18 de Dezembro de 2021
Sabbato Quattuor Temporum Adventus
«Octavo Kalendas Januarii, Luna undetricesima, innumeris transactis sæculis a creatione mundi, quando in principio Deus creavit cælum et terram, et hominem formavit ad imaginem suam; permultis etiam sæculis ex quo post diluvium Altissimus in nubibus arcum posuerat signum fœderis et pacis; a migratione Abrahæ, patris nostri in fide, de Ur Chaldaeorum sæculo vigesimo primo; ab egressu populi Israël de Ægypto, Moyse duce, sæculo decimo tertio; ab unctione David in regem anno circiter millesimo; hebdomada sexagesima quinta juxta Danielis prophetiam; Olympiade centesima nonagesima quinta; ab Urbe condita anno septingentesimo quinquagesimo secundo; anno imperii Cæsaris Octaviani Augusti quadragesimo secundo, toto orbe in pace composito, Jesus Christus, æternus Deus æternique Patris Filius, mundum volens adventu suo piissimo consecrare, de Spiritu Sancto conceptus novemque post conceptionem decursis mensibus in Bethlehem Judae nascitur ex Maria Virgine factus homo. Nativitas Domini nostri Jesu Christi secundum carnem».
Martyrologium Romanum, 25 Dec.
Como todos os anos, no ciclo das estações e da História, a Santa Igreja celebra o Nascimento, segundo a carne, de Nosso Senhor Jesus Cristo, eterno Deus e Filho do Pai eterno, concebido, por obra do Espírito Santo, da Virgem Maria. Com as palavras solenes da liturgia, o Nascimento do Redentor impõe-se à humanidade, dividindo o tempo em um antes e um depois. Nada será como antes: a partir daquele momento, o Senhor encarna-se para cumprir a obra da Salvação e arrebata definitivamente da escravidão de Satanás o homem caído em Adão. Isto, queridos filhos, é o nosso Great Reset, com o qual a Divina Providência restaurou a ordem rompida, pela antiga Serpente, com o Pecado Original dos nossos Progenitores. Um Reset do qual são excluídos os anjos apóstatas, e o seu líder Lúcifer, mas que concedeu a todos os homens a graça de poderem beneficiar do Sacrifício do Deus feito homem e recuperar a vida eterna a que estavam destinados desde a criação de Adão.
Que admirável acto de Misericórdia, para criaturas rebeldes desde o início, da parte do seu Criador. Que Caridade divina, que concedeu ao homem desobediente o resgate da sua infinita culpa aceitando a oferta do Seu divino Filho na Cruz. Que divina Humildade, que respondeu ao orgulho do homem com a obediência da Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, encarnada propter nos homines et propter nostram salutem. Esta é a verdadeira Nova Ordem, querida por Deus e destinada a durar na eternidade dos séculos, após as mil batalhas de uma guerra em que o eterno Derrotado procura impedir que a glória da Majestade divina seja partilhada por nós, pobres criaturas mortais. Este é o triunfo d’Aquele que não se contenta em criar o homem nas Suas perfeições e em conceder-lhe a Sua amizade, mas depois de O ter traído, entregando-se como escravo ao Demónio, decidiu comprá-lo de volta – redemptio é, precisamente, a instituição do Direito Romano com o qual o escravo é redimido e se torna livre – ao preço do Preciosíssimo Sangue do Seu Filho Unigénito. E é também o triunfo da Mãe de Deus, que no Mistério da Encarnação deu à luz o Redentor, aquele Sagrado Menino destinado a sofrer e a morrer por nós. Ela que, no Protoevangelho, foi prometida como vencedora da Serpente, na eterna inimizade entre a Sua descendência e o Inimigo.
Por esta razão, foi recolhido o povo que foi escolhido; por esta razão, foi conduzido para a terra prometida. Foi por isso que o Espírito Santo inspirou os Profetas, indicando o tempo e o lugar deste Nascimento. Foi por isso que os Anjos cantaram o seu Glória sobre a gruta e que os Magos seguiram a Estrela para adorarem o Menino envolto em faixas como o filho de um rei. Foi por isso que a Virgem cantou o seu Magnificat e o pequeno São João Baptista estremeceu no ventre de Santa Isabel. Foi por isso que Simeão pronunciou o Nunc dimittis, segurando entre os braços o Messias prometido.
Veni, Emmanuel: captivum solve Israël. Vinde, ó Emanuel: libertai o Vosso povo cativo. Libertai-o também hoje, tal como o libertastes com o Vosso santíssimo Nascimento e com a Vossa Paixão e Morte. Libertai a Santa Igreja revelando os falsos pastores e os mercenários, como revelastes a inveja dos Sumos Sacerdotes e os seus silêncios sobre as Profecias messiânicas, escondidas dos simples. Libertai as Nações dos maus governantes, da corrupção, da escravidão do poder e do dinheiro, da subserviência ao Príncipe deste mundo, da mentira da falsa liberdade, do engano de um falso progresso, da rebelião contra a Vossa santa Lei. Libertai cada um de nós das suas misérias, do pecado, do orgulho, da presunção de poder salvar-se sem Vós. Livrai-nos da doença que aflige as nossas almas, da peste dos vícios que empestam a nossa vida, da ilusão de podermos vencer a morte, que é a recompensa da nossa rebelião. Pois só Vós, Senhor, sois o verdadeiro Libertador; só em Vós, que sois a Verdade, seremos livres, veremos cair as correntes que nos prendem ao mundo, à carne e ao Diabo.
Veni, o Oriens. Vinde, ó Oriente: afastai as sombras da noite e dissipai as trevas nocturnas. Veni, Clavis Davidica. Vinde, ó Chave de David, abri a pátria celestial; tornai seguro o caminho dos céus e fechai a porta do Inferno. Veni, Adonai. Vinde, ó Poderoso, que ao Vosso povo, no Sinai, destes a Lei do alto, na majestade da glória. Veni, Rex gentium. Vinde, ó Rei das Nações, reinar sobre nós, Príncipe da paz, Anjo do Grande Conselho. Vinde e descei no tempo e na História, abalai esta infernal Torre de Babel que construímos ao desafiar-Vos na Vossa Majestade.
Vinde, Senhor, porque nestes dois anos de loucura pandémica compreendemos que o Inferno não consiste tanto nos sofrimentos do corpo, mas no desespero de saber-Vos distante, no Vosso silêncio, no deixar-nos afundar no horror surdo da Vossa ausência.
E seja bendita a Vossa Santíssima Mãe e Mãe nossa, que deixastes ao nosso lado nestes dias terríveis como nossa Advogada, para que na visão deste inferno na terra possamos encontrar o remédio espiritual com o qual acolher-Vos na nossa alma, nas nossas famílias, nas nossas Nações, devolvendo-Vos aquela coroa que Vos usurpámos.
Abençoai, ó Rei Menino, todos aqueles que se deixarão conquistar pelo Vosso amor, pelo qual não hesitastes em encarnar-Vos e em morrer por nós. Que a este Amor divino possa responder o espanto agradecido daqueles que, mortos em Adão, renasceram em Vós, novo Adão; daqueles que, caídos com Eva, em Maria, nova Eva, podem novamente levantar-se.
Assim seja.
† Carlo Maria Viganò, Arcebispo
Fonte: Dies Irae
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