Dito isto, é curioso que a vida pessoal do eventual herdeiro de um trono distante suscite, mesmo em Portugal, semelhante barulho. Por um lado, há os deslumbrados que analisam ao pormenor vestidos e penteados. Por outro, há os ressentidos que dedicam atenção equivalente a lamentar a atenção dos demais. Os motivos dos primeiros escapam-me. Os motivos dos segundos divertem-me. Se bem os percebo, abominam monarquias, abominam o tempo perdido a venerar o fausto monárquico (embora não o tempo perdido a reprová-lo) e abominam que tal desperdício exista à custa do povo.
O engraçado é a rígida ética republicana não se opor aos desperdícios do Estado indígena e “social” (com aspas), que foi existindo à custa dos contribuintes nacionais e, sempre que possível ou necessário, dos internacionais. É terrível que os britânicos sejam obrigados a financiar os excessos dos seus senhores. É desejável obrigá-los a financiar os excessos dos nossos, em nome do “projecto europeu”, da “solidariedade” e, acima de tudo, da falta de vergonha na cara.
Alberto Gonçalves
Diário de Notícias (1 de Maio de 2011)
Fonte: Real Associação de Lisboa
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