Ouvi com a atenção que pude o início do discurso do Senhor Presidente da República nas Cerimónias oficiais do 05 de Outubro.
E descobri, logo nas palavras iniciais, o pior lado de Marcelo.
O lado que lhe sobrou, não da brilhante carreira académica mas da liça politica onde sempre teve que trocar uma informação por uma deslealdade, um ar de graça por uma diatribe qualquer.
Marcelo começou o discurso sublinhando que o 5 de Outubro estava vivo! E entreteve-se a dar-lhe prova de vida.
Antes tivesse dito que estava vivo porque pertencia ainda ao calendário. Mas não disse!
Disse que o 5 de Outubro estava vivo em Portugal porque podemos escolher os nossos dirigentes sem termos que confiar em nenhum princípio sucessório. Olhei com incontida ironia para a mesa que o rodeava e que anuía a este estafado argumento, com acenos de cabeça tranquilos e sabedores: O Primeiro Ministro, o Presidente da Câmara de Lisboa e o Presidente da Assembleia da República que para além de irmanados nas acolhedoras palavras do Presidente, tinham apenas em comum o facto de nenhum dos 3 ter sido directamente eleito pelos portugueses, para o cargo importante que ainda ocupam.
Marcelo sim, foi eleito. Por uma minoria de cidadãos que de 5 em 5 anos são e serão chamados a escolher para Chefe do estado um, de entre dois portugueses: O que foi escolhido para o cargo pelo PSD e aquele outro que foi escolhido pelo PS.
Desde o General Eanes que emerge do período militar pós revolucionário, que o cargo é invariavelmente ocupado por um ex-lider de um destes dois partidos. E assim será pelos tempos fora, em nome de uma liberdade que, todos sabemos, está aprisionada a uma partidocracia sem ética, competência ou responsabilidade.
Por isso e porque a primeira fila estava repleta das não eleitas primeiras figuras do Estado Republicano, Marcelo precisou de fazer mais provas de vida. E falou vaga e obscuramente de uma ética que não sabemos bem qual é e que ligação possa ter ao 5 de Outubro.
Julgo que a ética republicana era apenas e historicamente a de se não traírem uns aos outros -desconfiados que eram e camaradas que pretendiam ser. Mas foi extrapolada como inspiradora de uma virtude que a República nunca fomentou, porque simplesmente nunca teve.
Quem lê a história dos primeiros 16 anos de República fica perplexo com tantas faltas de ética. Quem mergulha nos 48 anos de ditadura que se lhe seguiram, compreende que a ética republicana não tem muito a ver com tolerância, escolha ou liberdade!
Marcelo rematou esta prova de vida da pior maneira. O 5 de Outubro está vivo, dizia com aquela convicção dos velhos tempos, porque é o garante da falta de promiscuidade entre o poder político e o poder económico. Fiquei realmente atónito e a pensar nos muitos dirigentes da República que a justiça constituiu como arguidos por esse mesmo motivo. Fiquei a pensar que Portugal é porventura uma das únicas democracias do Mundo que, neste século, teve um seu Primeiro-ministro preso por essas exactas razões.
Na atabalhoada prova de vida, com referências despropositadas á Monarquia, Marcelo falou muitas vezes de liberdade. Como se as mais evoluídas democracias da Europa que são Monarquias não nos dessem lições de liberdade.
Como se o 05 de Outubro de 1910 que começou realmente dois anos antes com o assassinato do Chefe de Estado, o Rei Dom Carlos, não fosse uma revolução violenta perpetrada pelo partido Republicano (sim, existia!) que nas últimas eleições de então, não lograra atingir os 10% dos votos expressos.
E que, por isso, se apressou a fazer uma revolução para afirmar uma forma de regime que nunca foi sufragada pelos Portugueses e ainda hoje lhes é imposta pela Constituição. Na parte que eu não ouvi, o Presidente Marcelo, passou o tempo a dar provas de morte da Republica e da ética republicana.
O 05 de Outubro, caro Presidente Marcelo, está vivo, sim! Mas por outras bem mais elevadas razões. Porque comemora o dia da Fundação de Portugal consagrada pelo Tratado de Zamora em 05 de Outubro de 1143. E nós Portugueses, como todos os outros Países civilizados queremos festejar a nossa independência, a nossa existência como Nação. Só por isso o 05 de Outubro não morrerá!
António de Souza-Cardoso
Presidente da Causa Real
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