Um dos ‘argumentos’ que vejo com alguma frequência ser apresentado contra o Regime Monárquico refere-se à questão dos títulos. Dizem que a Monarquia é um regime de protegidos, dos condes, barões, Marqueses, etc. Dizem …. mas não sabem do que falam.
Na realidade, qualquer pessoa minimamente informada verá o ridículo que é tal ‘argumento’ no contexto de qualquer monarquia ocidental, moderna, parlamentar e democrática como seria a Monarquia Portuguesa.
O curioso, contudo, é que muitas dessas pessoas que apresentam o argumento supra citado são as primeiras a exibirem-se, quais pavões, com títulos. E dos títulos mais usados (e abusados), o de doutor então ultrapassa os limites de toda a racionalidade. Parece quase uma obsessão o uso daquelas duas letrinhas. Mais curioso ainda é que uma grande maioria dessas pessoas, quando questionadas acerca do seu teórico doutoramento apresenta uma mão cheia de … nada. Quer isto dizer que, em abono da verdade, são doutores sem doutoramento. Falo em doutoramentos como poderia falar de mestrados mas o título de mestre parece estar fora de moda pelo que não se vê tantas vezes ser usado incorrectamente. A probabilidade de encontrar um Mestre com um Mestrado efectivo é, parece-me, largamente superior à probabilidade de encontrar um doutor com doutoramento.
Mas voltando aos doutores e aos doutoramentos, já encontrei muitas desculpas para o uso deste tratamento: desde a diferenciação entre Dr. e dr. à diferenciação entre Dr. e Dr (repararam a subtileza da ausência de ponto?). Abdicar das duas letrinhas é que não. A situação, que se encontra entre o trágico e o cómico, parece-me estar quase a roçar o ridículo e o absurdo.
Tudo isto, longe de promover a excelência, fomenta a mediocridade e só imagino que seja fruto de um sentimento de inveja e, igualmente, mediocridade.
Fomenta a mediocridade porque estamos perante uma terra de doutores sem habilitações para serem tratados como tal. Se qualquer um, com uma ‘simples’ licenciatura, se pode arrogar ao uso do título de Doutor, haverá algum motivo para fazer um esforço para o obter e poder usar as duas letrinhas legitimamente? Mais, nesta situação o que distingue aquele profissional que, na busca constante de conhecimento, se esforça, estuda e investiga e aquele que se ficou por níveis inferiores? Não me parece nem ético nem justo esta indiferenciação que se parece estar a viver.
Também acho muito curioso que, enquanto uns tentam usar títulos que não possuem numa forma de exibicionismo barato, outros que os possuem aos pontapés (mentes brilhantes na maioria da área de investigação cientifica mas também noutras) são simplesmente Antónios, Marias, Joanas, Zés, etc não exigindo qualquer tratamento especial. Quais possuem maior grandeza? Quais merecem maior respeito e consideração: os que exigem ser não o sendo como os primeiros ou os que sendo não exigem que os tratem como tal (os segundos)?
A resposta parece óbvia e decerto o leitor facilmente chegará à conclusão correcta.
Digo que será fruto de um sentimento de inveja e mediocridade visto não vislumbrar outros motivos para alguém querer ser mais do que é de facto sem qualquer esforço adicional. Será que a lei do menor esforço está a prevalecer?
A César o que é de César.
Um licenciado é um licenciado. Poderá ser economista, professor, etc dependendo do curso frequentado e concluído mas não será mais que um licenciado a menos que faça alguma pós-graduação.
Dizia Shakespeare em Hamlet: Algo vai mal no Reino da Dinamarca. Se calhar esta frase, com as devidas alterações, também é válida e actual para esta nossa terra.
E assim há pessoas que, ao mesmo tempo que repudiam o uso de título, não conseguem passar sem eles. Não vejo coerência neste tipo de pensamentos mas, de facto, também nunca ninguém me disse que essas pessoas eram coerentes.
Fonte: Portugal Futuro
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