sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

A “CIVILIZAÇÃO” DA MINISTRA DA CULTURA

 “Perdida a tradição e passada a snobeira, apenas
                        fica o nada! É isso que desejam os nossos ini-
                        migos políticos e raciais. Ajudando a destruir a
                        Tradição está-se a cavar a própria nacionalidade
                        e, a tais obreiros só cabe o epíteto de traidores.”
                        Engenheiro Sommer d’ Andrade,
                        In “Os Migueis de Vasconcelos”.                 

            A Dona Graça Fonseca fez mais uma das suas. Admitiu (defendeu) que em sede de especialidade para a discussão do orçamento (para 2019), o eventual alargamento da redução do IVA nos espectáculos, de 13 para 6% não abrangesse a Tauromaquia.
            E de seguida tentou pregar “um ferro” definitivo e inexorável, assegurando ex-cátedra que “era uma questão de civilização”.
            Devemos começar por dizer que o “espectáculo” proporcionado pelos nossos queridos políticos, devia ser taxado, não em 13%, mas sim em 100%! Talvez assim nos deixassem de agredir diariamente com barbaridades…
            A razão pela qual os Partidos Políticos, que devem ser a pior invenção da Ciência Política, estão isentos de pagar tantas coisas, que depois os seus membros eleitos obrigam os outros a pagar, é que também está envolta no nevoeiro dos mistérios insondáveis…
            No âmbito que tratamos, tem-se distinguido o minúsculo partido PAN, que caíu no goto de parte da Comunicação Social – a tal que quer ser “poder” sem estar mandatada para isso – ou de quem nela mexe os cordelinhos, e que se quer avantajar (o tal PAN) a uma expressão que não tem.
            Mas a jovem, apesar de já grisalha, membro (e não “membra”) do governo, veio falar em civilização; isto é, pelo que se deduz as touradas são anti-civilizacionais ou contra a civilização ou a sua evolução. É “certo, óh Graça, que ela (civilização) evolui, mas olhe que também involui!”
            No momento, o Dr. A. Costa veio dar uma preciosa ajuda à sua pupila, espicaçado que foi, publicamente, por um socialista da pesada e poeta nas horas vagas.
            Meteu um bocado os pés pelas mãos, além de ter tentado fazer uma “chicuelina” ao simpático ouvinte, dando o feito pelo dito, relativamente a uma célebre actuação no Campo Pequeno, em 8 de Abril de 2010, quando era presidente da edilidade. Agora “choca-o” a transmissão de touradas na televisão, mas como é um “ganda democrata” e crente da liberdade (que tem as costas largas) não lhe passa pelo bestunto proibi-las.
            Eu no meu pensamento duro como cornos, entendo, porém, que devia era ficar chocado por políticos como o senhor, andarem a dizer uma coisa um dia e o seu oposto, uns dias depois…
            E que se saiba as leis da República dão liberdade às televisões de fazerem ou não, reportagens sobre tauromaquia, ao contrário dos municípios, onde se aplica a lei geral e não se poder discriminar espectáculos.
            Ou será que um município pode proibir teatros, quartéis da GNR ou venda de selos?
            O PM confundiu ainda na sua prédica, o taxar o açúcar e o sal com a tauromaquia ou seja confundiu dois produtos químicos orgânicos com espectáculo e cultura, como se fossem coisas idênticas.
            E vai mais longe ao estender a comparação ao tabaco e ao álcool; só é pena é que o Governo não trate da mesma forma viciados em tabaco e álcool e os drogados. Aos primeiros penaliza-os e caustica-os, chama-lhes nomes, isola-os, etc.; aos últimos, despenaliza, desculpa e até lhes fornece droga e parafernália higienizada a fim de os deleitar!
            Já agora não vejo como não coletar os hinduístas por discriminarem as vacas relativamente aos restantes animais. E não poderão os mesmos serem considerados racistas, exclusivos e xenófobos?
            Que ordem vai dar à senhora, sua ministra da “coltura”?
            E que vai fazer com os muçulmanos que embirram com os cães ou com os judeus, que olham estranhamente para os ungulados?
            Não me desiluda, senhor PM!
            Estará, porventura, a pensar proibir-me de comer carne de reco? Já viu a quantidade de gente para quem tal é anti-civilização?
            E já perguntou à senhora D. Graça se ela já provou carne de touro bravo, ou será que ela só deglute frutos secos?
            Olhe o que me parece que vai ter de fazer é coordenar melhor o seu governo com o grupo parlamentar principal, que o apoia para não dar ideia de que andam a tourear-se uns aos outros, ah, ah, ah…
