sábado, 30 de abril de 2016

Realidade

Uma prova de provincianismo e mesquinhez é a que vem daqueles que se babam de deleite com uma fotografia da Família Real Britânica e ao mesmo tempo espumam de obscuros ressentimentos perante uma fotografia da Família Real Portuguesa.

João Távora

Fonte: Corta-fitas

sexta-feira, 29 de abril de 2016

A prosperidade tende para as Monarquias

É uma incógnita que se verifica recorrentemente. Os Países que têm Reis e Rainhas ,tendem a ser mais prósperos, mais equitativos na distribuição da riqueza e menos propensos a conflitos sociais . Este é um dado importante para países como Portugal que têm gasto as últimas décadas a debater-se com a credibilidade interna e externa desprezando o factor relevante de terem um regime tendencialmente pouco credível.
Um estudo de 2015 da CMC Markets aponta para o facto que Países com Monarquias tendem a gerar maiores retornos nos mercados financeiros, factor particularmente relevante na Europa (quando comparado com outras Repúblicas europeias) e comum ao resto do planeta. Uma explicação aponta para a maior estabilidade política social e económica que o regime arrasta consigo , a outra seria que os investidores tendem a investir mais e de forma mais consistente em regimes que ofereçam mais segurança, como a Bélgica, Espanha ou Holanda.
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“Em toda a Europa, ainda temos o que são conhecidas como as monarquias constitucionais, o que significa que o monarca reinante não influencia a política do governo, e de modo geral os cidadãos parecem preferir a opção da pompa e grandiosidade de uma Monarquia à de uma República , onde o chefe de estado ou presidente se envolve na natureza suja e desprezível quotidiana da política, e onde a maioria dos políticos não é mais popular do que uma dose desagradável de gripe” MCM Markets

quinta-feira, 28 de abril de 2016

LIVRO: OS CONJURADOS DE 1640



Depois de «Reis no Exílio», o príncipe Charles-Philippe d’Orléans volta a editar com a Esfera dos Livros. Desta vez, o descendente dos Reis de França e de Portugal, aventura-se na ficção com uma história de paixão, intriga e coragem na luta pela independência de Portugal, concretamente com «Os Conjurados de 1640».


«Durante a última década do poder filipino em Portugal, Manuel Bocarro, um médico cristão-novo, é chamado à corte de Madrid para tentar salvar a vida de D. Baltasar de Zuñiga, conselheiro de Filipe IV e figura grada da nobreza de Castela. Segue consigo o neto que ele muito ama, o jovem João, a quem o avô pretende assim oferecer alguma experiência do mundo. Em Madrid, porém, João não só encontra Miguel de Vasconcelos, que em rapaz retirara das águas do Tejo, como também trava conhecimento com D. Antão Vaz de Almada, que o alicia para a conjura da Restauração portuguesa. João regressa, pois, a Portugal e envolve-se numa série de intrigas que farão dele um dos heróis desconhecidos da revolução de 1 de Dezembro de 1640.»

quarta-feira, 27 de abril de 2016

Pluralidade e debate

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Se é certo que desde a implantação violenta da república o movimento monárquico português enfrenta terríveis dificuldades de afirmação, tal deve-se não só à repressão mais ou menos agressiva que sofreu, mas sobretudo à dificuldade que os seus apoiantes vieram demonstrando em estabelecer prioridades que, para lá do indispensável debate de ideias, privilegiassem uma mensagem clara e de unidade: o apoio incondicional a uma instituição representativa da nossa identidade transgeracional como Nação de 900 anos de história, isto é, na Coroa Portuguesa, cujos direitos dinásticos estão na pessoa do Senhor Dom Duarte, Duque de Bragança. 
Acontece que, sem que se veja sobressair um pensamento novo ou personalidade intelectual que marque a nossa geração, o debate entre as diferentes sensibilidades monárquicas nos dias que passam termina quase sempre em zangas tão insanáveis quanto pueris, o que compromete a já precária relevância pública da nossa Causa – nem que seja por desperdício de energias. 
Passados mais de cem anos sobre o 5 de Outubro de 1910, deveria constituir grande preocupação que a nossa geração não tenha ainda dado à luz uma obra digna desse nome para uma renovação do pensamento monárquico que fez história no século XX: então, tivemos personalidades ilustres e distintas como Jacinto Ferreira, João Camossa, João Taborda, Francisco Sousa Tavares ou Barrilaro Ruas, Mário Saraiva, António Sardinha, Hipólito Raposo, Pequito Rebelo, Almeida Braga, Alfredo Pimenta, e Alberto Monsaraz. Hoje, os poucos que pensam o assunto, as mais das vezes fazem-no levianamente nas redes sociais, consumindo-se numa disputa fratricida com os que afinal não deixam de ser seus correligionários. Se o debate de ideias é vital para a credibilidade e consistência da doutrina monárquica, mais decisiva será uma sã coexistência dos diferentes modos de pensar e de ler a realidade. Dessa forma enriquece-se a produção doutrinária e desloca-se o foco do conflito para aquilo que numa escala de valores correcta deveria ser o alvo prioritário da nossa acção: o combate ao ideário republicano (se é que ele existe) e aos (apesar de tudo poucos) facciosos que ainda o defendem. É nesse sentido que o Correio Real desde o seu primeiro número patrocina e desafia a contribuição de quantos se dignem a participar com diferentes opiniões e sustentadas perspectivas sobre História e Monarquia. 
Ainda que sob o signo do improviso e da falta de recursos, os inconformados bravos da Galiza que seguiram Paiva Couceiro para a rebelião armada, tradicionalistas ou liberais puseram de lado as suas bandeiras e sacrificaram-se pela mesma e comum causa maior: Portugal. Nisso devíamos seguir-lhes o exemplo, em homenagem aos nossos antepassados, em comunhão com o nosso Príncipe, para felicidade dos nossos sucessores.

João de Lancastre e Távora

terça-feira, 26 de abril de 2016

São Nuno de Santa Maria recordêmo-lo no sétimo aniversário da sua canonização

Nuno de Santa Maria é o oitavo santo do catolicismo português. Às virtudes da sua vida, assumidas segundo a experiência católica de olhar os outros e as coisas, acrescenta-se o facto do seu percurso biográfico estar intimamente relacionado com a História de Portugal, a sua independência e consolidação da nacionalidade.



Nascido a 24 de Junho de 1360, em Cernache do Bonjardim (actual distrito de Castelo Branco), o novo santo português foi um dos portugueses que mais profundamente marcaram a história do nosso país. Filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira, Prior dos Hospitalários de Portugal, e de D. Iria Gonçalves de Carvalhal, dama da Infanta Dona Beatriz (filha de D. Fernando), Nuno Álvares Pereira foi 3º conde Ourém, 7º de Barcelos e 2º de Arraiolos. Falecido em 1431, no Carmo de Lisboa, sabe-se que D. Duarte pediu para que se organizasse o seu processo de canonização em 1437, ou seja, apenas seis anos após a sua morte.

Primórdios

Adquiriu o título de «Condestável do Reino» devido aos méritos na guerra de 1385 entre Portugal e Castela. No Arquivo da Casa de Bragança existia, até ao terramoto de 1755, o diploma original no qual o Mestre de Avis, D. João I, lhe concedia o título de «Condestabre» do reino e, para lhe agradecer, o rei faz-lhe a doação do Condado de Ourém e de outras terras nomeadas. (Cf. Tarouca, Carlos da Silva – O «Santo Condestável» pode ser canonizado?. Brotéria. Lisboa. XLIX (1949) 129-140.) Na Torre do Tombo (Lisboa) existe também um documento – a cópia coeva, em pública forma, da carta do mesmo rei, com a qual, no Porto, a 8 de Novembro faz a doação ao mesmo D. Nuno Álvares Pereira, Condestável e Conde de Ourém, do Condado de Barcelos (Cf. Tarouca, Carlos da Silva).

