O meu Amigo Nuno Couto, com quem, neste e noutros blogs, tenho mantido demorados debates sobre a questão de regime, prefere ser ele a escolher o Chefe do Estado; pela minha parte, obviamente, acredito muitissimo mais na opção dinástica para esse efeito. Não será por isso que alguma vez nos zangaremos. Somente por esta fundamental razão - ambos buscamos acima de tudo a verdade dos factos. O que actualmente é sonegado pelo «mundo oficial» à maioria dos portugueses, impreparada e desinteressada em os conhecer.
Sirva esta introdução para explicar o meu agrado pelo trabalho de Ernesto Rodrigues, «5 de Outubro - Uma Reconstituição», editado pela Gradiva em Fevereiro passado. Desconfio que o Autor não preza particularmente o regime monárquico. Mas, do que já li, os factos estão todos lá, ao dispor do leitor e das conclusões que este queira tirar. É assim mesmo. Pela minha parte, aqui deixo uns excertos, creio bastante elucidativos.
Logo na Introdução, a referência à divisa da República: «Ordem e Trabalho». Não se vê, hoje em dia, muitos republicanos a recordá-la. Nem convém...
Depois: «O Partido Republicano e a Maçonaria serão os principais responsáveis pelo trabalho de propaganda e erosão do regime, em momentos-chave (1880: tricentenário da morte de Camões; 1882: centenário da morte do Marquês de Pombal, que serve para campanha anti-jesuítica; 1890: Ultimatum; 1891: revolta republicana no Porto), que se agudizam entre 1906 e 1910 - já com a Carbonária e a Junta Liberal (...). Efectivamente, foi necessário erodir a Monarquia; e os méritos e o hábito da propaganda republicana foram continuando a dar excelentes resultados, no correr dos tempos...
Faça-se justiça: «Machado dos Santos resiste na Rotunda e, com populares, afasta a ameaça de Paiva Couceiro, rara nobreza de herói que o último governo da Monarquia não acompanhou».
Da Contemporary Review, que Ramalho cita em carta a sua Mulher: «Quando o rei D. Carlos, confiando o poder à energia e inteligência de João Franco, os republicanos assassinaram-no». De outro modo - sem o recurso ao assassinio - não haveria República. Os republicanos nada podiam contra o "pulso" do Rei e do Principe Real.
« Com a revista pensamento Social (1872), Oliveira Martins e Antero, utópicos, levam a que o socialismo se afaste do movimento republicano». E a aproximar-se das "reservas" monárquicas. Por isso, O. Martins foi ministro num governo presidido por Dias Ferreira; e por isso esta fabulosa carta de Antero ao seu amigo Lobo de Campos, que eu nunca mais encontrava no desarrumo dos meus papeis:
«Creio que teremos República em Portugal, mais ano menos ano; mas, francamente, não a desejo, a não ser de um ponto de vista todo pessoal, como espectáculo e ensino. Então é que havemos de ver o que é atufar-se uma nação em lama e asneira. Falam da Espanha com desdém - e há de quê -, mas eles, os briosos portugueses, estão destinados a dar ao mundo um espectáculo republicano ainda mais curioso: se a República espanhola é de doidos, a nossa será de garotos».
Sábio Santo Antero!!!
Fonte: Centenário da República
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