sábado, 30 de abril de 2022

Como cientista posso afirmar que a homossexualidade não é inata

 


O Dr. Jokin de Irala, médico e investigador da Universidade de Navarra, explica que a exclusão desta conduta do manual de doenças da APA só aconteceu por simples votação. Questiona o facto de que todos aqueles que criticam o fenómeno sejam considerados homofóbico.

O médico, mestre em saúde pública e especializado em afectividade e sexualidade humana, aponta na entrevista a necessidade de passar para o plano cientifico o debate sobre a homossexualidade. Afirma que ela é um desenvolvimento inadequado da identidade sexual e assegura que é possível a mudança da conduta daqueles que se sentem atraídos por pessoas do mesmo sexo.

- Há alguma prova científica de que se nasce homossexual?

- Como cientista diria que a homossexualidade se faz, não é inata. Tem que se dizer que efectivamente não existe nenhuma evidencia cientifica que prove a teoria genética da homossexualidade ou que ela possa ser inata. Os especialistas em homossexualidade que trabalham em associações científicas como a NARTH nos EUA (associação nacional de investigação e terapia da homossexualidade) afirmam que se trata de um desenvolvimento inadequado da identidade homossexual. Assim, deveríamos pelo menos aceitar que o debate científico sobre este tema possa continuar a existir.

- Onde nasce a corrente de pensamento que afirma que é uma opção sexual normal?

- Esta ideia de que uma pessoa nasce homossexual tem a sua origem nos anos 70 quando os ativistas da homossexualidade nos EUA fizeram um grande lobby para que a APA, a Associação Americana de Psiquiatras, tirasse esse assunto do manual de classificação de doenças. Assim, houve uma votação em que votaram 25% dos membros, cujo resultado foi de 69% a favor de retirar a homossexualidade dessa lista. Que eu saiba, é o único exemplo na medicina onde se decide se algo é ou não uma doença através de uma simples votação de quem assiste a uma reunião. Imagine que se fazia uma votação na sociedade espanhola de endocrinologia para se votar a favor ou contra o facto de que a obesidade é um problema de saúde. Isto não tem precedentes. O que temos que fazer é analisar o problema com estudos científicos. 

- É uma conduta que pode ser alterada?

- Há dados científicos, estudos publicados em revistas científicas que mostram que a homossexualidade se pode mudar com uma terapia adequada, inclusive nos EUA onde há associações de ex gays. Muitos deles protestam porque dizem que estes grupos de ativistas não deixam que se saiba que a mudança é possível. Não só não deixam que se saiba como não admitem que alguém possa livremente pedir ajuda. Há, por exemplo, o caso de um juiz de Lombardía (Italia) que declarou ilegal ajudar um homossexual, mesmo que ele peça livremente. Isto é inacreditável. É um atentado contra a autonomia do paciente.

- Em que se baseiam?

- Afirmam que a terapia é quase uma tortura, traumática, com choques elétricos. No entanto, não tem nada a ver com isto, o tratamento é basicamente uma psicoterapia. Não se pode impedir que as pessoas escolham livremente pedir ajuda. Mas é preciso dizer que hoje se utiliza o termo AMS para identificar a atração por pessoas do mesmo sexo, porque uma coisa é alguém se sentir atraído por pessoas do mesmo sexo, outra é que alguém, por causa dessas atrações, acabe a ter relações sexuais de tipo homossexual. O facto de que alguém se sinta traído não significa que seja homossexual, de todo. Aliás, hoje em dia, com o ambiente pró-homossexual envolvente e com a cultura que existe, há muitos casos de jovens que simplesmente têm uma confusão e pedem ajuda.

- Quais seriam as causas desta conduta?

- Há muitas causas possíveis, mas parece que a maioria dos casos de homossexualidade está na falta de identificação com a figura de homem ou de mulher da família. É muito comum o panorama do pai autoritário, passivo, ausente da vida de um rapaz que é sensível e perfecionista; ou de uma mãe muito possessiva do ponto de vista emocional. Este é um dos maiores caminhos que leva à homossexualidade.

- Há outras?

- Outro caminho que é visto em conjunto com este é aquele em que esse rapaz, por exemplo, sensível- o que não é uma coisa má-, é rejeitado na escola pelos do seu sexo devido a essa sensibilidade. Esta rejeição pode conduzir a uma diminuição da autoestima e, por conseguinte, quando chega à puberdade, a uma orientação homossexual. Outra causa é a conhecida ambiguidade da identidade sexual nos adolescentes. É normal que um adolescente, rapaz ou rapariga, possa ter dúvidas sobre a sua identidade sexual, mas essa ambiguidade, bem agarrada, fortalecendo a identidade masculina ou femininas dos jovens, não traz problemas, leva à heterossexualidade. O problema atual é que isto está a ser mal levado e diz-se a esse jovem que o que tem de fazer é “sair do armário”.

- Há problemas de saúde ligados à homossexualidade?

- Sim, a atividade sexual de tipo homossexual acarreta problemas de saúde, alguns dos quais são específicos. Para além dos problemas associados à promiscuidade sexual e às infeções de transmissão sexual, que também há entre heterossexuais promíscuos, existem problemas associados à utilização dos órgãos sexuais sem ter em consideração que o seu “desenho” está orientado à complementaridade entre homem e mulher. 

- Porque é que apesar dos dados científicos se continua a negar o problema?

- Há muitas razões. A primeira é que há desinformação. Muitos profissionais não trabalham com estes dados e só têm em conta o manual da APA. Depois estão as ideologias, os interesses económicos e a realidade do medo. Há profissionais que sabem disto, mas o preço que têm de pagar por afirmá-lo é muito caro. Se em Espanha um psiquiatra pusesse numa placa que é terapeuta da homossexualidade o óbvio é que lhe queimassem a porta do seu consultório podendo acabar sem clientes.

- Onde estaria o equilíbrio?

