Já passaram 106 anos, mas o debate permanece: monarquia ou república, qual o melhor regime para Portugal? Falámos com Nuno Severiano Teixeira, autor de um livro sobre os símbolos republicanos do país, e João Távora, presidente da Real Associação de Lisboa e monárquico. No fim da sessão fotográfica, D. Duarte passou por lá, na capa do livro que o monárquico ofereceu ao seu «opositor».
Antes de tudo, o ex-ministro da Defesa e da Administração Interna quis pôr os pontos nos ii: «Não há neste momento uma questão de regime político em Portugal. O debate entre monarquia e república é uma questão histórica, não está na agenda política.» Uma ideia que João Távora diz estar já habituado a ouvir. «Conheço na pele a dificuldade de colocar o assunto na agenda, que é um tanto ou quanto viciada pelos agentes do poder. Mas o que faz os monárquicos correr é mais do que isso: temos de acarinhar e suportar a Casa Real.»
O que separa uns de outros são conceitos básicos. «Para os republicanos, há duas questões de princípio: a da origem do poder, que reside no povo e não surge por origem divina através do rei; e a de que todos os cidadãos nascem iguais em direitos, incluindo o de exercer a chefia do Estado», refere Severiano Teixeira. João contrapõe: «Mas na monarquia o rei representa todos os portugueses. E não apenas uma fação, como sucede na república.»
«A questão não pode ser vista de modo maniqueísta», considera o antigo governante, que dá exemplos concretos: «Há casos em que a monarquia une, como acontece hoje na monarquia espanhola ou na inglesa. Mas também há casos em que divide, como aconteceu à monarquia italiana quando se aproximou de Mussolini, ou, olhando para Portugal, com D. Carlos e João Franco.» O exemplo não convence o monárquico: «D. Carlos, que reinava num modelo constitucional muito parecido com o actual semipresidencialismo, mexeu nos interesses instalados ao pretender reformar o sistema para o tornar mais transparente. E pagou com a vida ao querer um país mais moderno e democrático.»
Certo é que Severiano Teixeira não aceita a ideia de João de que só a monarquia une todos os portugueses, pois acredita que é possível isso suceder em regimes republicanos semipresidenciais como o nosso. «A chamada “magistratura de influência” é muito semelhante ao “poder moderador” do rei na monarquia constitucional», garante, e diz: «Há maior unidade dos portugueses do que a que faz o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa?»
«Enquanto a conjuntura lhe permitir não se sujar na política sectária…», responde o monárquico, concluindo: «O problema não está tanto no “fulano”, mas no regime.» João aproveita e lança uma nova ideia. «Nenhuma monarquia europeia foi intervencionada pelo FMI. A estabilidade política é certamente uma vantagem das monarquias», argumenta João, lembrando que «a Primeira República foi o período mais violento da história». Nuno Severiano Teixeira concorda em parte. «Havia um nível alto de violência política, sim, mas estava longe de ser uma ditadura terrorista», conclui o antigo ministro, que, por não ser um radical, ficou entusiasmado com o presente que João Távora lhe deu no final da sessão fotográfica: a biografia de D. Duarte, escrita por Mendia de Castro. Mas havia uma razão escondida para a escolha do livro, editado em 2007. «Foi apresentado por Manuel Alegre» – um republicano convicto.
Fonte: Noticias Magazine
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