Filtragem da entrevista ao Prof. Luc Montagnier vem na sequência de ações de controlo da informação contra pareceres científicos que remetem origem do novo coronavírus aos laboratórios de Wuhan, sustentem ou não que este tenha sido fabricado.
Entre os assuntos mais destacados desta semana estão as declarações do renomado virologista francês sobre a possível origem laboratorial do novo coronavírus. Segundo o Prémio Nobel da Medicina 2008, o vírus contém sequências do VIH, algo que demonstraria a sua manipulação, sendo esta uma possibilidade já apontada por investigadores do Instituto de Tecnologia Indiano de Nova Deli. A resposta do Facebook não se fez esperar, censurando a entrevista que deu ao site francês Pourquoi doctor?.
No filtro usado pelo “lápis azul” de Zuckerberg podemos clicar e aceder, então, à informação aprovada pela rede social. Assim, é o jornal Le Monde que nos diz o que devemos saber e pensar acerca do assunto. Por cá, a tarefa de instrução das massas tem cabido, entre outros, ao Observador. Em seguida, vejamos o que dizem e o que não dizem os mencionados jornais com selo de aprovação facebookiana.
O que dizem
Antes de mais, baseiam-se no que designam ser a maioria da comunidade científica, dando como exemplos o geneticista Gaëtan Burgio, da Universidade Nacional Australiana, e a pesquisadora Etienne Simon-Loriere, do Institut Pasteur. O primeiro vê “poucas semelhanças com a sequência do vírus VIH para concluir que há uma troca significativa de material genético”. Para a segunda, o SARS-CoV-2 “parece algo natural demais” para que seja artificial. Em comum, ambos têm o seu legítimo parecer desfavorável à hipótese laboratorial, o facto de nenhum deles ter um Prémio Nobel nem, o que é mais relevante, qualquer certeza que justifique censura (se é que alguma certeza a possa justificar).
No que respeita a estudos, o Observador remete para o já recorrente artigo da revista nature , o qual, apesar de sustentar a clareza demonstrativa da sua tese, classifica a hipótese laboratorial como apenas “improvável”. Concretamente, o estudo assinala duas regiões específicas no SARS-CoV-2 – S1 e S2 (ver na imagem abaixo). Sendo a S1 a responsável pela ligação às células humanas, é sobretudo nessa que os investigadores se focam. Então, denotam três aspetos singulares: a) trata-se de uma região que diverge do SARS-CoV-1 e é semelhante em seres humanos e pangolins, b) não proporciona uma ligação ideal, c) poderia ter sido otimizada com mais eficácia a partir do SARS-CoV-1 (ou outro betacoronavirus) que a partir de um detetado em pangolins. Logo, os pesquisadores concluem não ser plausível que laboratorialmente se tenha optado por uma solução menos eficiente, restando a evolução natural como a resposta mais viável. Ainda assim, contudo, fazem questão em deixar claro que “neste momento, é impossível provar ou refutar outras teorias” e que “mais dados científicos podem fazer pender a balança a favor de uma hipótese ou outra”. Com efeito, não seria a primeira vez que cientistas procuravam soluções criativas ou fora-da-caixa. Mesmo que a partir do SARS-CoV-1 conseguissem uma ligação eficaz, nada os impediria de experimentar também a S1 do pangolim e ver no dá – a qual, ideal ou não, natural ou artificial, a verdade é que resulta.
Quanto ao estudo realizado pelos investigadores do Instituto de Tecnologia Indiano de Nova Deli, e que apontava para a origem laboratorial, o Le Monde afirma que, entretanto, o estudo foi retirado da internet pelos próprios autores. Já o Observador diz que eles se “retrataram” – termo intrigante quando aplicado a cientistas; recorde-se que o próprio Dr. Li Wenliang, que denunciou a gravidade da pandemia, também teve de se retratar por espalhar “rumores”, antes de morrer (supostamente) de COVID-19 . Segundo o Gilmore Health News, os referidos cientistas foram forçados a remover o seu artigo por pressão do mainstream.
No que respeita a credibilidade do Prof. Luc Montagnier, segundo os fact-checkers, após décadas nas mais altas esferas do prestígio internacional, parece ter-se subitamente convertido num velho decrépito, pseudocientista, que nos últimos anos propaga as teses mais bizarras com base na homeopatia. E quem lhe dá ouvidos é um teórico da conspiração.
O que não dizem
Em primeiro lugar, ocultam os diversos cientistas que se manifestaram a favor da hipótese laboratorial – a qual ainda ninguém sabe se é verdadeira ou falsa. Neste leque, encontram-se, por exemplo, os cientistas chineses que remetem a origem do SARS-CoV-2 aos laboratórios de Wuhan, tenha ou não sido fabricado geneticamente – Botao Xiao, da Escola de Biologia e Engenharia Biológica da Universidade de Tecnologia da China-do-Sul; Lei Xiao, da Universidade de Ciência e Tecnologia de Wuhan. Também estão os que somente vêm como improvável a sua principal origem alternativa, o mercado de Wuhan, como é o caso do Prof. Huang Chaolin, Vice-Diretor do Hospital Jinyintan de Wuhan. E, por fim, os que alegam explicitamente tratar-se de um vírus geneticamente manipulado, como os (agora silenciosos) pesquisadores do Instituto de Tecnologia Indiano de Nova Deli, Prashant Pradhan et al.
Entretanto, lembra-se do estudo da nature que, ainda há pouco, assinalava duas regiões específicas no SARS-CoV-2 – a S1 e S2? Agora vem a segunda parte. Se a S1 é responsável pela ligação às células humanas, a S2 aumenta consideravelmente a fusão das células infetadas. Os fact-checkers não dizem que próprio estudo admite tratar-se de um local de clivagem polibásica (furina) com uma consequência funcional desconhecida – isto é, até hoje não detetada na natureza. Acrescentando, aliás, que a introdução de um local de clivagem de furina já tinha tido feita, por manipulação laboratorial, permitindo que o MERS-CoV dos morcegos infectassem células humanas, e convertendo o vírus da influenza aviária (gripe das aves) em versões altamente patogénicas. Em suma, enquanto a inserção da S1 do pangolim poderá ter sido uma solução fora-da-caixa, e por isso talvez menos provável, tudo o que sabemos da zona S2 desperta inevitavelmente os alarmes da suspeição – à qual se junta o role de coincidências que ninguém pode ignorar (por exemplo, a mera existência de três laboratórios em Wuhan).
Por fim, se os fact-checkers se empenham tanto em descredibilizar a figura de Luc Montagnier, pouco ou nada dizem sobre tanto o Governo Britânico como o dos EUA levarem a hipótese laboratorial a sério, estando neste momento a investiga-la e a pressionar a China a ser transparente. Tampouco mencionam opiniões de especialistas em assuntos asiáticos, como Gordon Chang , ou prestigiados estrategistas, como o General Robert Spalding. Serão todos loucos ou velhos decrépitos?
No fim das contas, só uma coisa é certa: Até agora, ninguém sabe o que se passou. Mas, é justamente neste mundo de incertezas e instabilidade geopolítica, em que ninguém detém a verdade, que precisamos de saber, afinal, qual o papel do jornalismo: investigar ou silenciar? A resposta do Facebook e seus fact-checkers tem sido esclarecedora. Ainda que até um Nobel contrarie a narrativa vigente – na dúvida, censura-se.
Fonte: Notícias Viriato
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