- O equilíbrio está em reivindicar um respeito incondicional por todas as pessoas com sentimentos homossexuais. Teria que se compatibilizar a ciência com o respeito pela liberdade; deve ser possível o debate científico sobre o tema. Deveria haver a possibilidade de eu, como cientista, poder dar a minha opinião sobre a homossexualidade sem que me chamassem homofóbico só porque tenho uma postura contrária à das organizações gays. 

- Há também muito sentimentalismo neste tema…

- Efectivamente. Por isso é preciso tirar este assunto do sentimento e do afeto. Há quem lhe diga: “O meu filho homossexual é boa pessoa e eu amo-o”. Claro que sim, e está certo, mas isso não tem nada a ver com o que estamos a falar. Não é uma questão de ser boa ou má pessoa, não é uma questão de sentimento. Tu podes e deves amar muito o teu filho homossexual; agora, isso não quer dizer que não possas mostrar que a tua opinião é que tem um problema e que há uma solução possível. É como se o debate sobre os diabetes fosse sobre se os diabéticos são ou não boas pessoas, pois isto é levar o debate para o sentimentalismo.

- Todavia, há medo de discriminar.

-Claro que a discriminação é uma barbaridade, mas isso não quer dizer que tenham o direito de adoptar (Nota de edição: a adopção não é um direito universal. Os adoptados, sim, têm direito a ter pai e mãe, e os candidatos a adoptar devem cumprir certas condições. Nem sequer todos os heterossexuais têm o direito de adoptar), por exemplo. Há que não misturar, este é outro problema. O problema é que hoje se tenta etiquetar de homofóbico qualquer pessoa que simplesmente não tenha a mesma visão da linha da homossexualidade política.


Fonte: Senza Pagare

sexta-feira, 29 de abril de 2022

A FALÊNCIA DAS NAÇÕES OCIDENTAIS PELO ARCEBISPO VIGANÒ

 


"Deixem o povo ucraniano olhar para o que aconteceu às nações da União Europeia: a miragem de prosperidade e segurança é demolida pela contemplação dos escombros deixados pelo euro e pelos lobbies de Bruxelas. Nações invadidas por imigrantes ilegais que alimentam o crime e prostituição; destruídos em seu tecido social por ideologias politicamente correctas; conscientemente levados à falência por políticas económicas e fiscais imprudentes; levadas à pobreza pelo cancelamento de protecções trabalhistas e previdenciárias; privadas de futuro pela destruição da família e da moral e corrupção intelectual das novas gerações.

O que antes eram nações prósperas e independentes, diversas em suas respectivas especificidades étnicas, linguísticas, culturais e religiosas, agora transformaram-se numa massa informe de pessoas sem ideais, sem esperanças, sem fé, sem sequer forças para reagir contra os abusos e crimes daqueles que os governam. Uma massa de clientes corporativos, escravos do sistema de controle minucioso imposto pela farsa da pandemia, mesmo diante das provas da fraude. Uma massa de pessoas sem identidade individual, marcadas com códigos QR como animais numa quinta intensiva, como produtos de um grande centro comercial. Se este foi o resultado da renúncia à soberania nacional para todas as nações – cada uma, sem excepção! – que se entregaram ao colossal golpe da União Europeia, por que a Ucrânia seria diferente?"

(Arcebispo VIganò, Carta de 6 de Março de 2022, Declaration on Russia Ukraine Crisis)


Fonte: Catholicity

quinta-feira, 28 de abril de 2022

A propaganda e a vinculação pelo medo

 


A propaganda reforça as solidariedades de diferentes modos. Já se analisou o mecanismo da vinculação pelo medo e viu-se que um indivíduo aterrorizado procura o contacto com os seus congéneres. Ora, sempre que há dificuldades internas, crises, conflitos insanáveis, o poder constituído recorre em regra a este mecanismo instintivo. Cria-se, então, o inimigo externo, exibe-se o perigo da perda da independência, explica-se que esse inimigo é vicioso e deseja a aniquilação total. Inventam-se internamente os traidores, as maquinações, as quintas-colunas. A ameaça, que a propaganda torna verosímil, vincula os cidadãos pelo medo, estimula as solidariedades de combate, canaliza a agressão colectiva para o exterior ou contra o bode expiatório que entretanto se descobriu dentro do País. Os judeus, os fascistas, os capitalistas, os estrangeiros, os americanos, os brancos, têm desempenhado frequentemente este papel, bem como os bolcheviques, os sovietes, os russos. Mas se nuns casos a ameaça é possível, noutros não passa de mera construção propagandística ao serviço da classe política instalada.

António Marques Bessa e Jaime Nogueira Pinto in «Introdução à Política», 1977


Fonte: Veritatis

quarta-feira, 27 de abril de 2022

São Nuno Álvares Pereira

 


Passaram ontem 14 anos sobre a canonização de Nuno Álvares Pereira, Condestável do Reino, estratega e homem a quem Portugal ficou a dever as grandes vitórias militares dos Atoleiros, Aljubarrota e Valverde. Dele, Frei Simão Coelho deixou retrato no Compêndio das crónicas de N. S. do Carmo:
«Foi o Condestabre homem envolto em carnes [isto é, corpulento], de estatura que ia a grande que a pequena [isto é, alto]. Tinha aspecto varonil, rosto comprido e formoso, era alto e louro, tinha os olhos pequenos, mas mui resplandecentes, pouca barba e caída para baixo. Foi mui esforçado e constante, sofredor de trabalhos e amador da castidade e da limpeza.»


terça-feira, 26 de abril de 2022

SAR, D. Duarte de Bragança e SAR, D. Afonso de Bragança visitaram a Ovibeja

 


SAR, O Senhor D. Duarte Pio de Bragança visitou a Ovibeja. Em declarações à Rádio Pax alertou para a necessidade da classe política perceber a importância da independência alimentar do país.




