sábado, 22 de dezembro de 2018

"Democracia Antiga"

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Há quem diga, impelido pela ilusão e pela ignorância - as pessoas não lêem - que nunca como hoje tantos tomam parte na governação da República. Conceptualmente, é uma entorse, estatisticamente é uma mentira. No Ancien Régime português, 10% da população pertencia à nobreza provincial ou à aristocracia (duas realidades sociais distintas, amiúde confundidas), 10% da população (masculina como feminina) pertencia ao clero regular, secular ou tomara votos, e 15% a 20% do total da população pertencia à antiga classe média - o "Estado intermédio" - de "gente limpa" relacionada com os ofícios, com a educação, as magistraturas e a governança local. Ou seja, de algum modo, cerca de 30 a 40% da população intervinha na vida política. Quando comparados tais números, ressalvadas as especificidades e privilégios, com os cerca de 100.000 fulanos que hoje vivem da vida pública (autarcas, deputados, membros da nomenclatura) o Ancien Régime era uma super-democracia.

Para mais, a partir do século XVII, o funcionalismo público e a "nova nobreza" (a nobreza dita togada) provinha directamente do braço popular, pelo que os privilégios de sangue estavam condenados ao desaparecimento. Há que explicar às pessoas que aquilo que lhes foi contado na escola-catequese-de-mitos não corresponde à verdade, que estão enganadas; ou melhor, foram enganadas. A filosofice serve para muita coisa, nomeadamente para fazer comboios de citações, mas não responde e nada impugna. É hora de deixar de lado as filosofias e fazer história descritiva, pois nos arquivos está tudo o que a má-fé e a ignorância atrevida não querem ver.

MCB

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