Com esta documentação fica excluída qualquer dúvida a respeito da sua identidade e dos mais importantes feitos da sua vida. Para provar que D. Nuno e o Condestável eram a mesma pessoa basta recorrer a uma carta do Papa Urbano VI para o bispo de Viseu, a 8 de Dezembro de 1386, cujo original existia até ao referido terramoto no Carmo de Lisboa. Nela, o Papa chama Nuno, Conde de Barcelos, ao fundador do convento. Esta não é a única carta de Urbano VI ao Condestável. Segundo o cronista do Carmo, Pereira de Sant´Anna, o Papa envia-lhe dois documentos – assinados a 26 de Novembro de 1387 – onde realça: “Revalidava o que antes obtivera, para contrair matrimónio com a senhora D. Leonor de Alvim, sem embargo de parentesco” e a outra concede-lhe privilégios de missas para o conde, esposa e família.

Recorrendo ao artigo de Carlos da Silva Tarouca, encontram-se provas que D. Duarte pediu a canonização de D. Nuno Álvares Pereira. No Códice Ashburnham 1792 da Biblioteca Laurenziana de Florença existem dois volumes de originais, pertencentes à correspondência original que ao abade beneditino D. João Gomes chegava de Portugal. Neste códice encontra-se a carta original (publicada pelo Pe. Domingos Maurício: Brotéria VII-1928) de D. Duarte ao abade de Florença e seu conselho. Assinado a 21 de Julho de 1437, neste documento o rei português queixava-se de ainda não ter recebido “O desembargo que saiu do canonizamento do Santo Condestabre per que se tire a inquirição que sobre isto se costuma fazer”. Conclui-se que o Papa mandou começar o processo de canonização de D. Nuno Álvares Pereira.

O documento contém também mais informações que ajudam a compreender o início deste processo. Nele, D. Duarte envia a D. João Gomes (abade beneditino) a oração litúrgica – feita pelo infante D. Pedro (faleceu em 1449) – e o esboço do panegírico que devia ser pronunciado por ocasião da canonização. Tanto D. Duarte como os irmãos tomavam a sério o processo de canonização do condestável. Para prová-lo, existe uma cópia, tirada pelo cronista-mor do reino, Gomes Eanes Azurara, onde são elencados os milagres atribuídos à sua intercessão.

A «oração litúrgica» do Infante D. Pedro é um documento de importância capital, sendo a única fonte coeva, que fala claramente da santidade de vida. Este Códice da Cartuxa de Évora – actualmente está na Torre do Tombo – é a única fonte que conservou a data da morte do Beato Nuno: Dia de Páscoa de 1431, isto é, 1 de Abril.

Nascimento do culto

Em relação ao início do culto que se prestava ao Santo Condestável, Jorge Cardoso no «Hagiológia Lusitano» (Cardoso, George – Agiologio Lusitano III. Lisboa, 1666) e, sobretudo, José Pereira de Sant´Ana na sua «Crónica dos Carmelitas» (Sant´Anna, Joseph Pereira – Chronica dos Carmelitas da Antiga e Regular Observância I. Lisboa, 1745) relatam, longamente, além da sua vida virtuosa, os altares e imagens que lhe eram dedicados, as missas que se celebravam em sua honra, as trasladações das suas relíquias, as peregrinações ao seu túmulo, e as muitas graças e milagres que eram atribuídas à sua intercessão.

Perante tais relatos pensou-se logo em obter do Papa a confirmação deste culto pela beatificação e canonização. Sabe-se que D. Duarte estimava muito o condestável. Quando era infante visitava-o com frequência no Convento do Carmo e tomou a iniciativa de pedir a sua canonização (Cf. Maurício, Domingos – Para a história do culto do B. Nun´Alvres. Brotéria. Lisboa. VII. 1928).

Como o desejo não foi realizado, nos reinados de D. João IV e D. Pedro II, os prelados da corte enviaram uma súplica ao Papa a pedirem a canonização de D. Nuno Álvares Pereira, súplica que foi corroborada pelos monarcas.

«Ventilou-se esta questão nas Cortes de 1674, as últimas que se reuniram antes da revolução de 1820. Privado el-rei D. Afonso VI do governo em 1667, o regente seu irmão convocou Cortes que se reuniram em 20 de Janeiro de 1674, na sala dos Tudescos do Paço da Ribeira. O braço da nobreza reuniu separadamente, no dia 22, no Mosteiro de Santo Elói, para eleger os trinta na forma costumada; e eleitos os trinta, passaram a ter as suas sessões ás segundas, quartas e sextas-feiras em S. Roque, na Capela de Nossa Senhora do Pópulo. Foi na 12ª Sessão, segunda-feira, 22 de Março, que se discutiu a questão da canonização de Nuno Álvares Pereira.» (Martins, Oliveira – A vida de Nun`Alvares. Lisboa: Guimarães Editores, 1955)

O processo não teve o andamento desejado. Somente nos fins do século XIX, as diligências ganharam novo fôlego com as instâncias do Postulador Geral da Ordem dos Carmelitas. Em 1894, o então Cardeal Patriarca, D. José Sebastião Neto, nomeou juiz da causa o arcebispo de Mitilene, D. Manuel Baptista da Cunha, futuro arcebispo de Braga. Dadas as vicissitudes “dos últimos tempos da Monarquia e princípios da República, o processo só terminou no tempo do Patriarca D. António Mendes Belo” (Leite, António – A caminho da canonização do beato Nun´Álvares. Brotéria. Lisboa. LXX (1960). 617-627).

Enviado o processo para Roma, e feitas as diligências na Sagrada Congregação dos Ritos (actual Congregação para as Causas dos Santos), Bento XV, pelo decreto «Clementissimus Deus» da mesma congregação, com data de 23 de Janeiro de 1918, confirmava o culto prestado a Nun´Álvares, increvendo-o no número dos beatos (O texto do decreto encontra-se na «Acta Apostolicae Sedis», 10 (1918) 102 - 196).

Como é natural, a beatificação do santo condestável trouxe um grande incremento no seu culto. Em todas as dioceses começou a celebrar-se a sua festa litúrgica, 6 de Novembro.

Nas comemorações do VIII centenário da fundação da nacionalidade, em 1940, o governo português e os bispos das dioceses pediram ao Papa para que fosse reassumida a causa da canonização do Beato Nuno. Pio XII satisfez o pedido através de um decreto da Sagrada Congregação dos Ritos, com data de 28 de Maio de 1941 (O texto do decreto encontra-se na «Acta Apostolicae Sedis», 33 (1941) 399 - 400).

O número de testemunhos episcopais acerca da santidade de Nuno Álvares é considerável, sendo vários os tornados públicos a seguir à beatificação, nos centenários do nascimento e da morte, e na peregrinação das Relíquias pelo País, em 1960, atura em que foi publicada uma Pastoral Colectiva do Episcopado.

O processo de canonização do Beato Nuno foi reaberto a 13 de Julho de 2003, nas ruínas do Convento do Carmo, com sessão presidida por D. José Policarpo. O cardeal Patriarca definiu nessa celebração o Beato Nuno de Santa Maria como um modelo a seguir por todos os que exercem funções de responsabilidade. “Ele é um exemplo de um cristão que exerceu as suas missões civis com a coerência de um cristão” – sublinhou.

A 1 de Maio de 2004, nas comemorações dos 150 anos do Dogma da Imaculada Conceição, o Santuário de Vila Viçosa recebeu as relíquias do beato. Na homilia da celebração, D. Maurílio de Gouveia, então arcebispo de Évora, disse aos peregrinos que, nas constantes deslocações e correrias por caminhos de Portugal, D. Nuno dava “um testemunho inquebrantável da fé cristã; norteavam-no os critérios do Evangelho; alimentava-o a oração e, sobretudo, a Eucaristia”. E acrescentou: “Trabalhou, como poucos, talvez como ninguém, pela defesa e pelo progresso do seu torrão natal”.

A notícia esperada surgiu a 21 de Fevereiro de 2009, quando Bento XVI anunciou a canonização do «Condestabre». Um caminho longo – cerca de 578 anos - que culmina, a 26 deste mês, com a inscrição de Nuno Álvares Pereira no álbum dos santos.

Luis Filipe Santos

Fonte: Spe Deus

segunda-feira, 25 de abril de 2016

Quando a arrogante desfaçatez é ilimitada

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Uma das primeiras medidas do governo Costa (Afonso), foi a do confisco das propriedades da Casa de Bragança, incluindo estes os bens pessoais de D. Manuel II, de D. Amélia, de D. Maria Pia e do infante D. Afonso Henriques e os patrimoniais que faziam parte do único morgadio existente e constitucionalmente consagrado no país. 