segunda-feira, 25 de abril de 2022

O 25 DE ABRIL FOI UM GOLPE DE ESTADO GLOBALISTA, MAÇÓNICO E SATÂNICO

 


Na véspera de um dia de mistificação, vou-vos contar uma história, esta autêntica...Os cravos vermelhos são, desde o Séc. XIX, um dos principais símbolos dos Rothschilds e dos banqueiros da City de Londres. Simbolizam o poder da banca internacional, como muito bem é caracterizado no final do filme «Mary Poppins» do Walt Disney (que detestava os banqueiros e os Rothschilds)...
No dia 22 de Abril de 1974, entra no Tejo uma esquadra da NATO/OTAN, incluindo um porta-aviões e dois navios de guerra electrónica, o USS Warrior e o Iate Apollo. Na noite desse dia, descarregam cerca de trinta contentores no porto de Lisboa, cheios de cravos vermelhos da América do Sul. Para quem não saiba, em Portugal os cravos só florescem nos finais de Maio e início de Junho... Agora há estufas para cultura intensiva, mas na época não...
Na madrugada do dia 25/4, uma frota de camiões da NATO distribuiu esses cravos por várias unidades militares revoltosas, para que os soldados os colocassem nos canos das armas. Finalidade: indicar às forças «amigas» (da banca internacional) que estava tudo bem, e que o golpe era controlado por «eles»... Isto foi-me confirmado por várias fontes militares ligadas à NATO...
Depois, para encobrir a vergonhosa verdade. inventou-se a historieta (para tótós) de que teria sido uma certa D. Celeste Martins Caeiro, empregada da limpeza de um restaurante no edifício «Franjinhas» da rua Brancaamp que, tendo o dono (não era um dono, mas uma dona, e a «história» para tótós está toda aldrabada), que estava a aprontar a sala para a inauguração, dito para os empregados levarem as flores (cravos que ainda não havia à venda nessa altura em Portugal) para casa...
A D. Celeste leva-as para o Largo do Carmo - pessoalmente, a comandar uma frota de camiões da NATO - e começa a distribuir os ditos cravos, sabendo de antemão o que nem a PIDE/DGS suspeitava!
Outras «fontes revolucionáris» dão a D. Celeste como florista com lojinha no edifício do Cinema Império, que, com colegas, andou a recolher cravos inexistentes nos stocks para distribuir aos revoltosos... Estava mais bem informada que a PIDE, a CIA e a KGB, não contando o MI6 de Sua Majestade...
Enfim, e assim se alicerçam «a martelo» as mentirolas de Abril... Não a 1, mas a 25... E continuam...
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A «Revolução dos Cravos» não passou de um golpe da CIA
A censura do Facebook apagou-me há tempos um post onde eu explicava detalhadamente a orquestração do 25 de Abril de 1974 pela CIA americana, e descrevia a distribuição dos cravos vermelhos - símbolo da banca da City de Londres - pelas forças da OTAN que haviam entrado no Tejo a 22 de Abril...
Também descrevi, num dos comentários, o episódio em que as forças revoltosas da Escola Prática de Cavalaria foram paradas pelos blindados de lagartas (tanques M47) do Regimento de Cavalaria 7, fiéis ao governo de Marcello Caetano, quando estavam no Terreiro do Paço e avançavam para a Ribeira das Naus.
Nesse momento, a fragata Gago Coutinho posicionou-se frente à praça, para fazer fogo sobre os revoltosos assim bloqueados, caso estes não se rendessem.
Nesse momento, o contratorpedeiro canadiano Huron das forças da OTAN meteu-se entre a Gago Coutinho e a Praça, anulando intencionalmente a manobra da nossa fragata, e abrindo caminho aos revoltosos.
Por fim, na página de Lisboa de Antigamente, encontrei as fotos da sequência funesta, demonstrando que afinal, a «Revolução dos Cravos» não passou de um golpe americano da CIA...
Se calhar, também me vão censurar este post...
Claro que os Americanófilos terão dificuldade em aceitar que, contrariamente ao que lhes foi dito, a NATO, os Americanos e a elite que controla o Ocidente não são os "bons", e nem são "maus" aqueles que são contra os seus sonhos de manutenção e aumento da hegemonia militar, económica e cultura sobre o mundo. Essencialmente, a NATO só serve para submeter os países ao FMI e ao domínio Anglo-Americano.
Nesta guerra de blocos imperialistas é complicado identificar um deles como estando do lado do bem, e outro estando do lado do mal, mas é muito fácil dizer que a NATO não luta pela "democracia", e que os interesses económicos da elite financeira mundial (liderada pela família do escudo vermelho) estão na base de quase todas "revoluções" e conflictos armados no mundo.

Os Portugueses têm sido enganados há 40 anos sobre a "revolução", e as vozes que sabem da verdade (como o Carlos) estão a ser censuradas. A única forma de garantirmos que as gerações vindouras saibam da verdade que se abateu sobre a nação, e como o país está a ser controlado por interesses financeiros sediados em Londres, é falando aos outros.

Fonte: As Quinas

domingo, 24 de abril de 2022

100% português

 


Os ataques descabelados que um certo jornalismo de vão-de-escada e vozes sem crédito têm feito a SAR a respeito da sua posição em relação ao conflito no Leste da Europa, são merecedores de uma breve e pessoalíssima nota. SAR tem sido, tal como aconteceu noutros conflitos, um estrénuo defensor de negociações conducentes à paz. Tem amigos na Ucrânia e também na Rússia, país onde é recebido com todas as mostras e dignidades inerentes à sua condição de Chefe da Casa Real Portuguesa, relaciona-se com a família imperial russa e é ouvido pelo patriarca de Moscovo e destacados líderes religiosos de todas as confissões reconhecidas pelo governo russo. SAR é português e não se imiscui em questões alheias ao interesse nacional português, não deixando, contudo, de oferecer sempre os seus bons ofícios, sobretudo humanitários, sempre que para tal lhe é solicitada a colaboração. Estranho seria, pois, que SAR tomasse partido e desse cobertura a quaisquer expressões de simpatia por um ou outro contendores. A sua atitude de meridiano bom-senso é, pois, exemplo a seguir por todos quantos colocam a nação portuguesa acima de estados de alma e paixões que não se cruzam com o lugar e o papel de Portugal no mundo.