            Mas voltemos à questão civilizacional.
            O que é que se pode entender por civilização?
            Esta pode ser entendida pelo conjunto de características próprias da vida social, política, económica e cultural de um país, povo ou região. É fruto de um cadinho complexo e multidisciplinar de um conjunto de seres humanos moldados, pela genética, pela geografia, pelo clima, pela língua e por uma história comum, onde se desenvolveram hábitos culturais e sociais específicos.
            Por isso nós conseguimos distinguir perfeitamente um português, de um índio, de um sueco, de um chinês, etc. E isso não tem nada de mal, ao contrário de uns adiantados mentais da engenharia social que querem amalgamar tudo num “melting pot” universal…
            Por isso a tauromaquia insere-se perfeitamente na matriz cultural portuguesa, na nossa maneira de ser e de estar, apesar de nem sequer ter o mesmo desenvolvimento e aceitação nos diferentes distritos do país, o que também se explica.
            Atentado á civilização e agressão á cultura de um povo, é pois, vilipendiar tal prática, como se quiséssemos estar a compará-la a algo negregado.
            E só defendendo a nossa civilização, podemos resistir a que ela soçobre perante outras que nos sejam estranhas e agressivas.
            Quererá a dileta apreciadora da Vénus de Milo explicar-nos porque é que as touradas são uma questão civilizacional, melhor dizendo contra o actual “statuos quo” civilizacional?
            Uma actividade que se perde nas brumas dos tempos com raízes medievais, que está ligada seguramente à caça (que também, pelos vistos, querem proibir), às Justas e Torneios, tendo tomado e estabilizado na actual forma, por todo o século XVIII (ganhando esplendor no reinado de D. João V); que era praticada por toda a nobreza portuguesa, incluindo a realeza e que, por tal facto, se diz que a Cavalaria Portuguesa se distinguiu, apesar do seu número sempre reduzido?
            Não sabe que a tauromaquia está ligada à arte equestre (apesar de provocar natural “stress” nos cavalos), ao rendilhado do toureio a pé, ao apuramento da raça taurina?
            Que é uma actividade que envolve um cerimonial típico e castiço; uma mística marialva, regras e procedimentos difíceis de cumprir, mas que permitem a criatividade e desenvolvem uma estética?
            Que na corrida as oportunidades de vitória e derrota se distribuem entre os participantes? Que o touro é respeitado na sua bravura e que existe sempre risco envolvido? (Convindo salvaguardar que o corte das hastes não envolva o nervo, o que debilita o touro).
            Esta é uma actividade para gente corajosa, determinada, esforçada, lutadora e empreendedora. A afirmação viril de um povo.
            Não é para gente de córtex engordurado e habituados a camas fofas e banhos quentes.
            Não há nada a melhorar nas touradas? Há, mas o que há passa-se sobretudo nos bastidores das mesmas. É outra discussão.
            Acusa, como quem a convidou (devia estar mesmo desesperado!) para o lugar de ministra, que a tourada é um espectáculo violento (como se a violência fosse estranha à natureza humana)? E no que concerne às “Corridas”, a violência parece estar a ser criada pelos abolicionistas das mesmas…
            Violento é, por ex., o que se passa à volta do futebol e às vezes dentro do campo. Vai propor o fim da modalidade? Que os jogos deixem de ser transmitidos pelas televisões? Vai taxá-los forte e feio?
            E a seguir vai proibir a caça submarina? Não acha uma violência que o mergulhador ferre os peixes com um pequeno arpão?
            Por falar em arpão, porque não vai chatear o seu colega que tutela a Pesca para votar na UE o fim da caça á baleia a tiro de canhão?
            Então e essa do “divertimento” com o sofrimento dos animais? Segue-se o fim da Falcoaria? Das lutas entre os bois em Trás-os-Montes? Das corridas de Galgos?
           Vai recomendar à CPLP que os timorenses (por onde estivemos 450 anos) acabem com a luta de galos?
            Olhe, por acaso tem um cão? Também atira um pau para longe, para o pobre animal o ir buscar a correr? Acha que ele também se diverte? Já lhe perguntou?
            Por acaso está preocupada com o mar de dejectos dos canídeos cujos donos os passeiam pelas vias e parques das nossas vilas e cidades, que ficam abandonados na via pública (e mesmo os que se dão ao dever de apanhar os sólidos, estão impossibilitados de eliminar os líquidos)?
