A lúgubre noite de pesadelo que foi a sanguinolenta 1.ª República acabaria a 28 de Maio de 1926 com o Golpe de Estado iniciado, em Braga, pelo general Gomes da Gosta e por Mendes Cabeçadas, sendo instituída uma ditadura militar que viria a dar origem ao Estado Novo.
O País nunca tinha recuperado do Regicídio e a subsequente revolução que implantou o despotismo nada esclarecido da República Velha sacrificaria o Povo atirando-o para miséria, reprimiria os grevistas com os Capacetes de Aço, coarctaria a imprensa pelo ‘visado pela censura’, lançaria os monárquicos para o Limoeiro depois de ‘julgados’ pelos Tribunais Políticos, desterraria o Patriarca de Lisboa, prenderia e assassinaria padres, assaltaria centros católicos no Porto, ergueria a forca caudina em Campolide para os condenados monárquicos, suspenderia as garantias, e, imolaria toda uma geração de jovens, em holocausto, no altar da Guerra a que chamaram Grande, talvez pela mortandade que provocou, e que custaria a vida de entre Europa e África a 7.500 militares portugueses. Ao todo só em La Lys morreram 1.643 militares portugueses do Corpo Expedicionário e os que não foram mortos ou feitos prisioneiros retiraram desorganizadamente para a retaguarda feita de trincheiras podres de lama e sangue. 200 mil Portugueses foram mobilizados e combateram na Europa e em África, mais de 55.000 no Corpo Expedicionário Português na Flandres. Ao todo, reitere-se, 7.500 soldados portugueses perderam a sua vida e 14.062 foram de alguma forma vítimas da Iª Guerra Mundial, seja como mortos, feridos ou prisioneiros. Além destas baixas foram desmedidos os custos sociais e económicos que tiveram consequências extremas para a capacidade nacional, e, os objectivos que levaram os responsáveis políticos da 1ª República a empurrar a juventude para a guerra saíram gorados em toda a linha.
Fernando Pessoa, em 1919, conseguiu, como ninguém, contar a tragédia em forma de verso:
A 1.ª República ou República Velha (5/10/1910 – 28/06/1926) foi, também, um período em que a política interna se destacou negativamente pela deliquescência, pelo sistema do partido único, o que em último grau comprovou a impossibilidade de subsistência, por defeito natural, do regímen republicano que foi marcado pela falta de prestígio e enfraquecido por incompetência e impreparação técnica e política, escândalos de corrupção, lutas intestinas, violência, perseguições, censura, nepotismo, favorecimento, privilégio, despesismo, sem que os criminosos que sobraçavam as pastas do poder ministerial assumissem as responsabilidades pelos próprios erros e ilicitude. Afonso Costa, Ministro da Justiça do governo provisório não eleito de 5 de Outubro de 1910, anula as derradeiras eleições do constitucionalismo Monárquico e no programa político de 29 de Agosto de 1911, anuncia o partido republicano como o partido único da República. Aliou-se no governo à família Rodrigues, com Rodrigo a ministro e Daniel como governador civil de Lisboa, a dupla que fomenta a formiga branca. Segundo João Chagas, a sua obra política é sempre dirigida contra alguma coisa ou contra alguém. Para Machado Santos, o líder militar da revolução: ‘o mais audaz, o mais inepto e o mais imoral de todos os tiranos.’ Enfim, apenas um daqueles que Antero de Quental, classificou de ‘garotos’ e de ‘raça pérfida’.
Pode ler-se num excerto d’O Jornal, em 1915, da autoria de Fernando Pessoa que descreveu o estado das coisas republicano:
‘A situação de Portugal, proclamada a República, é a de uma multidão amorfa de pobres-diabos, governada por uma minoria violenta de malandros e de comilões. O constitucionalismo republicano, para o descrever com brandura, foi uma orgia lenta de bandidos estúpidos’
Por isso, o Coup… a Revolução se fez sem um tiro, só com um desembainhar de espadas aclamado pelo Povo.
A República Velha foi, portanto, nas palavras do historiador Douglas L. Wheeler a ‘parteira do mais longo sistema europeu de sobrevivência autoritária’.
Entretanto, no que respeita a repúblicas os republicanos, como têm dificuldade em acertar, já vão em três.
Miguel Villas-Boas
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