Miguel Castelo-Branco


sexta-feira, 22 de abril de 2022

Putin e as causas da guerra

 


Quem é Putin? As causas da guerra.

Oliver Stone

Nota do autor: Putin é um patriota palavra que já não tem tradução para português.

JSM


Fonte: Interregno

quinta-feira, 21 de abril de 2022

A verdadeira Monarquia


É fundamental que os municípios livres tenham poder económico e político, pois são eles que configuram a Monarquia Tradicional, onde existe o pleno e livre exercício da soberania social em toda a hierarquia das pessoas colectivas e classes e são a garantia das verdadeiras liberdades, contra todos os totalitarismos e centralismos.

A vocação natural e social do homem deu origem à Família, ao município, à região e à Nação. A vida do Estado não aparece de forma meteórica, nasce de um processo gradual, o Estado é só uma das inúmeras espécies possíveis de sociedade, poderemos chamar-lhe a maior das sociedades, por isso o municipalismo comunitarista é fundamental na doutrina tradicionalista porque está enraizado na tradição.

Nesta Monarquia representativa o Rei reina e governa, com o seu poder limitado pelas assembleias onde estão os representantes dos grupos sociais naturais – a Monarquia da Realeza e das Cortes Gerais.

Por Deus, Pátria, Foros e Rei

quarta-feira, 20 de abril de 2022

O Ministério da Verdade


O Ministério da Verdade – Miniver em Novilíngua – era extraordinariamente diferente de qualquer outro objecto à vista. Era uma enorme estrutura piramidal em betão branco cintilante, erguendo-se, terraço após terraço, 300 metros no ar. De onde o Winston estava, era possível ler, destacado na parede branca, em letras elegantes, as três máximas do Partido:

GUERRA É PAZ
LIBERDADE É ESCRAVIDÃO
IGNORÂNCIA É FORÇA

Dizia-se que o Ministério da Verdade tinha três mil salas acima do nível do solo, e as ramificações correspondentes abaixo. Espalhados por Londres, havia somente outros três edifícios de aparência e tamanho semelhante. Eles ofuscavam completamente a arquitectura da cidade, que do telhado das Mansões Vitória, era possível ver os quatro em simultâneo. Eram as sedes dos quatro Ministérios, entre os quais todo o aparato governamental estava dividido. O Ministério do Verdade, responsável pelas notícias, entretenimento, educação e artes plásticas. O Ministério da Paz, responsável pela guerra. O Ministério do Amor, que mantinha a lei e a ordem. E o Ministério da Abundância, responsável pelos assuntos económicos.

George Orwell in «Nineteen Eighty-Four», 1948.


Fonte: Veritatis

segunda-feira, 18 de abril de 2022

Segunda-feira de Páscoa - 15 boas razões para acreditar na Ressurreição

 



1. HAVIA UM TÚMULO VAZIO
Os fundadores de outras “fés” estão ainda enterrados ou foram cremados e as suas cinzas foram espalhadas por países estrangeiros. Jesus não. Os académicos modernos podem afirmar o que quiserem nos seus programas televisivos...a verdade é que o túmulo estava vazio.

2. O TÚMULO TINHA UM SELO ROMANO
Um pedaço de barro estava preso a uma corda (esticada à volta de uma pedra) e ao próprio túmulo. O selo romano estava estampado no barro. Quem quebra o selo, quebra a lei; e quem quebra a lei, morre.

3. O TÚMULO TINHA GUARDA ROMANA DE SERVIÇO
A guarda era constituída de pelo menos quatro homens (possivelmente mais), soldados altamente treinados. Estes soldados eram especialistas em tortura e combate, não se assustariam facilmente  por um bando de pescadores ou cobradores de impostos. Caso adormecessem ou abandonassem o seu posto, violariam a lei, o que resultaria na sua morte.

4. O TÚMULO TINHA UMA PEDRA À SUA FRENTE
A maior parte dos académicos afirma que a pedra pesaria pelo menos duas toneladas, com provavelmente dois metros e meio de altura. Seria claramente necessário uma equipa para a levantar ou arrastar, não seria trabalho para um ou dois homens.

5. HOUVE VÁRIAS APARIÇÕES PÓS-RESSURREIÇÃO, A CENTENAS DE PESSOAS
Durante seis semanas, Ele apareceu a diversos grupos de variados tamanhos em locais diferentes. Uma vez, apareceu a mais de quinhentas pessoas – um número grande demais para ser uma fraude. Já para não falar que as pessoas a quem Ele aparecia não o viam simplesmente, mas comiam com Ele, andavam com Ele, tocavam-Lhe…Jesus até um pequeno-almoço preparou (Jo 21, 9).

6. O MARTÍRIO DAS TESTEMUNHAS É PROVA
Deixariam as pessoas para trás o seu trabalho, família e vida, iriam até ao fim do mundo, seriam horrível e brutalmente mortas e abandonariam as suas crenças religiosas anteriores, acerca da salvação, só para espalhar uma mentira? Ninguém, enquanto era decapitado, entregue aos leões, queimado em óleo, ou na fogueira, ou até crucificado ao contrário, mudou a sua história. Pelo contrário, cantaram hinos de louvor e confiança, sabendo que o Senhor que derrotou a morte os elevaria também.