Os ingleses ficaram furiosos e enviaram uma seca mensagem ao governo do dito Costa (Afonso), avisando-o de que não aceitariam tal coisa, não se ralando minimamente em esticar o tempo e à inglesa deixar o "novo regime" empastelar meses a fio sem o urgente reconhecimento internacional. Há que não esquecer que naquela época Portugal não estava reduzido à sua actual e mais ínfima dimensão, contando com um Ultramar que seria facilmente ocupado pelas potências com quem tínhamos relações. Como seria normal, não sendo a república reconhecida por um único Estado, os navios portugueses eram obrigados a deixar os portos nacionais com a flâmula inspirada no pano da carbonária - o que ainda temos como bandeira nacional - e passadas as águas territoriais, logo hasteavam a bandeira azul e branca, impedindo assim serem considerados navios piratas ou algo do género. Muito mais tarde, na Paris mergulhada na Primeira Guerra Mundial, em 1916 João Chagas veria com choque e espanto a antiga bandeira esvoaçando nos principais hotéis da capital francesa, prova de que para a maioria dos estrangeiros, a república era uma existência simbolicamente ignorada e na prática assim permaneceu mesmo até depois do fim da guerra. Os postais alegóricos demonstram-no.

Entretanto, ainda nos finais de 1910, em Lisboa e por intermédio dos seus correligionários a quem foram concedidos pelouros de decisão governamental, o Costa (Afonso) ia fazendo calmamente o seu programa que ia muito para além da declaração de guerra à Igreja, o ataque e saque de conventos, espancamento ou assassinato de adversários reais ou imaginários, destruição de jornais, adulteração e cerceamento dos cadernos eleitorais. Colocou bens pessoais da realeza deposta em hasta pública, algo que segundo as felizmente existentes más-línguas do costume, terá beneficiado muita gente que lhe era próxima. 

Como se vê, os actuais maus hábitos têm antecedentes. Sai o titular do cargo de gerência de bens roubados e logo é substituído a título provisório por um regente

Na 1ª república desapareceram jóias, móveis, quadros, roupa das rainhas e sabe-se lá mais o quê. Inicialmente chegaram ao ponto de pensar em tornar a Ajuda no palácio presidencial, mas a opinião pública não era de fiar, ainda por cima já entusiasmada pelo presidente que segundo se dizia em voz embargada de emoção e em bucólicos lirismos à medida da Ilustração Portuguesa, "era tão sério, tão sério, tão sério e tão modesto que ia de eléctrico para Belém, pagava renda pelo uso do Palácio e correspondentes contas de electricidade." Quanto à água para os hipotéticos banhos ao fim de semana, disso não rezam as croniquetas. Curioso seria sabermos hoje quanto simbolicamente terá desembolsado por todos esses exotismos: 1$00? 2 ou 3 Escudos?

Sabe-se o que sucedeu. O novo regime esteve longos meses sem o reconhecimento internacional e a França foi, uma vez mais por sugestão inglesa, o primeiro Estado a fazê-lo. Tal ocorreria após a formal devolução ao rei D. Manuel II, daquilo que hoje em mais reduzida parte forma a Fundação da Casa de Bragança. Mas este caso de gula estrangulada não ficou esquecido. 

Estiveram os bens da C de B na legalidade até ao passamento do monarca, em 1932. Salazar viu então uma oportunidade para liquidar de vez esta questão, apossando-se "o Estado" do apetitoso bolo que pelos ingleses lhe fora negado duas décadas antes. 

Assim tem permanecido este descarado roubo desde então, servindo de coio para todo o tipo de amigos das várias trambiqueirices que se vão sucedendo umas às outras. 

Aqui como em todos os labirintos do querer é poder, também a segunda república deixou descendentes na terceira que enjeita a mãe e a avó. 

E isto não mudará, quanto a factos consumados não tenhamos ilusões.

Nuno Castelo-Branco

Fonte:  Estado Sentido

domingo, 24 de abril de 2016

Barrigas Remax, não!

É hora de as mulheres livres de Portugal exigirem o respeito que é devido ao seu corpo e à sua dignidade. A maternidade não se aluga: há-de ser sempre um exercício de liberdade e de amor responsável.

Que me desculpem os deputados, mas o parlamento, cada vez que aborda uma questão mais sensível do ponto de vista ético, parece contagiado por um frenesim quase histérico, que contradiz a ponderação e o sentido de responsabilidade que seria de esperar de uma tão ilustre assembleia. Com efeito, as denominadas causas fracturantes sucedem-se ao ritmo alucinante das actuações circenses e, em vez de se legislar para o bem comum e a favor das pessoas e das famílias mais carenciadas, parece que só se procura agradar às claques partidárias, cumprir agendas internacionais que nada têm a ver com o interesse nacional e satisfazer ululantes grupos de interesses e de pressão.
Este parlamento já aprovou – depois de ter muito democraticamente ignorado uma petição popular subscrita por mais de cinquenta mil eleitores – a generalização e a banalização do aborto gratuito, bem como a aprovação da co-adopção por casais do mesmo sexo. E já estão na calha a aprovação da ‘morte assistida’ e as malfadadas ‘barrigas de aluguer’… A este ritmo, em breve acaba-se com Portugal!
Se, em relação ao aborto e à eutanásia, houve o cuidado de maquilhar a realidade com a cosmética do eufemismo, patente nas denominações ‘interrupção voluntária da gravidez’ e ‘morte assistida’ respectivamente, o mesmo ainda não aconteceu com as ‘barrigas de aluguer’: a brutalidade desta expressão traduz muito bem a monstruosidade da correspondente realidade. É certo que, em ambientes políticos mais sofisticados, prefere-se falar de ‘maternidade de substituição’. Mas a realidade é sempre a mesma, ou seja, a possibilidade de uma mulher gestante ceder o seu ventre para que outra, incapaz de engravidar, possa nela gerar uma criança. A coisa parece relativamente simples, mas já não é tão claro saber quem é a mãe do referido filho, a não ser que o dito, ao contrário dos restantes mortais, seja condenado a não ser, com perdão, filho da mãe.
É verdade que os defensores das ‘barrigas de aluguer’ excluem, com muita determinação, qualquer possível comercialização do ventre feminino, pelo que o inquilino não teria que pagar nenhuma renda pelo alojamento intrauterino, nem a senhoria estaria sujeita ao IMI. Contudo, quem há que se disponibilize para transportar, gratuitamente, o filho de outrem, no seu próprio ventre, meses a fio?! E se a gravidez não correr bem, por negligência da gestante que, por hipótese, não observou o descanso conveniente, quem será responsável: a mãe contratante ou a mãe contratada?! Se o filho nascer com alguma deficiência, quem ficará com ele?! E que mulher vai correr esse risco, sem nenhuma garantia ou razão económica que o justifique?!
Mesmo que, inicialmente, a denominada maternidade de substituição venha a ser exercida gratuitamente, a verdade é que, com o tempo, as barrigas serão mesmo de aluguer. Também quando primeiro se falou da despenalização do aborto, só se previam os casos muito excepcionais de violação, ou de má formações do feto, mas hoje é à vontade da freguesa, mesmo quando a concepção foi livre e voluntária e o feto é perfeitamente saudável. Também quando se aprovou o casamento de pessoas do mesmo sexo, os defensores desta causa fracturante juravam a pés juntos que não estava em causa a adopção, que a lei actual já lhes faculta.
Talvez as ‘barrigas de aluguer’ sejam uma modernice, mas mulheres de aluguer sempre as houve … Não é verdade que seja a mais antiga profissão do mundo, porque há ofícios mais remotos e essa ocupação não tem, decididamente, a nobreza de uma profissão. Mas que é uma prática infelizmente muito antiga, decerto que o é. Como também ninguém pode ignorar – sem que por isto se ponha em causa a dignidade das mulheres que, segundo o Evangelho, precederão os fariseus no reino dos céus … – a ignomínia a que está ligada uma tal actividade: ainda hoje, um dos piores insultos é dizer de alguém que é filho de quem se permitiu um tal aluguer… Tanto dá, para o efeito, que seja só da barriga ou do corpo inteiro, pois o arrendamento não ganha dignidade pelo número de assoalhadas em causa.
Por isso, em boa hora o Parlamento Europeu, no seu Relatório anual sobre os direitos humanos e a democracia no mundo e a política da União nesta matéria, aprovou, no passado 17 de Dezembro de 2015, a seguinte resolução: “Condena a prática de gestação para outrem, que compromete a dignidade humana da mulher, pois o seu corpo e as suas funções reprodutoras são utilizadas como mercadoria; considera que a prática de gestação para outrem, que envolve a exploração reprodutiva e a utilização do corpo humano para ganhos financeiros ou outros, nomeadamente de mulheres vulneráveis em países em desenvolvimento, deve ser proibida e tratada com urgência em instrumento de direitos humanos” (nº 115).
Por cá, segundo o Público de 29 de Março último, também o Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida deu parecer negativo ao projecto do Bloco de Esquerda sobre a ‘gestação de substituição’ porque, no seu douto entender, não salvaguarda os direitos da criança, nem da mulher gestante. Mas, o parlamento dará ouvidos ao Conselho Nacional de Ética?!
É hora de as mulheres livres de Portugal se levantarem para exigir o respeito que é devido ao seu corpo e à sua dignidade! A maternidade há-de ser sempre um exercício de liberdade e de amor responsável e nenhuma mulher se deverá sujeitar à indignidade de um aluguer que, mesmo que seja só do seu corpo, é na realidade uma inaceitável exploração da sua condição feminina. Mulheres livres, sim; mães responsáveis, também. Barrigas Remax, não! Nunca!

