por ser o mais nacionalista e patriótico. O contrário dos grupos traidores à pátria de esquerda e extrema-esquerda, com os quais o PSD tem colaborado ao longo das últimas décadas, e dos quais se deveria envergonhar. Falando de moralidade, o PSD merece, sem dúvida, ser moralizado mas não por se sentir tentado a encarar a realidade eleitoral e colaborar com o partido formado por muitos dos seus antigos eleitores. O PSD deve ser moralizado por ter colaborado com as forças mais lesivas do interesse nacional corroendo a soberania e independência nacional, as forças mais perversas na sabotagem da família e no abuso de crianças, ou mais lunáticas na gestão das contas públicas.

O dilema do PSD continuará até a sua liderança esclarecer de uma vez por todas se prefere o PS ou o CH. Qualquer uma das escolhas acarretará sacrifícios mas uma definição clara seria a opção mais honesta perante o eleitorado. O PSD é um partido grande que, ao contrário do CDS, tem tempo para deliberar a sua opção. O que é preocupante é que ninguém no PSD aparenta estar minimamente preocupado em discutir o tópico. Enquanto protelarem, contarão com a desconfiança dos portugueses e o aproveitamento jocoso dos oportunistas do partido de José Sócrates.


Miguel Nunes Silva

Fonte: Inconveniente

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