Gonçalo, Margarida, Sónia e Tiago,
Tomei a iniciativa de lhes escrever para os alertar para uma incorrecção presente no trabalho que fizeram. Vocês incluem na lista de personalidades republicanas o escritor Eça de Queirós. Ora, Eça viveu durante o período conturbado que antecedeu a implantação da república, mas isso não faz dele um escritor republicano. Segundo a sua neta, ele nunca manifestava as suas opiniões políticas ‘vivia muito com as suas personagens e com o seu trabalho de cônsul’. As obras de Eça, embora critiquem severamente a sociedade portuguesa, não fazem a apologia da causa republicana ou monárquica.
No entanto, tudo leva a crer que Eça fosse monárquico. Senão vejamos: Eça de Queirós exerceu o cargo de diplomata ao serviço da coroa portuguesa durante quase 30 anos. Se ele fosse simpatizante das ideias republicanas ser-lhe-ia atribuído esse cargo? Quanto à família (esposa, filhos, parentes próximos) era toda monárquica e frequentava o paço. Quando o filho mais velho de Eça se casou (já Eça tinha falecido), o rei D. Manuel II foi o padrinho e a rainha D. Amélia também esteve presente. Há ainda um episódio que mostra inequivocamente de que lado se colocavam a esposa e filhos de Eça e que evidencia igualmente grande integridade e estatura moral por parte destes. Passo a transcrever um excerto da entrevista à neta de Eça: ‘o Presidente da República da altura – Manuel de Arriaga – mandou dizer à minha avó que se os filhos apoiassem a República, eles continuavam a dar a pensão (a que ela teve direito após a morte de Eça de Queiroz devido à carreira diplomática que este desempenhou), se os filhos não apoiassem a República, cortavam-lhe a pensão. A minha avó perguntou aos filhos (claro que já sabia o que é que eles iam dizer) e eles disserem: «De maneira nenhuma, não apoiamos a República, somos monárquicos!» E lá se foi a pensão!’
Atentamente
Paula
Fonte: Causa Monárquica
1 comentário:
Na sua juventude, Eça de Queiros foi influenciado pelos ideiais anarquistas tranmitidos ainda em Coimbra, ao tempo que frequentava a Universidade, pelo seu amigo Antero de Quental, o qual aparece representado em mais de uma personagem em várias das suas obras. Ele próprio o admite na nota introdutória à compilação das suas "Farpas" que, no caso, tomaram o nome de "Uma Campanha Alegre". Porém, o fracasso da Comuna de Paris fê-lo pensar de forma diferente, tendo vindo mais tarde a integrar o grupo dos chamados "Vencidos da Vida" que, sob a égide de Oliveira Martins e do qual também Guerra Junqueiro fez inicialmente parte, procuraram influenciar muitas das decisões do Rei D. Carlos, nomeadamente a opção pelo género de governação que veio a ser feita pelo ministro João Franco.
Eça de Queirós, Ramalho Ortigão, Carlos de Lima Mayer, Oliveira Martins, Conde de Sabugosa, Conde de Soveral e outros que fizeram parte deste grupo reuniam-se assiduamente com D. Carlos para debater os problemas do país. De entre eles, creio que apenas Guerra Junqueiro foi o único que veio a aderir aos ideais republicanos, tendo entretanto afastado-se daquele grupo.
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