Quem me conhece sabe que eu nunca me pronuncio na espuma dos acontecimentos. Por uma razão muito simples: as primeiras impressões, consoante os protagonistas, são sempre enviesadas, manipuladas, meias-verdades ou mentiras absolutas. No mundo atual, infelizmente, não basta saber dos factos pelos noticiários; é preciso investigar tudo o que nos é transmitido pelos meios de comunicação. E a razão é muito simples: 15 milhões de António Costa e 55 milhões de Luís Montenegro para a comunicação social.
Quando temos avençados da (des)informação, nunca podemos tirar ilações imediatas, porque, se o fizermos, estamos a participar, mesmo que involuntariamente, na divulgação de informação falsa. Quem é pago por governos para informar não está a fazer jornalismo. Está a fazer propaganda. Isto é indiscutível.
Esta semana fomos surpreendidos por mais um episódio sobre o partido Chega. O que foi desta vez? Um suposto insulto a uma deputada invisual do PS, por parte de uma deputada do partido Chega e outros vindo de apartes deste grupo parlamentar com microfone desligado. Assim, de repente, qualquer pessoa bem formada fica imediatamente horrorizada com a situação. Mas quem pode admitir, em pleno Parlamento, um comportamento injurioso dessa natureza por parte de deputados da nação, na Casa da Democracia? Obviamente, ninguém com um mínimo de carácter. Nesta parte, estamos completamente em sintonia.
Porém, neste caso concreto, há um problema: os factos não foram descritos com rigor, o que permitiu aos políticos e aos media avençados trabalharem a percepção como técnica de desinformação. Dito de outra maneira, todos os agentes neste episódio, mesmo antes de apurar com rigor o sucedido, apressaram-se a divulgar uma informação que carecia de confirmação para dar uma percepção nefasta (mais uma) do partido Chega logo nas primeiras horas.
Analisemos à lupa, os factos:
A deputada do Chega disse: “(…) é curioso que a deputada só consiga intervir em assuntos que envolvem, infelizmente, a deficiência”.
Ora, é evidente que se trata de uma frase muito infeliz. A língua portuguesa, de tão rica, é muito traiçoeira. Daí que existam cursos em Ciências Políticas que ensinam técnicas para discursar para o público, entre outras coisas, e assim evitar erros de falsa percepção. Quando se é caloiro nessas andanças políticas, cometer erros desse tipo é do mais natural que há. E todos ali dentro do Parlamento sabem disso, embora hipocritamente finjam que não. Um mau uso do português em um discurso directo ou indirecto pode trazer interpretações erradas ou dúbias, daí a importância da formação nessa área para quem tem responsabilidades públicas.
Mas e se tivesse dito a um deputado advogado: “É uma pena só conseguir intervir em assuntos que se prendem com a redacção de leis” (em vez dos problemas reais das pessoas), por exemplo? Ou a um deputado professor: “É pena só conseguir intervir em assuntos sobre a docência”. Seria insulto? Por que, sendo alguém com deficiência, num tema sobre deficiência, essa observação ofende tanto? Eu sei. Ofende porque se faz questão em enviesar o sentido das palavras da deputada (obviamente por ser do Chega) que as proferiu, sem qualquer maldade. Porquê? Ora, precisamente porque se trata de uma pessoa com deficiência! E são essas pessoas as mais instrumentalizadas pelos políticos. Infelizmente, isso é um facto. E claro, essas falhas monumentais sempre favorecem aqueles que têm um objectivo claro de desacreditar (abolir) esse partido político.
Depois do enviesamento da mensagem, veio a mentira, amplamente difundida, sobre os apartes supostamente dirigidos à deputada invisual. Com efeito, apesar de ter sido logo denunciado pela deputada Rita Matias, apelando à distribuição da acta do plenário para todos os deputados, onde claramente se comprova que os apartes tinham sido dirigidos a Isabel Moreira depois desta insultar Filipe Melo, a mentira propagou-se e perpetuou-se por vários dias após o episódio (para entrar inconscientemente no ouvido dos telespectadores), para só muito mais adiante começarem a repor a verdade a conta-gotas e da forma mais discreta possível (quase imperceptível), sem quaisquer destaques. Assim, a percepção que ficou junto ao público foi a da primeira versão e não a da segunda, como deveria ter sido. Só não vê quem não quer.
