“A Política é uma coisa demasiado grave para ser confiada apenas aos Partidos Políticos”.
Parafraseando (com mais propriedade) Clemenceau.
(Para quem não teve ainda a oportunidade de saber, Georges Clemenceau (1841-1929) afirmou, “A guerra é uma coisa demasiado grave para ser confiada aos militares”, “Soixante Annés d’Histoire Francaise”, 1932, de George Suarez.)
A actual crise política é “apenas” mais um episódio daquilo que se pode considerar “sistémico”. Ou seja, uma crise estrutural do sistema”, melhor dizendo do Regime.
O Regime é instável e medíocre, pois favorece a mediocridade, o erro, a má intenção, o nivelar por baixo. Está firmado em bases falsas ou erradas e só não sucumbiu (como os anteriores) porque o dinheiro virtual e a usura internacional, atingiram “perigeus” nunca vistos ou imagináveis.
“Ninguém”, pelos vistos, quer discutir isto.
O primeiro factor de instabilidade (e de despesa) é sermos uma República e não uma Monarquia. Não que a Monarquia não possa trazer instabilidade, mas esta é muito menor e mais previsível. E o fim da Monarquia ditou também a retirada do “sagrado” no exercício do Poder. Hoje, aliás, não se respeita nada nem ninguém.
Lamentavelmente a “culpa” de tal ter ocorrido pertence muito mais aos supostos monárquicos do que aqueles onde a ideia republicana (que como ideia ou ideal, temos de considerar respeitável), mas sobretudo de uma organização algo subterrânea que inquinou ambos os lados e não quis esperar que os votos (ou seja a luta partidária) determinasse a sua escolha: usou a bomba e a revolução como argumento. E ganhou.
Nunca é demais recordar o célebre telegrama do correspondente da “Gazeta de Notícias”, do Rio de Janeiro, em Lisboa, no dia 6 de Outubro de1910, dando conta do ocorrido no dia anterior: “Ao cabo de longos e porfiados esforços os monárquicos acabaram de implementar a República em Portugal”…
Mas o que corrói e destrói verdadeiramente todo o regime político, e por dentro, é a existência de Partidos Políticos.
Convém recordar que estes deram os primeiros passos entre nós, após a Revolução Liberal de 1820, que por sua vez decorre dos ideais da Revolução Francesa, implantados pelas ideias que ficaram, após as invasões napoleónicas, devidamente articuladas e instigadas pelas lojas das diferentes “obediências” da Maçonaria a qual, desde então, passou a ter uma influência desmesurada na organização política e social em Portugal. E, desde cedo, manipulou a seu belo prazer as ideias ditas democráticas reinventadas pelos “filósofos” racionalistas e iluministas, do século XVIII.
Em abono da verdade, deve dizer-se, que tais ideias encontraram chão para medrar por causa de exageros de actuação da Igreja e da “Santa Inquisição” e, sobretudo, por a Dinastia de Bragança não ter tido a prudência de resistir às ideias absolutistas vindas de Além – Pirenéus, e que apenas tiveram maior exposição entre nós, no reinado de D. José I, por influência do Marquês de Pombal (paradoxalmente um “herói” para liberais e republicanos), tendo-se acabado com as Cortes Gerais do Reino, em 1698, no reinado de D. Pedro II.
Ora isto representou – quanto a nós – uma opção errada, pois o Monarca deixou de Reinar e ser o fiel da balança da justiça e das forças representativas da sociedade – e até, o defensor dos povos, como muita vez foi – para se tornar ele próprio, aquele que tudo decidia e nada obrigava. Além disso e de suprema importância, interrompeu-se um modo de convivência e de organização política e social, que vinha do início da nacionalidade, afeiçoada à nossa maneira de ser e estar e que reputo de muito mais “democrática” do que temos hoje em dia. Refiro-me ao Municipalismo, às Cortes Gerais, que tiveram um ponto alto, nas Cortes de Leiria de 1254, ao tempo do Rei Senhor D. Afonso III; a emergência das Corporações (que o final da Guerra Civil, em 1834, extinguiu; a influência das Ordens Militares Religiosas e o Culto do Espírito Santo, que enquadravam em termos de Ética, Moral e Religiosamente, na preparação de “quadros”, etc.
Ora desde que o fulcro da luta e enquadramento político e social ficou centrado nos Partidos Políticos (sendo o Liberalismo apenas uma fase de transição para a chamada “Democracia Directa” que, no nosso caso, durou 90 penosos anos), em detrimento de todas as outras instituições nacionais, o desastre foi e continua a ser extenso.
