sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Leitura: “Nossa Senhora e a história de Portugal – Alianças com Santa Maria”

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«Como se os anos portugueses fossem contas de um prolongado rosário. Como se cada dezena – gozosa, luminosa, dolorosa ou gloriosa – se tornasse numa época nacional»: é nestes termos que o cardeal-patriarca de Lisboa, D. Manuel Clemente, se refere ao livro “Nossa Senhora e a história de Portugal – Alianças com Santa Maria”, que será apresentado na próxima sexta-feira, em Braga.
Da autoria de D. Francisco José Senra Coelho, um dos dois bispos auxiliares de Braga, e editado pela Paulus, o volume, de que oferecemos um excerto, referente à Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição, sublinha, nas palavras do autor, que «o que Maria foi é o que a Igreja é convidada a ser continuamente».
«Como se detalha nestas páginas, da fundação ao interregno, do interregno à restauração, da restauração ao oitocentismo e finalmente em Fátima, a nossa história, em geral, e muitas histórias, em particular, ganharam cor religiosa, porque referidas a Deus. E particularmente mariana, porque “protagonizadas” por Santa Maria, sua Mãe», acentua D. Manuel Clemente, também historiador.
«Israel, o povo das alianças» constitui o primeiro capítulo da obra, seguido pela descrição das sete alianças de Portugal com Nossa Senhora, cobrindo períodos históricos que vão desde os primeiros séculos do cristianismo até à actualidade.
D. Nuno Álvares Pereira, a vassalagem do rei D. João IV, o Liberalismo, as aparições de Fátima, o mosteiro dos Jerónimos, Vila Viçosa e o Sameiro são alguns dos temas abrangidos pelo livro, que se conclui com os textos das consagrações de Portugal à Virgem Maria pelos bispos portugueses, de 1931 a 2016.
A obra vai ser apresentada a 8 de Dezembro, dia da solenidade litúrgica da Imaculada Conceição, às 17h30, na cripta da basílica do santuário de Nossa Senhora do Sameiro, em Braga, pelo Cón. José Paulo Leite de Abreu, vigário-geral da arquidiocese de Braga e professor da Faculdade de Teologia da Universidade Católica.
A Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição
D. Francisco José Senra Coelho
In “Nossa Senhora e a história de Portugal – Alianças com Santa Maria”
Como começámos por referir, D. João VI instituiu no Brasil, no Rio de Janeiro (em 6 de Janeiro de 1818 – dia da sua aclamação), a Real Ordem de Nossa Senhora da Conceição. Por alvará datado do Rio de Janeiro aos 10 dias do mês de Setembro de 1819, ordenou D. João VI que, sendo muito frequentes os conhecidos benefícios que a nação portuguesa recebera sempre do patrocínio da Santíssima Virgem da Conceição em todas as épocas arriscadas da monarquia, de tal maneira que o rei D. João IV (1640-1656), por decreto de 24 e carta régia de 25 de Março de 1646, se lhe constituiu feudatário, e a fez Padroeira do reino, continuando com a mesma devoção do rei D. Pedro II (1683-1706), que em 1694 confirmou a Confraria dos Escravos de Nossa Senhora da Conceição, ereta na igreja de Vila Viçosa, e o rei D. João V (1706-1750), que por carta régia de 12 de Novembro de 1717 mandou celebrar a mesma festividade com toda a pompa; D. Pedro III engrandeceu a Real Capela da Conceição no Palácio da Bemposta, que tinha sido ereta pela rainha D. Catarina da Grã-Bretanha, quando se recolheu a Portugal; e a rainha D. Maria I que em 1751 se alistou na Confraria dos Escravos da Conceição, havendo-se, no ano 1769, igualmente alistado na mesma confraria o rei D. João VI, então príncipe. Este resolveu no dia da sua coroação, como já vimos acima, por decreto dado no Rio de Janeiro, com data de 6 de Fevereiro de 1818, criar a nova Ordem Militar da Conceição, cujos estatutos e desenhos das medalhas de condecoração se encontram juntas no citado alvará de 10 de setembro de 1819. A capital da nova Ordem era Vila Viçosa, e o deão da capela real desta vila era comendador nato da Ordem e, com ele, também os cónegos, prior e beneficiados desta Colegiada, e os da mesa da corporação dos Escravos seus cavaleiros natos.
O objectivo do rei como grão-mestre da nova Ordem era homenagear Nossa Senhora da Conceição como Rainha e Padroeira do reino, pelo facto de Portugal ter sobrevivido como país independente às guerras napoleónicas que tinham assolado o pais e a Europa e para distinguir aqueles que se esforçaram pela autonomia portuguesa.
Mais tarde, um decreto régio definiu que a Ordem deveria ser conferida como condecoração militar aqueles que serviam o rei, aos devotos católicos fiéis a Nossa Senhora e ao Papa.
A Ordem apresenta-se com os graus de Cavaleiro, Comendador e Grã-Cruz e pode atribuir ainda a Medalha de Mérito. O grau de Grã-Cruz era normalmente reservado aos membros de famílias reais e o de Comendador aos membros da alta nobreza que mantinham cargos na Corte junto ao rei, enquanto o grau de Cavaleiro conferia “nobreza menor” pessoal. Importa não perder do horizonte histórico a centralidade desta quinta aliança de Portugal com Nossa Senhora: entre 1807 e 1811, a França invadiu e humilhou gravemente Portugal por três vezes. D. João VI percebeu que a independência de Portugal subsistiu, apesar destes atentados, graças à lealdade e bravura de alguns portugueses fiéis à sua pátria e ao seu rei e à proteção da Padroeira nacional. Em ação de graças, o rei cria a Ordem da Padroeira para agradecer a Nossa Senhora a sua proteção, renovando a sua consagrara, e para, reconhecidamente, homenagear todos aqueles que foram fiéis à independência nacional e em solo pátrio permaneceram e lutaram contra todas as vicissitudes provocadas pelas invasões francesas.

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