Tratando primeiro da mobilidade social: esta não é apanágio da república; não houve um momento de cisão a 5 de Outubro de 1910 em que uma ordem medieval e feudal se esvaneceu dando origem a um país de liberdade, fraternidade e igualdade. Já durante a Monarquia estruturas como a primogenitura, o morgadio, os cargos hereditários foram sendo abolidos (veja-se as reformas do Marquês de Pombal ou a Lei da Extinção do Morgadio de 1863). Em plena monarquia muitos indivíduos de origem humilde chegaram a ocupar posições de destaque. A título de exemplo veja-se Lucas de Seabra da Silva, 1º Morgado de Fail e de Lobão, conselheiro d’El-Rei D. João V e pai do famoso José de Seabra da Silva (este último um dos homens mais importantes do seu tempo). Era filho de um obscuro senhor de Sta. Maria da Feira sobre o qual pouco se sabe. Note-se ainda fidalgos de origem provinciana que acederam a cargos até aí reservados à nobreza de corte (1º Marquês de Pombal e D. Alexandre de Sousa Holstein, entre outros) ou até mesmo comerciantes de grosso trato que no século XIX vieram a integrar a elite portuense (Constantino do Vale Pereira Cabral, Alfredo Allen 1º visconde de Villar d’Allen, Domingos da Silva Freitas). Assim sendo, a meu ver o Monarquia é perfeitamente capaz de recompensar o mérito, havendo mobilidade social, sem ser o disparate que actualmente se verifica—distribuem-se comendas como copos de água, o presidente dá louvores e medalhas a indivíduos que deviam estar na prisão, etc.
Quanto à questão da existência da nobreza, penso que é dos aspectos mais positivos da Monarquia. Por um lado, é a garantia de que os nomes de homens de valor não ficam perdidos na História, sendo representados pelos seus descendentes de sangue. Com efeito, um título é uma forma de património histórico que deve ser mantido, preservado e respeitado, tal como um museu ou um artefacto. Por outro lado, é imprescindível lembrar que a nobreza não é uma classe estanque: um indivíduo cujas origens não sejam nobres pode aceder a esta casta de faça algo que mereça essa distinção. É, de certa forma, o reconhecimento final do mérito, uma distinção que deve ser exclusiva, para não perder a sua importância (aprenda-se com a república, em que uma medalha pouco ou nada vale—todos têm).
Henrique Sousa de Azevedo Fonte: Plataforma Pensar Claro
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