7. A IGREJA PERDURA
Se a Ressurreição fosse mentira, ter-se-ia apagado há anos. A Igreja é a maior e mais velha instituição de qualquer tipo, na história da humanidade. A Igreja surgiu com os Apóstolos, após o dia de Pentecostes, no ano em que Cristo ascendeu ao Céu. Ela conquistou impérios, defendeu-se de ataques (quer vindos de dentro quer de fora) e cresceu, apesar dos seus membros pecadores, porque foi fundada por Cristo, e é guiada e protegida pelo Espírito Santo. A Igreja, tal como Cristo, é tanto divina como humana.

8. JESUS PROFETIZOU QUE IA ACONTECER
Jesus anunciou às pessoas que ia acontecer. Para Ele não foi uma surpresa. E não disse apenas: “Eu serei morto” (que outros também poderiam ter previsto) mas também que “Ao fim de três dias se levantaria dos mortos.” Estes detalhes não são ironias, coincidências ou adivinhações — são profecias, e as verdadeiras profecias vêm de Deus.

9. ESTAVA PROFETIZADO NO ANTIGO TESTAMENTO
Já era anunciado séculos antes do próprio Cristo ter nascido ou ressuscitado. Centenas de profecias acerca do Messias, o que Ele diria, faria, como viveria e como morreria… foram anunciadas por pessoas escolhidas por Deus (a maioria sem nunca se ter conhecido, já agora). Isaías, Jeremias, Zacarias, Oseias, Miqueias, ou Elias (só para nomear alguns) todos apontavam para a morte e Ressurreição de Cristo, séculos antes de acontecer.

10. O DIA DO SENHOR MUDOU
Após a Ressurreição, milhares de judeus (quase de um dia para o outro) abandonaram os séculos de tradição de celebrar o Sábado (dia do Senhor) no último dia da semana e passaram a santificar o primeiro dia da semana, o dia em que o Senhor, Jesus Cristo, venceu a morte e selou a nova e eterna aliança com Deus.

11. AS PRÁTICAS DOS SACRIFÍCIOS MUDARAM
Os Judeus sempre foram ensinados (e ensinavam assim os seus filhos) que era necessário oferecer um sacrifício de carne (animal) uma vez por ano, para remissão dos seus pecados. Após a Ressurreição, os judeus convertidos na altura, grande parte deles, pararam estes sacrifícios.

12. É ÚNICA ENTRE TODAS AS RELIGIÕES
Nenhum outro líder religioso, em qualquer altura, afirmou ser Deus, excepto Cristo. Nenhum outro líder religioso alguma vez fez as coisas que Jesus fez. Nenhum outro líder religioso se provou com a Ressurreição. Confúcio morreu. Lao-zi morreu. Maomé morreu. Joseph Smith morreu. Sidarta Gautama (Buda) morreu. Cristo ressuscitou dos mortos.

13. A MENSAGEM VALIDA-SE POR SI MESMA
Um coração humilde é muito mais esclarecido e iluminado do que a lógica ou razão. Um verdadeiro crente não precisa de todos os factos para crer na Ressurreição, porque o Espírito Santo revela-nos Cristo, intima e poderosamente. S. Paulo fala disto. Corações duros e cegos nunca verão Deus, até aceitarem que não são Deus.

14. O MILAGROSO FIM ENCAIXA COM A VIDA MILAGROSA
Não se percebe a lógica? Jesus curou os cegos, os surdos e dos mudos. Alimentou as multidões, curou os leprosos e curou os pecadores. Fez com que os coxos andassem e trouxe outros de volta à vida. Multiplicou comida, andou sobre as águas e acalmou tempestades apenas com a Sua voz. O milagre da Sexta-Feira Santa é que Ele não fez nenhum milagre. Ele morreu. O milagre do Domingo de Páscoa é que Ele ressuscitou dos mortos – um fim miraculoso para uma vida miraculosa. O que mais poderíamos esperar?

15. (E A ÚNICA RESPOSTA QUE REALMENTE PRECISAMOS) . . .  JESUS CONTINUA A SER RESPOSTA
O mundo não pode oferecer nenhuma cura para o sofrimento. O mundo pode ignorá-lo, insultá-lo, debatê-lo, bombardeá-lo, medicá-lo…mas não existe nenhuma cura ou sentido para o sofrimento sem olhar para Jesus Cristo. N’Ele, o nosso sofrimento faz sentido e vale a pena. Longe d’Ele, o sofrimento não tem qualquer sentido e é estéril. A fonte da eterna juventude não existe. Não existe uma droga miraculosa. Não existe cura para a morte, excepto Jesus Cristo. O que é ilógico é pensar que o Deus da Vida não deseja que vivamos eternamente.

“Como é que alguns de entre vós dizem que não há ressurreição dos mortos? Se não há ressurreição dos mortos, também Cristo não ressuscitou. Mas se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã é também a vossa fé. E resulta até que acabamos por ser falsas testemunhas de Deus, porque daríamos testemunho contra Deus, afirmando que Ele ressuscitou a Cristo, quando não o teria ressuscitado, se é que, na verdade, os mortos não ressuscitam. Pois, se os mortos não ressuscitam, também Cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé e permaneceis ainda nos vossos pecados.” (1Cor 15, 12-18)

Irmãos e Irmãs, porque sabemos o que aconteceu na Última Ceia, na cruz e no sepulcro há 2000 anos, conhecemos Deus-Pai intimamente, caminhamos com o Filho diariamente e somos guiados pelo Espírito Santo eternamente. Esta é a verdade, e que bela verdade é.

Mark Hart

domingo, 17 de abril de 2022

Páscoa da Ressurreição do Senhor

 


Esperança

Tudo morre neste mundo. Morrem pessoas e árvores, ideologias e línguas, morrem projectos, sonhos e civilizações. Tudo morre, mas o nosso povo sabe quem é a última a morrer: a esperança. "Toda a acção séria e recta do homem é esperança em acto." [Bento XVI, encíclica Spes Salvi (SS 35)].

