Não é preciso ser teólogo, nem exegeta, para saber que Deus é, claramente, feminista: não só favoreceu claramente as mulheres quando criou os seres humanos, mas também quando os redimiu.
Que Deus tem um fraquinho bastante forte pelo sexo fraco é óbvio, sobretudo se se compararem as duas modalidades do género humano. De facto, a mulher, que é igual ao homem espiritualmente, foi mais favorecida fisicamente pelo Criador e, por isso, a beleza é um atributo mais feminino do que masculino.
As mulheres são também mais precoces no seu desenvolvimento físico e psíquico e, em geral, mais longevas. Também foram beneficiadas na idade madura porque, quando eles começam a ficar calvos, elas, pelo contrário, ainda penteiam fartas melenas que, diga-se de passagem, fazem as delícias e o lucro de muitos cabeleireiros e a inveja de muitos carecas.
A mulher tem também uma faculdade única: a de poder ser mãe, gerando em si novas vidas. Ora a maternidade, que para além de uma disponibilidade orgânica é também uma especial riqueza de ordem psicológica e afectiva, estabelece a união mais íntima que pode existir entre os dois seres humanos que, durante o processo de gestação, estão inseparavelmente unidos. O homem, é certo, também pode procriar, mas não logra uma tal intimidade com o ser gerado, por mais que este se lhe pareça.
Aliás, nesta evidente superioridade natural da mulher em relação ao homem, até o diabo está de acordo com Deus. Por isso, quando o demónio quis perder o género humano, tentou primeiro a mulher, Eva, porque sabia que ela depois se encarregaria de fazer pecar o homem, como de facto aconteceu. Porque não tentou primeiro Adão? Porque, sendo a mulher superior, muito dificilmente se deixaria enganar pelo homem, mas este, sendo inferior, não poderia deixar de lhe obedecer.
Quando Deus veio ao mundo para nos redimir, poderia ter corrigido esta flagrante injustiça, mas a verdade é que a agravou ainda mais. Escolheu uma mulher para ser a imaculada, sem que a nenhuma criatura masculina tenha sido dado, que se saiba, esse privilégio. Essa mulher, Maria, foi mãe de Jesus, enquanto José só foi seu pai em sentido figurado: a sua paternidade não é genética, apenas adoptiva.
Na paixão de Cristo, o traidor foi Judas Iscariotes, um dos doze; outro dos apóstolos, Simão Pedro, negou por três vezes o Mestre; homens eram Anás, Caifás e os restantes membros do Sinédrio, que o condenaram à morte; como também eram do sexo masculino Pôncio Pilatos e Herodes e, ainda, os ladrões que foram executados com Jesus de Nazaré, para já não referir os soldados que brutalmente o flagelaram, o coroaram com espinhos e o crucificaram, depois de se terem apoderado das suas vestes, que eram tudo o que ele tinha. É certo que um homem ajudou Jesus a levar a Cruz, mas Simão de Cirene não o fez por sua livre vontade, antes porque a tal foi intimado pelos militares romanos.
As mulheres, pelo contrário, nunca traíram Cristo, nunca o negaram, choraram por ele no caminho do Gólgota e uma delas, mais destemida, Verónica, limpou o rosto dele com um véu. Até a mulher de Pilatos intercedeu por Cristo junto do seu marido, pedindo-lhe que o não condenasse, porque o sabia santo e justo.
Também a ressurreição é, nos quatro Evangelhos, um episódio predominantemente feminino: é às mulheres que o divino ressuscitado aparece primeiro, porque também são elas as primeiras que o procuram, logo na madrugada daquele primeiro dia da semana. É a elas, com efeito, que em primeiro lugar é confiada a missão apostólica de anunciar a boa nova pascal, de tal forma que alguém se atreveu a dizer que Maria Madalena foi, por especialíssimo privilégio, a apóstola dos apóstolos!
É verdade que Jesus Cristo reservou o ministério sacerdotal – que, como o próprio nome indica, é sobretudo serviço e não poder – para os homens, não porque os considerasse superiores mas porque, sendo tão manifesta a sua inferioridade na história da criação e da redenção, careciam dessa especial bênção. Por isso, essa prerrogativa masculina não pode ser entendida como confirmação de um inexistente machismo divino, que a história da criação e da redenção categoricamente desmentem, mas apenas como um prémio de consolação …
Como notou G. K. Chesterton, é por esta supremacia natural e sobrenatural das mulheres que os homens, constituídos em autoridade, se vestem como elas: de facto, têm algo de feminino os mantos dos reis, as togas dos juízes e as longas vestes sacerdotais. Deve ser por isso também que, na antiga nomenclatura oficial, como já eram as mulheres que mandavam, os homens eram, mas só de nome, os chefes de família …
Fonte: Observador
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