Mas como se aprende pouco em Portugal, apesar de já termos vasta experiência de guerras civis; perdas dolorosas no património; pobreza; caos político e social; crises financeiras e bancarrotas e quebra do exercício de autoridade (que é onde tudo começa), estamos pela quinta vez, desde o 25 de Novembro de 1975, a tentar implementar um regime/sistema, que pura e simplesmente é medíocre e não funciona.
Convém fixar os outros quatro períodos:
*1820 a 1834 (o mais catastrófico de todos);
*1834 a 1851 (que pouco lhe ficou atrás);
*1851 – 1910 (vividos em estertor nos últimos vinte anos);
*1910 – 1926 (um período, simplesmente, pavoroso);
*1975 -? (que só não se esgotou ainda, apesar de já ir em três bancarrotas e perdas dolorosas no Património e Soberania, porque tem vivido da “pesada herança”; de empréstimos internacionais e dos “fundos estruturais” da União Europeia. Ou seja, nunca viveu do que produz, economiza e investe; vive do que não é seu e muito do que vem, some-se em puro roubo e miserável corrupção.
O único período que escapa a este marasmo de desacertos, foi o da chamada Ditadura Militar (1926-1933) e Estado Novo (1933-1974), que além de retirar a Nação da lama e o Estado da sarjeta, representou um ressurgimento nacional português, apenas comparável à Restauração e ao que se lhe seguiu, não só no campo material, mas sobretudo espiritual e representou o único período nos últimos 220 anos em que Portugal foi um País independente e soberano.
Muito significativamente, é aquele que, invariavelmente, é alvo de anátemas pela esmagadora da douta classe política, intelectual, artística e mediática, enquanto se desculpam, toleram ou enaltecem, os restantes períodos referidos.
Resta pois, tentar explanar porque é que um sistema baseado em Partidos, está condenado ao insucesso (nos outros países também é assim, mas focamo-nos em Portugal) e a Democracia baseada na quantidade em detrimento da qualidade, também está votada ao fracasso...
Um partido político começa por ter um nome assaz infeliz já que “partido” representa uma fracção, algo que não é inteiro. Construir e manter um país com “coisas” destas, é impossível.
A formação de um Partido e o modo como todo o sistema se articula, contém em si, e à partida, todos os germes do seu mau funcionamento e auto destruição.
Um partido político começa por ser “inventado” num almoço de amigos ou por um grupo de sequazes de uma determinada ideologia política. Fazem uns estatutos e legalizam-se. Os que têm, isto é, tiveram (porque tudo se esvai), maior consistência, geraram-se na clandestinidade.
Depois abrem as portas a todos os que querem entrar, sem qualquer discernimento, provas ou selecção. Ficam obrigados simplesmente ao pagamento de uma quota.
Já imaginaram o que seria do Exército, da Marinha ou da Força Aérea se quem quisesse entrar fosse bater à porta de uma Academia Militar e dissesse que queria ser oficial e lhes respondessem, “faça favor de entrar, a quota é tanto”...
O objectivo de um Partido Político é conseguir uma votação (de âmbito universal) que lhe permita ocupar os órgãos que exercem o Poder Político, isto é (no actual sistema) o Governo, o Parlamento e as Autarquias. E tentar eleger para Presidente da República uma figura que lhes seja grada.
Ora, captar cidadãos da sociedade, indiscriminadamente, para exercerem os mais altos cargos de governação, sem se lhes exigir um período de formação, provas (psicotécnicas, culturais, etc.), é uma coisa no mínimo, inquietantemente estúpida.
Dizem que a maioria das pessoas é suficientemente sensata para no seu conjunto, votar o melhor possível. Isto é outro disparate, facilmente comprovável, até porque a maioria das pessoas não vota, e muitos dos que votam, não o podem sequer fazer em consciência, pois não têm conhecimentos para tal.
Por outro lado, apostar em ideologias é outro logro, pois até hoje não houve qualquer uma que tenha sido inventada, que possa ser considerada um bom conjunto de ideias (muito menos para todos), nem resolvido qualquer problema grave.
Antes pelo contrário, foram origem e causa dos maiores conflitos e guerras, tanto civis, como entre países ou coligações.
Num partido o sistema de Autoridade - onde tudo tem origem - é fraco e está mal organizado/hierarquizado. As modalidades para se subir num Partido Político passam invariavelmente pela intriga e pela bajulação.
Com o evoluir do tempo tudo piora. É da natureza das coisas. Os filiados começam a olhar para o Partido como uma oportunidade de ter um “tacho” e daqui ao nepotismo é apenas um passo. Os desentendimentos são constantes, dando origem a eternas lutas internas; aparecimento de “tendências”, “facções”; “alas”, etc. , que não raro, acabam em abandono de militantes, ou formação de novos partidos.
Um partido é, no seu âmago, uma agência de emprego e uma oportunidade de negócio.