Aqui reside o paradoxo que define a natureza humana. Como podem coexistir a certeza da morte e a permanência da esperança? Como é possível que do fundo da "caixa de Pandora", de onde brotam todos os males, ainda voe a luz da esperança? Esta é "a situação essencial do homem, uma situação donde provêm todas as suas contradições e as suas esperanças. De certo modo, desejamos a própria vida, a vida verdadeira, que depois não seja tocada sequer pela morte; mas, ao mesmo tempo, não conhecemos aquilo para que nos sentimos impelidos. Não podemos deixar de tender para isto e, no entanto, sabemos que tudo quanto podemos experimentar ou realizar não é aquilo por que anelamos" (SS 12).

"Enquanto há vida, há esperança", diz a sabedoria popular. Mas pode a Esperança vencer a morte? Só pela Fé em Algo maior que o mundo se passa para lá do fim. "Fé é substância da esperança" (SS 10). Na Fé cristã "a porta tenebrosa do tempo, do futuro, foi aberta de par em par. Quem tem esperança, vive diversamente; foi-lhe dada uma vida nova" (SS 2).

Mas esta Esperança que vai para lá da morte tem vindo a ser abandonada. A Idade Moderna é o tempo da ciência, da técnica, do progresso. Essa atitude trouxe avanços extraordinários, maravilhas inimagináveis. Mas também perdeu de vista a Esperança. "Agora, esta 'redenção', a restauração do 'paraíso' perdido, já não se espera da fé, mas da ligação recém-descoberta entre ciência e prática. Com isto, não é que se negue simplesmente a fé; mas esta acaba deslocada para outro nível - o das coisas somente privadas e ultraterrestres - e, simultaneamente, torna-se de algum modo irrelevante para o mundo. Esta visão programática determinou o caminho dos tempos modernos, e influencia inclusive a actual crise da fé que, concretamente, é sobretudo uma crise da esperança cristã" (SS 17).

A ânsia do progresso revelou-se no martírio da Igreja. Paroxismos de fúria e crueldade desabaram sobre os cristãos a partir precisamente das ideologias progressistas. Do marxismo ao nazismo, no México, Espanha, Alemanha, URSS, Vietname e tantos outros, confirmou-se a profecia de Daniel: "Vi um quarto animal, horroroso, aterrador, e de uma força excepcional. Tinha enormes dentes de ferro; devorava, fazia em pedaços e o resto calcava-o aos pés. Era diferente dos animais anteriores (Dn 7, 7) Porque razão o progresso tomou a Igreja como inimiga? A Igreja que fundara as universidades, conservara as bibliotecas, preservara a civilização? A Igreja a que pertencia a maioria dos génios, cristãos devotos, que criaram a ciência moderna (Copérnico, Kepler Galileo, Leibniz, Newton, Euler, Ampère, Gauss, Cauchy, Faraday, Mendel, Pasteur e tantos outros)? Tal raiva mostra que a questão fundamental não é progresso e bem-estar, mas algo muito mais profundo. "O progresso é a superação de todas as dependências; é avanço para a liberdade perfeita" (SS 18).

O homem de hoje quer ser senhor de si mesmo, dominar a própria vida, fazer o que lhe apetece. "Ser como Deus", como prometeu a serpente do Éden na suprema tentação (cf. Gn, 3,5). Assim, "torna-se evidente a ambiguidade do progresso. Não há dúvida que este oferece novas potencialidades para o bem, mas abre também possibilidades abissais de mal - possibilidades que antes não existiam. Todos fomos testemunhas de como o progresso em mãos erradas pode tornar-se, e tornou-se realmente, um progresso terrível no mal. Se ao progresso técnico não corresponde um progresso na formação ética do homem, no crescimento do homem interior, então aquele não é um progresso, mas uma ameaça para o homem e para o mundo" (SS 22).

Tudo morre. Apenas Um ressuscitou dos mortos. "Chegar a conhecer Deus, o verdadeiro Deus: isto significa receber esperança" (SS 3).

João César das Neves


sexta-feira, 15 de abril de 2022

Passio Ecclesiæ – Meditação de Mons. Carlo Maria Viganò para a Sexta-Feira Santa - Paixão do Senhor

 


Feria VI in Parasceve

Esta é a vossa hora e o domínio das trevas.
Lc 22, 53


Os textos da liturgia do Sagrado Tríduo atingem-nos, como uma chicotada, pela crua brutalidade dos tormentos a que o Salvador foi submetido por vontade do Sinédrio, por ordem do Procurador Romano. A multidão, instigada pelos sumos sacerdotes, invoca o sangue inocente do Filho de Deus sobre si e sobre os próprios filhos, renegando, no arco de poucos dias, o triunfo que Lhe foi tributado com a entrada em Jerusalém. As aclamações e as hosana transformaram-se em crucifige e os ramos de palmeira tornam-se chicotes e bastões. Como podem decepcionar as multidões: capazes de tributar honras com a mesma convicção com que, pouco depois, decretam a condenação à morte.

Quem são os protagonistas e os responsáveis ​​por esta condenação? Judas, Apóstolo entre os Doze, ladrão e traidor, que, por trinta moedas, entrega o Mestre à autoridade eclesiástica para que o prenda. O Sinédrio, que é a autoridade religiosa da Lei Antiga, ainda em vigor no momento da Paixão. As falsas testemunhas, pagas ou à procura de notoriedade, que acusam Nosso Senhor, contradizem-se umas às outras. O povo, ou melhor, a multidão pronta para as manifestações de rua que se deixa guiar por poucos manipuladores habilidosos. O Procurador Pôncio Pilatos, representante do Imperador na Palestina, que emite uma sentença injusta, mas com autoridade oficial. E toda aquela aglomeração de subalternos sem nome que se enfurece, com inaudita crueldade, contra um inocente, pelo simples facto de que tal se espera deles: guardas do Templo, soldados do Sinédrio, soldados romanos, turba violenta.

