terça-feira, 10 de maio de 2011

Não convém, não é verdade? (II e III)

Antes de prosseguir sugere-se a leitura da primeira parte deste artigo.

Independentemente deste aborrecimento, alguma coisa de positivo ficou que, mais uma vez por incompetência, ignorância ou simplesmente má-fé, não foi devidamente salientada.

A questão do regime foi, uma vez mais, colocada, contrariando todos aqueles que, teimosamente, insistem em afirmar que essa questão não se coloca, hoje em dia, em Portugal.

Verificou-se o poder unificador de uma Família Real. Durante as celebrações foi possível confirmar o tanto que os cidadãos (principalmente do Reino Unido mas também dos outros países onde S.M a Rainha Isabel II é soberana) viviam o momento como se da sua própria festa se tratasse. Esses mesmos cidadãos falavam das celebrações com orgulho, chegando alguns mesmo a afirmar que ‘era aquilo [cerimónia, organização, rigor, tradição, realeza, etc] que os definia’. Houve, portanto, uma clara identificação entre a população em geral e a Família Real/Regime Monárquico. Essa identificação não encontra paralelo nem possível comparação em nenhuma república.

A questão dos custos é também algo importante a referir, talvez o mais importante mesmo. Ironicamente é uma questão que parece subvalorizada num País que está em crise em boa parte por ter gasto mais do que o que devia/podia. Estou a falar, claro, de Portugal. Quando se fala nas claras vantagens económicas da Monarquia, os defensores da República (ou serão mais anti-monárquicos?) assobiam para o lado e, incompreensivelmente, desvalorizam a questão! Como se Portugal não precisasse de poupar todos os cêntimos e aproveitar todas as oportunidades passíveis de gerar receita, principalmente nas actuais circunstâncias. Vá-se lá compreender este pensamento dos anti-monárquicos!

Claro que os mais críticos dirão que os custos de todo o evento foram brutais. Não se aflijam essas pessoas pois segundo consta as despesas da festa em si ficaram a cargo da Família Real e dos pais da noiva.

À responsabilidade do Estado Britânico, e por conseguinte dos contribuintes, terá ficado toda a operação de segurança. Dirão os mais cépticos (e teimosos) que ainda assim a factura foi pesada demais para o contribuinte. É um preço que se tem de pagar para o casamento ser “público”. Se fosse uma cerimónia privada (como tantas outras da Família Real) esses custos seriam eliminados mas duvido que a população aceitasse pacificamente o facto de não poder assistir e estar próximo do seu príncipe no dia do seu casamento. É uma questão de identificação e proximidade entre povo e Família Real. Esta identificação e esta proximidade, por não existir em República (embora esta não o admita), é naturalmente difícil de ser compreendida pelos republicanos.

No entanto os ganhos obtidos com o casamento, que foi uma magnífica campanha publicitária, são incalculáveis.

Só em ganhos directos tem-se, por exemplo, os direitos de transmissão televisiva para todo o Mundo e os turistas que viajaram para o Reino Unido especificamente para “assistirem” ao casamento, com consequências (positivas) imediatas nos ramos da hotelaria e do comércio britânicos.

No entanto essas receitas são apenas algumas das directas imediatamente antes, durante e após o evento. Existem receitas a nível futuro difíceis de contabilizar. O casamento foi, em termos práticos, e conforme já referido, um golpe publicitário à escala global que muito provavelmente chamará ao Reino Unido, e em particular a Londres, um grande número de turistas ansiosos por ver os locais onde se realizou tão mediático acontecimento. De caminho continuam a promover a indústria hoteleira e da restauração, já para não falar no comércio! Claro que estando no Reino Unido dificilmente deixarão de visitar os quase míticos locais e monumentos relacionados directamente com a Monarquia.

A importância desses locais mede-se pela sua história passada mas também pela sua “história presente” já que são locais vivos e não apenas memórias de um passado distante. A Torre de Londres não é apenas uma prisão do passado! Nela se guardam as Jóias da Coroa, que ainda hoje em dia são usadas. Com “sorte” pode-se visitar este monumento e não conseguir ver uma (ou mais) das jóias por estar a ser usada pela Rainha.

O Palácio de Buckingham não é apenas mais um palácio! Caso esteja fechado ao público, cria no turista a capacidade de imaginar que ali dentro poderá estar uma Rainha de verdade, a trabalhar em prol da sua pátria, conforme o juramento que fez aquando da coroação. Já no caso do Palácio estar aberto ao público o turista sabe, à partida, que a Rainha não estará nele mas ainda assim é criada no imaginário do turista a ideia de que há pouco tempo uma Rainha verdadeira esteve ali, a morar e a trabalhar. E isto, este “jogar” com o imaginário dos turistas, vende. E quem lucra com isto é o Reino Unido que, sabiamente, consegue “explorar” os efeitos da imagem de um Monarca no imaginário das pessoas. Esta vida dos monumentos é uma das grandes diferenças entre o turismo britânico e o português. É indiscutivelmente mais interessante visitar um palácio (por exemplo) habitado, vivo e com memórias recentes, do que um palácio desabitado, frio e muitas vezes com má conservação, com memórias de um passado distante que já ninguém conhece como seu. A primeira realidade é a britânica, a segunda é a portuguesa.

Desta forma, aquilo que à primeira vista pode ser visto como uma enorme despesa traduz-se numa enorme projecção do país no Mundo, só possível devido à sua Monarquia e à sua Família Real. Na prática toda esta projecção leva à estimulação do turismo britânico e consequentemente ao aumento de receitas. Dificilmente uma República conseguiria, através unicamente do seus próprios símbolos, gerar tamanha projecção.

“Sustentar” uma Família Real, como se pôde ver, acaba por ser um investimento com retornos a vários níveis (curto, médio e longo prazo), altamente positivos para o bem comum da Nação. Falo no bem comum por ser o mais óbvio mas o bem individual de cada um também sai altamente beneficiado e nem é muito difícil de perceber porquê.

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