Hoje, as famílias monárquicas já não têm todas sobrenomes sonantes. E as que têm apelidos conhecidos já não são necessariamente abastadas.
Ricos e pobres, católicos e ateus, da esquerda à direita, há um pouco de tudo. A monarquia também se modernizou.
Ficou célebre a história do homem de negócios que, orgulhoso, ia mostrando às visitas os quadros onde figuravam os seus antepassados, entre duques, condes e viscondessas: “E aqui está o meu avô, marquês de…” E, antes de ter tempo de terminar, responde-lhe o outro: “Conheço muito bem. Sabe, por mais um lance, o avô não era seu, era meu.”
Hoje, o sobrenome continua a ter peso – um peso que pode até ter uma conotação negativa, dependendo da história que lhe está associada – e ainda existem círculos fechados, elitistas, mas também já se encontram muitas famílias monárquicas sem tradição, como os Pombo, os Teixeira ou os Silva. Da mesma forma que muitos nomes ligados à nobreza deixaram de se identificar com a monarquia.
Tomás Caldeira Cabral é monárquico. E reúne as duas coisas: nome e convicção política. “No meu caso é, além de uma escolha, consciente e militante, uma tradição que vem do meu pai e do meu avô, monárquicos militantes, mas para quem a liberdade de escolha e opinião foi sempre a linha dominante”, conta.
A prova está em que existem todas as opções políticas nesta família de quatro irmãos, três cunhados, sete sobrinhos, 12 tios direitos e respectivos consortes e 33 primos direitos. “Quase uma tribo, para os dias que correm”, brinca.
Entre os primos está Manuel Caldeira Cabral, um dos 12 economistas que António Costa convocou para preparar o documento “Uma Década para Portugal”, o relatório onde estão contidas as propostas orçamentais do Partido Socialista para os próximos anos.
Professor na Universidade do Minho, Manuel Caldeira Cabral é um socialista assumido e não tem qualquer convicção monárquica. Afinal, se alguma coisa não é hereditária, é o pensamento.
A tradição, claro, pode ajudar. O primo Tomás, consultor e formador na área dos vinhos, tem três filhos. “Procuro educá- -los com liberdade e respeito pelos valores essenciais e igualmente pelo amor ao nosso país, que é parte integrante da nossa própria identidade.” “Ser monárquico, hoje e em Portugal, é uma atitude ética e estética que tem o seu suporte na tradição acumulada desde tempos imemoriais, uma relação personalizada com a história e a materialização da pátria no seu melhor sentido de continuidade e genuinidade – conceitos plenamente representados pelo senhor D. Duarte Pio, duque de Bragança”, considera.
Mas como é, afinal, ser monárquico num tempo sem rei nem roque? Para Tomás Caldeira Cabral, é ter “consciência de que tem de se deixar um legado e criar uma alternativa”. E, na sua opinião, “o senhor D. Duarte dá o exemplo, ao estar disponível para apoiar, dentro das suas possibilidades, as causas que são imanentes ao país, independentes de políticas partidárias ou até de regimes, como o apoio às políticas do ambiente, património, imigrantes e emigrantes, a diáspora, a língua e a cultura portuguesa no mundo, a acção social e a sociedade civil nas suas múltiplas vertentes, desde as caixas de crédito aos bombeiros, passando pelo Refood ou as Misericórdias. E defendendo desinteressadamente causas justas e históricas, como Timor, Cabinda, Olivença e outras que, por estarem acima dos interesses do momento, precisam de uma voz livre, característica do rei”.
Isto não são contos de fadas. Tomás acredita e pratica cada palavra. E por isso defende “um regime que dê espaço e representação real às pessoas, às suas comunidades e regiões, que promova os valores e que seja mais do que uma comissão de gestão, um projecto que dê sentido ao nosso futuro”.
Para Tomás Caldeira Cabral, todos estes objectivos podiam materializar-se numa república, “mas a verdade é que estes exemplos, não apenas na história passada mas na actualidade, aparecem-nos com muito maior frequência e credibilidade nas monarquias”, afirma.
Conciliar convicções e realidade é uma tarefa “difícil de encaixar nas correntes actuais”, concorda. “Nem os políticos sabem bem a que tribos pertencer, quanto mais um simples cidadão. A ter de ter rótulo, procuro seguir a doutrina social da Igreja e contribuir para uma sociedade que promova a justiça, a beleza e a verdade.”
Por isso quisemos saber: vota? “Voto. Menos para a Presidência da República, por motivos óbvios. Procuro mais pessoas do que partidos, em que me revejo cada vez menos. Apesar disso, tenho votado, essencialmente no centro-direita.”
Milhares de famílias mantêm o vínculo emocional e de militância com a causa monárquica, e D. Duarte de Bragança e a sua família são recebidos de norte a sul do país e nas múltiplas comunidades lusófonas, desde os EUA ao Brasil, passando por África ou Timor.
Actualmente, os movimentos monárquicos vão muito além do Partido Popular Monárquico, constituído a 23 de Maio de 1974. Alguns bem recentes, como a APAM – Associação dos Autarcas Monárquicos, presidida por Manuel Beninger e que, com menos de um ano, já conta com cerca de 400 presidentes e ex-presidentes de câmara pertencentes a todos os partidos políticos.
