Às vinte e uma horas do dia 21 de Março de 1887 nascia, em Belém, Dom Luís Filipe de Bragança, o primeiro filho do presuntivo herdeiro do trono de Portugal. De seu nome completo Luiz Filippe Maria Carlos Amélio Fernando Victor Manuel António Lourenço Miguel Rafael Gabriel Gonzaga Xavier Francisco d’ Assis Bento de Bragança Orleans Saboya e Saxe-Coburgo-Gotha, como filho primogénito de SS.AA.RR. os Duques de Bragança Dom Carlos e Dona Amélia, nascia o Príncipe da Beira e Duque de Barcelos, e, tal-qualmente a promessa de continuidade da Casa Real Portuguesa, facto pelo qual todo o País rejubilou.
Tendo como padrinhos o avô paterno, Rei Dom Luís I, e a avó materna, a Condessa de Paris, o Príncipe da Beira foi baptizado a 14 de Abril, desse mesmo ano, na Capela do Paço da Ajuda pelo, então, Cardeal Patriarca.
Entregue aos cuidados da ama Carlota de Campos e da Dama D. Isabel Saldanha da Gama, da Casa da Ponte, a sua infância decorreu com um pequeno sobressalto, quando um incêndio deflagrou, em Dezembro de 1888, nos próprios aposentos de Dom Luís Filipe no Paço Ducal de Vila Viçosa, tendo as chamas atingido o berço do próprio principezinho, mas que haveria de nada sofrer. Já a Duquesa de Bragança, Dona Amélia, de esperanças de uma menina, sofreria um parto prematuro não tendo o bebé sobrevivido.
A 19 de Outubro de 1889 falece El-Rei Dom Luís I, e Dom Carlos torna-se o novo Rei de Portugal, já o muito jovem Príncipe da Beira, como presuntivo herdeiro, passa a ter o título de Sua Alteza Real, o Príncipe Real Dom Luís Filipe, Duque de Bragança, passando a ter o usufruto dos rendimentos dessa grande e real Casa, último morgadio que no seu tempo era ainda, legalmente, permitido em Portugal.
Em 15 de Novembro de 1889, nasce o Príncipe Dom Manuel de Bragança, Duque de Beja, e completou-se assim a feliz família.
Têm os jovens príncipes uma infância feliz e sem sobressaltos, aos cuidados de uma mãe extremosa, de uma cuidadosa dama de companhia e da carinhosa Calita, a aia. Por vontade da Rainha Dona Amélia os jovens príncipes convivem com outras crianças da sua idade filhos das mais nobres famílias do Reino, como os Abrantes, os Sabugosa, os Figueirós, os Castro Pereira, etc..
Uma cuidada e rigorosa educação, revelou as qualidades inatas dos Príncipes, mas despertou-lhes também a cordialidade, a amabilidade e mesmo a bondade para com os outros, atributos de que haveriam de dar provas muito frequentemente. Exemplo disso é o episódio ocorrido aos cinco anos do Príncipe Real em que uma humilde mulher se aproximou e se ajoelhou aos seus pés para em seguida lhe beijar as mãos e ao que Dom Luís Filipe retorquiu: “Levante-se, eu não sou Deus!”
Também revelou-se um afectuoso irmão mais velho para com Dom Manuel tendo feito, não raras vezes, suas as culpas que eram do infante.
Herdou de seu pai, o Rei, o talento para a pintura e desenho assim como o gosto pela caça.
Finda a meninice era hora de cuidar da educação do herdeiro da coroa. Os príncipes tiveram os mesmos preceptores: Garcia Guerreiro (história e geografia), Oliveira Ramos (literatura portuguesa), Kerauch (literatura, geografia, e história alemã), Lopes Graça (filosofia e direito), Marques Leitão (matemática) e o tenente-coronel José de Castro (balística, táctica e topografia). Os príncipes tinham um regime rígido de aprendizagem, pois levantavam-se às 6 horas e depois da higiene e pequeno-almoço estudavam até ao meio-dia, almoçavam e voltavam ao trabalho até às 15 horas, altura que davam um passeio até à hora do lanche. Depois às 17h30m retomavam a preparação até às 19h30m, altura do jantar.
Da sua aprendizagem haveriam de dar frequentemente provas públicas, pois os seus exames eram feitos perante uma plateia.
A equitação fazia naturalmente, também, parte da educação dos Príncipes.
Aos treze anos, é nomeado aio do Príncipe Real o herói Mouzinho de Albuquerque, e a sua instrução passou a ter mais uma componente militar e a ser mais uma preparação para reinar. Começa a viagem pelo Reino, para conhecer o seu Povo e os seus anseios. Porto, Penafiel, Braga, Viana do Castelo, quase todo o Norte do País ficou a conhecer e a admirar o seu Príncipe Real.
Com o suicídio de Mouzinho é nomeado como aio do Príncipe Real o coronel Francisco da Costa.
El-Rei Dom Carlos I foi atribuindo, ao Duque de Bragança, postos honorários do exército no Esquadrão de Lanceiros do Rei, Regimento de Cavalaria nº 2 e nomeou-o ainda Comandante honorário do Colégio Militar.
Durante a sua adolescência começou o Príncipe Real a ser integrado gradualmente nas funções oficiais, tendo amiúde participado nas cerimónias das visitas oficiais de monarcas estrangeiros, como a de Eduardo VII, em Abril de 1902 ou a do Presidente Francês Loubet.
