“Na maioria das sociedades actuais falta geralmente aos homens públicos, o valor não só para praticarem o Bem, mas, até, para praticar fracamente o mal”.
Alexandre Herculano
(História de Portugal, Tomo 1, p.10, Bertrand, Lisboa, 1980-82.)
“Santa Catarina de Siena em diálogo com Deus (“O Livro”), a pensar nos inocentes pede a Deus misericórdia para aquelas cidades (Sodoma e Gomorra).
Deus respondeu-lhe: ”Se houvessem dez justos na cidade, ela não seria destruída”!
É tradição nesta quadra de Natal e Ano Novo, o Cardeal Patriarca de Lisboa, o Chefe do Governo e o Presidente da República, falarem ao país.
O Cardeal Patriarca fala na véspera natalícia; o PM, no próprio dia de Natal e o inquilino de Belém, arenga no primeiro dia do ano.
Seria uma boa prática não fôra duas coisas: a primeira sendo, que já não se consegue ouvir e aturar os políticos, nomeadamente os dois mencionados, já que nos massacram diariamente com a sua fala e a sua presença.
Tais figuras só são batidas pela dos treinadores e dirigentes do Futebol e actividades afins, que em boa hora deviam ser degredados para as Selvagens, ou enxotados como refugiados para a Alemanha. Estou certo que a Senhora Merkel, na sua infinita filantropia, os iria receber de braços abertos e depois até lhes pagava uns milhares de euros para eles emigrarem para um outro sítio qualquer!
E, em tudo isto, a comunicação social e o negócio que a sustenta, têm muitas culpas no cartório.
Existe, aliás, um excesso de órgãos de comunicação social, que está hipertrofiada e nos inunda com toneladas de dejectos informativos, ao passo que censuram pertinências e pedagogia.
Mas voltemos ao assunto, está o Cardeal Patriarca fora do aludido, pois fala pouco e fala bem, apesar de raramente sair do “política e religiosamente correcto”.
Mas tal, representará, talvez, a consequência do cerco pouco amistoso, em que a Igreja Católica está posta que, a prosseguir, a irá fazer regressar às catacumbas romanas.
Consequência também, da falta de combatividade, que caminha para uma situação de acobardamento por parte da generalidade da hierarquia e, por arrastamento, do seu “rebanho”.
Um grupinho intitulado “Associação República e Laicidade” veio até, protestar contra o direito do Cardeal falar, alegando que vivemos num Estado laico. Pois é grupinho, o Estado é laico, mas a Nação não é…
E creio que devemos fixar isto: do mesmo modo que a intolerância não deve ser arma dos fortes, a tolerância não pode constituir o refúgio dos fracos…
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A segunda razão pela qual estes momentos televisivos perderam qualquer acuidade e valor, é pela vacuidade do discurso. Bastava desejarem apenas, Bom Natal e bom ano novo e desculpem qualquer coisinha e estava o assunto arrumado.
E poupavam-nos também ao regabofe das apreciações de todos aos dizeres uns dos outros…
Mas não só pela vacuidade, mas também por algum desacerto e omissões, das mensagens expendidas.
Dos problemas sérios que se colocam à Nação Portuguesa (termo liminarmente eliminado do vocabulário político) e ao seu esfrangalhado Estado – cuja única competência presente e reconhecida, é a de cobrar impostos – nem uma palavra.
Deve ser para tentar dar Esperança…
Quanto a aqueles (os problemas), podem ser resumidos em duas grandes áreas: a do “Poder” real, factor primordial em que se baseiam as relações internacionais e o bem – estar da população e que está directamente relacionado com o “Potencial Estratégico” do País e a sua situação Geopolítica (onde há que ter em especial atenção as ameaças); e a circunstância do “Relativismo Moral” e da perda e degradação dos “Princípios” Morais e Éticos em que a sociedade portuguesa está mergulhada.
Não vamos abordar os primeiros, para nos cingirmos aos segundos, que são primordiais e condicionam todos os restantes.
Mas sobre isto, repito, nem uma palavra se ouviu nas comunicações referidas.
Como, de resto, não existe qualquer abordagem neste âmbito, por qualquer força politica, comentadores, organismos, instituições.
Zero.
É um não assunto.
Ou seja é o assunto principal.
De facto todo o mundo fala de problemas políticos, sociais, económicos, financeiros, até de segurança, etc..
Mas ninguém fala (peço desculpa se cometo alguma injustiça) em problemas morais e éticos. Porque será?
Queima as mãos a toda a gente? Ninguém quer ser apodado de moralista? Os telhados de vidro são assim tantos? Andam distraídos? Têm medo? Acham que não tem importância? Que mais?
Pois é, meus caros, a falta de ética e moral espalhou-se como uma mancha de óleo e afecta tudo e todos…
Basta estar minimamente atento ao dilúvio de notícias (e também de desinformação): não há um santo dia em que não venham a lume várias barbaridades; poucas vergonhas; má criação; crimes vários; corrupção em paletes (isto da corrupção está a ficar endémico e perverte tudo!), etc..
Deixou de haver áreas da sociedade imunes a este flagelo que se propaga à velocidade dos vírus…
E isto apesar dos tribunais estarem entupidos com casos incríveis; as prisões a abarrotar, apesar das leis estarem feitas para protegerem quem se porta mal e o ambiente geral ser perigosamente permissivo.
Ora é este problema crucial (Moral e Ético), que origina o problema político (vidê agora essa escabrosa tentativa bandoleira de alteração da lei do financiamento dos Partidos – que são, aliás, o cancro do Regime…), que por sua vez origina os problemas financeiros, os quais, por sua vez, geram os problemas económicos, tudo resultando, no final num problema social.
Ora não se atacando as raízes do mal jamais se poderá emendar o que está a montante.
Combata-se ainda a “ideologia” – que nunca resolveu nenhum problema – e a ganância – que inventou o juro, que levou à usura – e implemente-se os 10 Mandamentos (que diabo, são só 10), suficientes para harmonizar a sociedade.
Finalmente, contrate-se uma dúzia de juristas competentes (e dos que tenham moral e ética), a fim de darem forma legal à maioria dos ditados populares, que representam sínteses de conhecimento sensato e real, caldeado por séculos, quiçá, milénios.
E chega.
Só é preciso garantir no Poder uma mão cheia de abencerragens honestos, competentes e corajosos, para tal implementar.
A questão é saber - e deve partir-se do princípio que Deus está atento - se ainda restam dez justos na cidade.
João José Brandão Ferreira
Oficial Piloto Aviador