Nosso Senhor é condenado à morte, apesar da Sua inocência ter sido reconhecida pelo legítimo Magistrado: Accipite eum vos et crucifigite; ego enim non invenio in eo causam. Pilatos não quer importunar-se com os sumos sacerdotes, nem ter a multidão contra, que podem manobrar, alavancando o ódio em relação aos Romanos, que ocupam militarmente a Palestina. Ele sabe o desprezo que têm por ele os levitas e os anciãos do povo, considerando-o um pagão de quem se afastar, a ponto de não se quererem contaminar entrando no Pretório: ficam de fora, a controlar se o poder temporal que os oprime se torna cúmplice deles ao condenar por blasfémia, ou seja, por um crime de natureza religiosa o seu Messias. Mais: para mandar matar, sem condenação, um inocente. Innocens ego soma um justi hujus sanguine justi hujus, diz Pilatos. Assim, a autoridade civil, por temor diante da arrogância e da chantagem de um motim, renuncia a exercer a justiça; assim, a autoridade espiritual, para não perder o poder que havia monopolizado, esconde as profecias, insiste em não reconhecer o Messias prometido, apesar das contínuas confirmações da Sua divindade, e conspira para matar Jesus Cristo porque, dizendo a verdade, Ele proclamou-se Deus. Os príncipes dos sacerdotes ameaçam Pilatos: Si hunc dimittis, non es amicus Cæsaris, e chegam a submeter-se ao poder imperial para mandar matar o seu Rei: Non habemus regem, nisi Cæsarem. Mas não era Herodes o rei da Judeia?

Até na Cruz – onde o Senhor entoa a antífona do próprio Sacrifício com as palavras do Salmista: Deus meus, Deus meus: ut quid me dereliquisti? – os que conheciam de memória as Sagradas Escrituras fingem não reconhecer naquele grito solene a última advertência à Sinagoga, presságio da abolição do sacerdócio levítico e da iminente destruição do templo, quarenta anos depois, pelas mãos de Tito. No Salmo 21, David prediz o que os Hebreus tinham diante dos seus olhos e que já não eram capazes de compreender por causa da sua cegueira, e aquela advertência ouvi-la repetir, hoje, nos Impropérios da liturgia de Parasceve, incrédulos pela infidelidade do povo eleito e atormentados pela repetição, não menos dolorosa, da infidelidade do novo Israel, dos seus pontífices, dos seus ministros.

Não há uma única palavra na liturgia do Tríduo Pascal que não soe como uma acusação dolorosa e sofredora; a acusação do Senhor que vê cumprir-se na traição de Judas e do seu povo o acto com o qual o poder religioso e o civil se aliam contra o Senhor e o Seu Cristo: Astiterunt reges terr
æ, et principes convenerunt in unum, adversus Dominum, et adversus Christum ejus.

Diz Nosso Senhor: Se o mundo vos odeia, reparai que, antes que a vós, me odiou a mim. Se viésseis do mundo, o mundo amaria o que é seu; mas, como não vindes do mundo, pois fui Eu que vos escolhi do meio do mundo, por isso é que o mundo vos odeia. Lembrai-vos da palavra que vos disse: o servo não é mais que o seu senhor. Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós. Com esta advertência, o Salvador recorda-nos que a Sua santíssima Paixão deve cumprir-se também no Corpo Místico – Se me perseguiram a mim, também vos hão-de perseguir a vós –, seja nos indivíduos ao longo dos séculos, seja na Igreja como instituição no fim dos tempos. E é significativa a correspondência entre a Paixão de Cristo e a Paixão da Igreja.

Esta correspondência parece-me ainda mais evidente nesta hora de trevas, em que o poder do novo Sinédrio infiel e corrupto se aliou com o poder temporal no perseguir Nosso Senhor e quantos Lhe são fiéis. Ainda hoje os príncipes dos sacerdotes, sedentos de poder e desejosos de agradar ao império que os mantém subjugados, recorrem a Pilatos para fazer condenar os Católicos, acusando-os de blasfémia por não quererem aceitar a traição dos seus líderes. Os Apóstolos e os Mártires de ontem revivem nos apóstolos e mártires de hoje, a quem, por enquanto, é negado o privilégio do martírio cruento, mas não a perseguição, o ostracismo, o escárnio. Encontramos Judas, que vende ao Sinédrio os bons pastores; encontramos as falsas testemunhas, os biltres, os instigadores da multidão, os guardas do templo e os soldados do Pretório; encontramos Caifás que rasga as vestes, Pedro que renega o Senhor e os Apóstolos que fogem e se escondem; encontramos quem coroa de espinhos a Igreja, quem a esbofeteia e dela escarnece, quem a flagela e a expõe ao ludíbrio; quem lança sobre ela a cruz dos escândalos dos seus ministros, os pecados dos seus fiéis; ainda hoje há quem mergulhe a esponja no vinagre e quem trespasse o costado da Igreja com uma lança; ainda hoje há uma veste inconsútil e quem a tire à sorte. Mas, como ontem, também hoje a Mãe da Igreja e um Apóstolo ficarão ao pé da cruz, testemunhas da passio Ecclesi
æ, como outrora foram testemunhas da passio Christi.

Cada um de nós, nestas horas de silêncio e de recolhimento, examine-se a si mesmo. Perguntemo-nos se queremos estar, na acção litúrgica dos últimos tempos, entre aqueles que, ainda que só por conformismo, olharam para outro lado, abanaram a cabeça, cuspiram no Senhor aquando da Sua passagem para o Calvário. Perguntemo-nos se nesta sagrada representação teremos a coragem de limpar o Rosto ensanguentado de Cristo na imagem devastada da Igreja, se saberemos, como o Cireneu, ajudar a Igreja a carregar a sua cruz, se, como José de Arimateia, lhe ofereceremos um lugar digno no qual a depor até que seja ressuscitada. Perguntemo-nos quantas vezes já esbofeteamos Cristo, tomando o partido do Sinédrio e dos sumos sacerdotes, quantas vezes pusemos os respeitos humanos antes da nossa Fé, quantas vezes aceitámos trinta moedas de prata para trair e entregar o Salvador, nos Seus bons ministros, aos príncipes dos sacerdotes e aos anciãos do povo.

