domingo, 21 de julho de 2024

19 de Julho de 1415 - Morre D. Filipa de Lencastre


A Rainha Dona Filipa de Lencastre (em inglês: Philippa of Lancaster; Leicester, c. Março de 1360 — Odivelas, 19 de Julho de 1415), nasceu no Castelo de Leicester e era uma princesa inglesa da Casa de Lencastre, filha mais velha de John de Gaunt ou Gante, 1.º Duque de Lencastre iuris uxoris , i.e., "em direito de uma esposa", e de Blanche de Lancaster. Neta do Rei Eduardo III de Inglaterra, quando tinha 18 anos, Lady Philippa foi agraciada com a dignidade inglesa de Dama da Ordem da Jarreteira.
Lady Philippa foi primorosamente educada para uma mulher da época e estudou ciências com Frei John, poesia com Jean Froissart, e filosofia e teologia com John Wycliffe.

Consumada a Vitória na Batalha de Aljubarrota sobre os Castelhanos, El-Rei D. João I informou prontamente os seus aliados ingleses através de John de Gaunt, Duque de Lencastre, e filho do Rei Eduardo III de Inglaterra.
Bem sabia Dom João I que a situação do Reino de Portugal era ainda periclitante e que certamente seria ainda acossado por Castela se não fosse encontrado um equilíbrio externo para defender Portugal de uma eventual guerra com o Reino vizinho. Importava, pois, garantir o futuro político português como Nação independente, através da consolidação dos acordos de amizade e apoio mútuo de 1373 entre Portugal e a Inglaterra.
Para isso, Dom João I enviou a Inglaterra os plenipotenciários D. Fernando de Albuquerque (Mestre da Ordem de Sant'Iago) e o chanceler Lourenço João Fogaça para negociar um acordo de aliança política e militar, favorável a ambos.
O Rei Ricardo II de Inglaterra, após as conversações iniciais, designou então três procuradores para a elaboração do texto final do Tratado de amizade com Portugal.
O Tratado foi finalmente assinado, no Castelo de Windsor, a 9 de Maio de 1386, tendo cinco procuradores testemunhado a assinatura do acordo entre o Soberano inglês e os delegados régios portugueses.
O Tratado possuía carácter quer defensivo, enquanto salvaguarda dos interesses de ambas as partes, em aliança, contra inimigos que passavam a ser comuns, quer ofensivo, porque visava uma colaboração entre Portugal e Inglaterra contra Castela e França. Todavia, era também uma aliança que visava a manutenção do bem e da tranquilidade públicos das populações dos reinos de Inglaterra e Portugal.
O comércio marítimo era também um dos objectos abrangidos no tratado. De acordo com o tratado de Windsor nenhuma das partes contratantes poderia fretar navios ou embarcações inimigas ou prestar socorros a nações que se encontrassem em conflito com qualquer um dos reinos. Se alguma das partes tomasse conhecimento de algo que fosse contra as disposições do tratado ou os interesses da outra parte, teria que intervir rapidamente para que depressa se eliminasse esse perigo ou infração do tratado. Antes do Tratado de Windsor nenhuma outra aliança concertada na Europa tinha sido tão abrangente.
A aliança consolidou-se, em 1387, pelo casamento, no Porto, d’El-Rei D. João I com a Princesa Inglesa Lady Philippa of Lancaster.
Foi no encontro com John of Gaunt, pai de Philippa, para negociar o apoio que o monarca português poderia dar à causa do duque inglês - que se proclamava rei de Leão e Castela e queria reconquistar o trono -, em Ponte de Mouro a 1 de Novembro de 1386, que D. João I tomou a decisão de casar com Philippa of Lancaster.
Assim, D. Filipa de Lencastre chegou a Portugal, com 27 anos – idade pouco comum para a época – e casa com D. João I, a 2 de Fevereiro de 1387, no Paço Episcopal anexo à Sé Catedral da cidade do Porto, tornando-se Rainha-consorte de Portugal. O matrimónio, esse, foi comemorado por todo o reino durante quinze dias, cimentando a Aliança Luso-Britânica. Em 1372, El-Rei D. Fernando de Portugal e o poderoso magnate inglês John de Gaunt, Duque de Lencastre (filho de Eduardo III de Inglaterra) firmaram uma aliança contra Castela e Aragão, que o duque se preparava para guerrear, aliança cimentada no Tratado Anglo-Português de 1373, e que é mais antiga aliança diplomática do mundo ainda em vigor. Foi com base neste Tratado de aliança que os ingleses, com os seus poderosos arqueiros, lutaram ao lado da Casa de Avis na Batalha de Aljubarrota, em 14 de Agosto de 1385. Depois dos ingleses lutarem ao lado dos portugueses contra os castelhanos e franceses na batalha, foi assinado o Tratado de Windsor, em 9 de Maio de 1386, com o intuito de renovar a Aliança. Foi no âmbito desta aliança que se organizou o casamento entre o Rei D. João I e a Princesa Philippa, para cimentar as relações e a aliança anglo-portuguesa.