Fonte: Observador

sábado, 23 de abril de 2016

Salon de thés « Dona Amelia »

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Le Portugal continental offre des pâtisseries réputées: la halte à la plus ancienne pâtisserie de Lisbonne où l’on peut manger les fameux  «pastéis de Belem» (ou pastéis de nata) est un passage obligé pour qui vient visiter la Tour d’où partirent les conquistadores et le célèbre monastère des Jéronimos tout proche. Sintra propose lui aussi ses queijadas qui font le bonheur des gourmands …

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La région des Açores a elle aussi une grande et longue tradition de pâtisserie, les îles Graciosa et Terceira étant les plus réputées dans ce domaine. Les vitrines des cafés et salons de thé açoriens abondent de toutes sortes de petits gâteaux  parmi lesquels le « Dona Amélia», la plus célèbre des spécialités sucrées de l’ île. Autrefois appelé « indiano » en raison des épices exotiques entrant dans sa composition, le «Dona Amélia» doit son nom le plus récent à Amélie d’Orléans Bragance, dernière reine du Portugal, dont l’époux (le roi dom Carlos Ier) et le fils aîné furent assassinés il y a plus d’un siècle.

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En effet, lors de sa visite à Terceira en 1901 , la reine l’apprécia tant qu’on le rebaptisa alors ainsi en son honneur.

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Le « Dona Amélia » est un petit gâteau à base de farine de maïs (maïzena) de couleur brune au goût très caractéristique de cannelle et de miel de canne ( un ingrédient abondamment utilisé dans la pâtisserie des archipels des Açores et de Madère) , à la texture dense et fondante.

S’inspirant de cette anecdote royale, une nouvelle enseigne baptisée «Rainha D Amélia Confeitaria» (3 boutiques-salons de thé sur Lisbonne) propose les fameuses pâtisseries…pour se délecter sans modération…

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L’enseigne a en guise de logo le portrait stylisé de la reine , et l’élégant salon de thé est décoré de vieilles photos sépias de la reine et de sa famille ainsi que de l’anecdote de la visite de Terceira sur un des  murs.

sexta-feira, 22 de abril de 2016

SAR, D. Duarte de Bragança: “País tem que dar prioridade ao conhecimento”



“É fundamental que o país perceba que tem que dar prioridade ao conhecimento, porque hoje o problema português é o custo da ignorância”, atirou o presidente da Fundação D. Manuel II, D. Duarte Pio, antes da entrega do Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015, que decorreu, ontem, no salão nobre da Câmara Municipal de Guimarães.

‘O papel da relaxia na insuficiência cardíaca com fração de ejecção preservada: do laboratório à prática clínica’ foi o trabalho vencedor, uma proposta apresentada pela candidata Mariana Pintalhão, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto. A entrega do prémio, que conta com a parceria da Fundação D. Manuel II, da Universidade do Minho e do Município de Guimarães, foi feita por Dom Afonso, Príncipe da Beira.

Ainda durante o discurso, D. Duarte Pio lamentou “as muitas decisões tomadas quando vieram os dinheiros da União Europeia”. E o duque de Bragança explicou: “foram decisões que, do ponto de vista económico, não eram aceitáveis. Produziram-se muitas coisas que não produzem riqueza, são luxos para um país rico, como por exemplo, o Centro Cultural de Belém, a Expo, os campos de futebol, as autoestradas a mais em zonas que não têm trânsito e viadutos em exagero”. 

O presidente da fundação apontou ainda o dedo ao “muito desenvolvimento que não correspondeu ao verdadeiro progresso e isso é fruto da ignorância e das muitas obras que foram feitas para que os amigos ganhassem algum dinheiro com isso”. A corrupção em Portugal, continuou aquele responsável, “tem ‘comido’ 5% do orçamento de Estado português e esse é o valor do nosso défice”, defendendo que “o investimento na investigação é reprodutivo a médio e longo prazo”.

Também o presidente da Câmara Municipal de Guimarães, Domingos Bragança, defendeu que “importa produzir conhecimento, obter formação mas importa também transferir esse conhecimento para a sociedade para que haja desenvolvimento, bem-estar e qualidade de vida”. E Domingos Bragança foi peremptório: “temos excepcionais condições, gente bem formada, investigadores preparados e Guimarães é um exemplo disso para promover o conhecimento e a transferência do conhecimento”. O autarca acredita “convictamente” que é este caminho a percorrer. “Este é o caminho que vai fazer com que a cidade berço faça com que o país seja uma referência a nível europeu e internacional”, afirmou.

O vice-reitor para a Investigação da UMinho e presidente do júri do prémio, Rui Reis, adiantou que das 34 candidaturas apresentadas havia alguns projectos interessantes. “O trabalho vencedor trata de uma área com muito potencial e que pode gerar melhores resultados científicos. Trata-se de um trabalho extremamente interessante e trabalha sobre um crescente problema de saúde pública”.

A premiada, Mariana Pintalhão, elogiou “a muita tradição” que o nosso país tem na área da investigação científica. A insuficiência cardíaca com fracção de ejecção preservada é, afirmou a investigadora, “um crescente problema de saúde pública, no entanto, o seu diagnóstico é difícil”. A relaxia apresenta-se agora como uma molécula “muito promissora” e os 15 mil euros do prémio vão ajudar a continuar o projecto.






