Mouzinho de Albuquerque (12 de Novembro de 1855 – 8 de Janeiro de 1902)
A 8 de Janeiro de 1902, há precisamente 116 anos, morreu, em Lisboa, Mouzinho de Albuquerque. Partia um dos derradeiros grandes portugueses perante a consternação geral do País, que chorou a partida do Herói de Chaimite.
Joaquim Augusto Mouzinho de Albuquerque nasceu a 12 de Novembro de 1855 na Quinta da Várzea, concelho da Batalha, Leiria. Foi um heróico oficial de cavalaria português do século XIX e uma das mais brilhantes figuras militares portuguesas, que se notabilizaria durante as gloriosas campanhas de África (1894/95), e que ganhou grande fama em Portugal por ter protagonizado, em 1895, enquanto Comandante do esquadrão de Lanceiros n.º 2, a captura do imperador nguni Gungunhana, na terra de Chaimite, e pela condução da ulterior campanha de pacificação das populações locais de Chaimite e de Gaza que afiançariam lealdade à administração colonial portuguesa, no território que viria a constituir o presente Moçambique.
Para o temerário Mouzinho os êxitos militares prosseguem, pois comandou ainda diversas campanhas de afirmação territorial de Portugal em África: Naguema (3 de Março), Mocutumudo (6 de Março ) e Macontene (21 de Julho), todas em 1897.
Em 15 de Dezembro de 1897, Mouzinho de Albuquerque aporta em Lisboa onde é, qual triunfador romano, recebido em apoteose, tendo inclusive direito a uma espécie de desfile triunfal pelas ruas da Capital.
A 28 de Setembro de 1898, o herói Mouzinho de Albuquerque assume funções como oficial às ordens do Rei e é designado ajudante de campo efectivo d’El-Rei Dom Carlos I de Portugal, oficial-mor da Casa Real e nomeado pelo Rei para a mais importante das tarefas, a de aio do Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, então com treze anos, para a sua instrução passar a ter mais uma componente militar e a ser uma preparação para reinar. ‘Faz dele um Rei’, disse-lhe Dom Carlos. Ficou célebre a Carta que Mouzinho escreveu então ao Príncipe Real e Duque de Bragança:
‘Quando Vossa Alteza chegou à idade em que a superintendência da sua educação tinha que ser entregue a um homem houve por bem El-Rei nomear-me Aio do Príncipe Real (…) Por esse motivo, o primeiro dos meus deveres é fazer de Vossa Alteza um soldado. É Vossa Alteza Príncipe, há-de ser Rei; ora, Príncipe e Rei que não comece por ser soldado, é menos que nada, é um ente híbrido cuja existência se não justifica. (…) Aprenderá a sê-lo na história de seus avós. Este Reino é obra de soldados. Destacou-o da Espanha, conquistou-o palmo a palmo, um príncipe aventureiro que passou a vida com a espada segura entre os dentes, escalando muralhas pela calada da noite, expondo-se à morte a cada momento, tão queimado do sol, tão curtido dos vendavais como o ínfimo dos peões que o seguia. Firmou-lhe a independência o Rei de “Boa Memória” (…)”
Mas as intrigas da Corte não eram o terreno belígero indicado para o temperamento de Mouzinho, que apontara os problemas da política da época e tecia fortes críticas à partidocracia vigente que com o clima de indecisão política agonizava a própria Monarquia. Este ambiente repugnava o próprio Dom Carlos I. A inveja dos áulicos e dos políticos tecem então uma teia de suspeições e maledicências a que o carácter do herói Mouzinho de Albuquerque não foi imune. Atribuíram-lhe as mais vis mentiras e os inuendos, as detracções, as calúnias e as infâmias avolumam-se e acossam o herói contra uma posição para si insustentável, e, impossibilitado de lidar com toda essa insídia, quer pelo seu carácter de homem impoluto quer pela sua própria espartana formação militar, a 8 de Janeiro de 1902, opta pelo suicídio – como os grandes romanos que renunciavam a morrer corrompidos pela lassidão do poder e do sistema, mas faziam desse gesto de oferecer as veias ao pugio o derradeiro de uma honra que não estavam dispostos a perder ou sequer ceder.
Miguel Villas-Boas
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