Ora quando se chega a um estádio moral deste quilate são raros os chamados “homens bons dos concelhos” que se abalançam a inscrever num Partido!
Um sistema baseado em Partidos Políticos representa a “guerra civil” permanente. Ninguém consegue governar.
Enquanto houver Partidos Políticos não existe País.
Com o tempo os partidos que sobrevivem, “agarram-se” ao “sistema”, bloqueiam-no e blindam-no.
Não o querem discutir (sequer o seu melhoramento), o que representa a antítese de um sistema democrático e baseiam o seu modo de actuação na demagogia infrene, fazendo promessas (que por norma não cumprem), tentando convencer os votantes dos seus bons propósitos e intuindo o que os mesmos gostam de ouvir. Ou seja, nunca fazem o que devem, mas sim o que pensam que, na ocasião, lhes possa garantir mais votos.
Ora, governar é, por definição, tomar decisões difíceis, impopulares, exigentes e de preferência justas. É ir pela vereda estreita dos Deveres, em vez de cavalgar a praia dos Direitos.
Por isso a única coisa que sabem fazer é aumentar impostos (que escamoteiam por todos os meios) e pedir dinheiro emprestado, pois a “necessidade” de dinheiro, não tem limites. A seguir quando alternam no poder (e alternam pouco), deitam as culpas para cima dos outros (partidos), da conjuntura internacional e desde que a CEE existe, para cima de Bruxelas.
A equação “ser patriota, competente e honesto”, é uma equação que não faz parte do programa nem da matemática, de nenhum partido.
Daí que seja impossível a qualquer um que tenha qualidades de estadista, poder revelar-se e singrar.
Em termos meramente teóricos, a existência de Partidos Políticos, tem coisas defensáveis, tais como permitir que as diferentes sensibilidades políticas, ideológicas e sociais, se pudessem organizar, para em termos políticos puderem convencer a maioria dos seus concidadãos a votarem neles, garantindo uma governação por essa maioria, sem que haja, naturalmente, alteração da ordem pública.
Só que as coisas que podem parecer que funcionam em teoria, a prática revela o seu desajuste. E muitas boas intenções ou ideias tidas como libertadoras, vêm a revelar-se dolorosas mistificações. É que na base de tudo está a “natureza humana”, que tem coisas boas e outras coisas más. O que leva a que tudo na vida e na sociedade deva ser organizado, primariamente, tendo tal facto em vista. Ora a existência de Partidos Políticos e sua natureza é como mel na sopa para quem se “porta mal” e um calvário para quem tenta trilhar o caminho do “Bem”.
E a única vantagem que têm é quando se entendem. Isto é, quando se anulam…
A excepção ao funcionamento “normal” de um partido político, são os partidos comunistas. Porquê? Pois porque não seguem a “lógica” de organização e actuação dos restantes.
Um Partido Comunista é (Deus me perdoe) um misto de Exército e de Igreja Católica, em termos de organização e actuação.
Tem um sistema de autoridade rígida, hierarquizada, onde se sobe depois de provas dadas. Tem estrutura e uma ideologia que funciona como doutrina religiosa. Os desaguisados entre eles são resolvidos internamente e existe uniformização constante de procedimentos e respectiva “vigilância”. Possuem um “estado-maior” permanente e profissionalizado. Basta ver as greves que organizam, têm sempre o cunho de uma operação militar.
Isto explica-se, estou em crer, porque o Marxismo e o Comunismo de que resultaram os ditos partidos (e a revolução bolchevique e outras), foram inventados por judeus "ashkaenazi", habituados a sobreviver a séculos de perseguições e guetos (que eles próprios também criaram) e que também constituíram (no final do século XIX), um movimento político separado, o Movimento Sionista.
Ora para mal dos nossos pecados, as ideias, princípios, doutrina e objectivos dos partidos comunistas, são subversivos da sociedade, atentatórios da natureza humana, incompetentes em termos financeiros, económicos e sociais e relevaram-se totalitários, internacionalistas e brutais no exercício do Poder, sendo responsáveis por inúmeras guerras, depredações, violações dos mais elementares direitos da pessoa humana, de que já resultaram mais de 100 milhões de mortos e incontáveis sofrimentos. A sua componente actual, “gramsquiana” (de Gramsci) virada para a cultura e para outros temas da actualidade social (que criam), não esqueceu os seus objectivos, apenas os camuflou.
O sistema político em que vivemos não presta, e é a muitos títulos, nefasto. E está, mais uma vez, a conduzir Portugal para o desastre.
Convinha no mínimo pensar nisto. E substituí-lo.
João José Brandão Ferreira, Oficial Piloto Aviador (Ref.)
Fonte: O Adamastor
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