Quando a Igreja clamar o seu Consummatum est sob um céu negro, enquanto a terra estremecerá e o véu do templo se rasgará de alto a baixo, o que falta aos sofrimentos de Cristo (Col 1, 24) cumprir-se-á no Corpo Místico. Esperaremos a deposição da cruz, a composição no sepulcro, o silêncio absorvido e mudo da natureza, a descida ao Inferno. Também neste caso haverá os guardas do templo a vigiar para que o pusillus grex não ressurja e haverá quem dirá que vieram os seus seguidores para roubá-lo.

Virá também para a Santa Igreja o Sábado Santo; virá o Exultet e virá o Alleluja, depois da dor, da morte e da escuridão do túmulo. Scimus Christum surrexisse a mortuis vere: sabemos que o Seu Corpo Místico também ressuscitará com Ele, justamente quando os Seus ministros pensarem que está tudo perdido. E reconhecerão a Igreja, como reconheceram Nosso Senhor in fractione panis.

Este é o meu desejo, do mais profundo do coração, para esta Santa Páscoa e para os tempos que nos esperam.

 Carlo Maria Viganò, Arcebispo

Fonte: Dies Irae

quinta-feira, 14 de abril de 2022

Meditar a Sagrada Escritura na Semana Santa – Quinta-feira Santa - Ceia do Senhor

 

A liturgia dos três últimos dias da Semana Santa assume um carácter emocionante. Por meio dos ofícios litúrgicos, que são dos mais belos do ano, a Igreja recorda os feitos que assinalaram os últimos dias da vida do Salvador e convida-nos a celebrar com ela o augusto mistério da nossa Redenção. Celebração maravilhosa em que a Paixão se nos apresenta misteriosamente actual para renovar a nossa vida nas próprias fontes de que brotou. 

A Quinta-feira Santa é consagrada à instituição da Eucaristia e do sacerdócio. Foi na véspera da sua morte que Jesus, o Sumo Sacerdote da Nova Lei, celebrando a Páscoa com os seus discípulos, transformou a refeição ritual dos Judeus numa refeição mais sagrada ainda, em que Ele próprio se deu em alimento daqueles cujo resgate ia operar morrendo na cruz.  

No mesmo dia, o bispo procede à bênção dos Santos Óleos, pelo que mais evidente se torna que os Sacramentos têm a sua própria origem em Cristo, representado agora pelo bispo, e que a sua fecundidade é toda haurida no mistério pascal.     

É hoje ainda, durante a missa vespertina, que se desenrola a cerimónia do mandato ou lava-pés, rememoração comovedora do gesto de humilde caridade com que Jesus assinalou o «mandamento novo» do amor fraterno.

EVANGELHO segundo São Marcos (Mc 6, 7-13) – 1.ª Missa, Missa dos Santos Óleos                       
Chamou os Doze, começou a enviá-los dois a dois e deu-lhes poder sobre os espíritos malignos. Ordenou-lhes que nada levassem para o caminho, a não ser um cajado: nem pão, nem alforge, nem dinheiro no cinto; que fossem calçados com sandálias e não levassem duas túnicas. E disse-lhes também: «Em qualquer casa em que entrardes, ficai nela até partirdes dali. E se não fordes recebidos numa localidade, se os seus habitantes não vos ouvirem, ao sair de lá, sacudi o pó dos vossos pés, em testemunho contra eles». Eles partiram e pregavam o arrependimento, expulsavam numerosos demónios, ungiam com óleo muitos doentes e curavam-nos.            
      
EVANGELHO segundo São João (Jo 13, 1-15) – 2.ª Missa, Missa do Memorial da Ceia           
Antes da festa da Páscoa, Jesus, sabendo bem que tinha chegado a sua hora da passagem deste mundo para o Pai, Ele, que amara os seus que estavam no mundo, levou o seu amor por eles até ao extremo. O diabo já tinha metido no coração de Judas, filho de Simão Iscariotes, a decisão de o entregar. Enquanto celebravam a ceia, Jesus, sabendo perfeitamente que o Pai tudo lhe pusera nas mãos, e que saíra de Deus e para Deus voltava, levantou-se da mesa, tirou o manto, tomou uma toalha e atou-a à cintura. Depois deitou água na bacia e começou a lavar os pés aos discípulos e a enxugá-los com a toalha que atara à cintura. Chegou, pois, a Simão Pedro. Este disse-lhe: «Senhor, Tu é que me lavas os pés?». Jesus respondeu-lhe: «O que Eu estou a fazer tu não o entendes por agora, mas hás-de compreendê-lo depois». Disse-lhe Pedro: «Não! Tu nunca me hás-de lavar os pés!». Replicou-lhe Jesus: «Se Eu não te lavar, nada terás a haver comigo». Disse-lhe, então, Simão Pedro: «Ó Senhor! Não só os pés, mas também as mãos e a cabeça!». Respondeu-lhe Jesus: «Quem tomou banho não precisa de lavar senão os pés, pois está todo limpo. E vós estais limpos, mas não todos». Ele bem sabia quem o ia entregar; por isso é que lhe disse: ‘Nem todos estais limpos’. Depois de lhes ter lavado os pés e de ter posto o manto, voltou a sentar-se à mesa e disse-lhes: «Compreendeis o que vos fiz? Vós chamais-me ‘o Mestre’ e ‘o Senhor’, e dizeis bem, porque o sou. Ora, se Eu, o Senhor e o Mestre, vos lavei os pés, também vós deveis lavar os pés uns aos outros. Na verdade, dei-vos exemplo para que, assim como Eu fiz, vós façais também.

Fonte: Dies Irae