A seguir veio a já habitual narrativa em uníssono (outra técnica de manipulação da percepção) do “nunca se viu isso na Casa da Democracia” ou “desde que o Chega entrou para o Parlamento, é só arruaceiros e mal-educados” e por aí vai. Será isso verdade? Infelizmente, não.
Eis os factos numa síntese do Jornal Eco a que chamaram “Oito tesourinhos deprimentes”:
- Mourinho Félix, secretário de Estado do Tesouro, acusou os deputados da direita de terem uma “disfuncionalidade cognitiva temporária”. E durante perto de cinco minutos o plenário ficou inundado de gritos, assobios, pateadas, até que o Presidente da Assembleia da República decidisse ameaçar suspender a sessão;
- Manuel Pinho encontrou outra forma de responder: colocou os dedos na testa e fez cornos para a bancada comunista;
- A resposta do então primeiro-ministro Sócrates, não foi captada pelos microfones, mas ficou gravada nas imagens: “Manso é a tua tia, pá!” lê-se nos lábios. Louçã disse apenas: “não baixe o nível porque não é assim que deve ser o debate da Assembleia da República.”
- Núncio tinha acabado de intervir, acusando o PS de rasgar o acordo sobre a reforma, e Cabrita, apesar de estar a conduzir os trabalhos, decidiu tomar a palavra para contrariar o então governante. Paulo Núncio tentou ligar o microfone para interromper Eduardo Cabrita, mas o então deputado não deixou;
- Duarte Marques, deputado do PSD, utilizou a palavra “palhaçada” para se referir à intervenção de José Magalhães, deputado socialista. José Magalhães preparava-se para intervir mas, antes disso, decidiu responder: “O Sr. Deputado vá chamar palhaço ao seu pai”;
- Wanda Guimarães, deputada do PS, lançou-se contra os deputados do PSD: “As direitas – e neste caso estou-me a referir àquela que saiu adornada de social-democracia no último congresso do PSD – têm mudado, de facto, o seu comportamento. Primeiro assistimos a uma grande agressividade e agora passou para o que eu chamaria de transtorno psicótico político. Atenção, político.”Wanda Guimarães não deu o assunto por terminado sem responder: “Se gosta mais de autismo do que de transtorno psicótico, pronto. Agora, não me interrompa porque isso é falta de educação“;
- “Responde, ou é preciso fazer um desenho”, perguntou Vieira da Silva, ministro do Trabalho, a 4 de maio deste ano, durante um debate no plenário da Assembleia da República, sobre Segurança Social.
- https://sol.sapo.pt/2020/03/04/ferro-rodrigues-expulsa-deputado-da-assembleia/
A Revista Sábado também fez uma resenha de insultos em 2009: https://www.sabado.pt/portugal/detalhe/os-maiores-insultos-no-parlamento-video
E a machada final surge com os jornalistas de investigação do Página Um:
“O presidente da Assembleia da República, Augusto Santos Silva, fez já saber, entretanto, que vai levar à conferência de líderes, para discussão, estes sucessivos episódios de aparentes insultos por parte dos deputados do Chega.
Mas será que estes comportamentos mais acesos, que raiam a ofensa e a malcriadez, jamais passaram pelo Parlamento português? Claro que não. Num par de horas, seleccionámos um best of com 10 curtos mas sumarentos episódios, que envolvem desde Francisco Sousa Tavares e Jerónimo de Sousa até António Costa, actual primeiro-ministro, passando por Narana Coissoró, Mário Tomé e Vicente Jorge Silva, fundador do jornal Público. Vale tudo, acreditem: pelas paredes da Assembleia da República já ecoaram palavras como merda, pateta, alarve, idiota, calaceiro, parvalhão, maluco, mandrião, palerma e parvo.” (leia o artigo completo aqui)
E ainda temos estas pérolas:
- Ascenso Simões: https://www.dn.pt/poder/interior/tancos-animos-exaltados-e-troca-de-insultos-entre-ps-e-cds-pp-por-causa-de-documentos–10280052.html
- João Soares: https://www.rtp.pt/noticias/politica/cds-pp-diz-que-comportamento-de-joao-soares-foi-lamentavel_n909765
- bofetadas e ameaças: https://www.publico.pt/2016/04/07/culturaipsilon/noticia/ministro-da-cultura-ameaca-dar-bofetadas-a-colunistas-do-publico-1728385
- Sócrates: https://www.youtube.com/watch?v=hwieIQzlFpo
A juntar a estas preciosidades, temos isto:
- Depois do “matar o homem branco” e da “bosta da bófia”, o dirigente do SOS Racismo está metido noutra.https://sol.sapo.pt/2022/02/03/mamadou-ba-chama-suinos-aos-deputados-do-chega-e-gera-criticas/
- “A meio da discussão do parecer, na comissão parlamentar de Assuntos Constitucionais, hoje de manhã, Isabel Moreira afirmou que o deputado do Chega “é declaradamente uma pessoa racista”, ao que André Ventura respondeu, por Skype, que “nunca” foi “condenado por racismo”. O presidente da comissão, Luís Marques Guedes, chamou a atenção para este tipo de linguagem que pode “ofender as pessoas”, distinguindo o que é uma opinião e uma posição política, quando se acusa alguém de “apresentar propostas racistas”. Na resposta, a deputada do PS disse “recuar” e que “não deveria ter dito o que disse”, mas acrescentou, em tom irónico: “Uma pessoa que nunca foi condenada por racismo não é racista, tem muitas opiniões racistas, mas não tendo sido condenado, não é racista.”
