sábado, 11 de dezembro de 2021

Afinal quem morre mais: os vacinados ou os não vacinados?

Recentemente, um artigo de Alex Berenson, de 20-11-2021, captou a minha atenção: os adultos ingleses vacinados (curva castanha) com menos de 60 anos estariam a morrer duas vezes mais do que os não vacinados (curva azul do gráfico abaixo) da mesma idade.


No Reino Unido, o ONS (Office for National Statistics, congénere do INE em Portugal) publica os dados relativos à mortalidade de “Todas As Causas” (todos os óbitos que ocorrem no País, não se limitando à COVID) por faixa etária e estado vacinal, em quatro categorias: não vacinado; esquema vacinal completo; até 21 dias após a primeira dose; 21 dias ou mais após a primeira dose. 

Aproveito para informar que os números que apresento são taxas, ou seja, são números de óbitos para o estudo de (neste caso) 100 mil pessoas. Só desta maneira é que podemos ter uma perceção correta quando comparamos dois grupos com ordens de grandeza distintas, por exemplo, o grupo dos vacinados com o dos não vacinados.

Segundo o ONS, para a Inglaterra, a taxa de mortalidade dos duplamente vacinados (pessoas com um esquema vacinal completo) tem sido, nos últimos meses, sistematicamente o dobro da dos não vacinados. Ou seja, para o mesmo número de habitantes, 100 mil, entre os 10 e os 59 anos, morrem o dobro dos indivíduos vacinados relativamente aos não vacinados. 

Dado o largo espectro da faixa etária utilizada (dos 10 aos 59 anos), e como os estudos estatísticos, por vezes, podem iludir (fenómeno utilizado de forma engenhosa por quem tem outras motivações), poderíamos estar perante uma ilusão de agregação de dados designada por paradoxo de Simpson — dado que a letalidade da COVID é muito menor para uma criança de 10 anos do que para um adulto de 59 anos. Trata-se um conceito complexo, que Mathew Crawford explica, de forma brilhante, num artigo de 22-11-2021.

A polémica em torno desta questão, levou ao anúncio do ONS, de 19-11-2021, de que em próxima publicação estes dados serão detalhados por faixas etárias mais restritas (com intervalos de 10/20 anos). Nesse momento, teremos uma visão mais precisa desta problemática. No entanto, ainda terão que ser analisados outros fatores como as comorbidades, nomeadamente, as mais impactantes na letalidade da COVID, como a obesidade, diabetes, cancro, etc.

Para as outras faixas etárias, nos gráficos abaixo, se olharmos para a curva adicionada (em azul) relativa aos óbitos que aconteceram “21 dias ou mais após a primeira dose” (1), constatamos que as taxas de mortalidade para estes indivíduos são extremamente altas (quatro a cinco vezes mais nos picos) quando comparadas com os não vacinados (curva cinzenta), para todos os grupos etários com mais de 60 anos!




De que estamos a falar? Estamos a falar de mais de 64 mil pessoas falecidas (22% do total) com este estado vacinal, no conjunto destas três faixas etárias ao longo do ano de 2021, até 24 de setembro.

Em relação às 111 mil pessoas que atualmente ainda não tomaram a segunda dose da vacina, é possível – numa hipótese da lógica humana – que o tenham decidido por contraindicação médica, após efeitos adversos da primeira dose.

Estes dados foram extraídos do mesmo ficheiro do ONS (1).

Provavelmente estamos em presença de um fenómeno chamado “viés de sobrevivência”: aqueles que sobreviveram às consequências da primeira dose e tomaram a segunda dose, criam a ilusão de que a taxa de mortalidade dos completamente vacinados (duas doses) é inferior à dos não vacinados. Isto é, quem observa o gráfico pode pensar ilusoriamente: “Olha, afinal morrem mais os que não se vacinam do que os que se vacinam!…”.

Baseando-me na tese expressa num artigo de Norman Fenton e Martin Neil, de 1-12-2021, de que “é provável que qualquer morte nos primeiros 14 dias de vacinação possa ser classificada como não vacinada” (as curvas de mortalidade do início de 2021 seriam o efeito deste erro de classificação), essa tese também pode ser aplicada à segunda injeção: todos os óbitos ocorridos nos primeiros 14 dias após esta nova vacinação, podem também estar a ser classificados erradamente como “21 dias ou mais após a primeira dose”, o que explicaria o excesso de mortalidade nesta categoria.

Assim, a mortalidade “Todas As Causas” por estado vacinal permite medir o impacto dos efeitos adversos das vacinas anti-COVID. Estes dados, que estão disponíveis nos sites oficiais de farmacovigilância, como o VAERS e EudraVigilance, não são desprezíveis. Pelo contrário, são extremamente preocupantes.

Acresce ainda que a classificação “Óbito por/com COVID” suscita várias interrogações, como sejam, por exemplo, a fiabilidade dos testes e a menor frequência dos mesmos em pessoas vacinadas que têm o Certificado Digital COVID. 

Um outro artigo de Fenton, Neil e Maclachan, de setembro de 2021, descreve as vantagens desta abordagem.

Por uma questão de transparência relativamente às políticas de saúde publica, quando é que este tipo de dados estará disponível em Portugal?


Carlos Antunes

(1) Todos os dados utilizados para criar estes gráficos estão disponíveis em: ONS (1-12-2021). Deaths occurring between 2 January and 24 September 2021 edition of this dataset – Table 4.

Fonte: Inconveniente

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