Insistem alguns historiadores desonestos no argumento de um “racismo português” igual àquele praticado por ingleses, holandeses e outros europeus e que só a ascensão de Obama à presidência dos EUA constituíra a primeira grande demonstração de paridade de direitos. A ignorância tem destas coisas, pois lembraria aos mais afoitos mistificadores que Portugal teve no século XVI os primeiros bispos negros, no século XVII um grande diplomata e príncipe das letras que dava pelo nome de António Vieira - mestiço muito escuro - e no século XVIII o primeiro primeiro-ministro misto da Europa. Obama foi, assim, como produto promocional sem novidade, apenas tido como excepção para os ignorantes da história portuguesa. Lembro que Ronald Daus - historiador de grande fôlego infelizmente pouco conhecido do público português - estudou durante décadas a antropologia racial portuguesa dispersa pelos azimutes do planeta e chegou a conclusões espantosas; a saber, que o império português foi, durante séculos, mantido, regido e administrado por negros, indianos, chineses, mistos de todos os cruzamentos e até, pasmem-se os ouvidos pudibundos, por escravos. Foi esse o segredo da nossa longevidade. Ao quebrá-lo, em 1820, com a invenção da cidadania - e depois, com a criação das colónias e províncias ultramarinas, acto de estupidez a reboque o colonialismo europeu - perdemos essa grandeza que nos fazia detestados e temidos pelos inimigos de Portugal.
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