Porque, como diz Tomás Caldeira Cabral, “a monarquia é essencialmente orgânica. Se parasse no tempo, deixava de nos pertencer e passava a ser apenas história. Mudou e adaptou-se”.
Hoje, o sobrenome continua a ter peso – um peso que pode até ter uma conotação negativa, dependendo da história que lhe está associada – e ainda existem círculos fechados, elitistas, mas também já se encontram muitas famílias monárquicas sem tradição, como os Pombo, os Teixeira ou os Silva. Da mesma forma que muitos nomes ligados à nobreza deixaram de se identificar com a monarquia.
Tomás Caldeira Cabral é monárquico. E reúne as duas coisas: nome e convicção política. “No meu caso é, além de uma escolha, consciente e militante, uma tradição que vem do meu pai e do meu avô, monárquicos militantes, mas para quem a liberdade de escolha e opinião foi sempre a linha dominante”, conta.
A prova está em que existem todas as opções políticas nesta família de quatro irmãos, três cunhados, sete sobrinhos, 12 tios direitos e respectivos consortes e 33 primos direitos. “Quase uma tribo, para os dias que correm”, brinca.
Entre os primos está Manuel Caldeira Cabral, um dos 12 economistas que António Costa convocou para preparar o documento “Uma Década para Portugal”, o relatório onde estão contidas as propostas orçamentais do Partido Socialista para os próximos anos.
Professor na Universidade do Minho, Manuel Caldeira Cabral é um socialista assumido e não tem qualquer convicção monárquica. Afinal, se alguma coisa não é hereditária, é o pensamento.
A tradição, claro, pode ajudar. O primo Tomás, consultor e formador na área dos vinhos, tem três filhos. “Procuro educá- -los com liberdade e respeito pelos valores essenciais e igualmente pelo amor ao nosso país, que é parte integrante da nossa própria identidade.” “Ser monárquico, hoje e em Portugal, é uma atitude ética e estética que tem o seu suporte na tradição acumulada desde tempos imemoriais, uma relação personalizada com a história e a materialização da pátria no seu melhor sentido de continuidade e genuinidade – conceitos plenamente representados pelo senhor D. Duarte Pio, duque de Bragança”, considera.
Mas como é, afinal, ser monárquico num tempo sem rei nem roque? Para Tomás Caldeira Cabral, é ter “consciência de que tem de se deixar um legado e criar uma alternativa”. E, na sua opinião, “o senhor D. Duarte dá o exemplo, ao estar disponível para apoiar, dentro das suas possibilidades, as causas que são imanentes ao país, independentes de políticas partidárias ou até de regimes, como o apoio às políticas do ambiente, património, imigrantes e emigrantes, a diáspora, a língua e a cultura portuguesa no mundo, a acção social e a sociedade civil nas suas múltiplas vertentes, desde as caixas de crédito aos bombeiros, passando pelo Refood ou as Misericórdias. E defendendo desinteressadamente causas justas e históricas, como Timor, Cabinda, Olivença e outras que, por estarem acima dos interesses do momento, precisam de uma voz livre, característica do rei”.
Isto não são contos de fadas. Tomás acredita e pratica cada palavra. E por isso defende “um regime que dê espaço e representação real às pessoas, às suas comunidades e regiões, que promova os valores e que seja mais do que uma comissão de gestão, um projecto que dê sentido ao nosso futuro”.
Para Tomás Caldeira Cabral, todos estes objectivos podiam materializar-se numa república, “mas a verdade é que estes exemplos, não apenas na história passada mas na actualidade, aparecem-nos com muito maior frequência e credibilidade nas monarquias”, afirma.
Conciliar convicções e realidade é uma tarefa “difícil de encaixar nas correntes actuais”, concorda. “Nem os políticos sabem bem a que tribos pertencer, quanto mais um simples cidadão. A ter de ter rótulo, procuro seguir a doutrina social da Igreja e contribuir para uma sociedade que promova a justiça, a beleza e a verdade.”
Por isso quisemos saber: vota? “Voto. Menos para a Presidência da República, por motivos óbvios. Procuro mais pessoas do que partidos, em que me revejo cada vez menos. Apesar disso, tenho votado, essencialmente no centro-direita.”
Milhares de famílias mantêm o vínculo emocional e de militância com a causa monárquica, e D. Duarte de Bragança e a sua família são recebidos de norte a sul do país e nas múltiplas comunidades lusófonas, desde os EUA ao Brasil, passando por África ou Timor.
Actualmente, os movimentos monárquicos vão muito além do Partido Popular Monárquico, constituído a 23 de Maio de 1974. Alguns bem recentes, como a APAM – Associação dos Autarcas Monárquicos, presidida por Manuel Beninger e que, com menos de um ano, já conta com cerca de 400 presidentes e ex-presidentes de câmara pertencentes a todos os partidos políticos.
Porque, como diz Tomás Caldeira Cabral, “a monarquia é essencialmente orgânica. Se parasse no tempo, deixava de nos pertencer e passava a ser apenas história. Mudou e adaptou-se”.
Fonte: Jornal I
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