            Já agora porque não tenta proibir a domesticação dos animais (até já proibiram a exibição de animais no circo) e não manda fechar os Zoo? A privação da liberdade não será uma violência para os pobres bichos – que deixaram, e bem, de ser coisas, mas não deixam de ser bichos?
            As polícias vão poder continuar a ter cães polícias? …
            Sabe verdadeiramente o que não é civilização, nem ser civilizado?
            Não creio que saiba.
            Não ser civilizado é ter uma quantidade de políticos a bacorar, a mentir, a virar a casaca, a prometer coisas que nunca cumprem, a fomentar (pelo exemplo), ou nada fazer, para acabar com a corrupção.
            É não combater o “Relativismo Moral”, confundindo o Mal com o Bem; santificar os vícios e ridicularizar as virtudes; é tentar mudar e torcer a História dos antepassados, é defender a estúpida, anti-natural e escabrosa “Teoria do Género”, é querer matar os velhos e os doentes com as ideias da eutanásia; a liberdade para o infanticídio dos seres no útero materno; defender a desresponsabilização dos actos humanos e uma sociedade apenas baseada em Direitos e nenhuns Deveres; tentar igualar o indivíduo a Deus de si mesmo e mais uma quantidade de fantasias (subversivas) idiotas e perigosas.
            É a (anti) civilização do ridículo, onde impera um sistema educacional, onde se despeja biliões de euros, para formar analfabetos encartados, que depois se apelida de “geração mais bem preparada de sempre”!
            Como passar reportagens, recorrentemente, nas televisões a perguntar ao pobre do cidadão o que é que ele vai fazer para se proteger do frio, da chuva, do calor ou qualquer outro fenómeno meteorológico mais agreste!
           E tantas, tantas outras coisas.
            Mesmo no âmbito do seu ministério não lhe faltam cuidados civilizacionais que a deviam preocupar, como são exposições fotográficas em Serralves como a das “águas do Tamisa” ou sobre o “Olho do Cú” (era assim que se chamava); espectáculos teatrais onde os supostos artistas urinam e defecam no palco (vá lá, ainda punham jornais por baixo), possivelmente com subsídios dos nossos impostos, como foi o caso daquele filme de um realizador (que “educadamente”, mandou o público “à m….”- foi assim que ele disse), onde havia uma única imagem, que era escura como breu!
            E não se deviam ter lembrado que não era apropriado fazer jantares no Panteão Nacional?
            Isto para já não falar na quantidade insuportável de concertos de rock da pesada, dos metais e demais parafernália de nomes inventadas, onde impera no ar o cheiro a “erva” e alienação…
            E que dizer da ordinarice de algumas telenovelas e “talkshows” que nos entram pela pantalha adentro e a horas impróprias?
            Claro que isso não lhe passa pela cabecinha, pois não? Seria censura, cruz credo! E querer acabar com as touradas é o quê?
            Mas a senhora ministra, muito cheia de si (de ar), está é preocupada com as touradas, mesmo tendo em conta, que as mesmas representam uma actividade económica relevante, promoção turística, milhares de empregos (directos e indirectos) e uma mais -valia artística e cultural, fazendo parte, há séculos, de tradição e costumes nacionais.
            Devia até ser proposta para Património Imaterial da Humanidade, como o é já, em França, cujas tradições tauromáquicas, comparadas com as nossas, são risíveis.
            E, para o caso de andar distraída, representam (as touradas) também a garantia da sobrevivência do touro no seu estado natural selvagem, o qual não é “incomodado” até aos cinco anos de idade…[1]
            Um dia quiseram discutir a Pátria e ela quase se foi. Resta poucochinho…
            Por isso D. Graça, não “chateia branco”, vá-se coçar, instrua-se, leia qualquer coisa de útil, não confunda gostos e opiniões com cultura e civilização e, quando quiser taxar, pense em algo que mereça tal distinção. Sei lá, talvez as casas de alterne para invertidos?
           


                                                 João José Brandão Ferreira
                                                       Oficial Piloto Aviador


[1] O nosso touro bravo, segundo o que está convencionado, é descendente de uma raça pré - histórica denominada “Auroque”, cuja representação mais antiga se pode apreciar no palácio real de Knossos, Creta.

Fonte: O Adamastor

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