quinta-feira, 21 de abril de 2016

Crime de Lesa-majestade – Parte II

Partida Exílio


Rei de todos e para todos, suprapartidário, independente, acima de intrigas políticas, justo e recto, Dom Manuel II nunca foi fonte de qualquer crise ou problema político.
Se no Paço existiam acções negativas não eram causadas pelo Rei, talvez não se possa dizer o mesmo de alguns áulicos, da Velha Nobreza, que com ideias demasiado aristocratizantes e com aquele‘prazer aristocrático de desagradar’, de que falava Beaudelaire, despertavam as invejas da burguesia política e social.
Também, era ensejo dessa burguesia político-social apropriar-se do poder definitivamente, mesmo aqueles que o liberalismo fizera Pares porque haviam alcançado estatuto social baseado na acumulação de bens, mas porque sem pingo de nobreza baseada no modelo de nascimento que funcionava como o mais importante classificador social em que a antiguidade era o bem fundamental da linhagem, carregavam esse estigma que os diferenciava da nobreza de espada… dos Grandes de Portugal.
Já Sua Majestade o Rei Dom Manuel II calcorreava, ainda, o País de lés a lés, onde o Povo o aclamava entusiasticamente e exortava de alegria à Sua passagem, sugestionados não já pela expressão superlativa da imagem real – Ele que tinha por avoengos os Imperadores romanos da Dinastia Comnenus e Paleólogo, os Reis Capetos de França, a estirpe real dos Orleães, os Saxe-Coburgo e Gotha, os Imperadores da Hispânia, o Rei Fundador Afonso Henriques -, mas porque percorria as ruas sondando e interagindo com o Seu Povo, visitando os doentes nos hospitais, levando-lhes o tão importante conchego espiritual, mostrando-se português em tudo e não se fazendo esquisito em estender a mão a qualquer súbdito e a dirigir a Sua palavra cordial a qualquer um. Às visitas do Rei, em qualquer localidade deste Portugal, como no Porto ou Viana do Castelo, acudia o Povo e a nobreza urbana e rural, com ruidosas manifestações de sentimento e dedicação, pelo que mais do que nunca o trono do Rei de Portugal era alçado não num estrado, mas erguido nas bases sólidas do direito público nacional e escorado na dedicação recíproca entre Monarca e Povo.
REi Dom Manuel II no Porto
Mas na política as crises sucediam-se e Júlio de Vilhena que se propunha formar um governo de combate, foi finalmente convidado por Dom Manuel II, mas para formar um governo que pudesse ser apoiado por todos e estabelecesse um período de trégua política entre os partidos. Vilhena não correspondeu com a diligência que se impunha ao mandado d‘El-Rei e deu-se por vencido avançando como razão lhe ser impossível conciliar os dissidentes e os teixeiristas com os progressistas. Foram então, também, encarregados de organizar o governo Teixeira de Sousa, António de Azevedo, Anselmo de Andrade e Wenceslau de Lima. Incumbe formar governo a Teixeira de Sousa, amigo pessoal de Bernardino Machado, Afonso Costa, Brito Camacho e França Borges. Teixeira de Sousa, aquele que considera que o  governo estava sempre com a liberdade, ou melhor liberalidade, e não com a tradição. Assim, tal como os republicanos, estabeleceu como adversários primordiais os clérigos e o ultramontismo.
Emergiu então, do lado monárquico um coro oposicionista de progressistas, vilhenistas, henriquistas, franquistas e nacionalistas, todos Paivantes e todos contra o governo.
O Rei apela a uma trégua nas lutas partidárias, mas não é ouvido!
O Rei e as instituições da Monarquia nunca foram os bloqueadores do funcionamento das instituições políticas, mas os que mais contribuíam para o seu funcionamento, porém a política e terreno podre.
‘Praticam actos que impedem a vida regular dos governos o Júlio Vilhena, a minoria, o Presidente da Câmara, a maioria?! O culpado sou eu, e eu só é que devo conseguir tudo, senão… não poderei contar com a fervorosa dedicação dos que eu agora abandono!… Mas quem é que eu abandono?! Tenho trabalhado com a máxima sinceridade e dedicação ao meu País e tenho feito, como bem sabe, tudo o possível para harmonizar! Sou eu, que tenho provocado os conflitos na Câmara? Sou eu que tenho acirrado a vivacidade das paixões políticas? De mim tudo se exige! Não poderei eu pedir aos políticos que por amor do País atenuem um pouco isto tudo?!’, escreveria um atilado Rei Dom Manuel II a José Luciano de Castro, fazendo ver o quanto os políticos com as suas questiúnculas estavam a prejudicar o País e a Coroa, a quem depois imputavam culpas, não merecidas, pela inaptidão própria destes homens que se meneavam em jogos dos interesses partidários.
Em 1909, apercebendo-se que a política desestabilizava a Monarquia, D. Manuel II contrata a expensas suas, o Sociólogo e politólogo francês Léon Poinsard, para este elaborar uma exposição sobre a situação política do País. No relatório final o francês defendeu que a solução passaria por debelar os clientelismos fruto do Rotativismo e que se devia reestruturar a administração local, e como resultado natural aconteceria a necessária reforma política. Mais fácil dizê-lo do que fazê-lo e o Monarca encontra a oposição dos políticos que na sôfrega preocupação em colher o pão diário – e algo mais – anulariam qualquer tentativa de reformar o regime político do constitucionalismo monárquico. Consequência do ‘tudo como dantes no quartel-general de Abrantes’, a situação política degrada-se e sucedem-se sete governos em apenas 24 meses.
Teixeira de Sousa invoca a herança regeneradora da lei de imprensa de 1866, o código administrativo de Rodrigues Sampaio de 1878, a electividade dos pares de 1885 e a lei eleitoral de 1884. Sem lei nem ordem, a propaganda republicana, as manifestações, os atentados sucedem-se. De acordo com Júlio de Vilhena seguiram-se cem dias tresmalhados que acabam com a dissolução das Cortes, logo em 27 de Junho. No Conselho de Estado, votaram contra a dissolução Júlio de Vilhena, Veiga Beirão e José Novais. Foram de parecer favorável Pimentel Pinto, António de Azevedo, Melo e Sousa e Wenceslau de Lima.
Na impossibilidade do ‘governo intermédio’ que desejava o Rei e que se exigia para o país e regímen, marcam-se eleições para 28 de Agosto.
Os republicanos cavalgam a onda e a 22 de Julho, José Relvas, Magalhães Lima e Alves da Veiga, mandatados pelo Partido Republicano Português, deslocam-se a Paris e Londres para contactos diplomáticos, regressando com o apoio da internacional maçónica, lembrando uma outra reunião, numa deslocação a Paris, em 1907, em que o supra-mencionado comité revolucionário, urdira com um grupo de revolucionários anarquistas franceses o atentado para assassinar a Família Real. Com o falecimento do amigo de Portugal e da Família Real, o Rei Eduardo VII, o novo governo liberal britânico não tem qualquer interesse na manutenção da Monarquia em Portugal, até porque seria mais fácil com um novo e desestabilizado regímen republicano esbulhar as cobiçadas colónias portuguesas de África.
Ainda, em Julho, deu-se a solene instalação das oposições monárquicas e o Governo de Teixeira de Sousa, a 19 de Agosto, dizendo temer um movimento revolucionário das oposições monárquicas, põe as tropas de prevenção: errou o alvo!
Novas eleições! Na 46ª eleição geral – a 37ª eleição da 3ª vigência da Carta – realizada a 28 de Agosto de 1910, pouco mais de três meses antes da revolução que instaurou a República, a ida às urnas traduz-se numa vitória dos Governamentais de Teixeira de Sousa (58%), mas sobretudo numa vitória dos Partidos Monárquicos (91%) contra uns meros 9% do Partido Republicano Português que não traduz em voto popular o barulho que faz nas ruas, pois esse é feito pelos seus acólitos e não pelo justo e bom Povo que é Monárquico. Abre o parlamento em 23 de Setembro, mas as questiúnculas partidárias mantêm-se, e no dia seguinte as Cortes são adiadas sine die.
Os Resultados Eleições 1910
Em 3 de Outubro de 1910, Miguel Bombarda, que era uma das figuras proeminentes dos republicanos é assassinado por um doente mental e os seus camaradas aproveitam e urdem uma teoria da conspiração: o médico fora assassinado a mando da Coroa! Num jantar com o Rei Dom Manuel II o presidente brasileiro de visita ao País informa Sua Majestade que se previam tumultos; Teixeira de Sousa quer pôr o exército em estado de alerta, mas o Gabinete não entende ser necessário. Dom Afonso Henriques, o último Condestável do Reino e tio do Rei parte para a Cidadela de Cascais, o Rei fica mal guardado nas Necessidades, a jogar bridge com alguns dos seus mais dedicados áulicos.
De madrugada os republicanos apoiados no seu braço armado, uns 3.000 primos da Carbonária, assumem posições e perfilam-se para o combate. A Capital estava nas mãos inexperientes do nervoso governador militar Rafael Gorjão. O carbonário Machado dos Santos assalta o paiol do quartel de Campo de Ourique – sem resistência que se justifique relatar -, e segue com a sua milícia de maltrapilhos para a Rotunda. No Tejo o Adamastor e o S. Rafaelamotinam-se, o D. Carlos permanece fiel. Cândido dos Reis, perante a manifesta incapacidade da Carbonária se apoderar do Arsenal do Exército e julgando tudo perdido, suicida-se. A artilharia 1 coloca-se ao lado dos revolucionários, mas sem sair para a rua. Na Rotunda os terroristas acantonam-se, junta-se-lhe a súcia de Lisboa que vai engrandecendo a unidade da ralé, os comandantes monárquicos ficam impávidos e não atacam. O Comandante Paiva Couceiro – o único oficial que se bateria com denodo em defesa da Coroa e da Monarquia – em torno do qual se haviam colocado as oposições monárquicas, que pernoitava em Cascais, é posto ao corrente da situação. Dirige-se ao seu quartel, mas os seus homens já haviam saído, junta-se-lhes e verifica que a moral dos soldados está em baixo. Começam as deserções em todos os quartéis que ainda se mantinham do lado do regime legítimo. Algumas centenas de cavaleiros do Regimento de Lanceiros 2 ajudam o Comandante, mas o terreno era pouco propício para a arma de cavalaria.
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A luta intensifica-se nas ruas, os ministros da Guerra e da Marinha estão completamente desorientados, o Palácio das Necessidades começa a ser bombardeado e o Rei em perigo e sem protecção de artilharia que havia sido desviada para fazer frentes aos revolucionários da Rotunda, é aconselhado via telefone pelo presidente do Governo a ir para Mafra; o Rei recusa, mas os áulicos insistem e insistem e o jovem Rei anui. O Rei quase perde a vida quando uma granada é atirada contra o automóvel em que seguia a caminho de Mafra, ainda que não soubessem que nele seguia Dom Manuel II vestido à civil, contrariamente ao que pretendia, pois quis substituir o anterior uniforme de gala e vestir o uniforme de marechal-general, mas não o deixaram. O Rei já não reinava… sequer!
Às 22 horas a corveta D. Carlos cai nas mãos dos marinheiros revoltosos e a Monarquia caía com as ameaças de bombardeamento sobre as forças monárquicas. Apenas 60 homens perderam a vida nesse dia, o que mostra a insipiência dos combates. A Monarquia cai! Ou melhor a Monarquia não caiu, deixaram-na cair.
‘Os crimes da república, tornados possíveis pela desgraçada incapacidade monárquica e pela indiferença da maioria dos portugueses, estão agora dando o seu fruto, que, quando absolutamente maduro, será a derrocada de tudo! Estamos chegados ao “fim do fim”!’ haveria de escrever S.M.F. El-Rei Dom Manuel II de Portugal.
No dia 5 de Outubro de 1910 na varanda da Câmara Municipal de Lisboa José Relvas, acompanhado de por exemplo Inocêncio Camacho, proclama a república diante dos 300 ou 400 maltrapilhos das milícias carbonárias, mas perante a indiferença dos populares que passavam, muitos dos quais nem sabiam o que se tinha passado. Um dos que compunham a varanda vira-se para outro e exclama: ‘eles já comeram muito agora é a nossa vez!’
Horas após o golpe revolucionário El-Rei Dom Manuel II e último de Portugal, juntamente com Sua augusta Mãe, Avó e restante comitiva de fiéis monárquicos, embarca numa barqueta de pescadores rumo ao Yacht Amélia onde os aguardava o Infante D. Afonso de Bragança.
Partida para o Exílio
‘Forçado pelas circunstâncias, vejo-me obrigado a embarcar no iate Real “Amélia”. Sou Português e sê-lo-ei sempre. Tenho a convicção de ter sempre cumprido o meu dever de Rei em todas as circunstâncias e de ter posto o meu coração e a minha vida ao serviço do meu País. Espero que Ele, convicto dos meus direitos e da minha dedicação, o saberá reconhecer. Viva Portugal!’,declarou El-Rei O Senhor Dom Manuel II de Portugal.
O Rei deposto, mas que ainda não se dera por vencido olha o mar de frente, sem se despedir da Terra Portugal, que não imaginava, ainda, não voltaria a ver. Julgava ir para o Porto onde organizaria a resposta monárquica ao coup – daí ter pretendido abandonar o Paço de pequeno uniforme de generalíssimo, mas pouco depois o comandante do navio, ‘para segurança de Sua Majestade’, recusa essa responsabilidade até porque disse recebera ordens do presidente do Governo para rumar a Gibraltar; o presidente do Conselho era mais um repentinamente convertido em republicano, iniciando a que seria uma enorme onda de adesivismo, maculando-se todos esses traidores ‘monárquicos’ com um Crime de Lesa-majestade.
Os italianos recolheram a Rainha Dona Maria Pia e depois, já em Gibraltar, El-Rei Dom Manuel II e a Rainha Dona Amélia embarcariam no iate particular do seu primo o Rei George V do Reino Unido, encaminhando-se o último Rei de Portugal para o exílio em Inglaterra.
Miguel Villas-Boas

