‘E cada página destas se devora com paixão, como se os novos se quisessem consolar da mediocridade inglória da república burguesa revendo, pela imaginação, as aventuras, as marchas, as vitórias, as fanfarras da epopeia imperial’, escrevia assim Eça de Queiroz in “Notas Contemporâneas – Positivismo e Idealismo”.
De facto, nunca o regímen republicano burguês despertará uma intensidade de emoções comparável com qualquer assunto relacionado com uma Monarquia.
A afectividade depende de condições múltiplas que escapam ao domínio do estritamente racional, sendo que cada um tem uma maneira própria de sentir as coisas, querendo mais uma ou outra coisa. Mas a afeição além de ser necessária é natural, pois quem gosta é naturalmente feliz.
Existe um elo que liga os membros das famílias reais – em especial o Rei – ao Povo do seu País. Essa ligação é natural e intrínseca, e por isso quase nos impossibilita de explicar como nasce, mas todos verificamos e compreendemos que existe uma afectuosidade difusa entre os sujeitos que provoca um interesse atento e permanente a tudo o que são assuntos reais, que o Povo todo se alvoroça com a Presença da realeza e que os primeiros entre os seus pares só porque aparecem, dominam a atenção.
De tudo o que parece ligar Rei e Povo, nada há que possa parecer mais natural do que aquele dom que o Monarca tem de discernir e captar a vontade do seu Povo e fazê-la convergir para um fim comum a todos, e esse juízo é uma qualidade que faz o Povo sentir uma enorme exultação e empatia pelo seu soberano. Por isso o Povo dedica aos seus Príncipes uma alta estima, o que se lhe testemunha sempre que um determinado evento os congrega. Por isso podemos verificar que o Povo muitas vezes, sem moderação nas paixões e nas afeições, chega a adoptar um comportamento que se fosse dedicado a um político comum seria considerado extravagante.
Os casamentos reais são acompanhados pela multidão que sai às ruas para acompanhar o cortejo nupcial, muitas vezes vestindo carnavalescas máscaras com o fácies dos noivos reais. Os Jubileus dos Monarcas são comemorados efusivamente e com dedicação, porque um Rei ou Rainha sem altivez, não reclamam qualquer tipo de submissão ao Seu Povo, mas despertam pela Sua boa vontade e delicadeza o ganho natural da estima.
O papel histórico da Monarquia é potenciar através dessa relação, desse laço, o bem estar da Nação, o bem da coisa comum.
Ora, ao contrário, como escreveu Hegel:
‘A própria República de Platão é a imagem proverbial de um ideal vazio.’
De facto, ‘Platão é amigo, porém a verdade é mais amiga.’
Ora sem ideal, sem espírito, sem força, sem referência, as repúblicas tendem a cristalizar e, consequentemente o Povo perde o direito de se afirmar e de confiar, e pior, a falta de participação deslegitima o regime.
A afeição pela Monarquia vem exactamente do oposto: é que todos se sentem parte de um todo, a Nação, porque têm à cabeça do País um Rei que personifica o carácter nacional, e que se exprime no serviço e na dedicação ao bem comum, sem actos de poder pessoal! O Rei ama a terra como se dela houvesse germinado e o Rei chefia e protege como pai o seu Povo. Como dizia a nossa velha lei:
‘Em prol do comum e aproveitança da terra.’
Miguel Villas-Boas
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