Uma das gravuras mais famosas da renascença é a de um rinoceronte-indiano, desenhado pelo famoso alemão Albrecht Dürer em 1515, baseada numa descrição detalhada do animal exótico que se encontrava em Lisboa, já que Dürer nunca viu o rinoceronte em pessoa, e daí a existência de erros óbvios em relação ao aspeto de um verdadeiro rinoceronte, animal esse que não era visto na Europa desde os romanos. Esta xilogravura ficou conhecida como o Rinoceronte de Dürer, que imprimiu a imagem e vendeu exemplares por toda a Europa, podendo-se considerar uma das primeiras imagens a ser fabricada em massa, e logo se tornou num símbolo popular de arte europeia.
O rinoceronte foi uma oferta do sultão de Cambaia, Muzaffar Shah II, a Afonso de Albuquerque que logo tratou de enviar o animal como oferenda ao Rei D. Manuel I, juntamente com o seu tratador, partindo de Goa. O rinoceronte chegou a Lisboa em maio de 1515, e as notícias de uma estranha e bizarra criatura logo começaram-se a espalhar por Portugal e pela Europa.
O rinoceronte era mantido no Paço da Ribeira, longe de outros grandes animais do rei, relata-se no entanto uma batalha entre o rinoceronte e um jovem elefante também do monarca, batalha esta que nada mais foi que um frente a frente entre os dois animais, mas o elefante fugiu. Este evento deveu-se a uma ideia do naturalista romano Caio Plínio Segundo (o velho), que dizia que os dois animais eram inimigos, despertando a curiosidade das pessoas e do rei para verificar a veracidade da afirmação.
No final desse ano, D. Manuel I decide enviar o rinoceronte ao Papa Leão X como oferenda. O navio parte em dezembro de Lisboa a caminho de Roma, passa por Marselha, onde é visto pelo rei Francisco I de França, e após retornar a viagem, uma tempestade atinge o navio, e, infelizmente, o rinoceronte não sobrevive ao naufrágio, mas para sempre ficará imortalizado no imaginário português e europeu como símbolo do exótico e diferente, fruto de novos contactos que os descobrimentos e as grandes viagens possibilitaram e do espírito renascentista da época.
Martim Alvim
Fonte: Nova Portugalidade
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