Casamento de D. João I e D. Filipa de Lencastre, excerto da ‘Crónica de D. João I’ de Fernão Lopes:
‘E El Rei saiu daqueles paços em cima de um cavalo branco, em panos de ouro realmente vestido; e a rainha em outro tal, mui nobremente guarnida. Levavam nas cabeças coroas de ouro ricamente obradas de pedras de aljofar e de grande preço, não indo arredados um do outro, mas ambos a igual. Os moços de cavalos levavam as mais honradas pessoas que eram e todos de pé muito corregidos. E o arcebispo levava a Rainha da rédea. Diante iam pipas e trombetas e outros instrumentos que se não podiam ouvir. Donas filhas dalgo isso mesmo da cidade cantavam indo de trás, como é costuma de bodas. A gente era tanta que se não podiam reger nem ordenar pelo espaço que era pequeno dos paços à igreja e assim chegaram à porta da Sé, que era dali muito perto, onde dom Rodrigo, bispo da cidade, já estava festivalmente em pontifical revestido, Esperando com a cleresia. O qual os tomou pelas mãos, e demoveu a dizer aquelas palavras que a Santa Igreja manda que se digam em tal sacramento. Então disse a missa e pregação; e acabou seu ofício, tornaram El Rei e a Rainha aos paços donde partiram com semelhante festa, onde haviam de comer. As mesas estavam já guarnidas e todo o que lhe cumprira; não somente onde os noivos haviam de estar, mas aquelas onde era ordenado de comerem bispos e outras honradas pessoas de fidalgos e burgueses do lugar e donas e donzelas do paço e da cidade. E o mestre-sala da boda era Nuno Álvares Pereira, Condestável de Portugal; servidores de toalha e copa e doutros ofícios eram grandes fidalgos e cavaleiros, onde houve assaz de iguarias de desvairadas maneiras de manjares. Enquanto o espaço de comer durou, faziam jogos à vista de todos, homens que o bem sabiam fazer, assim como trepar em cordas e tornos de mesas e salto real e outras coisas de sabor; as quais acabadas, alçaram-se todos e começaram a dançar, e as donas em seu bando cantando a redor com grande prazer.’
Chegada à corte portuguesa, D. Filipa não negou a Sua estirpe, e tratou de implementar o protocolo, etiqueta e regras do seu país natal. Também, a praxe das refeições foi alterada introduzindo se o hábito de se lavar as mãos antes e depois das refeições, os alimentos passam a ser manuseados de forma higiénica. Desempenhou, também, um importante papel na política da Corte e, apesar de não mais ter pisado solo inglês, não se manteve alheia da inglesa, correspondendo-se por carta com o pai e irmão o Rei Henry IV.
Do casamento com D. João I nasceu a Ínclita Geração: D. Duarte, de seu verdadeiro nome Edouard – influência inglesa da mãe -, que foi rei; o Infante D. Pedro, Duque de Coimbra senhor de grande cultura , conhecido como o "Príncipe das Sete Partidas"; o Infante D. Henrique, Duque de Viseu e promotor e impulsionador dos Descobrimentos marítimos Portugueses; D. Isabel, mais tarde Duquesa de Borgonha, sábia administradora do território governado pelo seu marido, Filipe, o Bom; o Infante D. João, designado em 1418, Mestre da Ordem de Santiago de Espada; e o Infante D. Fernando, conhecido como o "Infante Santo", que morreu, em Fez. Ilustres filhos a que não foi alheia a educação ministrada pela Mãe.
A Rainha D. Filipa de Lencastre participou ainda com as suas ideias na idealização e construção do Mosteiro da Batalha. Não menos importante foi o seu incentivo à expedição a Ceuta.
A Rainha foi tocada pela peste em 1415, morrendo a 19 de Julho, poucos dias antes da partida da expedição a Ceuta.
A 21 de Agosto de 1415 o exército Português sob o comando d’El-Rei D. João I de Portugal, desembarca em Ceuta, conquistando a cidade norte-africana.
Finda uma noite de intensa peleja, pela manhã de 22 de Agosto, Ceuta estava abduzida pelas tropas portuguesas, e coube a D. João Vasques de Almada hastear a bandeira de Ceuta, com os gomos brancos e pretos como na bandeira de Lisboa, e com o então brasão de armas do Reino de Portugal ao centro, e que perdura até aos dias de hoje.
Após a tomada da mais bela e mais florescente cidade da Mauritânia, no norte de África, El-Rei Dom João I procede ao ritual de armar cavaleiros os filhos D. Duarte, D. Pedro e D. Henrique, que se haviam ilustrado pelas armas no campo de batalha.
Após a Santa Missa, os três Infantes, usando reluzentes armaduras, foram armados cavaleiros pelo Rei seu Pai, com a espada abençoada pela Rainha Dona Filipa de Lencastre, mulher de D. João I e mãe de tão Ínclita Geração.

Miguel Villas-Boas

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