quarta-feira, 20 de abril de 2016

DISCURSO DE SAR O SENHOR D. AFONSO, PRÍNCIPE DA BEIRA | PRÉMIO PRINCIPE DA BEIRA



Discurso de SAR o Senhor D. Afonso de Santa Maria, Príncipe da Beira, Duque de Guimarães, na qualidade de Patrono e no âmbito da Cerimónia de Atribuição do Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015, que decorreu no Salão Nobre da Câmara Municipal de Guimarães, no dia 13 de Abril de 2016.

terça-feira, 19 de abril de 2016

DISCURSO DE SAR O DUQUE DE BRAGANÇA | PRÉMIO PRÍNCIPE DA BEIRA



Discurso de SAR o Senhor Dom Duarte Pio de Bragança, Duque de Bragança, na qualidade de Presidente da Fundação D. Manuel II, no acto inserido na Cerimónia de Atribuição do Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015, que decorreu no dia 13 de Abril de 2016, no Salão Nobre da Câmara Municipal de Guimarães.

segunda-feira, 18 de abril de 2016

Romaria de São Nuno de Santa Maria - Cernache do Bonjardim




São Nuno de Santa Maria estará em destaque na quarta edição da romaria que se realiza em sua honra de 22 a 24 de Abril em Cernache do Bonjardim. Religião, “Produtos da Terra”, tasquinhas, concerto com José Cid e a conferência alusiva aos 30 anos da Rádio Condestável serão os pontos altos da romaria. Promovida conjuntamente pela Câmara Municipal da Sertã e pela União de Freguesias de Cernache do Bonjardim, Nesperal e Palhais, esta romaria pretende perpetuar a memória e o legado de Nuno Álvares Pereira, natural de Cernache do Bonjardim e exemplo ímpar de dedicação à Igreja e aos mais necessitados, nos seus últimos anos de vida, não esquecendo as suas qualidades de estratega, guerreiro e defensor de Portugal.

Figura indelével da História de Portugal, Nuno Álvares Pereira nasceu em 1360, nos Paços do Bonjardim, em Cernache do Bonjardim, Concelho da Sertã. Filho de D. Álvaro Gonçalves Pereira e Iria Gonçalves, Nuno Álvares Pereira foi nobre, guerreiro e carmelita e apoiou as pretensões de D. João Mestre de Avis (D. João I) à coroa, tendo desempenhado um papel decisivo durante a crise de 1383-1385: as vitórias nas batalhas de Atoleiros, Aljubarrota e Valverde garantiram a consolidação da independência portuguesa face ao reino de Castela.
Após o falecimento de sua esposa, Nuno Álvares Pereira ingressou na Ordem dos Carmelitas em 1423, no Convento do Carmo que mandara construir em Lisboa, para cumprir um voto. Tomou o nome de Irmão Nuno de Santa Maria. Faleceu a 1 de Novembro de 1431. Foi beatificado em 1918 pelo Papa Bento XV e canonizado a 26 de Abril de 2009 como São Nuno de Santa Maria pelo Papa Bento XVI, em Roma.
Fonte: Rádio Hertz

domingo, 17 de abril de 2016

Guimarães recebeu cerimónia de entrega do Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015 (vídeo)



Guimarães acolheu a cerimónia de entrega do Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015, que este ano premiou a aluna Mariana Pintalhão, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, com o trabalho intitulado “Papel da Relaxina na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejecção Preservada: Do Laboratório à Prática Clínica”.

Depois de analisadas 34 candidaturas, o júri decidiu ainda atribuir, unanimemente, uma Menção Honrosa ao trabalho proposto pelo candidato Raphaël Canadas, intitulado “Modelo 3D de Tecido Osteocondral como uma Plataforma Tecnológica para Investigação In vitro de Novos Fármacos: Estudo das Alterações Moleculares e Celulares Durante a Progressão da Osteoartrite”.