Por isso, os políticos têm imunidade parlamentar. Todos sabem que há excessos, que fazem parte da luta partidária. Mas o “show” de hipocrisia “must go on” e, claro, fingiram-se de ofendidos quando, ainda nesta última sessão parlamentar da moção de censura, depois de os deputados terem-se unido, em choque, contra a falta de educação do Chega em sessão anterior, o presidente da Assembleia, nesta sessão da moção de censura, repreendeu vários deputados que foram chamados a corrigir suas interpelações. Mesmo assim, quando o deputado do CDS afirmou que Ventura deveria vir com uma corda ao pescoço, o presidente da Assembleia da República desvalorizou, pois era apenas uma “metáfora”. Ou seja, isto dos insultos também depende muito de quem os analisa, certo?
Agora vamos à melhor parte deste texto: se fosse o ADN, a NOVA DIREITA, o BE, o PCP, o LIVRE, o PAN ou o IL (partidos ainda residuais) e até qualquer outro novo partido que demonstrasse claramente querer revolucionar o sistema instituído, a crescer exponencialmente ameaçando a hegemonia do poder do bloco central, aconteceria exatamente o mesmo. O BE, o LIVRE, o PAN, o IL e o PCP nunca foram alvos de propaganda de desacreditação – e até lhes deram algum palco (para dar a ideia fofinha de pluralismo e democracia) – porque NUNCA foram vistos como ameaças. Bem pelo contrário: deram-lhes “chupa-chupas” (palco nos meios de comunicação generalistas e coligações) para entretê-los numa oposição controlada, sem perseguição feroz, porque simplesmente nem aquecem nem arrefecem. Estes, sem se darem conta, são meros instrumentos do bloco central. Nada mais.
Porque é de PERCEPÇÃO que falamos, desde a sua constituição, o CHEGA sempre foi perseguido para que se matasse o mensageiro logo à nascença. Não porque seja perigoso, antidemocrático ou autoritário (eles sabem muito bem que não o é), mas pelo simples facto de que a sua mensagem é demasiado forte e agregadora num país consumido, há décadas, pela corrupção, despesismo, tráfico de influências, clientelismo e crimes de lesa-pátria. Por isso, a propaganda não perdeu tempo em tentar arruinar a credibilidade desta organização partidária. E quase conseguiu (inicialmente) travar o seu crescimento ao instalar o medo. O problema foi o confronto da narrativa propagandista com a verdade dos factos, que acabou por “virar o feitiço contra o feiticeiro”. Senão, vejamos:
- Um partido racista tem negros em cargos de poder?
- Um partido misógino e sexista tem mulheres em cargos de poder?
- Um partido fascista defende a liberdade individual e colectiva no seu programa político?
- Um partido radical, extremista e autoritário defende valores e liberdades da família, da colectividade, do indivíduo, da economia e da expressão?
- Um partido xenófobo tem deputados de origem brasileira e africana?
- Um partido nazi defende um Estado liberal e apoia uma imigração controlada que respeite os nossos valores e costumes, tal como Montenegro e Pedro Nuno Santos fazem agora apologia?
