Setembro / Outubro 2007
Por volta do ano 350 d.C. um genial Berbere do Norte de África, o futuro Santo Agostinho, escreveu um tratado de política que continua muito actual, “A Cidade de Deus“.
Pergunta o autor: “qual a diferença entre um Governo e um bando de ladrões?“ Um bando de ladrões pode muito bem governar um país e contar com o apoio satisfeito da maioria da população a quem dá pão e circo, mas tem como objectivo o enriquecimento pessoal dos seus membros.
Um Governo, para o ser, deve ter como objectivos o progresso espiritual e material do Povo.
Não pode permitir a injustiça, mesmo que praticada contra minorias com o apoio da maioria...
Disse também que é dever de todos participar na construção da Cidade de Deus, o que significa que ninguém tem o direito de se alhear da vida pública.
Actualmente muitos dos portugueses mais capazes e bem formados, afastam-se da política porque preferem usar o seu tempo exclusivamente em trabalhos bem pagos.
O Dr. João Soares, teve a coragem de dizer que “Portugal não vive em democracia mas em partidocracia“. Para se ser eleito Deputado ou Presidente da República, não interessa ter a simpatia e a confiança dos eleitores, o que é necessário é ter o apoio das lideranças partidárias.
Os portugueses tratam a política como o futebol: acham que os seus responsáveis só querem ganhar campeonatos. E os eleitores apoiam um dos “clubes” ou outro não pela qualidade das suas propostas ou dos seus dirigentes, mas por simpatias ou tradição familiar, preferindo em geral
ser “do clube que ganha“…
Esta ausência de uma verdadeira “cultura democrática“ de participação das gentes e responsabilização dos eleitos perante os eleitores leva a um aumento da abstenção e da indiferença. Enquanto houver paz e os salários em dia, a Democracia funcionará.
Mas virão momentos de crise e nessa altura será que as “instituições democráticas“ terão a autoridade suficiente para merecer a confiança de um Povo angustiado? Ou cairemos mais uma vez na tentação de querer um ditador “que nos governe“?
Estes são algumas das considerações que me levaram a aceitar participar nas actividades do recém-criado "Instituto para a Democracia", que junta personalidades de sectores políticos e culturais muito diferentes mas unidos na preocupação de que Portugal seja um país livre
e independente, numa Europa unida pelos valores que decorrem das suas raízes culturais e espirituais gregas, judaicas e cristãs.
Temos uma missão importante a desempenhar na construção do nosso futuro colectivo.
S. A. R. Dom Duarte de Bragança
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