A insuficiência cardíaca com fração de ejecção preservada (ICFEP) é um crescente problema de saúde pública, representando cerca de metade dos doentes com insuficiência cardíaca. No entanto, o seu diagnóstico é difícil e não existem, até ao momento, terapêuticas eficazes. A relaxina apresenta-se como uma molécula muito promissora neste contexto.

Com este projecto, pretende-se avaliar o papel da relaxina circulante como um novo biomarcador de diagnóstico e prognóstico nos doentes com ICFEP, bem como caracterizar o efeito da relaxina na função miocárdica e vascular humana. Este conhecimento poderá ser de grande valor para o diagnóstico precoce destes doentes e abrir novos horizontes para o desenvolvimento de estratégias terapêuticas que permitam uma melhoria dos cuidados de saúde dos doentes com ICFEP.

O Prémio Príncipe da Beira Ciências Biomédicas, instituído pela Fundação D. Manuel II, pela Universidade do Minho e pelo Município de Guimarães, consiste num galardão, no valor de 15 mil euros, que visa distinguir um investigador de excelência na área, com menos de 40 anos, pretendendo apoiar o seu plano de pós-graduação a realizar numa instituição de I&D nacional e/ou estrangeira.

A iniciativa tem como objectivo primordial premiar anualmente a excelência da investigação e contribuir para abrir novos caminhos na investigação aplicada e ética no domínio das ciências biomédicas. Pretende também colaborar para o desenvolvimento de terapias avançadas e impulsionar o desenvolvimento de uma nova geração de investigadores com formação focada naquela área científica.




Fonte: GMRtv

sábado, 16 de abril de 2016

FUNDAÇÃO D. MANUEL II ENTREGOU PRÉMIO PRÍNCIPE DA BEIRA EM CIÊNCIAS BIOMÉDICAS 2015

Fundação D. Manuel II entregou Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015


Decorreu esta quarta-feira no salão nobre da Câmara Municipal de Guimarães, a cerimónia de entrega do «Prémio Príncipe da Beira em Ciências Biomédicas 2015».

Trata-se de um prémio instituído pela Fundação D. Manuel II, com o apoio da Universidade do Minho e pelo Município de Guimarães.
A concurso apresentaram-se 34 candidaturas, tem sido declarada vencedora a proposta apresentada por Mariana Pintalhão, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, que recebeu um prémio de 15 mil euros pelo trabalho «Papel da Relaxina na Insuficiência Cardíaca com Fração de Ejecção Preservada: Do Laboratório à Prática Clínica».
Na sessão de entrega do prémio, D. Duarte de Bragança salientou a importância da iniciativa num país onde os custos da ignorância são o problema de Portugal.

Na sua intervenção o Presidente da Câmara sublinhou que numa cidade como Guimarães onde nasceu Portugal, o conhecimento é a aposta para vencer os desafios da competitividade num mundo globalizado.

Em representação da Universidade do Minho, o vice Reitor, Rui Reis, salientou o trabalho que está a ser desenvolvido pela Academia no âmbito da investigação biomédica, destacando a importância do projecto do Centro de Investigação que vai ser implementado no Instituto Cidade de Guimarães Materiais Biomédicos Avançados que reúne cinco universidades portuguesas e poderá ter um orçamento que ronda os 75 milhões de euros.

Fonte: Guimarães Digital

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Crime de Lesa-majestade – Parte I

Lesa-magestade


O hediondo atentado terrorista perpetrado pela Carbonária que ceifou barbaramente as vidas d’El-Rei Dom Carlos I de Portugal e do Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, marcaram o princípio do fim da Monarquia Portuguesa. Com o patrocínio da maçonaria e a conivência do Grupo dos 18 composto pelos membros do Comité revolucionário para a revolução pelas armas da qual faziam parte membros do Partido Republicano, da Maçonaria, da Carbonária e dissidentes do Partido Progressista, o Regicídio foi o trágico e imprescindível desfecho para a agenda desta coligação negativa de terroristas e criminosos sediciosos que visava depor o Rei e apropriar-se dos meios de poder e coacção.

