domingo, 23 de maio de 2010

Um certo mau gosto


A começar pela bandeira verde/rubra, o regime republicano e os seus próceres apenas deitaram mão ao poder não tardaram a evangelizar o país com o mau gosto. Os gostos burgueses, o novo-riquismo que caracteriza estes 100 anos, desde os arrivistas da I República, passando pelo folclorismo do Estado Novo até aos patos-bravos cavaquistas da III República recordam-nos que a iconografia republicana apela para o kitsch (mas o kitsch mau), o garrido, o lúbrico e para o maltrapilho, escória imagética a que uma certa sociedade se foi habituando como processo normal de coexistência. A prova deste flagrante menosprezo pela qualidade da arte produzida, do gosto educado e do talento aproveitado foi a forma como a caricatura serviu e serve, não a sátira inteligente, elegante, mas a pura destruição pelo vulgar, pelo desprezível. Uma linguagem vernacular, associada a imagens licenciosas, suscitaram o desbragamento dos analfabetos electrizados pelas fáceis campanhas republicanas. A prova está na imagem supra. Devemos, aliás, recordar que foi um feroz republicano, Bordalo Pinheiro, que criou essa criatura abjecta chamada Zé Povinho que a República tão depressa acalentou como símbolo ao mesmo tempo paternalista e fóbico da maralha que controlava.

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