Tal-qualmente, o Príncipe Real viajou várias vezes para o estrangeiro, nomeadamente representar o Rei português, em Westminster, na Coroação do primo Eduardo VII, em Junho de 1902. Aí em Londres foi investido como Cavaleiro da Ordem da Jarreteira, o penúltimo português a ter essa honra – o último seria o irmão El-Rei Dom Manuel II.
Em 1902 acompanhado pela mãe e irmão cruza o Mediterrâneo num prolongado cruzeiro.
Quando SS.MM. os Reis se deslocaram a Paris, entre 20 de Novembro e 20 de Dezembro de 1905, e também a Madrid, entre 11 e 16 de Março, coube a Dom Luís Filipe assumir a regência do Reino, funções que cumpriu com grande presteza e competência facto pelo qual lhe foram tecidos enormes elogios.
Dom Luís Filipe viajou, também, para Madrid, ainda nesse ano, para assistir ao casamento do primo o Rei Afonso XIII, com a princesa Victória de Battenberg, onde escapou a um atentado à bomba perpetrado por um anarquista, contra o monarca espanhol.
Nos termos do art.º 112.º da Carta Constitucional em 13 de Abril de 1906 – Constituição que havia jurado em 1901 -, o Príncipe Real tomou assento no Conselho de Estado, a posse de um lugar que era seu por inerência aos 18 anos.
Com este texto iniciamos hoje uma série de artigos dedicados ao Regicídio, esse acto de infame terrorismo. Tratou-se de um complô perpetrado pelas infames Carbonária, Maçonaria e com a conivência de muitos membros do Partido Republicano Português, contra a Família Real Portuguesa em 1 de Fevereiro de 1908 e que custou as vidas D’El Rei Dom Carlos I e do Príncipe Real Dom Luís Filipe, sendo consequentemente o dobrar de finados da Monarquia Portuguesa.
El-Rei Dom Carlos entendeu ser da maior importância que o Príncipe herdeiro visitasse o Império, a exemplo do que faziam outros presuntivos herdeiros das Coroas Europeias pelos seus domínios em representação dos Monarcas.
A viagem do Príncipe Real aos domínios portugueses em África foi o acontecimento político mais importante da jovem vida de Dom Luís Filipe, até porque era o primeiro membro da Família Real a fazer tal viagem. Embarcou a 1 de Julho de 1907 e visitou S. Tomé e Príncipe, Angola, Moçambique, e ainda as colónias inglesas da Rodésia e da África do Sul, quando regressava passou por Cabo Verde.
Com uma parca comitiva, mas sem precedentes, o jovem Príncipe Real foi aclamado por todo o lado que passou.
Em S. Tomé deliciou-se com a vegetação tropical e foi recebido numa colónia engalanada e em festa. Em Angola os Sobas, na sua Presença, e perante expressivos arranjos musicais dos instrumentos locais, prestaram-lhe as sentidas homenagens e juraram-lhe fidelidade. Depois, em Lourenço Marques, foi recebido, a 29 de Julho, com vivas ao Príncipe e à Pátria Portuguesa e desfilou nas ruas por entre arcos enfeitados a rigor e perante uma entusiástica população que aplaudia o seu Príncipe Real. Depois foi à Rodésia e por fim à África do Sul, onde teve um acolhimento singular da comunidade local que lhe rendeu diversas homenagens. Depois do Cabo regressou a Angola e no regresso a Portugal passou por Cabo Verde. Chegou a Portugal em 27 de Setembro de 1907, onde encontrou uma Nação em efervescência política.
Em todos os locais que visitou causou Dom Luís Filipe de Bragança a mais distinta impressão, facto pelo qual, já na metrópole foi elogiado pelo seu desempenho pelo Rei, seu pai, e pelo Conselho.
Foi por essa altura que o jovem e garboso Príncipe de olhos azuis e cabelo louro terá conhecido o amor, tendo-se apaixonado por uma jovem de seu nome Margarida, filha de uns Barões. Porém, sem desmérito para a prendada e virtuosa moça, o platónico amor não poderia, segundo os códigos da época prosseguir e transformar-se em algo mais sério, pois a um herdeiro da Coroa era esperado casar-se com alguém, também, de sangue real.
“Exercia a sua insinuante figura, a um tempo tão moça quão varonil uma atracção indefinível, por todos experimentada. Acrescia um amor pela sua terra, um fervor no sentimento patriótico que a todos também se comunicava, enquanto que uma educação primorosamente cuidada servida por uma inteligência claríssima e auxiliada pela prodigiosa memória da sua Casa, contribuía poderosamente para o êxito triunfal da viagem, destinada afinal a marcar apenas os derradeiros lampejos de glória de um Reinado a que ia em breve pôr termo a mais atroz tragédia da história”, escreveu o Conselheiro Ayres D’Ornellas in «Viagem do Príncipe Real», Lisboa, 1908, pág.8.
A 1 de Fevereiro de 1908, quando regressava de Vila Viçosa, dados ‘Cem Passos’, a Família Real Portuguesa foi vítima de um atentado terrorista perpetrado por membros da maléfica Carbonária.
Miguel Villas-Boas
Fonte: Plataforma de Cidadania Monárquica
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