Claramente que não. E os cidadãos confirmaram isso mesmo ao fazê-lo crescer. Se hoje têm 50 deputados, devem-no sobretudo à falta de coerência descarada (quase a roçar o ridículo) dos meios de comunicação social, que expuseram uma agenda (esta agenda é mundial) de propaganda concertada para a desacreditação deste organismo partidário a quem colaram o rótulo de “extrema-direita”. Se os meios de comunicação continuarem nessa linha, ajudarão o Chega a ser , muito em breve, governo.
A verdade, que eu mesma constatei na minha breve passagem pelo partido, é que todo aquele que se diz Chega é alvo de todo tipo de adjectivos depreciativos antes mesmo de abrir a boca e, se a abrir, ai dele se não souber transmitir oralmente ou por escrito uma mensagem. Ai dele se não for perfeito (e, mesmo perfeito, vão questionar essa perfeição, ah! ah! ah!). Ou, mesmo sabendo transmitir uma mensagem com correção, não se livrará da intenção de ver maldade onde ela não existe. Aconteceu de novo, desta vez com o deputado Tilly que, no parlamento, disse – e bem – que as turmas tinham (e têm) demasiados alunos especiais na sua composição. Que isso tem um reflexo negativo na aprendizagem da turma. Por isso, era necessário REDUZIR esse número por turma. O horror foi ele se referir aos alunos normais (aqueles que estão dentro da norma) e aos alunos com deficiência (que saem da norma). O que é que isto tem de ofensivo? Nada, se formos gente bem formada que não deturpa o sentido das palavras. Todos sabemos (só que alguns não porque faltaram às aulas de português) que algo que sai da norma é anormal e o contrário é normal. Dando um exemplo concreto: um africano albino é anormal. Isso é uma ofensa? Obviamente que não.
Mas para quem insiste em ter dúvidas deixo aqui o significado correcto da palavra:
É um facto (e escusam de fingir que não) que é difícil lidar com os insultos, as deturpações constantes, a perseguição, as ameaças (sim, ameaças de fanáticos políticos) quando alguém se diz do Chega. E o sistema, organizado nessa acção concertada, sabe disso também. Por isso, usa e abusa dessa técnica. Daí que, quando alguém desse partido se revolta e faz valer os seus direitos, é criticado: https://cnnportugal.iol.pt/videos/deputado-do-chega-chama-a-policia-depois-de-ser-chamado-racista/63ece71d0cf28f3e15cc351b.
Ou seja, quem é do Chega tem de aceitar como um cordeiro ser enxovalhado e, se reage, é arruaceiro, reacionário, mal-educado, nazi e por aí fora.
O problema deste partido, entre outros, foi o slogan escolhido – “o partido de pessoas de bem” –, com o qual nunca me identifiquei. Para mim, seria “partido das pessoas para as pessoas”, porque as pessoas (comuns) que conhecem a realidade do país, que trabalham desde jovens, são seres humanos falíveis, que têm um percurso, por vezes difícil, de trabalho árduo, de sucessos e fracassos, mas, sobretudo, de grande aprendizado e resiliência, que é, sem dúvida, a maior mais-valia para detectar e resolver os problemas reais dos cidadãos comuns. Pessoas de bem são pessoas com virtudes e defeitos e nunca pessoas imaculadas, como (outra vez) a percepção dos media sobre este partido faz crer.
Sou da opinião de que, depois da gota d’água dos últimos eventos no parlamento, e já que TODOS os partidos se insurgiram (e bem!), devem ser tomadas medidas sobre os comportamentos inadequados dos deputados da nação, sejam eles insultos, agressões físicas ou verbais, pintar unhas, ver vídeos, jogar online, vir sob efeito de drogas etc. Já chega desse regabofe que dura desde que este parlamento existe. Regras de conduta que, ao serem transgredidas, permitam a aplicação de multas pecuniárias ou suspensão temporária (castigos para meninos mal comportados, estão a ver?). Num instante, essa malta toda ficaria na linha e acabaria essa vergonha nacional.
Nota final: este texto não pretende branquear nenhuma acção verdadeiramente condenável vinda do Chega ou qualquer outro partido. Agradeço que não me associem. Neste momento, sou independente e pretendo continuar assim. A minha luta é despertar os cidadãos para o mundo real, partilhando as minhas experiências políticas, profissionais ou pessoais. E nas minhas análises, pouco me importa quem é o alvo, seja partido político ou personalidade pública. O escrutínio é pela verdade e transparência. Mais nada.
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