Tal como os tailandeses, tenho um retrato dele à entrada de minha casa. Muitas vezes visitei a Tailândia, a última das quais no já longínquo ano de 2001. Daquele país apenas trouxe boas recordações, numa parte do mundo bem conhecida pelas más novas que de norte a sul e de oeste para leste desde há muito nos chegam, mercê de regimes espúrios e mortíferos conflitos invariavelmente engendrados noutras latitudes.
É um país de contrastes, tanto aqueles ditados pela sua geografia como os outros que se devem à multiplicidade cultural que tendo como base o Sião que a nossa velha história bem reconhece como sendo o equivalente à nossa aliada Inglaterra na Ásia, já no século XX e devido a imperiosas necessidades de afirmação externa e garantia da inviolabilidade de fronteiras, transformaram o antigo reino em Prathet Thai, o "país dos homens livres", a Tailândia.
Nunca tendo sido colónia de qualquer potência europeia ou sofrido longa ou directamente a suserania de outrem, o velho Sião é povoado por gente orgulhosa daquilo que a sua história representa. A enorme maioria pouco se impressiona com os modismos que varrem o planeta e abraçando com entusiasmo a modernidade material, aferra-se às suas tradições como garantia identitária e que irmana budistas, muçulmanos e cristãos em torno da instituição por todos olhada como suprema e muito dificilmente contestável: a Monarquia.
Golpes, contra-golpes, políticos eleitos ou auto-nomeados para logo após caírem no esquecimento, têm-se sucedido na gestão dos assuntos correntes. O país atravessou os difíceis anos da Guerra da Indochina, onde outras duas monarquias baquearam devido à intromissão de potências externas, ditando isto o eclodir de massacres, fomes endémicas, genocídio, miséria material e o arrasar de património para sempre perdido. Tal não sucedeu na Tailândia e embora a muitos isto possa parecer como mais um daqueles acasos da correlação de forças entre as super-potências, a verdade é outra, bem presente no vasto território que tive o prazer de tantas vezes visitar e onde durante meia dúzia de meses vivi, precisamente no cinquentenário da ascensão ao trono de Rama IX.
Muito lhe deve o país. Para além da infindável lista de actividades que incansavelmente exerceu ao longo de mais de meio século - na agricultura e pescas, boa gestão dos solos, protecção da vida selvagem, irrigação, cultura e preservação das actividades tradicionais que como a seda afamaram o reino em termos internacionais, assistência aos órfãos, educação popular que faria cair o anafabetismo para os residuais 1% da população, na saúde popular e no combate à malária e à sida, na música, fotografia, museologia -, Bhumibol Adulyadej palmilhou a sua terra como nenhum outro, visitando de imprevisto os lugarejos mais longínquos e sentando-se no chão com os camponeses, ouvindo o que lhe tinham para dizer. Nunca alguém o terá visto a fazer o mesmo a qualquer um dos grandes deste mundo ou a um dos milhares de políticos que momentaneamente poderosos pareciam pôr e dispor dos destinos daquele reino. Pelo contrário, o mundo um dia assistiu atónito ao quase kaow-toei de dois militares desavindos, perante um monarca de semblante momentaneamente severo e que naquele momento defendeu diante de todos o seu povo. Há imagens que ficam e esta é talvez a mais capaz de impressionar os ocidentais.
Golpes, contra-golpes, políticos eleitos ou auto-nomeados para logo após caírem no esquecimento, têm-se sucedido na gestão dos assuntos correntes. O país atravessou os difíceis anos da Guerra da Indochina, onde outras duas monarquias baquearam devido à intromissão de potências externas, ditando isto o eclodir de massacres, fomes endémicas, genocídio, miséria material e o arrasar de património para sempre perdido. Tal não sucedeu na Tailândia e embora a muitos isto possa parecer como mais um daqueles acasos da correlação de forças entre as super-potências, a verdade é outra, bem presente no vasto território que tive o prazer de tantas vezes visitar e onde durante meia dúzia de meses vivi, precisamente no cinquentenário da ascensão ao trono de Rama IX.
Muito lhe deve o país. Para além da infindável lista de actividades que incansavelmente exerceu ao longo de mais de meio século - na agricultura e pescas, boa gestão dos solos, protecção da vida selvagem, irrigação, cultura e preservação das actividades tradicionais que como a seda afamaram o reino em termos internacionais, assistência aos órfãos, educação popular que faria cair o anafabetismo para os residuais 1% da população, na saúde popular e no combate à malária e à sida, na música, fotografia, museologia -, Bhumibol Adulyadej palmilhou a sua terra como nenhum outro, visitando de imprevisto os lugarejos mais longínquos e sentando-se no chão com os camponeses, ouvindo o que lhe tinham para dizer. Nunca alguém o terá visto a fazer o mesmo a qualquer um dos grandes deste mundo ou a um dos milhares de políticos que momentaneamente poderosos pareciam pôr e dispor dos destinos daquele reino. Pelo contrário, o mundo um dia assistiu atónito ao quase kaow-toei de dois militares desavindos, perante um monarca de semblante momentaneamente severo e que naquele momento defendeu diante de todos o seu povo. Há imagens que ficam e esta é talvez a mais capaz de impressionar os ocidentais.
É hoje um dia triste, não apenas para a Tailândia como para o resto do mundo num momento de incerteza geral. Quando nos chegam notícias que ininterruptamente ameaçam colocar ainda mais mediocridades absolutas em cargos de decisão que a todos afectam, o desaparecimento de Rama IX deveria por um momento fazer-nos pensar acerca daquilo que nos cerca. A grandeza do homem é inegável, o mundo inteiro sabe o que ele significou e reconhece-o, tal como acabou de fazer do alto do seu púlpito na ONU, o também simbólico Ban Ki-moon.
Portugal é pela generalidade dos tailandeses olhado como uma potência histórica, a primeira e talvez única potência europeia que leal e abnegadamente tantos serviços lhe prestou, ali deixando vitais laços de sangue que ainda perduram. Por isso mesmo estranharei se o governo de Lisboa não agir em conformidade com o momento. Como acima disse, a Tailândia é para a nossa história na Ásia, um continente em ascensão, aquilo que para todos os portugueses significa a Inglaterra. Aja então com sageza e rapidamente.
Portugal é pela generalidade dos tailandeses olhado como uma potência histórica, a primeira e talvez única potência europeia que leal e abnegadamente tantos serviços lhe prestou, ali deixando vitais laços de sangue que ainda perduram. Por isso mesmo estranharei se o governo de Lisboa não agir em conformidade com o momento. Como acima disse, a Tailândia é para a nossa história na Ásia, um continente em ascensão, aquilo que para todos os portugueses significa a Inglaterra. Aja então com sageza e rapidamente.
Nuno Castelo-Branco
Fonte: Estado Sentido
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