Mártires na Capela


Nessa mesma noite do magnicídio, que se ganhou costume de chamar Regicídio, para além dos fiéis de sempre como o Marquês de Lavradio, o Conde de Arnoso, o Conde de Sabugosa, o Visconde de Asseca, o Marquês de Soveral, Ayres D’ Ornellas, e poucos mais, que subsistiam de revólveres na mão como uma última linha pretoriana de defesa do Rei e da Coroa, represtinando esses tempos em que era a nobreza de espada a assegurar a guarda do Rei, pouca foi a fidalguia que acorreu ao Paço para partilhar a dor da Família Real e ainda menos os políticos, persistindo apenas um João Franco e um Vasconcellos Porto, juntando-se a áulicos como o General Craveiro Lopes que passava para Chefe da Casa Militar do novo Rei Dom Manuel II. Todos os outros refugiavam-se na penumbra do medo ou na indiferença das suas casas; outros, jogadores demagogos da política aguardavam para ver no que ia resultar daquela situação – os habituais vira-casacas do até ver quem teria a sorte do seu lado! Havia ainda os que o progresso existente ainda não bastava para lhes fazer chegar a notícia à província, onde cidadãos urbanos nostálgicos da vida rural e descontentes com o rumo do rotativismo se haviam refugiados nas suas Casas e Solares apalaçados.
Mas os dias seguintes trouxeram, não um clamor de justiça e resgate pela afronta do assassínio daquelas vidas cortadas aos 44 anos e 22 anos, mas um torpor revoltante.
‘Que País é esse onde matam um rei e um príncipe e a primeira medida que se toma é demitir o Ministério?!’, vociferou o Rei britânico Eduardo VII descontente com a responsabilização, demissão e degredo de João Franco, após o trágico Regicídio. Eduardo VII, que conservava duas pequenas molduras de ouro com os retratos de D. Carlos e D. Luís Filipe, entre os seus objectos pessoais, exclamou ainda: ‘Matam-se dois Cavaleiros da Jarreteira como se fossem cães e no seu próprio País ninguém se importa com isso’.
Dom Carlos gozava de admiração tal por parte de Eduardo VII – seu primo -, que pela primeira vez um Rei inglês, simultaneamente Chefe da Igreja Anglicana, entrou numa Igreja Católica, o que aconteceu na missa de requiem pelas almas d’El-Rei e do Príncipe Real, em St. James.
João Franco foi demitido, de facto, e se podia ser culpabilizado de negligência na segurança da Família Real, que quase sem escolta percorreu os 100 passos até à morte num laudau, expostos à mercê dos terroristas carbonários, e também, podia ser responsabilizado por levantar inoportunamente a falsa Questão dos Adiantamentos à Casa Real, não podia ser admoestado pela política que desenvolvia em consonância com o Rei – cada vez mais executivo -, pois o rotativismo partidário tornara impossível governar com o Parlamento. O afastamento do Presidente do Governo seria uma opção de consequências trágicas para a Monarquia, porque a estabilidade governamental só voltara com a reforma que El-Rei Dom Carlos I estava a empreender com o governo de João Franco que perdurou entre Maio de 1906 e Fevereiro de 1908 – antes disso, nos anos anteriores sucediam-se governos um atrás do outro.
Além disso, com a queda do Governo de João Franco Castello-Branco as forças militares fiéis à Monarquia sofreram um rude golpe, quando o novo governo de Acalmaçãopresidido por Ferreira do Amaral afastou o Ministro da Guerra Vasconcellos Porto e o Ministro da Marinha Ayres D’Ornelas – um dos últimos heróis de África ao lado de Mouzinho e Paiva Couceiro. Foi um desacerto fatal, pois o ministro da guerra e o ministro da marinha, respectivamente, para além de brio e fidelidade à Coroa, eram excelentes estrategos e possuíam um forte ascendente sobre as altas e médias patentes militares, para além de serem especialistas nessa subestimada arte das nomeações. Soma-se ainda outras tolices imputadas ao novo governo: a substituição no comando militar de Lisboa de Pimentel Pinto por Rafael Gorjão; no dia 6 de Fevereiro revogada a Lei de Imprensa, ressurgem os jornais republicanos embargados por anteriormente terem sido acusados de incitamento à revolução, são eles o Correio da Noite, o Diário PopularO País e o Liberal; em 12 de Fevereiro são amnistiados Afonso Costa, António José de Almeida, Egas Moniz, França Borges e João Chagas e ainda os marinheiros implicados nas revoltas de 8 e 13 de Abril de 1906.
Deste modo, com a demissão de João Franco o novo governo assina como primeiro Decreto, o do Fim da Monarquia!
Com o novo Gabinete Ministerial do Governo de Acalmação, no qual cabiam todos, penetravam no Ministério, além dos dissidentes Regeneradores e Progressistas, diz-se que, sub-repticiamente, os ideais republicanos, consequência das ligações sobejamente conhecidas do novo presidente do governo, o Almirante Ferreira do Amaral, com o ClubeMakavenko. Mas o governo durante algum tempo manteve uma certa estabilidade – a falta de visão foi em não manter no Ministério os ex-ministros da Guerra e da Marinha.
Estas cisões não se verificavam por exemplo do lado da maçonaria, nem no Partido republicano Português, que mesmo reunindo membros que nutriam uns pelos outros ódios figadais, mantiveram a união até ao golpe revolucionário que implantou o Estado das Coisas republicano a 5 de Outubro de 1910. Exemplo disso é a Carbonária Portuguesa, liderada por Luz de Almeida, apoiada pelo próprio grão-mestre do Grande Oriente Lusitano Unido, que, tendo agora terreno fértil, lançou-se no recrutamento de fidelidades nos quartéis, especialmente na Marinha.
Ao 1.º governo do reinado de Dom Manuel II, segue-se o Governo de Sebastião Teles, apoiado por Veiga Beirão e pelos lucianistas, visando pôr ordem no exército, mas já era tarde. As chefias militares, a braços com a densa burocracia, emaranhavam-se em espessos relatórios e na sua análise, assim como da decifração de falsos e elaboradíssimos planos revolucionários idealizados pelos republicanos como engodo, sem que tomassem consciência do verdadeiro perigo: o enraizamento da Carbonária entre sargentos, soldados e marinheiros. Na Câmara Baixa das Cortes o deputado republicano António José de Almeida profere um discurso iníquo: ‘a bomba de dinamite em revolução, e em certos casos, pode ser tão legítima, pelo menos, como as granadas de artilharia, que não são mais do que bombas legais, explosivos ao serviço da ordem.’ Mas o que merecia bastão da Guarda e prisão por apelar à sedição nem sequer é alvo de suspensão. Era a banalização da liberdade, que nada valia porque tudo permitia!
Os governos que sucederam aos dois primeiros, avaliavam cegamente a lealdade dos militares ao regime através de sucessivas visitas a regimentos por El-Rei que era continuadamente aclamado, pois o problema não residia no Monarca de trato afável.
A 11 de Abril sucede o Congresso do Partido Republicano Português, em Setúbal, com a subida de carbonários ao Directório republicano e que termina com a aprovação do programa que prevê o derrube da Monarquia pela via revolucionária.
Segue-se o Governo de Wenceslau de Lima, mas que sofre forte oposição do despeitadoJosé Luciano, que o apelida de valido de Teixeira de Sousa e qualifica o Gabinete como o governo da Politécnica do Porto.
Talvez por ser a época de maior liberdade que Portugal gozou, com censura inexistente – lembremos só as caricaturas de Bordallo Pinheiro – e total liberdade de expressão, verifica-se uma forte propaganda republicana em que se insulta o Rei por panfleto e escrito impresso através de pasquins como A Cartilha do Cidadão da Carbonária, e revistas como a Alma Nacional – dirigida por António José de Almeida – e dos mais diversos jornais criados com esse propósito; relembre-se o dito do republicano Brito Camacho: ‘quanto mais liberdades nos derem, mais delas usaremos contra eles’. A propaganda republicana demagógica assentava em mentiras descaradas: clamavam que Portugal era um País atrasado e o Povo analfabeto. Ora em 1910, ainda na vigência da Monarquia o PNB per capita era de 60%, havia 4.400 escolas públicas e 1.000 particulares, e os maiores vultos das letras portuguesas assim como o progresso material haviam surgido a partir do Reinado de Dom Luís I…. mas a propaganda republicana não era cerceada, em nome da liberdade de imprensa!
A rede de serviços de informação da Monarquia Constitucional era assegurada pela pouco eficaz Polícia Preventiva, à qual escapou primeiro o Regicídio, depois, os engenhos artesanais de João Borges e Manuel Ramos, o recrutamento da Carbonária nos quartéis, os tumultos e a organização da comissão militar republicana para o derrube da Monarquia.
No Exército e na Marinha contínua o vazio de fidelidades que já vinha da deposição de Vasconcellos Porto e Ayres Dornellas – esta quebra da estratégia reformista levou à confusão, ao imobilismo e à deserção para as hostes carbonárias, que alcança o perigoso número de 20 mil primos. A Carbonária era uma organização política, mas de cariz armado, uma espécie de brigada de artilharia, terrorista e secreta, inimiga da Monarquia, do clero e das congregações religiosas. Oficialmente, foi fundada em 1898 e de acordo com uma descrição do seu líder, desde 1900, Luz de Almeida. Era paralela da Maçonaria, embora sem ligações orgânicas à Maçonaria Portuguesa ou outras Obediências Maçónicas, não obstante ter utilizado algumas lojas do então Grande Oriente Lusitano Unido para aquartelar os seus órgãos superiores, e colaborado oficialmente com esta Obediência para a tentativa de revolução republicana falhada de 28 de Janeiro de 1908 – conspiração urdida pelos republicanos, pela Carbonária e pelos dissidentes progressistas -, para o Regicídio de 1 de Fevereiro de 1908, e, depois para a implantação da República. A Carbonária impunha aos seus filiados que ‘possuíssem ocultamente uma arma com os competentes cartuchos’.
Entretanto, atiravam ao Monarca Dom Manuel II as culpas que eram dos políticos e do sistema que os últimos foram viciando, de sorte que, por parte do rotativismo partidário nos últimos tempos da Monarquia não havia senão interesses e nenhuma sincera dedicação à Coroa – especialmente com a partida forçada de uns poucos aptos e dedicados ao Rei e à Monarquia. Todos diligenciavam as suas comodidades e agenciavam o seu sossego e ninguém dentro do sistema estava disposto ou tinha coragem para sacrificar a vida pela bondade do regímen e do Monarca.
El-Rei Dom Manuel II subsistia como a única força ainda viva e operante no País! Bem ciente e zeloso das suas funções enquanto Rei procurava cumprir da melhor maneira possível as suas funções de Chefe de Estado. Dentro dos princípios da Carta Constitucional e da legalidade, sabia que naqueles momentos de nova degradação do constitucionalismo, o Monarca era essencial e deveria reinar de forma muito activa, dedicada e exercendo escrupulosamente o seu Poder Moderador, desdobrando-se incansavelmente, de forma a reformar a política de desentendimentos, de ódios invejosos e de interesses que assolava o País, pelo que se dedicava exclusivamente à servidão de reinar: ’Depois de Vós, Nós’, rezava a divisa D’El-Rei Dom Manuel II de Portugal.
Dom Manuel II Sempre Rei
Prova da Sua visão política foi a tentativa de captar para o lado da Monarquia o emergente Partido saído da fusão do Partido dos Operário Socialistas com os outros socialistas, que por diferenças irreconciliáveis se afastaram dos republicanos, pelo que estes últimos nunca tiveram do seu lado as classes trabalhadoras. Estas diligências deixaram o Rei muito benquisto entre as classes operárias. ‘Os homens de hoje, como eu, crêem com ardente fé na redenção da nossa Pátria pelo Povo, o qual intervindo, a exemplo de outros países, de um modo directo, consciente dos próprios interesses e, ouso, dizer, preponderante no andamento dos negócios públicos, há-de regenerar fundamentalmente a sociedade…, põem todas as esperanças, como uma espécie de fetichismo, na vontade indomável, na largueza de vistas, na energia que em Vossa Majestade são preciosas qualidades individuais, mas também qualidades inalteradamente herdadas’, escreveu o socialista Alfredo Achiles Monteverde a El-Rei Dom Manuel II, em 07 de Outubro de 1909.
Miguel Villas-Boas